segunda-feira, 29 de março de 2021

Corrupção combina bem com repressão

 

Robert Doisneau (1912-1994)

Não será bem por uma questão de fonética, de soar bem ao ouvido, dizer que corrupção combina bem com repressão, mas pela razão mais que comprovada na prática de que um regime corrupto reprime sempre quem quer lutar contra a corrupção que ele próprio fomenta e personifica. Por mais democrático que seja o regime político que o capitalismo se possa revestir, haverá sempre corrupção, ou legalizada, através da lei que institucionaliza o compadrio, a cunha e o nepotismo, snobemente conhecidos por lobbying, o pagamento de comissões ou outras vantagens é o normal e o legal; ou de forma ilegal, na teoria, mas coisa corriqueira no dia a dia, como acontece em Portugal em que a cunha há muito que é instituição nacional e o saber desenrascar, enriquecer de forma fácil e rápida e à custa do que for é digna de apreço por muitos cidadãos alienados nesta sociedade de consumismo e sucesso fácil. A corrupção é o sangue que dá vida ao capitalismo, está-lhe no ADN.

Os casos de corrupção, que a imprensa vem disfarçando de forma capciosa, são já mais que frequentes e de elevada dimensão, razão pela qual se já coloca em cima da mesa a remodelação do governo do Costa/PS, por em estado avançado de descredibilização. O governo está a prazo, irá durar o tempo que o PS conseguir aguentar o controlo dos trabalhadores e do povo, que, e apesar da ajuda da pandemia (ou por causa dela, o efeito poderá perverso), não será por muito tempo. Quando os instrumentos de repressão, reforçados e afinados pelo PS, fazendo jus ao seu papel de bombeiro da luta de classes, e quando a direita formal e sem disfarces tiver resolvido os seus problemas internos ou já reestruturada, o governo e o seu chefete serão descartados, como aconteceu na Grécia, e a burguesia, sem intermediários, irromperá na ribalta do poder para obrigar os trabalhadores a uma situação de sobre-exploração que eles, por vontade própria, não resolveram tomar. A reinicilaização capitalista também se irá fazer em Portugal, mas com mais desemprego, fome e miséria do povo português e, o que não deixará de ser irónico, de maior subjugação e dependência do capitalismo nacional, com uma burguesia mais rentista e subsidiária do capital europeu e internacional. O Costa ficará na História não só como o coveiro da democracia saída do golpe militar do 25 de Abril, bem acompanhado pelo monárquico Marcelo, como igualmente o cangalheiro do partido que foi criado na Alemanha com os marcos da social-democracia europeia.

O governo PS é indubitavelmente o governo que contem o maior número de ministros inúteis por metro quadrado, como alguém já referiu. E os ministros que são apontados vão de uma ministra da Cultura, que deu prova de vida com a história da camisola poveira, a um ministro da Administração Interna, que só se mexeu no caso do assassínio do trabalhador emigrante ucraniano quando o facto era incontornável pela exposição mediática, e em vez de aplicar uma política de prevenção dos incêndios, que são intencionalmente sazonais, faz o contrário, promovendo-os como actividade económica que vai enriquecendo os chicos espertos que pululam pelo país; passando por um ministro da Educação que está farto de demonstrar que não é ele que manda e que percebe tanto do assunto como nós percebemos de lagares de azeite. Mas há mais: seria interessante fazer um inquérito na rua, perguntado ao cidadão comum se sabe o nome do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, por exemplo! Ninguém ou muitíssimo pouca gente saberá dizer o nome ou saiba até que existe um ministro para aquela área. Dentro do número de ministros considerados inúteis há um que será mais do que isso, ao cabo e ao resto tal como os anteriores citados e todos os outros ainda não mencionados e, diga-se de passagem, com o Costa à cabeça: o ministro do Ambiente e Ação Climática, precisamente do sector que irá ser mais mexido e que mais bulirá com a vida dos portugueses. É este que irá abençoar (para sermos simpáticos) as maiores operações de corrupção que estão em preparação ou já em curso em Portugal.

