O dito “combate à pandemia” é antes do mais a guerra contra o povo e os trabalhadores
Ainda não acabou a polémica do presidente da república
não poder ser desautorizado pelo primeiro-ministro porque é aquele quem o
nomeia e, pelos vistos, a disputa irá manter-se, embora Marcelo diga que não
irá desencadear a “crise política ou institucional” até 2023, porque haverá que
proteger os fundos europeus. Não só irá manter-se como irá desenvolver-se não
só pela distribuição do saque como saber como “convencer” os trabalhadores e o
povo português a pagar a conta final – porque não há almoços grátis e quem paga
são sempre os mesmos.
Mas a coisa não está fácil, a encruzilhada em que se
encontra a elite nacional e a sua classe política não tem saída certa e segura
e o imbróglio não se cinge exclusivamente ao destino a dar aos fundos, que
Costa assegura que irão ser "bem geridos" na medida em que “Portugal
tem bom historial” na gestão dos ditos, contrariando um pouco as palavras da
comissária da Coesão e Reformas e correligionária partidária de Portugal
"ser ainda um país atrasado" apesar dos milhões recebidos, mas quanto
ao resto.
E o resto é como distribuir os fundos, como resolver a
crise a contento de toda a burguesia nacional e respeitando os ditames de
Bruxelas e como conter o descontentamento, e eventual revolta, social? Estas
são questões magnas que se colocam e para as quais não há receitas seguras e
com resultados garantidos, embora o historial de enganar, explorar e reprimir o
povo já seja grande, mas a História, embora às vezes pareça, não se repete.
A crise económica sem fim à vista e o empobrecimento do
povo português
A crise económica é crónica e dura há bastante tempo, a
pandemia veio em altura oportuna, foi providencial, serve de justificação para
a crise e para as medidas de dureza austeritária a duplicar quando comparadas
com as impostas pela troica. E o governo do PS com o Costa no comando, e se lhe
derem corda, irá ultrapassar o dueto pafioso Coelho/Portas de má memória – irá
também além da troika.
Os números da crise são elucidativos, contudo serão a
todo o momento justificados pela pandemia – "foi a pandemia!" – e não
com as medidas impostas pelo governo para, teoricamente, combater a dita
“pandemia”.
“A crise provocada pela pandemia atirou 400 mil pessoas
em Portugal para a pobreza” – diz a imprensa mercenária paga por 15 milhões de
euros – e atingiu sobretudo os que já tinham dificuldades, agravando
desigualdades. Atentem bem: “provocada pela pandemia”!
Sintomático: “Altice (dona da MEO) anuncia despedimento
colectivo de 300 trabalhadores”, já depois de ter obrigado a 1100 “saídas
voluntárias”, justificando-a como “indispensável”. Será um dos muitos
despedimentos colectivos que se perspectivam para breve.
Ao mesmo tempo que refere que o número de trabalhadores
inscritos nos centros do desemprego diminuiu no mês de Maio, a imprensa não
consegue esconder que os “beneficiários de prestações de desemprego aumentam
19,8% em Maio”, o que significa que há um número crescente de trabalhadores que
desistiu de procurar emprego enquanto outros, beneficiários, vão aumentando,
sabendo-se que só um terço dos desempregados beneficia daquela prestação.
Mas desilude-se quem pensa que haverá, por vontade do
governo que se auto-intitula de “esquerda”, aumentos salariais, porque o
governador e ex-Ronaldo das Finanças já veio a terreiro avisar que haverá
“aumentos salariais mais fracos na sequência da pandemia”. Ora a pandemia
servirá para explicar porque não haverá aumentos sequer, bem pelo contrário, os
salários irão encolher – uma voz autorizada porque representante directo do
Banco Central Europeu e, por extensão, do grande capital financeiro.
Seja pelo corte nominal dos salários, seja pelo aumento
desmesurado da inflação, cuja eventualidade está a ser preparada com o anúncio
do aumento dos alimentos em cerca de 10% a nível mundial (hiperinflação), o
certo é que está na estratégia para Portugal a continuação do país de baixos
salários, embora Costa goste de perorar sobre o tema, já que nunca deixou de
ser o país de salários miseráveis, cujo exemplo mais gritante é o facto de
“mais de um terço dos trabalhadores domésticos ganham abaixo do SMN” e todos
eles trabalham bem mais de 40 (ou 44) horas semanais.
E até a imprensa do regime que o afirma: “Portugal continua também entre os
países que ainda permitem que se pague em espécie aos trabalhadores” e “Estudo
da Universidade de Coimbra: Idosos, crianças, deficientes e minorias com menos
direitos na pandemia”. Sempre a “pandemia”, é o mantra daqui para o futuro – o
“novo normal”.
A reconfiguração do capitalismo nacional e a
reorganização da burguesia
A encruzilhada de como a burguesia, nomeadamente uma
burguesia no geral rentista e subsidiária, irá reconfigurar a economia e
simultaneamente respeitar os ditames de Bruxelas, incluindo as regras
orçamentais, não será fácil de ultrapassar e não está completamente definida a
forma de sair.
