quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O Bonaparte e os três estarolas

Os três candidatos de “esquerda” tiveram menos votos, todos juntos (886.508), do que Sampaio da Nóvoa em 2016 (1.061.232), que era o candidato do campo democrático que se opunha a Marcelo

Como se esperava e vem sendo hábito, o inquilino do Palácio de Belém viu-se reconduzido no cargo. Vão ser cinco anos diferentes dos que passaram, o homem dos afectos e dos sorrisos vai finalmente mostrar o seu verdadeiro carácter e ao que realmente vem. A campanha, os apoios e os resultados mostram por si só que do ovo da serpente vai sair o Salvador da Pátria, o Bonaparte. Os assistentes e figurantes da encenação não passam de idiotas úteis, na dita “esquerda” e na extrema-direita; esta feita à medida do Bonaparte que agora até nem é de direita, mas do centro... e anti-fascista! Ou como se inicia um novo ciclo nesta democracia de opereta, que estará a finar-se para dar lugar a um presidencialismo, em versão democracia musculada ou fascismo em modo brando. Deve-se ter em conta que estas foram as primeiras eleições feitas numa situação de estado de excepção, a nova normalidade, isto é, com a democracia suspensa.

Pode-se especular e criar as imagens que se bem entender com os números, mas são factos e alguns podem ser realçados: Marcelo é eleito com mais votos do que em 2016; Ana Gomes, a candidata da democracia e patriótica, teve metade dos votos do candidato Sampaio da Nóvoa, e que aparece para obrigar uma segunda volta!; a candidata do BE teve pouco mais de um terço dos que votos de há cinco anos; o candidato do PCP teve um pouco menos, embora possa ufanar-se de ter obtido uma maior percentagem do que o correligionário, já que a abstenção aumentou; o candidato da extrema-direita, de quem o Bonaparte se diz o principal adversário, teve perto de meio milhão de votos, o que faz correr a tinta e gastar o paleio de jornalistas e outros que, antes, durante e depois da campanha, não fizeram outra coisa senão andar com o idiota ao colo ou a dar-lhe destaque por meras críticas inconsequentes e pelas quais muitas vezes ele se vitimou; o liberal é uma nota de rodapé do fascista; o Tiririca cá-da-terra teve menos votos do que há cinco anos, contudo, não deixando de cumprir o seu papel de idiota para empatar e confundir o pagode. Se o número de votos brancos e nulos diminuiu em pouco em relação a 2016, contudo houve mais cerca de meio milhão de eleitores que não votaram (4.261.209 contra 4.739.950, faltando apurar 3 consulados).

No geral, nada de novo nestas eleições de 2021 em relação às de 2016 quanto aos resultados, o regime vai-se replicando e as nossas elites, em união fraterna com Bruxelas, continuaram a apostar no cavalo que lhes pareceu ser o mais confiável. Excepto numa coisa, inventou-se um candidato de extrema-direita que teve, nas eleições e fora delas, um papel especifico. O “cigano”, que é mais cigano do que os ciganos, faz mesmo esse papel atribuído popularmente à etnia dos ciganos, o da diversão. Assim, Marcelo foi apresentado, e ele corroborou, que não é de direita, mas do centro, ou, como afirmou um jornal espanhol, um “conservador de esquerda”, ou o principal adversário do fascista. Foi ele quem terá derrotado a extrema direita: logo, Marcelo é um anti-fascista. O Ventas (como tem sido apelidado na blogoesfera para não lhe dar mais clicks e visibilidade) acabou por bem desempenhar o papel de espantalho do “vem-aí-o-fascismo!”, para que os incautos fossem a correr a votar no candidato certo. Será um pouco difícil distinguir em que pontos Ventas e Marcelo diferem no programa e rumo políticos para o país.

Se houve alguma pequena-burguesia que se refugiou no colo do inquilino de Belém (rendimento anual declarado do homem, sempre mais de 300 mil euros), tendo-lhe aumentado o escore de votos, houve outra que se lançou nos braços do “novo” fascismo, sector mais temeroso de tudo o que possa ameaçar a sua frágil segurança, desde a pandemia a revoluções; uma pequena-burguesia endemicamente cobarde e que se prosterna perante quem lhe parece mais forte ou lhe dá garantias no imediato. Razão pela qual o “cigano” teve melhor votação nos distritos do interior do país, o que, segundo alguns comentadores avençados, até será uma coisa excelente. A imprensa que o embala chega ao desplante de apontar que os seus melhores resultados foram “onde há menos camas e pessoal nos hospitais”, como porventura defendesse a melhoria e o alargamento do SNS e não a sua extinção.

