O que o beato Marcelo mais almeja é benzer um governo seu, da sua cor e paladar, daí ter ficado eufórico e aceitado de imediato o pedido de demissão do PM Costa, oportunidade para relembrar o Silva de Boliqueime quando deu posse ao seu governo, desprezando a correlação de forças dentro da Assembleia da República, para mais tarde ser obrigado a engolir a geringonça.
Neste tempo todo, pouco mais de quinze dias,
ficou-se a conhecer, coisa que já não era desconhecida, que a direita que está
no poder da governação, incluindo a alta figura magistrada da Nação, a elite
nacional a quem o poder obedece e serve, os banqueiros e
funcionários/banqueiros, os jornalistas e comentadores avençados, e tudo o
mais, mais não são que a direita radical (muito mais radical que a vituperada
“esquerda radical” que quer ir para o governo). A extrema-direita, até aqui
ainda disfarçada de democrática, mas mal disfarçada, nestes 40 anos de
democracia burguesa de opereta, não pode deixar de mostrar o que na realidade é
e ao que vem, aliás, sempre veio: uma extrema-direita salazarenta e ressabiada,
disposta a vingar-se da derrota (meia) que sofreu em 25 de Abril e não
recuperada totalmente em 25 de Novembro.
O discurso do Silva de Boliqueime, que
discrimina os partidos com representação parlamentar que podem formar governo,
e os que dele estão à partida afastados por não aceitarem os compromissos
externos do país (do governo), nomeadamente. desejarem a saída do euro e/ou da
UE e a renegociação da dívida pública, insiste na formação de um governo de
coligação de extrema-direita, sem apoio maioritário no Parlamento, como acabou
por indigitar, revela que os interesses dos bancos alemães e franceses, de que
o BCE é uma emanação, estão em primeiro lugar, seguidos pela ganância sem
escrúpulos da burguesia nacional que aceita ficar com as migalhas do saque.
O aparecimento em público do temor dos
banqueiros e funcionários-banqueiros nacionais, o incontornável presidente do
BPI, o presidente do BCP/Millennium e o funcionário laranja presidente da
Associação Portuguesa de Bancos, pela eventual inexistência de “um Governo
estável a longo prazo e que cumpra com os compromissos de Portugal” ou de um
“Governo governe bem” no interesse da estabilidade dos negócios da banca que,
após as ajudas directas do estado, mais de 15 mil milhões de euros (1500 euros
por português), ainda se encontra em situação de falência, esperando arrecadar
mais algum, mostra para que serve o governo: gerir os negócios do capital.
O governo a quem o Silva deu posse é
abertamente um governo de extrema-direita, basta olhar para os novos ministros,
onde se destaca o beato professor catedrático de Direito de Coimbra, lembrando
o estilo do velho das botas, agora ministro do Interior, um governo mais do que
“ao serviço dos bancos”, é indubitavelmente um governo do grande capital
financeiro. O governo minoritário da coligação fascista PàF mostra, por outro
lado, que as eleições desta “democracia” mais não são que um pormenor para
enganar os incautos e, só por isso, (e utlizando as palavras do ministro das
botas) deve entregar-se quanto antes a Deus.
A simples possibilidade, que não passa ainda
de eventualidade incerta, de aparecimento de um governo de maioria PS/BE/PCP,
mesmo com os dois últimos partidos como simples apoiantes parlamentares, tem
suscitado os mais terríveis pesadelos nas abencerragens mais reaccionárias da
nossas elites, políticas e económicas, que, diga-se de passagem, são quase
todas, mostrando que a nossa burguesia não é inteligente nem possui vistas
largas, ao contrário da de outros países da União Europeia que já viram que
partidos de orientação social-democrata, embora com outra designação ou
farpela, como são os BE´s e a maior parte dos PC´s, são ainda a melhor forma de
fazer com que as políticas de austeridade sejam aceites pelo povo e os
trabalhadores, intimidados com a falsa “não há alternativa”.
