Uma
burguesia compradora, rentista e parasita
A
rentrée foi marcada este ano por um acontecimento revestindo um
simbolismo particular, embora outros se poderão entretanto apontar,
que foi a homenagem do governo Costa/PS ao sócio nº1 do PSD,
ex-ministro, ex-primeiro-ministro do VII e VIII governos
constitucionais, administrador da Celbi e dono do grupo dos media
Impresa e, antes do 25 de Abril de 1974 e a convite do outro Marcelo,
liderou o que ficou conhecido como a ala liberal do fascismo para
fazer ver no estrangeiro que em Portugal até havia democracia já
que existia uma “oposição”. O pretexto, tal como já acontecera
com a homenagem a Mário Soares, era relembrar os iniciadores da
democracia portuguesa: se já havia um papa da democracia, agora
teremos possivelmente um paizinho que, dando bem a imagem da nossa
burguesia, nunca deixou de esbulhar o Estado.
A
homenagem, para além de expor algumas fissuras do regime, acontece
num momento em que a burguesia tenta ultrapassar divergências na
distribuição dos milhões, que já estão a escorrer de Bruxelas e
que serão pagos pelo povo com juros a redobrar. E numa situação
pouco lisonjeira para a dita “economia nacional”, com os dados a
revelar claudicação no final de Agosto, apesar de algum turismo e
correlativo melhoria quanto a emprego. A dívida recorde de 762,5 mil
milhões de euros de privados e entidades públicas (sem contar com
os bancos) não é um bom sinal e não será aliviada com os
dinheiros do PRR.
Para
além da pompa e circunstância que o primeiro-ministro anuncia a
criação de emprego, nomeadamente para o interior do país, torna-se
indisfarçável o aumento do trabalho precário, mais 45% no segundo
trimestre, e Portugal continua a possuir uma taxa de mais do dobro da
média dos países da UE. O facto da Mota-Engil ter anunciado, mesmo
com contas marteladas, que passou de prejuízos, 5 milhões de euros
no ano passado , para lucros de 8 milhões no primeiro semestre deste
ano, é um sinal de que o capitalismo por estes lados não vai de boa
saúde.
Para
encobrir a iminente bancarrota da economia nacional, as empresas
receberam mais de 3,5 mil milhões de euros do governo a prestexto da
pandemia e, só por esse facto, deveriam passar para a posse do
Estado. Agora, e ainda não satisfeitos, os patrões
(eufemisticamente “empresários”) estão a pedir mais em sede do
próximo Orçamento de Estado. O governo tem que apresentar bons
resultados, já que a economia não avança como o esperado e o
futebol também não rende visto que nem houve revalidação do
título europeu, então, recorre-se ao que está mais à mão:
“Portugal com 73% da população vacinada contra a covid-19 e conta
ter 85% daqui a uma semana” para se obter a tão desejada e
badalada “imunidade de rebanho”.
Contudo,
o governo ainda não indemnizou as famílias (88 pessoas afectadas e
15 mortes) que sofreram a contaminação pela legionella no Norte do
país, provocada muito possivelmente pela fábrica que a
multinacional Nestlé possui na região de Matosinhos, e nem
investigou os autores do crime. Enquanto trata o povo como gado, vai
enchendo os bolsos das multinacionais farmacêuticas, tendo já
desembolsado 88,9 milhões de euros só para a Pfizer por uma vacina
em fase experimental e por cujas consequências imediatas e a prazo
aquela multinacional já se desresponsabilizou. Iremos em breve ter
mais casos de famílias lesadas, à semelhança das afectadas pela
legionella, à espera que as indemnizem por perdas (de vidas) de
valor incalculável.