Como já afirmáramos, os três candidatos da putativa “esquerda” fizeram o papel de flores de lapela da burguesia e, como na farsa terá de haver sempre figurantes ou actores menores para fazer brilhar a estrela da companhia, não deixaram de fazer igualmente o papel de idiotas úteis do regime. E, atendendo ao ridículo das figuras, teremos de reconhecer que não passaram de três estarolas, no entanto, uma imitação fraca e sem talento do famoso trio de cómicos americanos dos anos trinta-quarenta do século passado. A mais convencida auto-intitula-se de “patriótica” quando defende a União Europeia, seria para rir senão fosse triste, e se não teve menos votos que o Ventas deveu-se ao apoio do padrinho Pinto da Costa e dos adeptos do FCP, o que é ainda mais patético; e quem quis apresentá-la como “A candidata” que iria unir a esquerda ou o campo mais abrangente dos democratas não deve ter, nas melhores das hipóteses, noção do delírio.

Os resultados dos candidatos do BE e do PCP apenas confirmaram o que também já tínhamos dito, fixar eleitorado e dar prova de vida; falharam o primeiro ponto, o segundo (fim de vida) virá um dia destes, apesar do BE esperar ainda vir a ser governo. Em relação ao PCP, a situação é mais do que confrangedora, não há maneira de aprender e não vê que continuar a defender o governo PS e este regime de falsa democracia lhe apressa o fim, ou faz um dia destes a reunião para fechar as portas ou, como os congéneres europeus, muda de símbolo e de nome e até poderá fundir-se no BE, como fez o seu sucedâneo PCP(R)/UDP. Para estes dois, o negócio foi ruinoso já que não irão receber a subvenção estatal para pagar as despesas de campanha, que não foram tão pequenas como isso!, porque tiveram menos de 5% dos votos.

O possível desaparecimento do PCP e o acentuar social-democrata do BE não será nada de anormal, na medida em que iremos assistir a uma reconfiguração dos partidos em Portugal. Haverá partidos que irão juntar-se ou desaparecer, sabendo-se que muitos deles surgiram no quadro político criado pelo 25 de Abril. O PS, que foi criado na Alemanha com os dinheiros da Fundação social-democrata Friedrich Ebert, está mais do que dividido, metade é o partido de Marcelo, a outra terá que seguir outro rumo. No PSD, a divisão já se efectuou, ficou a parte dita “social-democrata” e saiu a extrema-direita, herdeira do fascismo e consubstanciada no Chaga. O CDS está somente à espera do jantar de encerramento. E não estará longe o dia em que o Bonaparte Marcelo irá anunciar a criação formal do seu partido.

Como de igual modo tínhamos apontado, o medo da abstenção como razão principal pela prorrogação do estado de emergência de molde a abranger a data das eleições – chegou-se a temer que a abstenção pudesse atingir os 70%! – a fim de reter as pessoas em casa e, desse modo, pudessem votar mais facilmente. Caso essa temível percentagem de abstenção pudesse acontecer, também serviria de hábil desculpa, porque então teria sido o medo de contágio a impedir o povo de votar. Como a abstenção não foi a que se temia e o inquilino que já tinha antecipadamente garantida a reeleição, como tem acontecido sempre com os seus antecessores, teve mais votos do que há cinco anos, mais fácil se tornou a manobra de o apresentar como o Salvador da Pátria. O facto de ter sido a maior abstenção de sempre em eleições presidenciais foi apagado e substituído pelo outro da “Esquerda” que “perdeu mais de um milhão de votos” e “o que terá acontecido?” Quanto muito estar-se-á a assistir a uma clarificação dos campos na luta de classes, em que uma falsa esquerda estará a apagar-se. O que poderá ser uma coisa boa.

