A própria sobrevivência da União Europeia
encontra-se em jogo, ela corre o risco de afundar-se a breve prazo.
A saída da Grã-Bretanha, a estagnação
económica da Alemanha e da França, forte endividamento da terceira economia da
UE, a Itália, a falta de solidariedade dos países mais ricos em relação aos
mais pobres e periféricos (a Alemanha proibiu a exportação de equipamento
médico para combate ao vírus), o aumento de endividamento destes último países
por força do esforço económico que agora será feito e por força da subida das
taxas de juro sobre as dívidas soberanas que já se está a fazer sentir (em 4
dias a taxa de juro da dívida pública portuguesa a 10 anos subiu de 0,791% para
1,208%, em Fevereiro estava abaixo dos 0,3%, e a subida de 1% representará mais
3 mil milhões de euros) são factores endógenos e exponenciais que precipitarão
o fim.
Lagrade, presidente do BCE (Banco Central
Europeu), foi clara, apesar de logo tentar emendar a mão, a boca fugiu-lhe
irresistivelmente para a verdade: não é da competência do BCE reduzir os
spreads da dívida pública na zona euro. Estamos ainda bem lembrados de outras
palavras da mesma senhora quando era presidente da instituição benemérita FMI
de que os idosos eram um peso para a economia; ora, são exactamente os idosos
que estão a ser as principais vítimas do coronavírus (veja-se o que se está a
passar em Espanha!).
O dinheiro prometido para “estimular” a
economia é para dar aos bancos que, por sua vez, irão continuar a lucrar com a
dívida pública, Portugal já passou mais de 25 mil milhões da dívida pública
externa para a banca dita "nacional", só entre 2015 e 2019, com o
governo de Costa/Centeno, tendo atingido a dívida do Estado à banca o montante
de 83.888 milhões de euros no fim de 2019.
O dinheiro prometido às empresas e patrões,
3000 milhões de garantia aos créditos, para isso ainda teve que pedir
autorização a Bruxelas, 5200 milhões na área fiscal e 1000 milhões na área
contributiva, no total de 9200 milhões, são uma panaceia de que irão beneficiar
apenas as grandes empresas, as pequenas irão ser condenadas à falência, e os
trabalhadores nada receberão, apesar do Governo Costa/PS não se cansar de dizer
que é dinheiro para ajudar as “famílias”, as famiglias serão outras, com
certeza.
O que se verificará na prática é que Portugal
sairá mais endividado desta crise económica, destapada e de certo agravada pelo
surto do Covid-19, mas já existente e que a todo o momento prometia rebentar,
crise aguda dentro de crise crónica do capitalismo.
E esta até seria, já que estamos em estado de
emergência, uma excelente oportunidade para o Governo PS/Costa, caso tivesse
tomates para tal, alterar alguma coisa na economia, como seja: desenvolver a
produção por parte do Estado, e o Laboratório Militar até tem capacidade para
tal, de medicamentos e desinfectantes, que estão a ser objecto de especulação
verdadeiramente escandalosa; de equipamento de pretecção; e de outros bens
essenciais em situação de calamidade e de emergência; e nacionalizar todas as
empresas, a começar pelos bancos, que entendesse para o bem do povo, o dito
“interesse público”.
O Governo Costa/PS pode suspender, caso
queira, o pagamento da dívida soberana até que dure a crise pandémica e se
realize uma auditoria cidadã à dívida que, toda ela ou quase, é ilegítima,
ilegal e odiosa, porque não foi o povo que a contraiu nem dela beneficiou ou
beneficia.
Suspensão imediata do pagamento da dívida para
que o dinheiro que tem sido gasto com ela, mais de 8 mil milhões por ano em
média, seja todo aplicado no fortalecimento do SNS e, no imediato, na aquisição
de bens e contratação de pessoal para o combate ao coronavírus. Aqui os
partidos que se dizem de esquerda com assento parlamentar teriam uma palavra
importante a dizer.
Mas, infelizmente, nada disto acontecerá,
porque temos um governo e partidos, que se arvoram do “comunismo” e de
“esquerda”, e que estão completamente de acordo, e mais do que isso, integrados
de alma e coração no salvamento da economia capitalista periclitante. Terão de
ser os trabalhadores e o povo, um dia destes, a sair para a rua e exigir o que
tem de ser exigido, nem que seja pela força das circunstâncias: o povo não se
deixará matar nem pela fome nem pelo coronavírus.
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