A
pandemia provocada pelo “novo coronavírus” teve ao menos uma
vantagem, destapou, mostrando ao vivo, a crise já em estado avançado
em que se encontrava o capitalismo nacional, bem como a nível
global, e as verdadeiras motivações e a natureza da classe política
que nos desgoverna, a nós, povo que trabalha. Os recentes
acontecimentos não deixam dúvidas quanto ao que faz mover os
políticos do establishment, a ânsia do enriquecimento pessoal e de
agradarem à classe dos amos que servem, proporcionando-lhe o aumento
em progressão geométrica dos lucros, ou seja, a acumulação e
simultânea concentração do capital.
Perante
a continuação do surgimento de mais casos de pessoas infectadas
pelo coronavirus, na sua maioria trabalhadores e pessoas pobres,
estando o país na segunda posição do ranking europeu quanto a
aumentos, e na sua maioria na região de Lisboa, o governo entendeu
endurecer as medidas de distanciamento social, incluindo medidas
punitivas, consideradas ainda insuficientes pelos partidos de
direita, incluindo o PAN dos animais, arvorado em principal apoio do
governo. As medidas serão multas e eventual prisão, nomeadamente se
houver desrespeito pelas autoridades, uma tendência que reveste já
uma feição de sanha persecutória e de criminalização, já
revelada na intenção de criminalização de uma festa de
aniversário no Algarve. Todas as reuniões sociais com mais de 10
pessoas na região de Lisboa são ilegais, onde se incluem
naturalmente as reuniões de carácter político.
Enquanto
se criminaliza os acontecimentos sociais, tudo o que signifique
reunião ou ajuntamento de pessoas, mesmo ao ar livre, o que faz
levantar os cabelos em pé aos governantes e aos políticos do
regime, com medo da contestação social ou da rebelião, contudo,
aprova-se com pompa e circunstância a realização da fase final da
Champions do pontapé-na-bola profissional, que envolve muitos
milhões de euros que, na sua grande maioria, revertem para as máfias
do futebol, em particular das nacionais, que são mestras em fugir
aos impostos e tendo a banca e os partidos como meio de lavagem dos
muitos milhões. E não serão apenas os padrinhos do futebol que
irão aumentar o património aconchegado em paraísos ficais, já que
os clubes que dirigem se encontram em falência notória sem que isso
perturbe o governo e em particular o primeiro-ministro Costa e seu
ministro das Contas Certas, também os patrões dos hotéis e dos
restaurantes irão arrecadar o seu quinhão. Se o acontecimento irá
aumentar o número de infectados, provocar o aumento da inflação,
ou possivelmente o alarme social, pelos desacatos provocado pelos
hooligans que inevitavelmente acompanharão as equipas, isso pouco
importa, e até porque estes grupos de extrema-direita, acobertados
pelo futebol, são controlados directamente pelas polícias por lhes
fazerem geralmente o trabalho sujo.
Mais
do que nacional-parolismo, trata-se da subserviência por parte das
“nossas” principais figuras de Estado aos senhores do dinheiro da
Europa, no caso, aos donos do futebol, que dominam os estados que se
submetem às suas leis e interesses, e dos grupos económicos em
geral, que usam o futebol para fomentar os seus negócios; sendo o
próprio futebol um meio privilegiado para lavagem de dinheiro de
proveniência mais do que duvidosa. Na cerimónia já referida
estiveram o PR Marcelo, o PM Costa, o PAR Rodrigues, dois ministros e
um secretário de Estado e o PC de Lisboa, para além, como é óbvio,
do representante legal da máfia. A decisão de enviar para Portugal
a fase final dos jogos foi elogiada por toda a imprensa corporativa e
apresentada pelos governantes e políticos como prova do
reconhecimento do sucesso do combate à pandemia, e agora, alguns
dias depois, desmentido pelo grande número de novos casos de
infectados e pela proibição por parte de alguns estados de entrada
de cidadãos portugueses. O ridículo já faz parte do curriculum da
nossa burguesia e dos seus funcionários de turno na governação.