E os encómios não se fizeram esperar: “Portugal desafia a pandemia e reelege Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente”, lembremo-nos que o homenzinho declarara que se candidatava porque havia a pandemia, presumindo-se que caso o não fizesse seria uma cobardia; “Marcelo liderou onde há mais casos covid-19 e maior área ardida”, é a esperança do povo para a cura da doença e para a regeneração florestal do país!; “Marcelo quer unir" e “venceu em todos os 308 concelhos do país”, será o chefe da “união nacional” de todos os portugueses de bem, em colaboração com Costa que também já tinha afirmado no Parlamento que os “ empresários e os trabalhadores devem de dar as mãos”; “Marcelo... declarou-se 'profundamente honrado' pela confiança manifestada pelos portugueses em condições tão difíceis, lembrando no início do seu discurso os mortos com covid-19”, um homem profundamente humano, só que se esqueceu de defender o SNS, porque caso o tivesse feito de certeza que não teria morrido tantos portugueses; e, para completar o retrato, é o próprio que afirma no discurso de vitória: “Tenho a exacta consciência que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco” e tem “de continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses (apesar de ter sido eleito por somente de 23,48% dos eleitores)". O retrato está feito, criou-se o mito.

E a figura deixa o recado bem explícito no seu discurso: os portugueses "não querem um pandemia infindável, uma crise sem fim à vista, um recuo em comparação com outros países, uma radicalização e um extremismo nas pessoas nas atitudes na vida social e política", mas sim "uma pandemia dominada o mais rápido possível, uma recuperação do emprego". Isto quer dizer, trocando por miúdos, que o governo ou resolve o problema da pandemia no sentido da recuperação da falida economia nacional ou vai levar o pontapé no rabo quanto antes e sem apelo nem agravo.

O governo PS está a prazo, mais curto do que o do mandato previsto, final de 2023. Costa na sua maleabilidade gelatinosa e oportunismo político não viu, ou não quis ver, que ao apoiar Marcelo assinou o seu despedimento antes do tempo – quase de certeza que em 2022 haverá novas eleições. Será talvez para continuar a tradição a que nos habituaram os os governos do PS em segundo mandato. A polémica que parece vir aí com os negócios do lítio poderá indiciar, e ninguém se admire!, que se venha a assistir, depois da saída de Costa do governo, a uma versão mais rasca do caso Sócrates, onde este é acusado de corrupção na facilitação dos negócios com o estado. E em substituição do governo PS virá um governo de toda a direita formal, desde a dita “democrática” à mais extremada e caceteira, um PSD/CDS/Chega/IL/e-mais-o-que-houver, pondo completamente a nu o verdadeiro “anti-fascismo” do Bonaparte. O regime apodrece, e rapidamente.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Eleições presidenciais e o regime apodrece

 

Estamos a pouco dias das eleições para a Presidência da República sabendo-se antecipadamente quem será o vencedor. Não haverá chapelada que escandalize, como parece ter acontecido nos Estados Unidos da América em Novembro passado, aqui, será o regime ainda a replicar-se, no entanto, sem conseguir ocultar os sinais mais que evidentes da decrepitude. O medo da abstenção é mais do que enorme por parte dos partidos do poder e das elites que ainda apostam neste cavalo cansado, e as medidas que foram tomadas quanto ao voto antecipado a fim de obviar a temida abstenção mostraram-se desastrosas. Os eleitores que temiam os ajuntamentos no dia 24 foram para as poucas mesas de voto provocar o que tanto temiam, mas para o ministro foi um “entusiasmo” e uma “alegria”, fazendo-lhe lembrar as primeiras eleições em 1975. Nestas aglomerações, pelo que parece, já não houve perigo de contaminação e de aumento da propagação do coronavírus, à semelhança do jantar do candidato oficial da extrema-direita, em Braga, que juntou cerca de 170 neo-nazis, que não tiveram pejo em fazer a saudação nazi, sem que as autoridades e a GNR, em particular, conhecedoras do evento, ali se tivessem deslocado para identificar os criminosos sem máscara e passar-lhes a respectiva multa. A RTP, depois de ter o carro vandalizado e os jornalistas apanhado uns empurrões, continua a levar o fascista ao colo, bem como os outros órgãos de comunicação presentes, mostrando que entre a RTP, a GNR, as autoridades de saúde local e o fascista a diferença não é de monta.

