Cinco
anos antes do colapso já o Grupo Espírito Santo estava falido,
realidade que não seria só do conhecimento do principal
protagonista e responsável pelo crime, mas igualmente dos restantes
elementos da família (ou da famiglia) e não apenas dos que agora
são acusados, apenas mais dois elementos para além do dito cujo
Ricardo Salgado. Dificilmente se entende que as entidades reguladoras
(ditas), Banco de Portugal e CMVM (Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários) não tivessem na sua posse indícios claros do que se
estava a tramar, bem como os principais governantes, PM Coelho e PR
Cavaco, através dos canais normais ou do SIS, com certeza saberiam
toda a trama. Todas as declarações públicas feitas pelos diversos
políticos e outros responsáveis, em vésperas da falência, soaram
na altura a falso, quanto mais agora.
No
entanto, a justiça, à semelhança do que acontecera com o caso dos
submarinos, onde se comprovou haver corrupção, tendo sido a parte
activa condenada na Alemanha e em Portugal não se terá passada
nada, com Cavaco, Coelho e Costa (o que esteve a ganhar 17 mil
euros/mês durante 10 anos para encobrir as vigarices da banca) a
serem ludibriados na sua boa-fé, porque a informação que receberam
terá sido manipulada! Ou como a justiça em Portugal tem dois pesos
e duas medidas quando se trata de julgar e condenar os poderosos ou
os pés descalços. Ou, então, o que não deixa de estar implícito
numa justiça de classe, a corrupção também vagueia por aqueles
lados.
Será
interessante fazer uma pequena resenha sobre o caso BES, utilizando
os títulos da imprensa saídos logo após o conhecimento da acusação
feita sobre os três Espíritos Santos, cabeças de uma das famílias
de oligarcas mais antigas do país, que sempre dominou a política e
os políticos durante quatro regimes, Monarquia, I República,
Ditadura Fascista, Democracia pós-25 de Abril, o que possui um
particular simbolismo: é todo o sistema capitalista e burguês,
independentemente da forma política que reveste, que faliu em
Portugal. Parece que nem a burguesia indígena, nem a classe política
actual, corrupta e oportunista que está ao seu serviço, sabe.
Não
se pretende fazer a história da maior burla financeira que jamais
houve em Portugal, como já foi dito, haverá quem melhor a faça,
mas entender, na base do que tem dito os jornais ultimamente, e para
isso não será necessário possuir qualquer formação académica na
área da economia, qualquer cidadão interessado se perceberá que
houve, para além da trafulhice para o enriquecimento pessoal de uma
família já poderosa, uma falência do modelo financeiro e
económico, bem como de um regime político que, mais do que
cúmplice, tem como dever de ofício defender não só os negócios
legais da elite económica reinante como todas as trafulhices que
apenas complementam o ramalhete do que é a economia capitalista
assente no roubo (um roubo legalizada pelas leis do regime) e na
exploração dos trabalhadores.
É
notícia que “além de Ricardo Salgado, só foram acusados mais
dois membros da família: José Manuel Espírito Santo e Manuel
Fernando Espírito Santo”. E “o Grupo Espírito Santo (GES) já
estava falido cinco anos antes do seu colapso, em 2014, afirma a
acusação do Ministério Público, que imputa ao antigo banqueiro
Ricardo Salgado 65 crimes, incluindo associação criminosa, 30
crimes de burla qualificada e 12 crimes de corrupção activa”.
Antes
do início da falência, em Maio de 2013, era notícia: “o
presidente do BES, Ricardo Salgado, desvalorizou esta sexta-feira a
falta de mão-de-obra nacional nos projectos agrícolas do Alqueva,
declarando que há imigrantes que substituem os portugueses que
«preferem ficar com o subsídio de desemprego». «Se os portugueses
não querem trabalhar e preferem estar no subsídio de desemprego, há
imigrantes que trabalham, alegremente, na agricultura e esse é um factor positivo», afirmou o presidente do BES durante um debate sobre
o potencial agrícola do Alqueva.
“Os
membros do conselho superior do Grupo Espírito Santo atribuíram a
si próprios remunerações e «complementos salariais» no valor de
29 milhões de euros já com o grupo falido”. “Salgado terá
usado 48,5 milhões para pagar a cúmplices - O Ministério Público
acredita que Ricardo Salgado «comandou um grupo restrito» de
funcionários que permitiram encobrir a real situação do GES”.
