Crónica escrita em Setembro de 2022 e que vem a propósito da intervenção mediática da ex-ministra da Saúde Marta Temido a respeito do seu desconhecimento do tratamento das gémeas brasileiras, e que terá sido legal (?!) já que foi feito, ao mesmo tempo que defendia Marcelo, talvez a pensar no seu futuro político. Se desconhecia, então foi ministra incompetente; se conhecia, então é mentirosa e, pela atitude inquieta que apresentou, quase de certeza que é válida esta última hipótese.
A seguir à grosseria e ingratidão do “nosso”
primeiro, assim foi acusado, sobrevieram de imediato os elogios ao trabalho e
espírito de sacrifício da ministra demissionária, mas ainda não demitida, em
prol da saúde dos portugueses e, em particular, da salvaguarda do SNS. Contudo,
as ordens e os sindicatos dos profissionais do sector, para além dos partidos
da oposição, rejubilaram contando com a fragilização do governo e uma futura
remodelação.
O governo como agente de negócios
Convém, talvez, relembrar que a ministra, à
semelhança dos restantes titulares das pastas, mais não é do que mero executivo
que vai cumprindo na execução e vigilância das directivas que lhe são ordenadas
pelo chefe; e que este, por sua vez, as recebe de Bruxelas e dos diversos lóbis
que por aqui vão sobrevivendo à custa dos dinheiros públicos e dos favores dos
políticos que estão no poder graças aos seus financiamentos.
Já ninguém acredita, neste tempo de democracia
liberal, que os partidos do regime suportam as milionárias campanhas eleitorais
somente com o dinheiro das quotas dos militantes e não com os apoios diversos,
que depois terão de ser recapitalizados pela governação. Geralmente estes
governantes a soldo são bem recompensados, quando abandonam a política, com
lugares de relevo nas administrações das empresas que foram beneficiados. Tanto
de um lado como do outro, trata-se apenas de investimento.
O paraíso dos seguros privados
Na mesma ordem de ideias, ninguém vai na onda
de que os órgãos de informação, principalmente os mais importantes, estão de
boa fé ou não há interesses disfarçados, ao desencadearem e desenvolverem
campanhas contra o SNS; no entanto, fazem de conta que o estão a defender
através da (falsa) preocupação de eventual prejuízo acarretado para os cidadãos
utentes pelo deficiente, ou falta dele, funcionamento.
Assim se percebe os violentos ataques aos
serviços de obstetrícia e ginecologia dos hospitais públicos levados a cabo por
todos os media corporativos, campanha que foi iniciada e conduzida, como já
aqui denunciámos, pelo inefável jornal “Público”, propriedade de uma família de
ricos emergentes depois do 25 de abril. Porque só com a degradação profunda do
SNS, inclusivamente com o fecho de algumas unidades (“Grupo de trabalho diz que
é necessário fechar maternidades e serviços de obstetrícia”), os empresários do
negócio da saúde, ou melhor da doença, poderão ter mercado para os seus lucros.
Ainda não eram conhecidos os resultados do
grupo criado pelo governo para estudar os problemas desta área dentro do SNS,
já o grupo Sonae sai a terreiro revelando ao que vem e sem papas na língua: “Há
seis milhões de portugueses sem seguro e muitos querem ter” – explica Miguel
Águas, administrador da Sonae MC. E acrescenta: “a quantidade de publicidade
nas televisões e rádios pode fazer supor que o mercado dos seguros de saúde
está saturado, mas a realidade é muito diferente” – o título é claro: “Sonae
lança seguros de saúde e quer um milhão de clientes”. Não serão necessárias
mais palavras para se entender ao que andam estes agentes, porque também sabem
que a política deste governo nunca deixou de lhes estar de feição.
Só ficam surpreendidos os desatentos ou os
papalvos da política, na justa medida em que todos os indícios apontam para um
ponto comum: a privatização da saúde. Os portugueses são os que mais pagam a
saúde do seu próprio bolso, de nada ou pouco servindo o dinheiro que lhes é
sacado através dos seus impostos, dentro dos países da OCDE; agora, ficou-se a
saber que “SNS gastou 718 milhões de euros em exames e tratamentos no privado;
valor recorde é consequências dos gastos com testes à covid-19”. Ou mais uma
prova que atesta para que serviu realmente a tão milagrosa e oportuna pandemia.