Os sete candidatos que se encontram na rampa para o Palácio de Belém sabem desde há muito que o actual PR Marcelo tem antecipadamente a vitória garantida, mais precisamente desde o dia em que foi eleito, porque é o candidato do regime e goza da inteira confiança das nossas rentistas e inúteis elites. Esta é a razão pela qual o PS não tem candidato e aposta todas as cartas em Marcelo e nem sequer cria um candidato para diversão e divisão dos votos da esquerda como aconteceu há cinco anos ou com as duas eleições de Cavaco. O candidato que estará a ser empurrado de forma discreta pelo partido do governo será quanto muito o pateta de Rans, que nuca soube explicar como conseguiu as 7500 assinaturas para a sua candidatura bem como para o seu partido, lembrando a famosa candidatura do “Coelho ao Tacho” do popular funcionário da Associação Académica de Coimbra nos idos de 1991, candidatura organizada pelo PSD para chatear o PS e Mário Soares, cuja reeleição estava mais do que garantida, mas acabou por ser abortada pelos seus promotores apesar do número suficiente de assinaturas ter sido alcançado, o que motivou a desilusão e a revolta do ingénuo Coelho que então viu que tinha sido manipulado. Serve para lançar a distração.

Os candidatos apresentados pelo PCP e o BE são candidatos cuja única missão é a de garantir a fidelização dos respectivos eleitorados e provar que o apoio destes partidos é superior ao que aparece nas eleições legislativas. São uma prova de vida dos partidos que os patrocinam, tal como os cidadãos aposentados, para continuarem a poder beneficiar das prebendas e alcavalas doadas pelo regime. São dois social-democratas que rezam para que esta democracia se mantenha e que nada aconteça à sacro-santa União Europeia. Ambos funcionam como flores de lapela do sistema de exploração capitalista. Mas um terceiro pretendente ao trono se destaca, pela verborreia, pelo tarefismo, pela impulsividade, sem programa político que a destaque dos dois candidatos anteriores, quer em questões nacionais, o governo até é “socialista” e o que é preciso é uma “regionalização”, que defenda os caciques locais tipo Alberto João da Madeira, quer no que diz respeito à União Europeia, devemos lá estar nem que seja para sermos todos vacinados. Ana Gomes, trânsfuga política, sente a necessidade de mostrar, como todos os cristãos novos, que é mais papista que o Papa, daí a confiança que possa querer difundir ao povo eleitor soará sempre falsa.

Os candidatos da extrema-direita são dois, um mais soft e o outro mais hard, ambos aproveitam a ocasião para agitar as bandeiras queridas do sector mais ultramontano e ganancioso das nossas elites: privatização de todas as funções sociais do estado, desde a educação e segurança social à saúde, proibição dos sindicatos e da contratação colectiva, os trabalhadores deverão ser escravos e a bel-prazer dos patrões através da contratação individual. O mais trauliteiro destes dois candidatos possui a função acrescida de espantalho para assustar a pequena-burguesia que se não votar no candidato certo (Marcelo) virá aí o fascismo! Perante tantos candidatos mas que, em termos de sistema económico que domina a nossa sociedade, acabam por ser só um. E, mediante esta triste realidade, o voto dos trabalhadores portugueses e do povo em geral – repetimos, são quem sustenta a cáfila – não pode ser outro que não o VOTO NULO. A elevada abstenção esperada não deixará de ser manifestação iniludível do apodrecimento do regime democrático saído do 25 de Abril. A seguir será o bonapartismo à portuguesa que, por sua vez, irá despoletar a raiva e a revolta de todos os deserdados.

A situação de bancarrota da economia nacional (capitalista), agravada pelo situação de subjugação aos países ricos da União Europeia, cuja sobrevivência é cada vez mais precária, como se comprova pelos números: em apenas 10 meses, a dívida das Administrações Públicas aumentou de 310.466 milhões de euros para 330.000 milhões , e a divida na óptica de Maastricht subiu de 249.985 milhões de euros para 268.143 milhões; no fim de Setembro de 2020, a divida das Administrações Públicas já correspondia a 160,8% do valor do PIB e a de Maastricht a 130,8% - uma dívida impagável! Em 2018, a percentagem do salário médio hora pago aos trabalhadores portugueses em relação ao salário médio hora na União Europeia era apenas 48,9%, menos de metade – em 2006, era 52,3%. E, em 2019, o PIB por habitante em Portugal correspondia a 64,7% do PIB médio por habitante dos países da União Europeia, menos do que em 2010 em que representava 66,6%. Assim se pode constatar que Portugal em vez de convergir para a média da UE tem vindo sempre a afastar-se.