A insistência na velha fórmula de governo de
direita, tipo PSD/CDS-PP, que na realidade é extrema-direita, quando mais de
dois terços do eleitorado se expressaram sem margem para dúvidas que estão
contra estas políticas, poderá conduzir a uma radicalização de posições,
principalmente por parte de quem sofre a austeridade que, devido à continuação
e profundamente da crise do capitalismo, irá redobrar. Não é por acaso que um
Pacheco Pereira (PP) se tem esforçado em apontar os perigos de tal extremar de
campos, insistindo no regresso à antiga social-democracia do centro, porque
sabe que este caminho em que teimam Silvas de Boliqueime e os nossos banqueiros
e empresários de sucesso conduzirá inevitavelmente à revolta social e,
eventualmente, à revolução socialista, o que significará o fim do capitalismo e
das classes parasitárias existentes em cada país, ou seja, as ditas elites
nacionais, onde PP se inclui.
É bem possível, mas ainda não é certo, que
vingue um governo de maioria de esquerda, apesar do trabalho de sapa dos
submarinos existentes no PS, agora formalmente capitaneados pelo Assis, mais
parecido com o coreano Kim Il-sung do que propriamente com o santo. Mas até
seria bom que tal acontecesse porque iria mostrar que partidos como um BE ou um
PCP são partidos nacionalistas apostados em salvar um capitalismo de cor também
nacional e as elites ditas “patrióticas”, desprezando os operários e o povo, cujos
interesses só poderão ser salvaguardados com a destruição da base económica, o
capitalismo, que está na origem de todo o sofrimento e miséria de quem
trabalha.
Mas o mais certo é o bronco Silva de
Boliqueime, fazendo jus ao seu espírito salazarento e provinciano (no mau
sentido do termo, diga-se) dê continuidade ao governo do seu partido e de
iniciativa pessoal, caso seja chumbado no Parlamento, como governo de gestão,
tentando esvaziar de poder o órgão que constitui o poder principal e o símbolo
desta democracia formal saída do golpe de estado do 25 de Abril. O que não
deixará de ser uma coisa boa, numa perspectiva de que irá intensificar as
contradições entre classes e dentro da própria classe dominante, já manifestada
na incapacidade de criar um governo de maioria parlamentar, daí as propostas de
algumas figuras mais cinzentas do regime, tipo Guilherme Silva, de se reformar
o sistema eleitoral com a concessão de um bónus de mais deputados ao partido
vencedor, a exemplo do da Grécia em que o partido que ganha leva mais 50
deputados, já não chegando as distorções provocadas pelo actual método de
Hondt. Por este andar, não faltará muito para que ou se dará maioria absoluta
ao partido mais votado, seja qual for o número de votos, ou se fará a
criminalização dos partidos da oposição, como acontece na Turquia, país
candidato ao clube UE, ou então deixar-se-á de fazer eleições e ficará governo
de nomeação presidencial, segundo indicação expressa e formal de
Bruxelas/Alemanha, como já agora o labrego (sem ofensa para os labregos) Silva
defende abertamente.
O que não deixará, diga-se de passagem, de ser
também uma coisa boa, apesar dos enormes males e sofrimentos que acarretará
para os trabalhadores e o povo português, porque também fará avançar a
consciência política não só da parte mais revolucionária da classe operária, o
proletariado, como de outras camadas dos trabalhadores; valerá mais que mil
discursos contra o sistema e conduzirá, como já anteriormente referimos em caso
de governo de maioria de esquerda, à criação de condições subjectivas para o aparecimento
de um partido revolucionário, coisa que não existe presentemente, que aponte o
caminho da revolução socialista. O Silva, com a sua proverbial cegueira e
congénita estupidez, está apenas a apressar a revolução socialista.
O que queremos salientar que qual seja o
expediente usado pela burguesia a fim de prolongar o seu sistema de exploração
e de fazer recair os custos da crise sobre os ombros dos trabalhadores, será
inevitável a classe operária tomar consciência de molde a compreender que não
há outro caminho alternativo ao capitalismo senão o socialismo; ou seja, a
tomada do poder como única via para a reorganização da economia segundo não o
lucro e a ganância, mas a satisfação das necessidades, a todos os níveis e não
só material, dos cidadãos, qualquer que seja a classe social, sexo, credo ou
cor; isto é, a emancipação e a libertação de toda a humanidade.
Publicado na revista “Os Bárbaros” em 03 de
Novembro 2015
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