“Zona
Franca da Madeira foi a placa giratória do BES para a Venezuela e
Angola -
Sucursal da zona franca serviu para o banco angariar clientes da América do Sul e África. PDVSA e outras empresas venezuelanas chegaram a ter quase 7000 milhões de dólares no BES. Depósitos eram investidos no GES”.
Sucursal da zona franca serviu para o banco angariar clientes da América do Sul e África. PDVSA e outras empresas venezuelanas chegaram a ter quase 7000 milhões de dólares no BES. Depósitos eram investidos no GES”.
“Grupo
Águas de Portugal perdeu mais de cinco milhões no BES. Da lista de
investidores que Ministério Público diz terem sido enganados fazem
parte instituições religiosas e instituições privadas de
solidariedade social. Parte deles conseguiram recuperar dinheiro.
A seis meses do colapso do universo Espírito Santo, dezenas de clientes do BES, institucionais e particulares, investiram centenas de milhões de euros em dívida das empresas do grupo... E isto quando o quadro de dificuldades já era conhecido, havendo já notícias sobre investigações a decorrerem às operações do GES em várias geografias, assim como a Ricardo Salgado”.
A seis meses do colapso do universo Espírito Santo, dezenas de clientes do BES, institucionais e particulares, investiram centenas de milhões de euros em dívida das empresas do grupo... E isto quando o quadro de dificuldades já era conhecido, havendo já notícias sobre investigações a decorrerem às operações do GES em várias geografias, assim como a Ricardo Salgado”.
“A
sociedade ES Enterprise, que funcionava como saco azul do
Grupo Espírito Santo, financiou a campanha eleitoral de Cavaco Silva
em 2011, tendo servido também para pagar serviços ao então
deputado social-democrata Miguel Frasquilho, hoje presidente da TAP”
(que agora dizem desconhecer o facto!). “Miguel Frasquilho recebeu
dinheiro do saco Azul do BES”, terá sido um dos grandes
beneficiados com a corrupção de Ricardo Salgado”, homem
multi~facetado, foi vice-presidente da Comissão Parlamentar que
sancionou (branqueou) o processo de privatização da EDP, então
vendida aos chineses, simultaneamente, trabalhava no Grupo Espírito
Santo, que, por sua vez, assessorava os chineses no processo de
aquisição da EDP, premiado com o cargo de Presidente da AICEP onde
promoveu investimentos na China do Grupo Espírito Santo e, mais
tarde, já no governo PS/Costa, nomeado, para chairman da TAP. Ou o
polvo no seu melhor.
Será
bom ir um pouco atrás e conhecer alguns factos que mais tarde vão
desembocar no caso BES. Em 2006, as escutas do caso Portucale apanham
uma conversa entre Paulo Portas e Abel Pinheiro onde se discute a
sucessão e é feita referência a um banco apontado como parceiro do
CDS em vários projectos e que iria pagar parte do vencimento,
equiparado ao do 1º pimeiro-ministro, do futuro líder do partido
que sucedesse a Paulo Portas. Em 2014, Paulo Portas
vice-primeiro-ministro, vem a público dizer que em 2004, dois anos
antes das escutas, então ministro da defesa, tinha exigido
a inclusão do BES no consórcio dos submarinos, além de
ter permitido que a proposta de financiamento do consórcio de
bancos fosse revista em alta, tendo as margens de lucro (spread)
aumentado de 0,19% para 0,25%. Ou como os ministros e políticos do
poder são zelosos gestores dos interesses da burguesia.
E
mais, entre 2011 e 2014, os anos do "apagão fiscal"
relativo às transferências para offshores, Paulo Núncio do CDS/PP,
metido por Paulo Portas à frente da secretaria de Estado dos
Assuntos Fiscais, ocultou a empresa que levou à queda do BES,
ou seja, a "caixa negra" do GES, o fundo Zyrcan,
sediado nas Ilhas Virgens Britânicas (BVI), apontado como um dos
veículos de esquemas de financiamento fraudulento do Grupo Espírito
Santo à custa dos clientes e do próprio banco, é uma das entidades
do ‘apagão fiscal’ das transferências para offshores denunciado
em 2017. Da imprensa.