O
homenageado em referência, capitalista com interesses na indústria
da celulose, um dos correponsáveis pela eucaliptização do país,
ao mesmo tempo que denuncia o carácter de intriguista e de falta de
lealdade do actual inquilino do Palácio de Belém, manifesta
preocupação pela saúde da democracia portuguesa que, segundo ele,
não será fácil mantê-la “viva e actuante”; ou seja, garantir
a sua continuidade para o engano e exploração dos trabalhadores e
do povo português. E, antes que as coisas corram para o torto,
critica o adiamento da revisão da lei eleitoral, necessidade já
aventada ultimamente por muitos políticos e comentadores assoldados,
com o obejctivo dos partidos do governo poderem ganhar maiorias
absolutas com menos votos e arredar de vez os pequenos partidos
incomodativos do regime. É esta gente que, fazendo jus ao seu
passado de fascistas, depois reciclados em democratas, que mais tem
contribuído para o descrédito e definhamento desta democracia de
opereta.
O
que foi conhecido na juventude por “francisquinho dos porsches”
de igual modo se apoquenta com as já estafadas “fake news”, e
defende papel “cada vez mais relevante” dos meios de comunicação
social, e principais fazedores de boatos como os seus, cujas vendas e
audiências estão de rastos e se não fossem as ajudas
governamentais já teriam fechado. A Impresa recebeu 3 milhões de
euros do governo do Costa/PS para apoiar a política oficial e o
discurso quanto ao putativo combate à pandemia; a SIC se não fosse
a vigarice dos sorteios telefonados, cujas receitas se equiparam às
da publicidade, já teria falido. Como se constata, os órgãos
oficiais de propaganda do regime não se encontram muito melhor que o
dito. O descrédito aumentou significativamente nos últimos meses
quanto à estória da covid e da correlativa estratégia de combate.
Balsemão
é bem o retrato do capitalista nacional cujos principias dividendos
ou vêm da especulação financeira ou de mamar directamente na teta
do orçamento do estado, tendo sempre o governo como o leal e zeloso
agente de negócios. Balsemão, sendo um dos principais acionistas do
antigo Banco Privado Português (BPP), apresentou-se como vítima da
falência, como nada tivesse a ver com ela, e ainda recebeu, como
indemnização, 4,7 milhões de euros. E, esta hein?! Dentro da mesma
linha se percebe que o antigo presidente do BPP, João Rendeiro,
tendo sido condenado a 10 anos de prisão efectiva num processo e a 5
anos e 8 meses de também prisão efectiva em outro, já esgotados
todos os recursos, ainda se encontra em liberdade. Parece que tem um
cartão do governo, como o Ricardo Salgado, que diz “isento de
prisão”. E depois vêm lamuriar-se que o regime está
descredibilizado e possivelmente já com os pés para a cova; não
será só uma questão de economia! Balsemão é bem o espelho de uma
burguesia compradora e rentista que parasita não só o Estado, que é
um estado de classe como o governo-agente-de-negócios, mas
essencialmente e antes do mais o povo português. Uma burguesia
parasita para a qual o povo português deve encontrar uma “chave
genética” que a impeça de sobreviver e eliminá-la de vez.
Para
terminar poderemos citar três casos entre vários, bem reveladores
da natureza deste regime de falsa democracia em que vivemos, e que
acabam por ser de certa maneira tão ou mais importantes pelo
simbolismo que o acontecimento que temos vindo a relatar:
“37.675
nascimentos no primeiro semestre do ano. Trata-se de um mínimo
histórico, já que é o valor mais baixo desde que começaram os
registos, há mais de 30 anos.”
"Não
há apoios": Irmãs atuam nas ruas do Porto para conseguirem
representar Portugal no Europeu de Ginástica. Pais vão pagar mais
de mil euros”.
“GNR
encalha 'megalancha' que custou 8,5 milhões de euros. Investigado
erro do comandante ou falha de máquinas”.
Um
país sem futuro, por haver um governo que despreza o povo e
desbarata os dinheiros públicos e que usa como instrumento policial
(mais de repressão sobre os trabalhadores) incompetente para
combater a criminalidade que diz querer combater.