A dívida pública irá inevitavelmente agravar-se com os apoios que o governo não se cansa de prometer às empresas em forma de recapitalização a fundo perdido, com as confederações patronais a esticarem a corda reclamando mais ajudas e pagas na hora, com famílias também mais endividadas, com mais desemprego anunciado e salários mais baixos. Os 45 mil milhões prometidos da “bazuca” para este ano de 2021 não serão a custo zero e serão pagos com língua de palmo pelos trabalhadores portugueses; servirão para melhorar a tesouraria dos principais capitalistas nacionais, apenas adiarão a falência, e agravarão as condições de vida de quem trabalha com o reforço da sua exploração. E para mitigar o descalabro mais que certo, o governo, a mando de Bruxelas, vai impondo as medidas de restrição sobre o povo, dentro de um estado de excepção, que garantidamente – disse já o Marcelo – irá estender-se até ao dia da sua tomada de posse, 9 de Março. A pandemia não passa de pretexto para o apertar da tarraxa, e, diga-se de passagem, um excelente pretexto.

A imprensa mercenária e o jornalixo fazem a festança, ao preço de 15 milhões de euros, é mais do que alarmismo, é o prenúncio do fim do mundo, é o Apocalipse, o Caos Total, com o número de mortes “com covid” por dia: ontem foi o «Pior dia em mortalidade, 218 óbitos “por covid”», número onde são enfiados doentes com outras patologias porque tiveram teste PCR+, com Costa a anunciar «"Vamos iniciar campanha de testes rápidos nas escolas" já amanhã», como testes pouco fiáveis espantassem o vírus, ou «Confinamento aperta. António Costa pede "sobressalto cívico"», ou ainda, «“É a loucura total” nos hospitais. Os médicos estão “exaustos e em sofrimento ético”». As paragonas dos jornais e as aberturas dos noticiários televisivos competem pelo mais tenebroso dos cenários, no entanto não esclarecem: que o governo teve tempo durante o Verão de contratar mais pessoal para o SNS, reaberto serviços e criados mais camas, nomeadamente nos cuidados intensivos e que nada fez; que o número de ambulâncias à porta de algumas urgências hospitalares não corresponde a um acréscimo do número de pessoas a ocorrer às urgências e que estas ocorrências, como se pode confirmar pelas estatística quase em tempo real do SNS, não aumentaram neste Inverno em relação aos outros anos, bem pelo contrário, diminuíram 32,5%; que essas ambulâncias transportam idosos provenientes de lares onde foram abandonados à sua sorte, sem reforço de pessoal ou melhoria das condições de assistência em lares, que mais não são do que depósitos de gente à espera da morte; que se há médicos em “exaustão” é porque o número de médicos não foi reforçado porque o governo recusa aumentar os salários no SNS e instituir o regime de exclusividade para que muitos continuem a acumular o público com o privado, para engorda deste, daí a “exaustão” e “sofrimento ético” de alguns deles. No entanto, mais de metade das mortes por excesso é provocada por doenças oncológicas e cardiovasculares, e perante os factos a mal amada ministra manda encerrar os hospitais para doentes não covid, incluindo as cirurgias prioritárias e oncológicas – não se morre da doença, morre-se da cura!

Mas, enquanto responsabilizam o povo pelo aumento dos contágios, devido aos convívios do Natal e outros putativos abusos, e o ameaçam com mais restrições, mais confinamento e mais multas, desculpabiliza-se o governo (Costa até é um gajo porreiro! Se fosse no Brasil, a culpa é do fascista Bolsonaro!), vão-se rindo na nossa cara e gozando com o pagode. É um Marcelo que se irrita porque não recebeu a tempo o resultado do teste – o homem já faz mais de 80! - para ir fazer campanha, e ainda sem conhecer o resultado vai falar e tirar selfies com os idosos em lar da Misericórdia, sem respeitar confinamentos nem distanciamentos sociais, contudo, e como bom hipocondríaco e acagaçado com a abstenção, vai chantageando: “mudar de presidente a meio da pandemia será uma aventura"; até parece que tem medo de ainda perder as eleições!