O ministro do Ambiente e Ação Climática (no governo anterior era Ambiente e “Transição Energética”, denominação demasiada óbvia e suspeita) já se celebrizou pela boçalidade e ignorância, desde sugerir a deslocalização das populações rebeirinhas do rio Mondego, aquando das últimas cheias que rebentaram com os diques, até ao aumento do preço da água para... “reflectir a sua escassez”. Pelo meio, já autorizara a alteração à Rede Ecológica Nacional e ao ordenamento da orla costeira a fim de permitir a construção de um campo de golfe, que implicou o abate de sobreiros em Vila Nova da Cacela, no Algarve; e agora faz vista grossa à construção de um outro campo de golfe, desta feita na base naval do Allfeite, alegando o Chefe de Estado-Maior da Armada que é uma forma de aproveitar um terreno que serviria para depósito de lixo (coisa que nunca terá também incomodado o nosso ministro) para responder a “necessidade de edificar uma capacidade de treino”.

Para aconchegar o ramalhete o Ministério (e o ministro) do Ambiente é acusado de, durante dois anos, ter andado a fazer de conta que nada se passava no considerado “reino” das culturas tropicais algarvias, quando agora uma cultura de peras abacates no Algarve teve um parecer desfavorável na avaliação ambiental, tendo o assunto sido levado para discussão na Assembleia da República. Claro que estes esquemas de empreendimentos, na maioria de empresas estrangeiras, não só no Algarve, como no Alentejo, que dentro de 20 anos não terá um naco de terra fértil, e um pouco por todo o país, têm contado com a complacência de todas as autoridades, desde governo a Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, estas presididas pelos boys partidários, e a Câmaras Municipais, pela razão de que muitos milhões vão fluindo por entre as pernas das secretárias.

Para completar o ramalhete das suspeitas de corrupção, o nosso monocórdico e bronco ministro quando confrontado com o negócio de 2,2 mil milhões de euros da venda das seis barragens no rio Douro da EDP aos franceses da Engie, atirou para canto em relação ao não pagamento do Imposto de Selo de mais de 100 milhões de euros na medida em que “cabe à Autoridade tributária decidir se deve ou não pagar Imposto de Selo”. Ao mesmo tempo que se levantou esta questão da fuga aos impostos por parte da EDP, já este ministro (parece que o gosto pelo mediatismo está na razão inversa da simetria da fronha) também está a ser apontado como ter entrado na mediação do negócio do hidrogénio verde, tendo presumivelmente facilitado a entrada do consórcio EDP/Galp/REN, o que ele considera uma denúncia “caluniosa e completamente infundada"; contudo, parece que o homem já está a ser investigado desde 2019. A verdade, no entanto, é que foi apanhado em amena conversa, denunciada por escutas telefónicas, com o primeiro-ministro Costa sobre as vantagens “para o país” dos negócios do lítio e do dito hidrogénio verde. Mas não será apenas este ministro a estar envolvido no escândalo, o ministro da Economia-advogado de negócios Pedro Siza Viera e o secretário de Estado Adjunto e da Energia João Galamba estão a ser investigados num processo que averigua "indícios de tráfico de influências e de corrupção, entre outros crimes económico-financeiros", já desde 2019, embora a história tenha sido conhecida em meados do ano passado. Tudo boa gente... ao serviço dos negócios dos capitalistas.

Os negócios do capital, ou seja, a concentração do grande capital para se poder efectuar tem que sujeitar os trabalhadores a uma cada vez maior exploração; e para quem recalcitre, o aparelho repressivo tem de estar pronto e operacional. E haverá mão firme e, a título de exemplo, deve começar pelos que ousarem desafiar as regras do sistema, seja qual for o pretexto: “O Conselho Superior da Magistratura (CSM) suspendeu preventivamente o juiz Rui Pedro Castro, do Tribunal de Odemira, que ficou conhecido por declarações negacionistas sobre o uso de máscaras e o confinamento no âmbito da pandemia de covid-19”. Esta atitude do CSM, a mando do governo PS/Costa, vale pelo significado e mostra que todas as armas de repressão serão usadas, mesmo contra aqueles que dentro do sistema, pelo mau exemplo que darão, coloquem em causa as medidas do governo, deixando completamente a nu a falácia da independência dos poderes, no caso, o poder judicial em relação ao poder executivo, e denunciando que o pretenso “estado democrático e de direito” só o é para a classe, a burguesia, que se encontra no poder. O estado, tal como a justiça, é um estado de classe, um instrumento de repressão da classe dominante contra as outras classes que deverão estar subjugadas. Não faltará muito que se replique em breve entre nós o que está a acontecer presentemente no Reino Unido, em cujo Parlamento se discute uma lei que irá dar poderes reforçados às polícias para controlar as manifestações de rua, aumentando ainda mais a repressão que já se faz sentir através do confinamento e do estado de emergência.