Abre a época da vacinação em massa
Os comerciantes da morte devem estar, a esta
hora, a salivar por mais, atendendo às recentes notícias quanto ao que se prevê
para o próximo Outono: “OMS espera aumento de hospitalizações e mortes com o
tempo frio – A Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu hoje que é expectável
um aumento de hospitalizações e mortes por COVID-19 depois do Verão, quando o
tempo ficar mais frio”. As expectativas do negócio são boas, embora a União
Europeia tenha anunciado tempo seco e quente até Novembro, alguma vez o frio
chegará para ajudar à venda das vacinas, pelo menos.
Mal o Governo anunciara a data do início da
campanha de vacinação, tal como os incêndios e a caça há sempre uma “época”
como resultado da instituição do facto, logo a mesma imprensa (que não se cansa
em denegrir o SNS) avisa: “COVID-19: Portugal volta a registar mais de 3 mil
casos nas últimas 24 horas – Número de mortes é o mais alto desde 8 de Agosto”.
O negócio já está concluído e a campanha irá iniciar-se: “Primeiras 650 mil
novas vacinas já chegaram a Portugal - As primeiras doses da vacina adaptada à
variante Ómicron já estão em Portugal e vão começar a ser utilizadas no dia 7
de Setembro”. Prevê-se a vacinação de 3 milhões de portugueses (para já!).
A vacinação começará pelos cidadãos mais
vulneráveis ou com mais de 80 anos e irá descendo gradualmente na escala
etária. Poder-se-ia, demagogicamente, que será para aliviar a despesa da
Segurança Social; no entanto, há uma realidade incontornável que o governo e a
DGS ainda não souberam explicar, que é o grande número de mortes por excesso
entre os mais idosos (mais de 85 anos) nos últimos meses, mais precisamente,
desde Março. Mas, mais grave ainda, há um outro grupo etário onde se observa
igualmente um repentino e nunca visto agravamento da mortalidade: os
adolescentes e jovens entre os 15 e os 24 anos. No global, um aumento médio de
42 óbitos a mais por dia (dados em "PáginaUm").
O inexplicável excesso de mortalidade
Este excesso de mortalidade poderá ter várias
causas. Poderá ser da vacina, que em vez reforçar o sistema imunitário o vai,
pelo contrário, enfraquecer ou desencadear doenças de auto-imunidade, como por
diversas vezes já foi denunciado; ou poderá ser pela degradação das condições
de vida e de pior atendimento pelos serviços de saúde, onde se inclui o SNS
depreciado intencionalmente pelo governo e pelos médicos a quem dá jeito levar
os doentes do público para o privado porque é aí que vão enriquecendo. Parece-nos
que talvez estas duas últimas razões sejam as mais importantes, embora todas
elas se interligam e potenciam.
A diminuição do poder de compra do povo
português, apesar de todas as medidas “anti-inflacionárias” tomadas pelo
governo, irá deteriorar as condições de vida e de trabalho, começando por uma
pior alimentação e pior estilo de vida, assim como degradar os níveis de saúde,
a começar pela saúde mental. Irá retirar quaisquer perspectivas de futuro à
nossa juventude, observa-se que que há cada vez mais jovens menores envolvidos
em crimes e internados em centros educativos, segundo refere a imprensa, num
crescimento considerado alarmante. Igualmente se constata que de toda a
população são os jovens que mais emigram: no primeiro semestre emigraram tantos
como no ano passado.
Iremos assistir daqui para a frente a uma
degradação acelerada dos níveis de saúde dos portugueses em geral na proporção
da mercantilização da saúde: menos saúde = mais lucros para o privado. A
demissão da ministra, sabendo-se como funciona o governo, já estava preparada e
há muito. Com esta ou outra qualquer ministra/ministro o destino do SNS também
há muito está traçado pela elite predadora e gananciosa, a não ser que utentes
e trabalhadores da saúde se oponham tenazmente a esta tenebrosa política.
6 de Setembro de 2022
Imagem: António Costa e Marta Temido - Jornal
Açores 9