O PS sempre que está no governo
apresenta uns tiques de direita a fugir para a extrema-direita,
pode-se atribuir a patologia à personalidade de alguns seus
dirigentes, indivíduos com défice cultural e educacional,
traumatizados quando criancinhas, sofrendo de complexos de vária
ordem, pessoas imaturas com alguma disfunção de personalidade,
perturbação esta sem tratamento à vista, ou, então, uma classe
social pequeno-burguesa, arrivista por natureza, ávida de poder e de
dinheiro, poltrona, disposta a vender-se a quem melhor pagar,
virando-se sempre para o lado mais forte. Seja como for, e não
olvidando jamais que o PS foi um partido fundado na Alemanha com os
marcos da social-democracia germânica, o seu papel histórico será
sempre o de trazer para o poder a direita mais trauliteira, incluindo
o fascismo, ou seja, aplanar o caminho para uma solução mais dura
da crise do capitalismo, com a intervenção directa e sempre brutal
do grande capital; uma democracia musculada, ou um fascismo tipo
português suave, não passa de um eufemismo para encobrir a
violência que nunca deixou de se exercer sobre o mundo do trabalho.
E os exemplos de tiques fascistóides do PS têm sido mais que muitos
e graves, especialmente nos últimos tempos de segundo mandato.
O primeiro mandato do governo PS/Costa
pautou-se pela contenção no apertar do cinto dos trabalhadores,
numa austeridade suave; terá sido o mandato do “alívio”, com a
reposição de uma pequena parte dos rendimentos que foram retirados
pelo governo anterior de Passos Coelho/Paulo Portas/PSD/CDS-PP, o que
lhe permitiu governar sem ter ganho as eleições, bastou-lhe
subornar o BE e o PCP com ligeiras cedências que, ao contrário do
esperado por estes partidos, reverteram em termos eleitorais
seguintes em vantagem, embora pequena, para o PS, tendo permitido que
desta vez tenhas ganho as eleições, apesar sem maioria absoluta.
Foi o PS na sua versão social-democrata, tendo até permitido, pela
primeira vez desde o 25 de Abril, uma santa-aliança de esquerda de
facto.
Depois de Outubro
de 2019, estamos a presenciar um PS em versão mais dura, a sua
faceta autoritária, roçando o fascismo, melhor dizendo, o PS ainda
não chegou abertamente a fascista porque não tem a maioria
absoluta, porque caso isso tivesse acontecido, não seria necessário
Chegas nem Iniciativas Liberais para nada. Mas vamos aos factos, e
começando pelos últimos:
Costa anda numa roda viva em tournée
pelos municípios da região do Montijo a fim de convencer as câmaras
que não estão dispostas a ter um aeroporto ao pé da porta com
todas as consequências daí resultantes, ao mesmo tempo ameaça com
a mudança da lei (feita pelo próprio PS mas que terá sido
esquecida, daí também a pouca importância que este partido dá ao
tal dito “Estado de Direito e Democrático”) que impede a
realização de uma obra que é “de interesse nacional”, se não
houver acordo por parte dos municípios afectados; diz o PS, e diz o
CDS já à cata de ir de novo para o pote ou receber grossa propina
da francesa VINCI, de “interesse nacional”. Aqui pouco se percebe
o que será “interesse nacional”, os interesses dos acionistas
daquela empresa francesa ou os interesses dos hoteleiros de Lisboa e
dos proprietários dos Alojamentos Locais, tanto uns como outros nas
sua maioria estrangeiros?
Mas antes do aeroporto do Montijo,
que, diga-se de passagem, é uma autêntica aberração, seja pelo
local, seja pela dimensão, seja pela motivação e interesses que
fazem andar esta gente num rebuliço, tinha sido já o chumbo dos
nomes apresentados pelo PS para o Tribunal Constitucional (TC),
Conselho Económico e Social e o Conselho Superior da Magistratura, e
que nem sequer tiveram o apoio de todos os deputados auto-denominados
socialistas, 15 deles abstiveram-se (no caso do TC), mas mesmo assim
ainda houve 93 que apoiaram, o que se poderá considerar que o
aparelho PS, parte dele herdado do tempo de Sócrates, ainda vai
funcionando não sendo contudo tão eficaz. A frustração de um
dirigente ou ex-dirigente PS da governação socratina, que não teve
rebuço em declarar que andou “40 anos” a preparar-se “para
juiz do Tribunal Constitucional”, prova somente a arrogância de
cacique que se considera com direito natural, ou divino, a alto cargo
do Estado. A República parece mais uma monarquia com cargos
vitalícios ou com direito permanente a tais mordomias por parte de
uns quantos nobres ou senadores.
A reacção da chefe da bancada
parlamentar do PS que ficou “absolutamente espantada” com o
Parlamento ter bloqueado “o funcionamento de outras instituições
democráticas” do Estado dá bem da medida da noção que esta
gente tem da democracia, esta só é boa quando lhe satisfaz a
vontade e os interesses; assim, o Parlamento só será uma
instituição democrática se der aval a outras que não são
escrutinadas pelo voto do povo para poderem fazer o que lhes bem
aprouver. É uma democracia invertida, virada de pés para a cabeça,
e a “democracia” defendida pelo PS ficou ainda mais a nu quando a
mulherzinha se escandalizou com o facto de as outras bancadas terem
dado a garantia de que os nomes apresentados pelo PS não seriam
chumbados, o que revela que as votações na Assembleia da República
não passam, as mais das vezes, de uma encenação visto que as
decisões já estão combinadas e decididas nos bastidores. Chamar a
um regime destes uma “Democracia” e ao Estado que funciona deste
modo e com gente deste jaez um “Estado de Direito” é
decididamente gozar com o pagode.
