As eleições antecipadas são daqui a três dias, e não deixa de ser patético o corrupio dos partidos do establishment na caça ao voto, insistindo com os pretensos eleitores hesitantes para irem votar, de preferência nos dois do costume. Quase dizendo: ou vão a bem ou vão a mal. Parece-nos que nas próximas eleições o voto será obrigatório, um pouco à semelhança da vacina contra a covid-19: quem não votar, será fortemente penalizado. As razões desta neurose obsessiva são mais que evidentes.
A abstenção não deixa de assustar porque, se
for elevada, é sintoma de que o regime se encontra em estado já avançado de
descrédito, e este regime é ainda assim o que reúne melhores condições para que
a burguesia vá arrancando a mais elevada taxa de mais-valia, contando com a
anuência dos trabalhadores que são explorados.
O outro temor das elites e dos seus homens de
mão nos partidos do regime é a hipótese de não sair das eleições de 30 de
Janeiro uma maioria na Assembleia da República que permita formar um governo
estável e forte. Capaz de impor ao povo português as medidas económicas e
políticas suficientes para que se relance o crescimento económico tão desejado;
ou seja, retirar o capitalismo nacional da sua situação de crise crónica e em
vésperas de entrar em coma.
A ideia das duas maiores organizações
partidárias, que mais não são que duas fações de um mesmo partido do regime, de
algum dia poderem vir a perder votos de forma significativa talvez seja o
principal pavor; não só dos ditos, como da própria burguesia que ainda não
possui alternativas credíveis. E será fácil prever que, com o andar da crise e
do descrédito deste sistema partidário, estes partidos que surgiram com o 25 de
Abril irão desaparecer inapelavelmente.
Ninguém se esqueça que o PS é o partido da
Alemanha, criado com os dinheiros da Fundação que tem como nome Friedrich
Ebert, o primeiro-ministro social-democrata alemão que mandou assassinar os
revolucionários Rosa Luxemburgo e Karl Liebknetcht, e no tempo de Willy Brandt;
soube-se agora que este era informador da CIA e recebia até uma mensalidade
para bufar. E com uma missão: enfiar Portugal na então CEE.
Terá sido mais a entrada da CEE em Portugal do
que o contrário, com o resultado imediato da destruição de grande parte do
nosso aparelho produtivo. Processo que iria acontecer mais cedo ou mais tarde,
mas que foi acelerado para não se fazer concorrência aos países mais
desenvolvidos da Europa, especialmente a Alemanha, a considerada “fábrica” da
União Europeia. Depressa passamos de produtores, embora fracos, a consumidores,
e o resultado está aí: Portugal possui a 3ª maior dívida pública da União.
A dívida, pública e privada, constitui neste
momento o principal problema do país, mas sobre esta questão, os partidos nada
dizem. Pressupõe-se que será para pagar, pela simples razão de que é o povo que
a paga e é a burguesia que dela beneficia. Isto é, viver com o dinheiro do povo
é fácil; no entanto, só irá prolongar a agonia da economia nacional. É nesta
perspectiva, e daí o rebuliço dos partidos e dos representantes dos patrões,
que se irá gastar os milhares de milhões de euros da ansiada “bazuca”. A nossa
burguesia rentista está impaciente e os seus partidos enervam-se com a
eventualidade de não virem a receber a percentagem ou a propina devida pela
intermediação.
O presidente da CIP – sempre o mesmo e
incansável “empresário de sucesso” que herdou uma empresa e a enfiou na
falência e os trabalhadores no desemprego e que é bem o símbolo da nossa
burguesia compradora e rentista – vem de novo reclamar a Marcelo entendimento
entre os dois partidos da governação; e a estes a “coragem” para fazer as “três
reformas essenciais”, sendo uma delas reduzir os funcionários públicos para
compensar a redução dos impostos aos patrões. E uma das outras, que está
implícita naquela, é a privatização de todos os serviços de carácter social que
o estado ainda vai prestando. Pela redução dos funcionários públicos,
forçosamente que a Saúde, a Educação, a Segurança Social, as Águas, etc. serão
entregues aos privados.
Sobre estes assuntos, Saúde, a Educação, a
Segurança Social, as Águas, os partidos da governação ocultam o óbvio. Os dois
defendem a privatização, a diferenças entre eles consiste somente no modus
operandi: o PS vai privatizando aos poucos e disfarçadamente; o PSD vão à
bruta e sem disfarces. O mesmo se passa com a desvalorização dos salários, seja
dos trabalhadores do estado, seja do privado: o PS, com aumentos abaixo da taxa
de inflação, vai baixando o salário real dos trabalhadores e, sem mexer nas
tabelas de retenção do IRS, baixa também o salário nominal de algumas franjas
dos trabalhadores, o mesmo acontecendo com os pensionistas; o PSD vai logo para
a retirada dos subsídios, como aconteceu no governo de má memória de
Passos/Porta. Um pratica a política da cenoura, o outro a política do cacete;
fazem lembrar o pide bom e o pide mau do tempo do fascismo.
