"Subservient
men" - Namio Harukawa (1947-2020)
Antes
de ser selado o “acordo” entre os 27 estados da União, Costa
veio perante os câmaras das televisões manifestar o seu optimismo
quanto um acordo de um plano para a recuperação económica da União
Europeia e, em particular, de Portugal, acordo que teria de ser um
“modelo novo” quanto à estrutura e aplicação. Em suma, a
lenga-lenga da concretização na prática da putativa
“solidariedade”, tão badalada pelos países mais periféricos e
dependentes, porque os outros, nomeadamente, os auto-denominados
“frugais” (que ladram no lugar da Alemanha), já há muito que
abandonaram essa linguagem hipócrita e enganadora. Como seria de
esperar, os países ricos ouviram a pedinchice dos de chapéu na mão
e acordaram no pacto para a pilhagem, logo considerado um "histórico
resultado" pelo nosso PR Marcelo enquanto genuflectia no
beija-mão ao corrupto monarca espanhol e à sua mais que
desacreditada monarquia. Os subservientes agradecem reverentemente,
salivando antecipadamente com a parca ração, porque até sabem que
quem irá pagar serão sempre os do costume, o povo que labuta e se
sacrifica.
Dizem
que foi uma árdua maratona, de cinco dias, do Conselho Europeu, com
o resultado final de 1,8 biliões de euros para “responder à crise
deixada pela pandemia de covid-19”, como se a crise já não
existisse e não fosse provocada pelas contradições próprias da
natureza da economia capitalista, denominada por vezes e
seraficamente de “economia de mercado”. Crise esta que mais não
é que a continuação da crise de 2008, ou seja, uma crise dentro de
uma crise mais profunda e arrastada e que agora se agravou pela sua
própria natureza e pelas medidas que foram usadas há 10 anos e que
só resultaram numa crise ainda mais violenta. É das leis da
natureza que todas medidas usadas para fazer frente às crises do
capitalismo se esgotam e provocam uma crise ainda maior. Em 2008
tratou-se de salvar os bancos, em primeira linha os grandes grupos
financeiros que eram demasiadamente grandes para falir, agora,
passados cerca de 10 anos, trata-se de salvar todas as grandes
empresas económicas capitalistas e não somente as financeiras. É
todo o sistema económico que se encontra à beira do precipício,
com a falência antecipadas das pequenas empresas, como se está a
verificar em Portugal, país com uma economia periférica a
inteiramente dependente. Costa, Rio, Marcelo, Saraiva e restante
burguesia parasitária e rentista, mais todo o séquito de
comentadores e paineleiros arregimentados, aplaudem com ambas as mãos
o maná dos 45 mil e 85 milhões de euros e o envelope de 15,3 mil
milhões de euros (a usar até 2026), falsamente, a fundo perdido,
salivam pelo enriquecimento fácil e pelas comissões respectivas.
Estes
muitos milhões de euros jamais serão a fundo perdido e serão os
trabalhadores e o povo, mais uma vez a, pagar a factura e desta feita
com sacrifícios acrescidos, e inúteis porque é impossível
endireitar a sombra de uma vara torta, para mais em benefício
daqueles que vivem à custa da sua exploração. Da mesma forma que a
acumulação de riqueza dentro do país leva ao aumento das
desigualdades sociais e económicas, a riqueza flui sempre em sistema
de vasos comunicantes, os ricos ficam mais ricos e os pobres mais
pobres, na UE o processo é semelhante entre os diferentes países.
Os estados mais ricos ficarão mais ricos e os pobres mais pobres e
não é por acaso que os tais países” frugais”, Áustria,
Dinamarca, Holanda, Suécia, juntando-se mais tarde a Finlândia, com
a Alemanha à cabeça, deve-se dizê-lo, são os países que mais têm
lucrado com a UE e os que têm menos contribuído para a despesa. A
estes somam-se outros países que também têm ganhos, embora em
menor escala, a Bélgica, França, Luxemburgo, Irlanda, cujos PIB's
per capita são superiores à média europeia (840 euros), enquanto
Portugal resta no fim da escala, nuns míseros 497 euros. Este acordo
que é um verdadeiro pacto para a pilhagem dos países mais pobres,
ou pior ainda, para intensificação dessa pilhagem, e daqui a 6
anos, Portugal ainda estará mais pobre e mais dependente, numa
situação de colónia e, reforçando o elo da dependência, de
região do estado espanhol.