Antes da indignação parlamentar do
PS, o ministro do Ensino Superior, um sujeito cinzento e obtuso, para
sermos simpáticos, que considerou o Tribunal de Contas uma força de
bloqueio, cujo estatuto deverá ser mudado, no seu entender, por ter
feito uma “avaliação de índole política” quanto à forma como
o governo PS/Costa gasta as verbas para as universidades e institutos
politécnicos públicos. O governo não levou em linha de conta
“qualquer indicador de desempenho ou de qualidade, não premiando o
mérito, nem alavancado a excelência” nos contratos realizados
entre 2016 e 2019, segundo a auditoria realizada por aquele Tribunal,
não tendo assim respeitado a Lei de Bases de Financiamento do Ensino
Superior. O governo e o ministro, embora tenha sido este a
pronunciar-se, não terão gostado dos reparos do Tribunal de Contas
e das recomendações feitas no sentido de maior respeito pela lei,
ou a promoção de “diligências necessárias à sua alteração”,
e “introdução das melhorias necessárias para colmatar as
insuficiências e fragilidades identificadas” e, uma parte que terá
desagradado às consciências governamentais, uma maior transparência
no sentido do executivo “promova a publicitação dos resultados
das acções de acompanhamento e controlo do financiamento público
das IES que vierem a ser realizadas”. Para o PS, ficamos a saber,
mais uma vez, que lida mal com as críticas e com a transparência
das suas acções. E falamos de um governo sem maioria absoluta; ora,
se a tivesse, o que seria?!
Mas, algum tempo mais atrás, tivemos
o caso do Ventura do Chega que mandou a deputada Joacine para a terra
dela por esta ter levantado a hipótese de o governo de Portugal ter
de devolver algum do espólio que foi retirado das antigas colónias,
sem que as ditas autoridades e defensores do tal “Estado
Democrático e de Direito” se tivessem escandalizado. O Presidente
da Assembleia da República recusou que o assunto fosse discutido em
plenário, porque seria dar importância e publicidade ao xenófabo e
racista deputado da extrema-direita, os restantes deputados dos
outros partidos concordaram, o caso ficou em reunião de lideres das
bancadas parlamentares, e o PR Marcelo, sempre lesto e pronto para
aparecer em todo o lado e botar faladura por tudo e por nada, assumiu
pela sua postura que defender a Constituição e fazê-la respeitar
não é assunto que lhe diga respeito. Depois queixam-se que os
populismos estão aí e que o fascismo na Europa está a crescer, mas
é exactamente esta gente que vai pactuando com o fascismo, que o
encobre e acalenta, juntamente com os media corporativos que a toda a
hora o promove, porque será sempre a solução de recurso para a
burguesia fazer frente à crise económica, já em adianto estado de
cronicidade, do seu sistema de exploração se os trabalhadores não
se mostrarem dispostos a vergar ainda mais a cerviz.
Este agitar de “força de bloqueio”
que não “deixa trabalhar o PS” faz lembrar outra figura de
má-memória para o povo português e só confirma que não existe
diferença significativa entre PS e PSD, quanto muito haverá uma
ligeira diferença de estilo e quando as coisas correm bem. E as
coisas irão daqui para frente correr menos bem, para não dizer
muito mal, não sendo necessário a pandemia do coronavirus, já
alcunhado de “vírus chinês” pelos órgãos de informação de
referência cá do sítio, para mostrar que a crise é irreversível
– quanto muito, o vírus terá o condão de a fazer antecipar – e
bem visível na situação da banca, cujos lucros se constituíram
quase exclusivamente à custa de exploração directa dos clientes e
não por uma melhoria dos negócios financeiros, numa economia
inteiramente rentista. E os números não deixam margem para dúvidas:
os cinco principais bancos portugueses (CGD, BCP, Santander, BPI,
Novo Banco), ou mais correctamente, a operar em Portugal, arrecadaram
em 2019 mais de 1.800 milhões de euros em comissões bancárias, mas
com menos 990 trabalhadores. E mais ainda: nos 20 anos desde a
entrada em vigor do euro, “cada português ficou cerca de 41 mil
euros mais pobre (ou teve um impacto negativo nesse montante)”,
segundo estudo do think-tank alemão Centre for European Policy,
enquanto a Alemanha foi o país que mais beneficiou, com cada alemão
a ter beneficiado cerca de 23 mil euros.
Mais palavras para quê, quanto à
situação de pobreza dos trabalhadores e do povo português em
geral, e a da natureza de um PS que não hesitará em levar o país
para o fascismo caso o povo não esteja disposto a vergar ainda mais
a mola?! A resistência e a luta inevitáveis dos trabalhadores terão
sempre como efeito oposto um maior assanhamento por parte da
burguesia, porque a luta é sempre uma luta de morte pela
sobrevivência.
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