O “sobressalto cívico” de que fala Costa poderá vir a ser uma desobediência civil como parece estar já a despontar, com os proprietários de um restaurante em Lisboa a desobedecer a encerrar, invocando o “Direito de resistência” consagrado na Constituição da República, o tal “livrinho” que o candidato do PCP tanto gosta de agitar, chegando ao cúmulo de o erigir como a principal bandeira a defender na medida que supostamente é o principal alvo de ataque do candidato trauliteiro da extrema -direita. Não será necessário o protesto dos proprietários dos restaurantes do Minho que apelam ao boicote às eleições e colocam faixas negras, sinónimas de fome e miséria, porque a elevada abstenção deverá estar mais que garantida. Contudo, este será apenas um primeiro e pequeno passo, mais passos terão que ser dados para que este sistema económico, assente na exploração dos trabalhadores e que visa única e exclusivamente o lucro, possa ser desmantelado e se reorganize em seu lugar uma economia cujo objectivo seja acima de tudo a satisfação das necessidades das pessoas aos seus diversos níveis. E em sociedade de, além da igualdade e liberdade, de tolerância, solidariedade e justiça para todos os cidadãos.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A “nova normalidade” e a abstenção nas presidenciais

 

"Moulin Rouge" - Henri de Toulouse-Lautrec

O ano de 2021 está a começar como nós e muitos outros previram com alguma facilidade: uma nova “normalidade” para justificar tudo e mais alguma coisa. No imediato dar apoio às medidas impostas pelo governo PS/Costa (governos PS que ainda vão conseguindo impôr o que outros não conseguiriam devido à sua maior base social), com a falácia de “se não fosse com estas medidas a situação seria pior”, quer em relação ao combate à pandemia, quer no que diz respeito à situação económica, teimosamente em modo de agravamento irreversível, ou tentar evitar o óbvio em termos imediatos como seja impedir o mais que previsível elevado nível de abstenção no próximo acto eleitoral para a Presidência da República, dia 24 de Janeiro, que poderá assinalar o começo do fim desta democracia de opereta.

O governo vai governando quase sempre por decreto, vindo fazer desde há algum tempo gato sapato da Assembleia da República, a tão incensada “casa da democracia” (houve quem já manifestasse temor que ali venha a acontecer o que ocorreu no Capitólio norte-americano, também considerado a casa da demonocracia lá do sítio, o que é pouco provável porque ali não há oposição!), com o PR Marcelo a definir, antecipadamente e em colaboração com o governo, o rumo que o país deve tomar sob o escudo do estado de emergência, aprovado para vigorar por mais oito dias. Uma banalização do estado de emergência, a “nova normalidade”, usado em forma ad-hoc, ou seja, sempre que dê jeito, para além de estratégia já delineada para controlo social e evitar possíveis revoltas pelas medidas de austeridade redobrada já em vigor, mas que em breve se irão agravar, e fortemente. Enquanto o governo PS/Costa treina uma democracia musculada, que rapidamente poderá resultar em fascismo pouco brando, assiste-se a uma campanha eleitoral civilizada, bem educada, com pouca polémica, com os candidatos da direita, de toda ela, moderada ou mais radical, ao colo dos principais órgãos de comunicação pagos com 15 milhões de euros para não contradizer o discurso oficial do governo e não pararem de continuamente lançar o pânico sobre os cidadão. Todos os candidatos, por exemplo, estão com a União Europeia e frisam bem, especial destaque para o candidato do PCP, que não defendem a saída da União.

Especialistas no direito e em assuntos constitucionais são arregimentados, à semelhança dos médicos, virologistas, epidemiologistas e outros “istas”, bem besuntados na Função e Pública e simultaneamente no sector privado, funcionando como outros vírus no hospedeiro SNS, e pelos grandes grupos farmacêuticos a pretexto de “estudos”, “experiências”, “ensaios” e “formação”, não desmerecendo dos políticos do sistema no que diz respeito à corrupção, vêm debitar a necessidade da revisão da Constituição para se poder adiar as eleições. Para que os nossos idosos possam votar no aconchego dos lares, muitos deles mais depósitos para espera da morte, e assim evitar novos contágios no inóspito exterior da rua e dos locais de voto, deverá bastar o estado de emergência com essa especificação. A preocupação pelos nossos velhos (há quem diga que “velhos são os trapos”, mas a “velhice nunca deixou de ser um posto”, com excepção do capitalismo gerido pelo PS em que são trapos descartáveis por onerosos e inúteis) não deixa de ser comovente sabendo-se que o PS recusou proposta de se estabelecer uma estratégia de protecção apresentada pelo especialista em saúde Pública Jorge Torgal e nunca ter desejado criar uma rede pública de lares para a terceira idade, mas se ter demitido de mais esta função social, deixando para o mercado da especulação de privados e da Igreja Católica (ICAR), uma forma manhosa de esta se ver financiada pelo Estado.