Por cá, enquanto se facilita o acesso aos dados do cidadão com o pretexto da vacinação vão funcionando o estado de emergência e os confinamentos, para cujos prolongamentos se procuram os mais diversos e disparatados pretextos, desde um pretenso índice de transmissibilidade (RT) aos testes rápidos, este mais um grande negócio, com o fim do controlo e do apaziguamento social. Mas, à semelhança das dietas e dos tratamentos médicos, quando se ultrapassa um determinado limiar, os efeitos serão sempre perversos, isto é, o pretenso tratamento irá apenas agravar a doença. A mentira terá sempre a perna curta, pode-se mentir muitas vezes mas nunca indefinidamente, e a repressão irá despoletar uma reacção em maior intensidade. A contra-revolução terá o condão de provocar uma revolução maior e mais violenta. A burguesia, com o seu sistema de exploração económica, e à medida que renova os estados de excepção (décimo quarto)e afia a repressão, está apenas a apressar o seu fim.

segunda-feira, 15 de março de 2021

O católico monárquico e a polícia corrupta

 

Diane Arbus (1923-1971)

Marcelo teve a sua 13ª convulsão fisiológica ao prolongar o estado de emergência após este ter sido aprovado mais uma vez pelos mesmos (PS, PSD, CDS, PAN e deputada dissidente), e tolerado pelos restantes partidos na Assembleia da República. Os partidos da ordem e do regime são unânimes quanto ao confinamento policial do povo e dos trabalhadores que não estão doentes com a covid-19 e com o cerceamento das liberdades dos cidadãos em geral – continua-se a governar por decreto. Marcelo já deu o lamiré de que irá prolongar o estado de excepção a partir 1 de Abril, depois de ir prestar vassalagem ao Papa e ao rei espanhol. Marcelo II, à semelhança do que fez há cinco anos, deixa bem claro que é histórica a subserviência das nossas elites perante o poder do Vaticano, bem como o desejo de protecção da monarquia espanhola, agora nas mãos dos Bourbons, considerados como os maiores ladrões da Europa. Marcelo faz questão em vincar que é monárquico e católico.

O hermafrodita rei/presidente, também pela plasticidade de carácter, no dia em que tomava posse e estando o país em confinamento, foi ao Norte para participar em cerimónias religiosas. E logo após a cerimónia, estando o povo limitado nas deslocações para fora do país, foi fazer o périplo da vassalagem. Desta vez, e contrariando o que tem feito, Marcelo II comunicou ao populacho o 13º estado de excepção de forma seca e peca, e foi tratar da vida. Deixou jornalistas e comentaristas a especular. E quanto às condições do desconfinamento, anunciado pelo lacaio-mor Costa, foi cauteloso e prudente, o que aumentou ainda mais a especulação, numa intencional manobra de aviso ao Governo. Logo que haja oportunidade, Costa e “sus muchachos” serão descartados. Costa ficará no roda-pé da história como o pequeno tiranete, à semelhança de João Franco, cuja governação ficou conhecida por ditadura franquista; também será o prenúncio do fim desta república das bananas, com a agravante de o ter sido a mando de Bruxelas e do imperialismo germânico.

O Governo, ao pedir autorização a Bruxelas para dar “auxílio intercalar” à TAP no máximo de 463 milhões, enfatiza a posição de subserviência e de agente de negócios do capital europeu. O custo das medidas tidas como “anti-covid” vai nos 4,8 mil milhões de euros. O Governo anuncia, pela voz do advogado de negócios, apoio de 7 mil milhões de euros às empresas, que sairão dos bolsos do povo português, seja por via directa seja pela “bazuca”. Claro que não deixarão sempre de frisar que é para “apoio ao emprego e às famílias”; talvez mais às famílias Amorim, Soares dos Santos e Azevedo. As despesas directas no combate à pandemia, ou a pretexto da dita, ultrapassaram já os mil milhões de euros, só no campo da Saúde. Nesta rúbrica, de certeza que não estão incluídos os milhões que se malbarataram com as obras de recuperação do Hospital Militar de Belém, quase 3,2 milhões de euros em vez dos inicialmente previstos 750 mil euros; o Tribunal de Contas ainda está à espera da auditoria que terá sido feita ao desmando, e o ministro, incompetente Cravinho (filho do outro que combatia a corrupção mas que foi brindado com cobiçado cargo no BEI pelas scuts que mandou construir e que se pagavam a elas próprias) também nada esclarece.

