Quando o barco ameaça ir ao fundo, a tendência é para os ratos fugirem como podem e todos os meios são bons para atingir os fins da salvação. É o que está a acontecer com as medidas do Governo, as atitudes do presidente Marcelo e com as exigências dos patrões, agora denominados de “empresários” porque a palavra patrão tem carga negativa e eles lá sabem porquê, que quando as coisas correm bem reivindicam “menos Estado”, mas quando, como agora acontece, as coisas correm para o torto, então há que recorrer a esse mesmo Estado para entrar com o dinheiro, proveniente dos impostos dos trabalhadores, para que os seus rendimentos não caiam ou, no extremo, não entrem em bancarrota, só que há um pequeno problema: toda a economia de mercado está à beira do abismo.
No quadro do capitalismo, não há volta a dar. Não há mesinha milagreira que lhe valha e todas as medidas que agora sejam tomadas, e são cada vez mais do
mesmo, irão produzir a breve prazo uma crise ainda mais grave.
Assiste-se à tentativa, mas que parece não estar a resultar, de juntar todos os portugueses, de forma transversal, desde pobres a ricos, de novos a velhos, de homens a mulheres, de brancos a pretos, de nacionais a imigrantes, de que “estamos todos a remar no mesmo barco”. Os discursos do primeiro-ministro e do presidente vão no mesmo sentido e até estações de radio (Renascença, RFM e MEGA HITS) apelaram ao nacionalismo mais primário no sentido de “todos os portugueses”, tal como no futebol, colocarem a bandeira nacional à janela, numa demonstração de solidariedade, mas, no caso, mais com a política imposta pelo Governo PS/Costa e não exactamente entre si, cidadãos.
A declaração do estado de emergência pelo PR
Marcelo, com a concordância do Governo e de todos os partidos com assento na
Assembleia da República, com as abstenções do PCP e dos Verdes a valerem como
apoio atendendo às circunstâncias, visa, acima de tudo, prevenir e conter
alguma acção de protesto ou de revolta por parte do povo; para além de impedir
que os cidadãos ocorram em massa às urgências hospitalares, o que iria fazer
colapsar o SNS e mostrar assim até que ponto ele foi degradado pelas políticas
criminosas seguidas por todos os governos, principalmente pelo o actual que,
perante a pandemia, não tomou na prática nenhuma medida de vulto para a
prevenir ou debelar.
É da história, e a nossa burguesia sabe bem disso, que quando há uma epidemia, quase sempre é acompanhada pela fome e o povo não demora a revoltar-se. Foi assim na segunda metade do século XIX e princípio do século passado, com o povo de Lisboa e do Porto a rebelar-se aquando das epidemias de de cólera-morbo, peste bubónica, tifo exantemático e mais tarde da gripe pneumónica que agravou drasticamente as consequências desastrosas da guerra. Epidemias que aconteceram principalmente por falta gritante de condições sanitárias e de higiene do povo, como resultado do maior desprezo a que foi e esteve sempre votado pelos governos e pelas elites.
Agora,
em século XXI, nem a preocupação pelo povo é maior pelas elites actuais nem o
sistema de saúde está ao nível desejado. Costa foi peremptório a “situação não
passa sem dor” e o “tsunami não tem bóia”, e o estado de emergência é para se
manter pelo tempo que for necessário; talvez as coisas não lhe corram bem e o
estado de emergência acabe por ter efeito contrário ao pretendido.
PS: Depois de escrita esta crónica, houve alguém que aventou, num dos canais televisivos, a hipótese de constituição de um Governo do Bloco Central para a Salvação Nacional.
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