Os candidatos ao pote desmultiplicam-se em
declarações e cambalhotas, prometendo o que sabem de antemão que não irão
cumprir, apagando da memória promessas semelhantes feitas no passado e que logo
no dia seguinte ao apuramento dos votos se esqueceram, para aplicar na prática
as políticas impostas por Bruxelas, cujo objectivo principal consiste em
resolver a crise económica e financeira da Alemanha e dos principais países do
centro à custa dos países da periferia e menos desenvolvidos. A manutenção de
Portugal como consumidor e capacho da Europa é para continuar.
E tanto o PS como o PSD estão firmemente
dispostos a continuar a desempenhar o papel que sempre cumpriram até agora - e
já lá vão 47 anos, quase tanto como o regime fascista! - e para não
desmerecerem a confiança estão dispostos a tudo, dando o dito pelo dito sempre
que necessário. Rio diz que nunca foi contra o aumento do salário mínimo; no
entanto, é fácil apanhar a mentira, basta procurar declarações feitas ainda num
passado recente em que se ouve dizer que o aumento do reles salário iria fazer
perder competitividade às empresas nacionais e aumentar o desemprego.
Costa vai escondendo o mal que tem feito,
querendo apresenta-lo como uma grande obra, mais concretamente, o SNS e a gestão
da pandemia – esta, outro assunto que os outros partidos não questionam e nem
sequer mencionam -, não explicando por que carga de água o SNS fechou
praticamente para as outras patologias, provocando mais mortes por excesso e
mais listas de espera para todos os cuidados de saúde em geral. E, uma questão
incontornável, quantos dos 3500 lares ilegais, encontrados no início da
pandemia, foram encerrados e substituídos por lares da rede pública que deveria
existir, mas que não existe sequer? Para além dos ataques às liberdades e
direitos dos cidadãos a pretexto do combate à pandemia.
Costa quer, agora após conhecer que as
sondagens (feitas à medida) que o colocam longe da maioria absoluta, apagar a
arrogância manifestada no início da campanha e vem de novo dar uma de
abrangência e de conciliação. Para dizer-se: entradas de leão, saídas de
sendeiro! Mas mais oportunistas ainda são o PCP e o BE que foram usados na
discussão do OE-2022, na medida em que o próprio Costa era o menos interessado
que fosse aprovado, para depois terem sido responsabilizados pelo insucesso e
para de imediato, durante os debates, Jerónimo e Catarina serem humilhados e
achincalhados, por uma personagem que do caracter e da hombridade não se pode
orgulhar. A ânsia de enfiar a mão no pote revela bem a falta de vergonha de
toda esta gente. São bem a imagem do regime democrático burguês saído do 25 de
Abril.
Soube-se há pouco, e sem surpresa para
ninguém, que “Portugal (está) estagnado no índice de percepção da corrupção”. E
terá sido a “pandemia de covid-19” o pretexto para os governos (burgueses e
capitalistas) de todo o mundo abrandarem o combate à corrupção, segundo a
Transparência Internacional. Como se pode constatar, a “pandemia” serve de
pretexto para tudo e mais um par de botas. Serve para explicar a crise
económica e o seu agravamento nos últimos anos, serve para justificar a política
de recapitalização das empresas falidas (não são apenas os bancos como
aconteceu em 2008 com os subprimes), serve para desculpar a degradação
acelerada do SNS, irá servir para justificar a elevada inflação que se avizinha
e perdoar as medidas celeradas de austeridade a redobrar que a burguesia se
prepara para lançar sobre os trabalhadores e o povo. E para encobrir a natureza
intrinsecamente corrupta da nossa classe dirigente.
Os tempos mais próximos, como não nos cansamos
de alertar, vão ser de guerras, de combates ferozes e decisivos entre o capital
e o trabalho e que revestirão particular intensidade em Portugal, visto que nos
encontramos em posição de subjugação em relação ao imperialismo germânico, por
sua vez, uma filial do imperialismo americano que, por sua vez, não se cansa de
preparar e eventualmente desencadear em breve a guerra. A guerra inter-imperialista,
se acontecer, irá inevitavelmente desencadear a revolução proletária e
comunista, que desta vez irá acontecer não somente num ou dois países, mas pelo
mundo fora
Votar, se querem votar, votem nos partidos que
não estão na Assembleia da República. Se não têm a certeza, então não votem. Por
vezes, vale mais estar quieto do que fazer asneira. 47 anos é tempo mais que
suficiente para aprendermos alguma coisa!
27 de Janeiro 2022