Fica bem à vista, e Marcelo já palpitou que poderá ser uma medida incluída no próximo estado de emergência, que a votação dos idosos nestas eleições deva ser nos locais onde estão institucionalizados, porque é uma excelente maneira de os manipular para votarem no candidato certo, mesmo que alguns estejam em estado demencial e com as faculdades mentais diminuídas (são 45 mil idosos só em instituições ligadas à CNIS, daí a importância de bajular o voto da ICAR!). O recadeiro mini MM já aplaudiu e o Costa algum tempo antes anunciara que novo confinamento, e mais restrições à semelhança do que foi aplicado em Abril e Maio, terá de ser instituído. Os fins justificam sempre os meios, mesmo que estejam ocultos, assim se compreende o número crescente de “infectados” (PCR+, teste que nunca foi clínico, mas processo utilizado predominantemente para investigação em Paleoantropologia!) e de mortes “com covid” (não “por”, porque são as outras patologias exacerbadas que matam!). Até parece que surgem de propósito!

Não deixa de ser patético as notícias alarmistas, catastrofistas, acaba por ser difícil encontrar adjectivo que qualifique adequadamente o tom das notícias capciosamente empoladas e retiradas do contexto sem contraditório sobre os números da dita “pandemia”: “Portugal ultrapassa os cem mil casos ativos de covid-19 pela primeira vez”, “Especialistas dizem que janeiro vai ser um mês duro. É preço do Natal", “OMS. Pela primeira vez morreram mais de 15.000 pessoas num só dia”, (in DN) para incriminar o povo português de ser responsável pelo aumento dos números, para justificar “Governo quer aplicar medidas o mais cedo possível” ou suscitar o consenso dos partidos “"Urgência e surpresa" obrigam a antecipar debate na AR, diz Iniciativa Liberal” para a perpetuação da nova normalidade, ou seja, o estado de emergência (de excepção) para que os trabalhadores portugueses sejam mais vezes colocados em prisão domiciliária, já não chegam os idosos, e impedir a enorme abstenção no próximo dia 24. É o temor das nossas elites e dos seus partidos, porque o descrédito do regime é mais do que evidente, assim como dos políticos do poder. Não é por acaso que PAN, BE se esticam na defesa de mais emergência e confinamento e o PCP se vai calando, jamais reclamando, como era seu hábito, a demissão deste ou daquele ministro ou de todo o governo.

O regime vai apodrecendo. É a Assembleia da República que mais não é que a caixa de ressonância do governo e da presidência da república, ou o centro da corrupção praticada por muitos dos seus elementos que ali defendem os interesses corporativos, dos clientes dos escritórios de advogados e outros, sempre desprezando o povo que os elegeu. É o PR/Rei que vai preparando o seu futuro de Salvador da Nação e abrindo caminho para um governo formalmente de direita e de direita dura. E é o governo acentuando a sua deriva autoritária bem expressa nos casos dos ministros que, no final, serão sempre os bodes expiatórios dos casos cada vez mais frequentes de nepotismo, corrupção e outras traficâncias. É o ministro Cabrita que não vai conseguir descartar-se facilmente do problema das torturas praticadas por um dos corpos policiais do regime; é a ministra Van Dunem, descendente de uma das famílias de colonos mais ricas de Angola do tempo do salazarismo, que mandou falsificar o curriculum de um dos boys do partido para um alto cargo da União Europeia, repetindo o que já acontecera quanto a nomeação de apaniguados para outros cargos importantes do Estado, PGR e Tribunal de Contas. É o governo PS/Costa no seu melhor quanto ao nepotismo e à corrupção.