Não
foi por mero acaso que outros países, onde o futebol profissional
possui uma maior representação em termos de número de equipas e de
praticantes ou de dinheiro envolvido, não aceitaram realizar a Final
do negócio dos milhões, não quiseram ficar com o “lixo” e
então enviaram-na para o nosso país, as nossas elites ficaram então
todas contentes e é para isso que são pagas. De igual modo não se
colocou qualquer objecção quanto à realização de Web Summit que
se irá realizar este ano, acontecimento que tem trazido a Portugal
muitas dezenas de milhar de indivíduos da classe média, e com algum
poder de compra, que vêm para cá fazer turismo sexual e
gastronómico. São muitos milhões a entrar para o “país”, mas
é com certeza para o país dos patrões do sector do turismo, por
outro, os políticos e governantes do regime não deixarão de
receber a devida comissão, com a inutilidade do presidente da câmara
de Lisboa sentada no primeiro lugar da fila.
Se
por um lado, se faz tudo para se encher os bolsos da burguesia
indígena, e não iremos falar dos 1200 milhões de euros que irão
ser entregues aos acionistas privados da TAP, ou a outras burguesias,
e também nos iremos abster de comentar o sorvedouro sem fundo do
Novo Banco pertencente ao fundo abutre norte-americano Lone Star;
pelo outro, intensifica-se a repressão sobre os trabalhadores, por
enquanto ainda disfarçada, e fomenta-se a bufaria entre as pessoas
do povo, como ficou bem expresso na prisão de um jovem, acusado de
estar infectado e andar na rua, por parte de um grupo de moradores
armados em justiceiros, tendo-o amarrado a um varandim e
posteriormente entregue à polícia. Aconteceu no Bairro Padre Cruz,
bairro social pelo menos na sua origem, note-se, em Carnide, Lisboa.
É disto que a burguesia gosta, pôr parte do povo contra outra,
enquanto que disfarçadamente vai entregando muitos milhões aos mais
ricos de Portugal: Grupo Amorim fica com maior fatia de apoio para
substituir eucaliptos por floresta resiliente, são 438 mil euros,
através de uma sua empresa, por sua vez, detentora da herdade no
Tejo Internacional, no quadro do financiamento de 1,46 milhões de
euros do Fundo Ambiental para 2020.
Os
factos valem por mil palavras, é o que se sói dizer, são os
milhões de euros dados de mão beijada aos capitalistas, dinheiro
extorquido directa ou indirectamente da carteira do povo
contribuinte, e são os casos em que o país funciona como o depósito
do lixo da Europa, são os desperdícios de alumínio, produto
altamente tóxico e contaminante, mais de 3o mil toneladas
depositadas há muitos anos em Setúbal, e que ninguém (!?) sabe a
quem pertence. Parte desse lixo foi importado da Suíça pela
Metalimex para tratamento, empresa subsidiária de uma outra empresa
alemã, que nunca chegou a funcionar. Em Portugal o crime compensa
desde que cometido pelos ricos e grandes grupos económicos, que
actuam sempre na maior das impunidades; e os casos abundam, foi o
Ricardo Salgado que ainda se encontra em liberdade, o que não admira
já que o homem subornou toda a gente, desde políticos a
jornalistas, e agora o ex-ministro da Saúde do Cavaco, Arlindo de
Carvalho, e o seu sócio José Neto, que entregaram ao Estado 22
milhões de euros, 10 milhões em dinheiro e o restante em outros
valores, para não cumprirem uma pena de seis anos de prisão, após
terem sido acusados de burla no montante de 80 milhões de euros, no
caso BPN, o banco da máfia laranja e chefiada pelo próprio Cavaco,
e através, o que não deixa de ser importante pelo seu significado,
de um acordo confidencial. As trafulhices, os contratos, os acordos, lesivos dos
dinheiros do Estado, são sempre confidenciais! Ou como se comprova
que esta gente vem para a política somente para enriquecimento
pessoal. No caso referido, o crime mais que compensou, roubaram 80
milhões e pagaram uma “multa” de 22 milhões.
Ah,
outra nota que não deixa de ser curiosa, o líder de uma organização
internacional que se dedicava ao tráfico de seres humanos e
recentemente desmantelada pela polícia espanhola (não pela
portuguesa) tinha residência habitual em Portugal. Muito
possivelmente ao abrigo de algum Visto Gold (Golden Visa), porque não
consta que o homem estivesse ilegal já que é cidadão
centro-africano.