“O
fundo Zyrcan, vocacionada para emitir papel comercial para financiar
o GES e gerido pela Eurofin, foi usada para esconder prejuízos e
perdas do grupo. Segundo o despacho de acusação do inquérito à
queda do Banco Espírito Santo, a sociedade Zyrcan está no epicentro
do esquema fraudulento liderado por Ricardo Salgado que foi
centralizado na sociedade suíça para extrair três mil milhões de
euros do banco”.
“O apagão fiscal de 10 mil milhões de euros, noticiado pelo Público em 2017, deu origem a uma auditoria da Inspeção-Geral das Finanças (IGF), mas as conclusões não conseguiram trazer um esclarecimento definitivo do que aconteceu. A IGF disse na auditoria que “não foi encontrada explicação para a singularidade estatística de este ‘erro’ afetar especialmente algumas instituições”, afirmando que a intervenção de mão humana era “extremamente improvável”. Ou como o PS encobre as fugas ao fisco e as fugas de capital para fora do país quando são os bancos e as grandes empresas ao autores.
“Em
causa nesta investigação, do Departamento Central de Investigação
e Acção Penal (DCIAP), “está um valor superior a 11.800 milhões
de euros”, em consequência dos crimes imputados, e prejuízos
causados. A PGR refere também que o processo principal BES/GES
«agrega 242 inquéritos que foram sendo apensados, abrangendo
queixas deduzidas por mais de 300 pessoas, singulares e colectivas,
residentes em Portugal e no estrangeiro».
Além de Ricardo Salgado são também arguidos neste processo Amílcar Morais Pires e Isabel Almeida, antigos administradores do BES, entre outros”.
Além de Ricardo Salgado são também arguidos neste processo Amílcar Morais Pires e Isabel Almeida, antigos administradores do BES, entre outros”.
“Na
semana passada, tivemos a suspensão de António Mexia e Manso Neto
da EDP e o juiz Rui Rangel voltou à ribalta quando o Supremo
Tribunal de Justiça confirmou a decisão da sua expulsão, com
descrições da vida de luxo do juiz impagáveis com um salário de
magistrado. A cereja em cima do bolo chegou esta semana, com a
acusação de Ricardo Salgado” (Susana Peralta no "Público"). Ou a corrupção de vento em popa, pelo privado e pela justiça.
“O
presidente do PSD, Rui Rio, criticou nesta quarta-feira os prazos da
justiça no caso BES, questionando «quantos mais anos» serão
necessários até haver uma decisão final no que classifica como o
«maior crime financeiro» da história portuguesa. «BES: Em linha
com o habitual nível de eficácia, só a acusação demorou seis
anos. Agora, o caso passa para os tribunais. De incidente em
incidente e de recurso em recurso, quantos anos mais teremos de
esperar para ser feita justiça no maior crime financeiro da nossa
História?» - questiona Rio, numa publicação na sua conta oficial
da rede social Twitter”. Ou o descaramento e a pouca vergonha do
actual dirigente do partido que permitiu e sancionou toda a vigarice,
incluindo a aprovação da solução quanto à resolução do Grupo
BES, que foi assinada pela ministra Crista quando se encontrava em
banhos!
Para
conclusão e memória futura e nada mais: “Segundo adianta uma nota
da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi deduzida acusação
por associação criminosa e por corrupção activa e passiva no
sector privado, de falsificação de documentos, de infidelidade, de
manipulação de mercado, de branqueamento e de burla qualificada
contra direitos patrimoniais de pessoas singulares e colectivas”. À
semelhança de “Justiça iliba Cavaco Silva e Banco de Portugal no
caso BES”.
Ou a
impunidade no seu máximo explendor. Podemos esperar sentados quanto
à decisão final do caso em tribunal que será, como tudo leva a
crer, um pouco mais demorada do que o caso BPN/Oliveira e Costa, cuja
figura principal pôde calmamente morrer em casa e a gozar da fortuna
sem nunca ter devolvido um cêntimo sequer do que roubou e sem ter
cumprido a pena de prisão a que foi condenado, mostrando mais uma
vez que no país há duas justiças, uma para os ricos e poderosos e
outra para os pobres e os trabalhadores.
Uma
última nota: quando é que conheceremos os nomes dos Panama Papers,
informação fechada a sete chaves pelo jornal Expresso e pelo sócio
nº. 1 do PSD?!
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