À medida que o Governo trata dos negócios dos grandes patrões e empresas, que não podem ver a riqueza e os lucros a diminuir, o país dos que trabalham e produzem encontra-se, no mínimo, em maus lençóis: O Índice de Produção Industrial caiu 6,5% em Janeiro em termos homólogos, e em Dezembro, a produção industrial já tinha caído 4,6%; as exportações de bens caíram 9,8% em Janeiro, igualmente em termos homólogos, e as importações tiveram uma quebra de menos 17,2%, em Dezembro, as exportações tinham caído 7,4% e as importações 6,5%. Estes dados, apresentados pelo INE, provam à saciedade que a economia nacional capitalista (que o PCP e BE se esforçam para que recupere, a bem dos trabalhadores – dizem eles!) está e continua em declínio, comprovando que a crise é de excesso de produção enquanto o mercado, ou seja, o poder de compra do povo não cessa de baixar. Esta é uma contradição que não tem solução no quadro da economia capitalista, pela simples razão da sua natureza visar o lucro e assentar na exploração dos trabalhadores. Se alguma vez a recuperação acontecer é porque foi graças a uma maior exploração de quem trabalha, que é exactamente isso que BE e PCP desejam, tal como a burguesia e a União Europeia do capital com o seu projecto de Grande Reinicialização (Great Reset) e da “descarbonização” da economia.

O poder de compra dos trabalhadores é cada vez menor e bem se compreende porque acontece, é que o Governo está a lançar o povo na maior das misérias e pobreza absoluta, desculpando-se ignobilmente com a pandemia da covid-19: Perderam-se mais de 125 mil empregos entre os meses de Novembro e Janeiro; Altice abre porta de saída a 2 mil trabalhadores; Sindicato diz que 1800 enfermeiros podem ser despedidos; Setor têxtil e vestuário perdeu 5.000 empregos em 2020; Eurest, pertencente ao grupo inglês Compass, e que "dá milhões de lucros" e está a receber apoios do Estado, despede mais 146 trabalhadores, dos quais 141 são mulheres, no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora; 2400 trabalhadores da GroundForce encontram-se com salários em atraso e arriscam ficar no desemprego com a possível insolvência da empresa por acção concertada entre o acionista privado e o Estado; Plano de reestruturação da TAP com redução de aviões, cortes salariais de 50% e despedimento, onde se incluem as ditas “rescisões amigáveis”, de mais de 2000 trabalhadores; Insolvências aumentam 32% em Fevereiro: Mais 514 empresas fecham portas em Portugal; Quase 4 em cada 10 trabalhadores independentes da Cultura são 'recibo verde'. Enquanto isso, fomenta-se o desemprego e a miséria, os partidos da oposição reclamam mais “medidas de apoio”, um confinamento mais brando e “mais vacinas”; e os quatro principais bancos, CGD, BCP, BPI e Santander, dos quais só um é inteiramente nacional, lucraram, em 2020, “apenas” 1.117,8 milhões de euros e mandaram embora cerca de 1.000 trabalhadores.

O Governo do germânico PS e do pequeno tiranete Costa vai isentar os capitalistas de pagar TSU, o sector do turismo já está garantido, e o crime das mortes dos idosos que foram deixados ao abandono e à fome pelo cacique local do PS ficará impune: «Reguengos de Monsaraz. "Acham perfeitamente normal e justificável as 18 mortes"». «Já abriu o primeiro hospital privado dos Açores: “Temos especificidades que não havia na região”, um investimento de cerca de 40 milhões de euros, a sociedade maioritária é a Diagonal Stream com 51%, liderada por Luís Farinha, e o grupo Germano de Sousa, com uma participação de 5%; este talvez o que mais tem faturado com o negócio dos testes. O SNS ainda espera pela reposição, pelo menos, dos cerca de 1000 médicos que saíram em 2020 e pela contratação por tempo indeterminado dos 1800 enfermeiros que correm o risco de serem despedidos em termos imediatos. E a “Idade da reforma sobe um mês para 66 anos e 7 meses em 2022”, quando a esperança de vida baixou, e ainda irá baixar mais, devido ao elevado números de idosos com mais de 70 anos que morreram pela covid e pela incúria do Governo. Parece que é assim que se combate a pandemia: deixar ao abandono o SNS, enquanto o privado vai crescendo e proliferando, e desprezar os grupos de pessoas mais vulneráveis, obrigando, por outro lado, os trabalhadores a trabalhar até morrerem.