O governo irá começar a receber em breve as verbas do
PRR, Marcelo já disse que quer assegurar que os 16,6 mil milhões são bem
usados, ou seja, irá ser também, para além da própria Comissão Europeia, fiscal
da actividade do governo, não só no que concerne a esta questão, mas como em
relação a todo o resto. E vai mais além, envia o recado a todos os partidos com
assento na manjedoura de S. Bento: não quer orçamentos chumbados, nem eleições
antecipadas nem vicissitudes de governação ou de relacionamento institucional –
"o Plano de Recuperação e de Resiliência irá acrescentar 22 mil milhões de
euros à economia nacional até 2026", diz o ministro.
Quem irá beneficiar dos milhões? Não serão todos, com
certeza, as grandes empresas vão-se chegar à frente e as pequenas e até médias
empresas nacionais irão, em grande parte, para a falência. E a grande burguesia
nem está a dormir nem perde tempo: “Nova associação empresarial quer equilibrar
rigor académico com ‘pragmatismo do mundo dos negócios’”. A Associação Business
Roundtable Portugal arranca, com os presidentes do grupo Mello, da Sonae e da
Corticeira Amorim a dar a cara, reunindo os líderes de 42 das maiores empresas
a actuar em Portugal e que "se comprometem a contribuir de forma activa
para o crescimento de Portugal". Ou, melhor dizendo, para o aumento dos
seus lucros e patrimónios.
A burguesia reorganiza-se, vai criando novos partidos,
porque sabe que os actuais já deram o que tinham a dar, para gerir o tipo de
economia que Bruxelas e o grande capital já destinaram para Portugal dentro da
cadeia capitalista global. Será um capitalismo subsidiário, rentista, baseado
na disponibilidade de uma mão-de-obra barata e pouco qualificada e no
fornecimento de matérias primas, com o lítio e o tal hidrogénio “verde” à
cabeça, e de produtos de fraco valor acrescentado, segundo as necessidades da
União Europeia e que a esta não interessa produzir – “Bruxelas atribui subsídio
de 30 milhões a projecto de hidrogénio em Sines”
O novo normal será uma maior exploração dos trabalhadores
e de todo o povo português para que a concentração de riqueza nas mãos de uns
poucos ricos em Portugal, na Europa ou no mundo, não cesse, num eterno sistema
de vasos comunicantes em que a água flua sempre dos 99% que trabalham e
produzem para os 1% dos possidentes e parasitas. É a reconfiguração
capitalista.
Os conflitos sociais estão prestes a rebentar
A conflitualidade social estará sempre presente e outra
coisa não se poderá esperar. “As convenções colectivas publicadas caem 30% em
2020 por causa da pandemia” – sempre a “pandemia”, enfatiza a imprensa
corporativa – o que constitui um espelho do aumento da exploração dos
trabalhadores, facto que a mesma imprensa esconde. Acrescenta que o “recuo do
diálogo social foi mais acentuado no alojamento e no comércio, sectores muito
penalizados pela pandemia”.
Agora, o número de pré-avisos de greve aumentou de 43 em
Abril para 71 no mês de Maio, esclarecendo a imprensa do regime que isto
acontece no mês em que foi decretado o fim do estado de emergência, alívio
devido à evolução da pandemia, subentendendo que o estado de emergência ainda
se mantivesse não haveria o aumento grevista; movimneto que poderá em futuro
próximo intensificar-se. Para quem ainda não percebeu para que serve na
realidade o estado de emergência, poderá então abrir agora os olhos.
O negócio das vacinas e a agenda eugénica escondida
Nenhuma pandemia se combateu com o confinamento das
pessoas sãs e em termos militares, como tem acontecido, mas com o internamento
em unidades de saúde ou proteção das pessoas doentes ou grupos mais
vulneráveis, como os idosos, porque confinar as saudáveis serve somente para
incutir a ansiedade, o medo e mais doenças que, por sua vez, irão aumentar o
número de mortes: “Profissionais em teletrabalho são os que acusam mais stress”
e “Um em cada quatro portugueses deixaram de recorrer ao SNS por receio da
pandemia”.
No entanto o negócio das vacinas não pode parar, apesar
de começarem a surgir um cada vez maior número de casos de pessoas com reacções
adversas às vacinas experimentais de ARN, incluindo mortes, e, ultimamente, de
pessoas infectadas, ou até reinfectadas, depois de terem sido inoculadas com as
duas doses – “DGS confirma existência de seis surtos activos em lares (54
infectados, a maior parte dos quais já vacinada, e duas mortes)”. Prova mais
que cabal que estas vacinas, para além de perigosas, são ineficazes para os
fins para que foram, ao que dizem, fabricadas.
