quinta-feira, 13 de julho de 2023

Era uma vez...

 

Crónica sobre a negociata do SIRESP, envolvendo governos PSD e PS e o actual primeiro-ministro. Foi em 2008.

Era uma vez um ministro que adjudicou um contrato de 485,5 milhões de euros a um consórcio privado para fornecimento de um sistema de telecomunicações que ligasse todos os organismos de segurança e de emergência nacionais numa espécie de big brother informativo. Um negócio que, ao que parece, ficou seis vezes mais caro do que ficaria na realidade se o concurso não estivesse inquinado logo de início, com tráfico de influências de permeio, onde foram protagonistas três ministros e que se desenrolou ao longo de quatro governos; em resumo, é uma história (triste) à portuguesa.

Os pormenores vêm na imprensa, uma das televisões fez a reportagem e vai ao pormenor, o que se retém de toda a estória é que os governos que temos sido obrigados a suportar comportam-se como autênticas agências de negócios dos diversos interesses instalados que devoram a sociedade e que vivem do saque dos dinheiros públicos. PS e PSD têm sido os instrumentos desse verdadeiro roubo organizado, alternando no poder, mas mantendo a mesma política – nem se percebe sequer que ainda haja gente que acredite que o PS seja capaz de mudar de política –, ser lacaio dos grupos económicos está-lhe inscrito nos genes. E este caso do SIRESP é a melhor prova.

Um negócio que toda a gente viu que era francamente prejudicial para o Estado, desde o Instituto das Telecomunicações até à Inspecção-Geral das Finanças, não impediu que o então ministro António Costa entendesse que não deveria anular o concurso porque, nas suas palavras, era “juridicamente impossível”; ora, o que não é verdade, a própria lei permite que se anule qualquer concurso sem direito e indemnizar desde que o interesse público esteja em causa. A concretização do negócio, como planeado desde o início, significa que o ministro se assumiu como o homem de mão da Sociedade Lusa de Negócios, consórcio de empresas onde estão empregados ex-ministros e respectivos familiares. Razão para perguntar: será que António Costa terá emprego na SLN depois de sair da Câmara Municipal de Lisboa ou já terá lá algum familiar empregado?

O tráfico de influências, os negócios pouco claros, os assaltos ao erário público são constantes nos governos que têm desgovernado o povo português ao longo destes trinta e poucos anos de democracia de fachada – o melhor regime para explorar os trabalhadores, porque é neste regime que os trabalhadores até se deixam explorar de livre vontade –, e nestes negócios de muitos milhões de euros (são sempre de muitos milhões) é o povo que paga. E o engraçado de tudo isto, partindo de que haverá alguma graça nesta roubalheira, é que o sistema fornecido pela empresa vencedora do concurso (até foi a única a apresentar proposta) só funciona em cinco distritos e ninguém garante que venha alguma vez a funcionar em pleno.

Daniel Sanches, Figueiredo Lopes, António Costa, Oliveira e Costa e Dias Loureiro são nomes de políticos que ficam ligados a mais um roubo perpetrado ao povo português, assim como os chefes dos governos envolvidos em toda esta história, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, é bom que os seus nomes fiquem registados e sejam conhecidos, nem que seja na História da Má Memória.

Ver notícia:

https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/detalhe/conselho_de_ministros_aprova_adjudicacao_do_siresp_por_4855_milhoes

https://www.publico.pt/2017/06/22/politica/noticia/siresp-a-historia-de-uma-parceria-publica-privada-de-transparencia-1776439

Imagem: “Mulher Gorda” - Lucien Freud

Crónica escrita em 3 de Junho de 2008 

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