As medidas “correctas”, na retorcida mente do Costa, Governo e Amos de Bruxelas, para combater a crise económica e pandémica resumem-se a mais exploração, com salários mais baixos, mais desemprego, maior carga horária por dia e por semana (os enfermeiros estão a ser cobaias com os turnos diários de 12horas), piores condições de trabalho e mais confinamento (medida militar/policial para controlo da população) que já se mostrou ineficaz quanto à propagação do vírus, mais repressão e utilizando policias prepotentes, foras-da-lei e corruptas: “GNR multa 22 pessoas em posto de combustível de Fafe”; “A GNR surpreendeu um aglomerado de pessoas que estava a conviver numa estação de serviço na Via Circular de Fafe”; “Polícias pedem para pagar indemnização ao Estado e assim evitarem julgamento - Ministério Público acusou 271 pessoas (265 agentes da PSP e seis trabalhadores de bilheteiras dos Transportes Sul do Tejo) de peculato e falsificação de documento, num alegado esquema de troca de passes dos transportes gratuitos para a polícia por dinheiro. Instrução tem início previsto para o dia 19 de Abril.” Quase para perguntar: quem é que na PSP não é corrupto? Onde está a admiração se o Governo PS gastou 260.591 euros para equipar um centro de imprensa, que está às moscas porque o acompanhamento das conferências é feito online e não-presencial; 35.785 euros para a compra de bebidas; 39.780 euros para a compra de 360 camisas e 180 fatos, alegadamente, para os motoristas, se não vem cá ninguém?! O montante de dinheiro gasto na presidência de Portugal da União Europeia ultrapassa já os 8 milhões de euros, tudo por ajuste directo!

Portugal já foi considerado uma “democracia com falhas” e, conforme alertou o instituto sueco V-Dem da Universidade de Gotemburgo, os níveis de democracia global retrocederam para os de há três décadas. Por cá, não faltará muito para estarmos em época de 24 de Abril. Até um dia em que a classe operária e o povo tomem o poder político para criar uma economia que resolva as suas necessidades, não baseada no lucro, e uma sociedade sem exploração.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Costa e Merkel, a mentira e o Passaporte de Vacinação Europeu

Imagem: SIC/Notícias

Quem estiver atento aos títulos da imprensa escrita e falada, irá reparar que o tom das notícias mudou de alguns dias para cá, com uma aparente maior confiança do governo nos números da pandemia, melhoria que constantemente é atribuída às virtudes do confinamento, e por extensão da correcção das medidas defendidas pelo governo, e do, agora, bom comportamento dos portugueses. Ora, olhando com um pouco mais de atenção, verificamos que estamos perante, mais uma vez, manipulação e mentiras debitadas pelo governo do sr. Costa do PS e ampliadas pela imprensa corporativa, paga por 15 milhões euros (não sabemos se o contrato foi ou não renovado em Novembro, porque nem tudo o que acontece é notícia).

Quanto aos números, é fácil confirmar que se o número de infectados (teste PCR+) diminuiu é porque o número de pessoas testadas diariamente desceu, mais de 70 mil para uns 20 mil, relembrando que em Março do ano passado o número de testes diários era apenas de uns 800. Se o número de óbitos desceu, fácil se concluiu que ou terão deixado de testar os cadáveres, como se fazia até agora, ou se começou a identificar a causa de morte pela real causa e não colocando simplesmente a etiqueta “por" ou "com covid” se teste positivo, mesmo que a pessoa tenha falecido por atropelamento ou por cancro. A parangona dos jornais e televisões de que “Portugal tem o índice de transmissibilidade mais baixo desde o início da pandemia” e melhorou na lista dos países europeus, não passa de mera mentira. Ao mesmo tempo salienta-se que os EUA atingiram os 500 mil óbitos, mais do que a soma das mortes nas duas Guerras Mundiais e na Guerra do Vietname (o “Expresso aponta o facto em primeira página) e se continua a diabolizar Bolsonaro (implicitamente contrapondo-o ao nosso “socialista” Costa), porque descuidou a pandemia considerando-a uma “gripezinha”, na medida em que o Brasil ocupa a 3ª posição dos países onde mais se morreu em valores absolutos por covid (mais de um quarto de milhão), continuando as televisões a mostrar as campas abertas nos cemitérios improvisados, ora, constata-se que não passam de duas mentiras. Ou de meias verdades (morre-se muito, é verdade) pela razão elementar de que morre-se mais em Portugal, com a agravante de que a esperança de vida entre nós é maior do que naqueles dois países. Será tudo uma questão de se consultar o “worldometers.info” (27 Fev: Portugal ocupa a 8ª posição com 1599 óbitos/Milhão de habitantes, EUA ocupa a 10ª com 1575 óbitos/M, Brasil 26ª com 1185 óbitos/M, ou seja, o Brasil fica muito abaixo de Portugal!).