Os
45 mil e 85 milhões de euros, do fundo total de 750 mil milhões de
euros para a recuperação económica capitalista, serão devolvidos
e com pesados juros e por diversos meios já anunciados, seja através
do corte nas verbas do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, seja
pelo aumento da contribuição nacional para o orçamento da UE, ou
pelo aumento da componente de empréstimos, ou, o mais grave ainda,
pela maior ingerência de Bruxelas em Portugal definindo a sua
estrutura produtiva, estando o governo PS/Costa obrigado a entregar
até Outubro o famigerado Plano de Recuperação Económica de
Portugal para a próxima década. Será na aplicação deste plano
que serão gastas as verbas prometidas, mas não garantidas, e cujo
esboço preliminar foi entregue ao tecnocrata Costa e Silva, onde a
perspectiva para o futuro do país, não exactamente do povo que
trabalha, mas do país da burguesia e do capitalismo doméstico, é
bastante confrangedor, Portugal será um mero fornecedor de
matérias-primas, no caso será o lítio, e de mão-de-obra barata
para as grandes empresas estrangeiras que estejam na disposição de
vir explorar os nossos trabalhadores. Mas mesmo para a exploração e
empobrecimento do país, haverá um controlo apertado por parte da
Comissão Europeia, ficando a utilização das verbas sujeitas à
avaliação do Ecofin, conselho que é constituído pelos ministros
da Economia e das Finanças de todos os Estados-Membros; ou seja,
serão os tais ditos países “frugais” a controlar o
empobrecimento dos estados periféricos ao mesmo tempo que
salvaguardam o seu enriquecimento.
No
final, todos batem palmas. O presidente do Conselho Europeu, um dos
lacaios da Merkel, considera que as negociações "foram sobre
dinheiro, mas, mais do que isso, trata-se de trabalhadores e
famílias, seus empregos, sua saúde e seu bem-estar”, numa
desfaçatez e hipocrisia sem limites. O anúncio de mais uma
enxurrada de dinheiro foi aplaudido pelo chefe da CIP e pelos lideres
do PSD e CDS que alertaram para a rápida disponibilização e boa
aplicação do dito, como se eles e os seus partidos nunca tivessem
metido a mão no pote e não sejam igualmente responsáveis pelo
desperdício e má aplicação dos imensos fundos que vieram da UE
durante este tempo todo, desde a entrada de Portugal na então CEE
até agora; uma corja de farsantes e de rapinantes! O PCP lamenta,
enxugando a lágrima ao canto do olho de saber a pouco a eventual
comissão, a falta de solidariedade por parte da União e da perda de
soberania do país, como entre países capitalistas e no mundo dos
negócios houvesse solidariedade e não interesses ou luta entre os
lobos da matilha. O BE, fazendo-se de trouxa e a salivar para uma
possível ida para a área da governação, fica-se pela lamechice
“do dinheiro que não vem”. Os falidos principais órgãos de
informação, opiparamente untados pelos 15 milhões de euros pelo
governo PS/Costa, aplaudem o acordo e enaltecem o trabalho do
governo, enquanto vão fazendo negócios de milhões e lançando os
trabalhadores para o lay-off, ganhando nos dois carinhos, como
aconteceu com o grupo Media Capital/TVI.
Enquanto
isso, PS e PSD, na sua autêntica e indisfarçável versão Bloco
Central, aprovam o fim dos debates quinzenais no Parlamento, aonde o
primeiro-ministro ia todos os quinze dias dar conta da governação,
a partir de Setembro irá somente de dois em dois meses, passando o
resto do tempo a governar por decreto, fazendo da dita “Casa da
Democracia” um verbo de encher, num claro processo de musculação
do regime. Iremos assistir daqui para a frente ao aberto e acelerado
apodrecimento da democracia parlamentar burguesa em Portugal. O passo
seguinte, e com toda a lógica, será o encerramento da Casa, não
será necessário mandar incendiá-la, como aconteceu há mais de
oitenta anos numa Alemanha declaradamente ditatorial como agora; se
se tem de pedir autorização a Bruxelas para a mínima reforma ou
medida a tomar no país, não há razão para manter em funcionamento
uma tão grande inutilidade, a não ser para justificar a propina
mensal dos deputados. Acentuadamente, Berlim manda e os subservientes
políticos dos estado-colónias cumprem. Esta Europa do capitalismo e
do imperialismo não se reforma, destrói-se. E a classe operária de
cada país deve assumir a linha da frente do combate. Ao contrário
do que possa parecer, o internacionalismo e a revolução socialista
encontram-se cada vez mais na ordem do dia.