Mais nos convencemos que os fins poderão ser outros,
quando se ouve a pseudo-investigadores (ao serviço de que laboratórios
farmacêuticos?) afirmar que, perante a ineficácia, “crianças e jovens devem ser
vacinados o mais rápido possível “, sabendo-se que estes grupos etários não
manifestam no geral formas graves de doença e o seu índice de mortalidade é
residual (até aos 20 anos morreram 4 indivíduos e até aos 30 anos mais 12, e
por doenças congénitas!). Não será só o negócio das vacinas, e respectivas
comissões (“40 por cento dos portugueses consideram que a corrupção aumentou em
2020”), da continuação do medo, mas da aplicação disfarçada da agenda eugénica.
Com a quarta revolução industrial, haverá trabalhadores a mais, que serão, á
semelhança dos idosos, um fardo demasiado penoso para o capitalismo. Baixar a
idade de esperança de vida com o aumento da mortalidade e esterilizar os jovens
são dois métodos já ensaiados.
Para manter o medo, para levar a que as pessoas aceitem
as medidas de austeridade redobrada que se avizinha, para acelerar o processo
de vacinação (Lisboa é a região com a vacinação mais atrasada), que mais não é
que o acelerar do processo de destruição das forças produtivas para uma maior e
mais rápida concentração de riqueza, nomeadamente dos acionistas da Big Pharma
(Pfizer espera lucros de 50 mil milhões de dólares este ano, cerca de 20% do
PIB português!), o governo PS/Costa impõe a “cerca sanitária” aos 2,9 milhões
de pessoas residentes na Área Metropolitana de Lisboa – a ditadura sanitária,
alegando a biossegurança, antecede e prepara a ditadura militar. E ameaça com a
“quarta vaga” pandémica.
A social-democracia conduz sempre ao fascismo
Os governos da dita “social-democracia” preparam o caminho,
e conduzem às vezes directamente, aos governos abertamente autoritários,
revestindo-se ou não de ditadura militar. Aconteceu na Alemanha com a República
de Weimar, aconteceu em Portugal com a I República, levando esta à intervenção
dos militares sem praticamente dispararem um tiro. É o que irá acontecer agora,
todos os partidos do poder governativo e parlamentar serão responsáveis.
Não há diferenças de monta, BE quer mais vacinas e
Jerónimo quer vacinação mais rápida e mais testes. Os laboratórios farmacêuticos
e de análises clínicas não podem parar no aumento acelerado dos lucros,
laboratórios estrangeiros e privados. Os nossos partidos de “esquerda” não
querem que o grande capital se prejudique ou desapareça. Jerónimo quer
conciliar o inconciliável: defende “a necessidade de se encontrar uma relação
equilibrada entre o combate eficaz ao surto epidémico e medidas que impeçam o
País de continuar a caminhar no sentido da degradação da situação económica e
social”.
PCP critica o governo, ao mesmo tempo que deixa passar o
Orçamento de Estado e manieta os sindicatos, por aquele "assobiar para o
lado" face ao agravamento da crise económica e “não apostar na testagem e
na vacinação”. Mais do mesmo, se o PCP e o BE fossem governo, a política seria
exactamente igual. E, depois, há umas boas almas do BE que, na blogoesfera ou
no Twitter (há quem não goste do Facebook) ficam admiradas que haja umas
figuras públicas e/ou mediáticas que apoiaram todas as medidas, incluindo a
suspensão da Constituição, como parte da solução para a recuperação económica
(capitalista) do país, no tempo da troika, e que, agora, se sintam indignadas
com as medidas de confinamento para a AML e invoquem a mesma Constituição para
o direito de não ser vacinado e contra a discriminação que representa o
certificado covid. Pois é, o mundo virado de pernas para o ar!
Ora, isto acontece quando a putativa esquerda governa à
direita e, por esse mesmo facto, a direita formal ou a extrema-direita, por
ineficácia da primeira, vem, muito oportunisticamente e cheia de demagogia,
levantar as bandeiras de defesa dos direitos e liberdades do cidadão, que foram
arrojadas ao chão pela falsa esquerda. Poderemos dizer que é o mundo virado às
avessas, mas quem o virou foi a mentira de uma esquerda hipócrita e oportunista
que incutiu todas as ilusões e mais algumas sobre a economia capitalista e
sobre a também falsa democracia parlamentar burguesa, como se esta não fosse a
democracia e a liberdade para os ricos e poderosos e a fome, a repressão e a
falta de liberdade para os que trabalham. Como agora se torna cada vez mais
claro com a pandemia e as medidas tomadas para alegadamente a combater.
Claro que, depois no poder, essa direita, deixa cair de imediato a máscara e fará o mesmo ou pior do que a esquerda cobarde e castrada. Mas esta gente só se poderá queixar de si própria, o problema é que isso será feito com enormes custos para os trabalhadores e o povo. Esta pequena-burguesia poltrona, que tem mais medo do socialismo e da revolução que do capitalismo, agacha-se no seio da burguesia e do capitalismo a ver se consegue sobreviver, mas o efeito será perverso, está somente a acelerar a sua destruição à medida que a economia capitalista se depura e o grande capital se concentra em dimensão jamais vista – a proletarização da sociedade é mais rápida e impiedosa em tempo de pandemia. O dito “combate à pandemia” é antes do mais a guerra contra o povo e os trabalhadores.