A mentira e a manipulação, que nunca deixaram de correr, assentes nas meias verdades das sondagens, que, pela força da natureza de qualquer sondagem, são enganadoras, ao induzir um comportamento que se constata ou se pretende constatar à priori. Neste segundo confinamento o número de pessoas que saíram de casa é maior, apesar do número de desempregados ter disparado, haverá então menos gente a sair para os seus empregos e mais a desrespeitar as regras do “fique em casa”, como anunciam as televisões em 24/7, e do já famigerado “distanciamento social”. As pessoas estão a ficar fartas, parte delas a entrar em desespero, e o governo, sabendo disso, faz a encenação de que as coisas estão a correr bem e que os portugueses até estarão de parabéns porque desta vez terão colaborado, e assim o desconfinamento, embora tenha de ser feito de forma muito cautelosa, ponderada e com base nas recomendações dos “especialistas” do Infarmed, irá começar a ser feito daqui a 15 dias – Marcelo quer depois da Páscoa, o que é para admirar vindo de um inveterado beato! É que a confiança nos portugueses é pouca, não se sabe o que poderá vir de um povo de costumes muito pouco brandos, e a coragem de quem nos desgoverna também não é muita, passe a arrogância e a bazófia.

Governo e, em particular alguns dos seus elementos, ao querer contrariar os números e desmentir as acusações, tenta mostrar que os portugueses confiam nas vacinas, aderiram ao plano de vacinação sem hesitação; contudo, o simples facto de somente 55%, pouco mais de metade, dos cidadãos convocados responderam ao SMS para serem vacinados contra a covid revela que a confiança não é assim tanta, e se houve apenas 2,47% que ousaram dizer abertamente que não queriam ser vacinadas não significa que os restante o desejem, foram somente os mais corajosos a dar a cara. A mentira, repetimos, tem a pena curta: “Covid-19: Portugal tem o índice de contágio mais baixo da Europa”, é somente o 8º no rol dos 221 países ou regiões com autonomia administrativa, e os sete que se encontram acima são países, todos eles, da Europa e que, à semelhança de Portugal, usaram e abusaram das regras do confinamento, o que comprova que estas medidas tiveram outras intenções que não combater a dita pandemia. Fazer inquéritos a pessoas sem filhos, perguntando se as escolas devem ou não desconfinar já, mais não é que outra manobra de manipulação e esconder o óbvio: as escolas não são espaços de especial relevância na transmissão do vírus, para mais um vírus que praticamente não mata jovens abaixo dos 20 anos (4 óbitos) e apenas 12 entre os 21 e os 30 anos (dados de 27 de Fevereiro, DGS), na sua maioria portadores de outras doenças graves e que foram a causa real do falecimento.

Costa, desconfiando profundamente dos portugueses, sabe que pode mentir mas que não pode mentir sempre, inseguro da sua posição, encosta-se ao PR Marcelo, pensando que é o seu seguro de vida, mas no íntimo sente que esta segurança é igual à das cobras venenosas, e vira-se para o exterior, recorrendo à mãezinha Merkel, fazendo coro com ela na questão de não se comprar vacinas fora do esquema engendrado pela Comissão Europeia, que envolve muitos milhões enrolados em clausulas contratuais secretas, e na necessidade do miraculoso “passaporte de vacinação europeu” para o relançamento da economia e do turismo, em particular, e que deverá estar pronto lá para o Verão. Costa não tem pruridos nem escrúpulos em colaborar activamente no estabelecimento da “nova normalidade”, que é o fascismo brando pós-democracia parlamentar burguesa, atacando abertamente os direitos e as liberdades dos cidadãos. Que a iniciativa venha de uma Alemanha, cuja burguesia já comprovou que é geneticamente nazi, ou seja, imperialista, não é admiração nenhuma, agora que um triste lacaio, arvorado em “socialista”, se entusiasme com a ideia é, no mínimo, causa do mais vivo repúdio e repugnância – mas é o que temos. A ideia está a ser lançada e os media do regime falam e fazem inquéritos sobre a bondade e aceitação da medida por parte do cidadão, isto é, prepara-se a opinião pública enquanto se espera pela adesão à vacinação, que em alguns países, França por exemplo, não parece suscitar grande entusiasmo.

Fica claro que a intenção do passaporte sanitário não tem como objectivo a garantia da saúde do cidadão mas sim o controlo do cidadão, a garantia da sua subjugação, um pouco como aconteceu com os judeus no III Reich, distinguindo-os dos cidadãos formalmente livres, no caso, serão em relação aos que contestam, aos potencialmente perigosos e que terão de ser marginalizados, numa primeira fase, e posteriormente reprimidos, e violentamente se necessário. A falsa democracia da União Europeia, uma construção dos EUA/Nato para conter a antiga União Soviética, vai mostrando a sua verdadeira face e está a criar as ferramentas para a transição para o digital, o verde... e o fascismo. E a razão também é simples: estão para chegar e em breve os tempos do descontentamento e da revolta social, é o Índice Global da Paz e próprio FMI que o reconhecem.

Em Portugal, a pobreza tem aumentado: estima-se que os sem abrigo atinjam ou tenham já atingido o número de 7 100, na sua maioria concentrados em Lisboa e no Porto; 30 100 famílias estão de tal maneira sobre-endividadas que já tiveram de pedir ajuda; cerca de 60 mil famílias irão ver terminadas as moratórias dos seus créditos aos bancos já no próximo mês de Março; o desemprego irá disparar e conta-se que possa atingir um milhão de trabalhadores no final do ano; estima-se que cerca de 40% do pequeno comércio não irá reabrir depois do desconfinamento; o número de casos de doenças irá aumentar, e já terá aumentado, quer doenças do foro mental, por força do confinamento e do isolamento social, e com predomínio dos jovens, precisamente um dos sectores mais atingidos pelo desemprego, quer por todas as doenças que ficaram por diagnosticar e tratar pelo encerramento do SNS para, alegadamente, atender os doentes da covid (quase menos 200 mil consultas e menos 21 mil cirurgias só em Janeiro). A intenção do confinamento, e respectivas medidas, torna-se mais claro: permitir uma maior concentração do capital em número cada vez menor de capitalistas e destruir o SNS para dar mercado e permitir a entrada dos privados no já considerado “Sistema” Nacional de Saúde.

A situação económica do país não é famosa e, contrariando as expectativas do governo quanto à eficácia da vacinação e da badalada “bazuca” dos milhões, não parece vir a recompor-se tão depressa, e se alguma vez o irá fazer, se olharmos para os actuais indicadores: queda das exportações em 18,6% e contracção do PIB em 7,6% em 2020, o resultado mais negativo na série histórica desde 1928, segundo o Banco de Portugal (BdP); o indicador diário de atividade económica (DEI) registou na terceira semana de Fevereiro uma queda homóloga idêntica à observada na semana anterior, divulga o BdP que, por sua vez, representa “uma deterioração marcada” da atividade económica após o início do confinamento decretado em 15 de Janeiro, tendo depois registado, para os sete dias seguintes, “uma queda homóloga semelhante à observada na semana anterior”. Mais palavras para quê? A reestruturação da TAP, também ao contrário do que o governo apregoa, irá ser feita não só com cortes salariais mas essencialmente com despedimentos, disso ninguém tenha dúvida; e a Groundforce diz que não tem dinheiro para pagar os salários dos trabalhadores, ou melhor dizendo, o acionista maioritário que é privado espera que o estado, o acionista minoritário, a avance com o guito, mas também para preparar já o despedimento a fim, como todos os capitalistas fazem, de aumentar os lucros: os ricos ficam cada vez mais ricos. Entretanto, a EDP, do estado chinês, distribui os 801 milhões de euros de lucros de 2020 (um aumento 56% em relação ao ano anterior) pelos acionistas e fugiu ao fisco com 110 milhões de euros, espera ainda ganhar mais 400 milhões nos próximos anos com “o rumo à neutralidade carbónica”, o que tem feito saltar de contentamento Ana Botín (Grupo Santander) com a história de “A mudança climática é uma emergência global”. Pudera!

Se o PS vai contando com o apoio canino dos outros partidos, quer dos que têm aprovado os diversos estados de emergência – e já vão doze, à dúzia parece ser mais barato! - quer dos que oportunisticamente vão oscilando entre a abstenção e a reprovação, esvaziando a putativa “casa da democracia” de qualquer poder de decisão; todos eles apoiando na essência as políticas do governo PS, não se notando sequer a oposição “responsável” do PSD, todos preocupados com o respeito pelo confinamento e pelo integral cumprimento do plano de vacinação. O BE limita-se a pedir mais apoios a quem foi obrigado a ficar em casa e o PCP reivindica mais testes e mais vacinas para além das incluídas nos contratos impostos pelos grandes laboratórios americanos. Todos os partidos estão a ser coniventes com o fim da democracia parlamentar burguesa e com a fascização do país, e da União Europeia que já não consegue esconder o estado irreversível de decadência – a velha toupeira não cessa o seu trabalho.

PS: É notícia “GNR interrompe Assembleia Municipal de Odemira para perguntar se reunião era legal”, tendo identificado alguns dos deputados municipais em atitude prepotente e com contornos de ilegalidade, que o comando de Beja, depois de questionado pela imprensa, desculpou. Qualquer dia acontece o mesmo na Assembleia da República, depois fiquem admirados!

Guerra e Paz

Giorgio Agamben

É preciso levar a sério a tese, repetida várias vezes pelos governos, segundo a qual a humanidade e todas as nações se encontram em estado de guerra. Nem é preciso dizer que tal tese serve para legitimar o estado de excepção com suas limitações drásticas à liberdade de movimento e expressões absurdas como "toque de recolher", de outra forma difícil de justificar. O vínculo entre os poderes do governo e a guerra é, no entanto, mais íntimo e consubstancial. O facto é que a guerra é algo que eles não podem, de forma alguma, prescindir permanentemente. Em seu romance, Tolstói contrasta a paz, na qual os homens seguem seus desejos, seus sentimentos e seus pensamentos mais ou menos livremente e que lhe parece a única realidade, com a abstracção e a mentira da guerra, na qual tudo parece derivado de uma inexorável. necessidade. E em seu afresco no palácio público de Siena, Lorenzetti representa uma cidade em paz cujos habitantes se movem livremente de acordo com suas ocupações e prazeres, enquanto no primeiro plano algumas meninas dançam de mãos dadas. Embora o afresco seja tradicionalmente intitulado Bom Governo, tal condição, tecida como é pelos pequenos eventos diários da vida comum e pelos desejos de cada um, é na verdade ingovernável a longo prazo. Embora possa estar sujeito a limites e controles de todos os tipos, tende por natureza a escapar de cálculos, planos e regras - ou, pelo menos, esse é o medo secreto do poder. Isso também pode ser expresso dizendo que a história, sem a qual o poder é em última análise impensável, é estritamente solidária com a guerra, enquanto a vida em paz é, por definição, sem história. Intitulado seu romance La Storia, no qual a história de algumas criaturas simples é contrastada com as guerras e eventos catastróficos que marcam os eventos públicos do século XX, Elsa Morante tinha algo assim em mente.

Para isso, os poderes que querem dominar o mundo devem, mais cedo ou mais tarde, recorrer à guerra, seja real ou cuidadosamente simulada. E como no estado de paz a vida dos homens tende a sair de todas as dimensões históricas, não é de estranhar que os governos de hoje não se cansem de lembrar que a guerra contra o vírus marca o início de uma nova época histórica, na qual nada será o mesmo de antes. E muitos, entre aqueles que vendam os olhos para não ver a situação de não liberdade em que caíram, aceitam-no precisamente porque estão convencidos, não sem um toque de orgulho, de que estão entrando - depois de quase setenta anos de vida pacífica, isto é, sem história - em uma nova era.

Mesmo que, como é por demais evidente, seja uma época de servidão e sacrifício, em que tudo o que faz a vida valer a pena sofrer mortificações e restrições, eles se submetem de bom grado a ela, porque acreditam obstinadamente ter encontrado dessa forma para a vida deles aquele sentido que eles tinham sem perceber perdido na paz.

É possível, porém, que a guerra ao vírus, que parecia ser um dispositivo ideal, que os governos podem medir e direcionar de acordo com suas necessidades com muito mais facilidade do que uma guerra real, acabe, como qualquer guerra, saindo do controle. E, talvez, nesse ponto, se não for tarde demais, os homens irão mais uma vez buscar aquela paz ingovernável que eles abandonaram tão imprudentemente.

23 de fevereiro de 2021

Em quodlibet