O governo PS/Costa com os seus confinamentos e estados de emergência, para os quais Marcelo não vê alternativa, é o agravamento das condições de vida dos trabalhadores portugueses que se confrontam com mais desemprego, salários mais baixos e uma Educação desqualificada, onde os seus filhos vão rapando o frio imposto pelas normas idiotas de uma DGS demente que manda abrir as janelas das escolas para “arejamento do vírus”, e um SNS de pantanas (“Hospitais fizeram menos 121 mil cirurgias e 1,2 milhões de consultas. O futuro traz mais preocupação”) para benefício do sector privado da saúde que vai esfregando as mãos de contente (“Mais de 5900 doentes do SNS operados nos privados para reduzir tempos e listas de espera”, in P). “Hospitais atingem linha vermelha. Especialistas defendem confinamento”, escondendo que enfermarias cheias e urgências a abarrotar sempre foram o normal do SNS nos invernos e nos últimos 15 a 20 anos, porque fecharam-se serviços, desactivaram-se camas e não se contratou pessoal. As televisões deveriam passar as reportagens que fizeram em anos anteriores e comparar, fica-se até com a impressão de que muitas imagens que agora se vêm se referem a anos anteriores (no Inverno de 1998/9 morreram 8000 pessoas por gripe, já ninguém se lembra!).

É indisfarçável que o governo PS/Costa é o gerente dos negócios do grande capital e que a pandemia e o confinamento são excelentes argumentos para se recapitalizar a economia capitalista cá do burgo com dinheiros públicos. Se em 2010 foi a recapitalização da banca privada, dez anos depois é a recapitalização da economia capitalista em geral e à beira da falência. A promessa de apoio às pequenas empresas não passa de um engano, mais de metade irá pelo cano para facilitar o processo de concentração e acumulação capitalista. Os 750 milhões de euros, gastos directamente à conta da “pandemia”, deverão na realidade ser mais perto dos mil milhões, e não ficarão por aqui já que as vacinas ainda não estão incluídas. E o rol da recapitalização das empresas privadas é mais longo: o reles aumento do salário mínimo nacional para 665 euros será em parte financiado pelo governo, que irá devolver 74 milhões de euros da TSU paga pelos patrões!

O governo PS/Costa vai prometendo a mentira, com o ministro das Finanças a vir com a treta de que “a vacina traz condições para forte recuperação da economia em 2021”, ao mesmo tempo que se avisa os portugueses que devem continuar a manter o distanciamento social, o uso da máscara na rua e ficar em prisão domiciliária quando o governo lhe der na real gana. A senil Directora GS avisa que “nem todas as pessoas vacinadas vão ficar imunizadas”, então o porquê das vacinas... a não ser para encher os bolsos das grandes empresas farmacêuticas americanas e europeias, cujos curricula transbordam de casos de corrupção a médicos e governantes? Se as vacinas são tão seguras, como não se cansam de afirmar os senhores “doutores” que estão todos os dias nas televisões, parece que não fazem mais nada!, então por que razão as farmacêuticas impuseram a isenção de responsabilidade criminal e civil a Bruxelas e aos governos e obrigam os cidadãos que as tomam a assinar um documenta de consentimento a desresponsabilizar o estado?

A mentira, a manipulação dos números, “em 2020 Portugal teve a maior mortalidade desde 2018” (comparar a actual epidemia, com menos de 8 mil mortes numa população de 10 milhões de habitantes, com a pneumónica de há cem anos, que levou cerca de 200 mil vidas numa população de 6 milhões, é o cúmulo da mentira e da manipulação!) e mais de metade das mortes por excesso se deve ao medo e à sub-utilização do SNS por este ter fechado as portas para as ditas “não urgências”! Costa ainda respira prosápia porque, governando à bolina das sondagens, quer dar a entender que o futuro lhe será radioso, mas os tiques de autoritarismo apenas denunciam medo e cobardia, de nada lhe valendo acusar quem não concorda com a sua política de “traidores ao país”, para mais vindo o ataque do lacaio de serviço de Bruxelas e da Alemanha neste meio-ano que decorre. Costa ainda aguentará 2021, mas não chegará ao Natal de 2022. Consigo deverá ir também pelo ralo o partido que foi fundado com os marcos alemães para derrotar a revolução de 1975 e enfiar o país na então CEE, actual IV Reich.