sexta-feira, 27 de março de 2020

A união de todos os portugueses honrados para salvar o que já não tem remédio



Quando o barco ameaça ir ao fundo, a tendência é para os ratos fugirem como podem e todos os meios são bons para atingir os fins da salvação. É o que está a acontecer com as medidas do Governo, as atitudes do presidente Marcelo e com as exigências dos patrões, agora denominados de “empresários” porque a palavra patrão tem carga negativa e eles lá sabem porquê, que quando as coisas correm bem reivindicam “menos Estado”, mas quando, como agora acontece, as coisas correm para o torto, então há que recorrer a esse mesmo Estado para entrar com o dinheiro, proveniente dos impostos dos trabalhadores, para que os seus rendimentos não caiam ou, no extremo, não entrem em bancarrota, só que há um pequeno problema: toda a economia de mercado está à beira do abismo. 

No quadro do capitalismo, não há volta a dar. Não há mesinha milagreira que lhe valha e todas as medidas que agora sejam tomadas, e são cada vez mais do mesmo, irão produzir a breve prazo uma crise ainda mais grave. 

Assiste-se à tentativa, mas que parece não estar a resultar, de juntar todos os portugueses, de forma transversal, desde pobres a ricos, de novos a velhos, de homens a mulheres, de brancos a pretos, de nacionais a imigrantes, de que “estamos todos a remar no mesmo barco”. Os discursos do primeiro-ministro e do presidente vão no mesmo sentido e até estações de radio (Renascença, RFM e MEGA HITS) apelaram ao nacionalismo mais primário no sentido de “todos os portugueses”, tal como no futebol, colocarem a bandeira nacional à janela, numa demonstração de solidariedade, mas, no caso, mais com a política imposta pelo Governo PS/Costa e não exactamente entre si, cidadãos. 

A declaração do estado de emergência pelo PR Marcelo, com a concordância do Governo e de todos os partidos com assento na Assembleia da República, com as abstenções do PCP e dos Verdes a valerem como apoio atendendo às circunstâncias, visa, acima de tudo, prevenir e conter alguma acção de protesto ou de revolta por parte do povo; para além de impedir que os cidadãos ocorram em massa às urgências hospitalares, o que iria fazer colapsar o SNS e mostrar assim até que ponto ele foi degradado pelas políticas criminosas seguidas por todos os governos, principalmente pelo o actual que, perante a pandemia, não tomou na prática nenhuma medida de vulto para a prevenir ou debelar.

É da história, e a nossa burguesia sabe bem disso, que quando há uma epidemia, quase sempre é acompanhada pela fome e o povo não demora a revoltar-se. Foi assim na segunda metade do século XIX e princípio do século passado, com o povo de Lisboa e do Porto a rebelar-se aquando das epidemias de de cólera-morbo, peste bubónica, tifo exantemático e mais tarde da gripe pneumónica que agravou drasticamente as consequências desastrosas da guerra. Epidemias que aconteceram principalmente por falta gritante de condições sanitárias e de higiene do povo, como resultado do maior desprezo a que foi e esteve sempre votado pelos governos e pelas elites. 

Agora, em século XXI, nem a preocupação pelo povo é maior pelas elites actuais nem o sistema de saúde está ao nível desejado. Costa foi peremptório a “situação não passa sem dor” e o “tsunami não tem bóia”, e o estado de emergência é para se manter pelo tempo que for necessário; talvez as coisas não lhe corram bem e o estado de emergência acabe por ter efeito contrário ao pretendido.

PS: Depois de escrita esta crónica, houve alguém que aventou, num dos canais televisivos, a hipótese de constituição de um Governo do Bloco Central para a Salvação Nacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário