segunda-feira, 1 de junho de 2020

União Europeia e Portugal: “pedras em vez de pão”



"Bazuka financeira" - Vasco Gargalo
O primeiro-ministro português e socialista, é o que dizem, Costa acredita desde Abril que haverá uma “bazuca” europeia contra a crise económica, capciosamente atribuída ao coronavírus, e que começará a atirar a partir deste mês de Junho. O plano anunciado prevê 500 mil milhões de euros a fundo perdido e 250 mil milhões em empréstimos, pagos a juros e em prazo suaves, dos quais haverá a possibilidade de Portugal receber 26,3 mil milhões de euros, em subvenções e empréstimos. O que se pode dizer uma farturinha!, mas quando a esmola é grande, e conhecendo-se já o passado do benemérito, o pobre desconfia. E devemos desconfiar quando o ex-ministro das Finanças alemão, o incontornável Wolfgang Schäuble, agora arvorado em Madre Teresa de Calcutá, vem dizer que “empréstimos adicionais aos Estados membros seriam pedras em vez de pão, porque vários já estão fortemente endividados”.

Portugal irá receber os 26,3 milhões de euros, dos quais, é o que se diz, 15,5 milhões serão a fundo perdido, mas... terão de ser criados cinco novos impostos, porque os tais “500 mil milhões em subvenções” terão de ser recuperados num prazo de 14 anos, tempo de dois orçamentos plurianuais europeus. E os impostos são: uma "extensão" da tributação sobre as emissões aos "setores marítimo e da aviação" (10 mil milhões de euros por ano); uma nova taxa sobre o carbono (5 a 14 mil milhões de euros anuais); um novo imposto sobre operações de grandes empresas (10 mil milhões por ano); um novo "imposto digital sobre empresas com um turnover global anual superior a 750 milhões de euros" (1,3 mil milhões de euros anuais); um novo imposto "baseado num IVA simplificado e nos plásticos não recicláveis" (3 ou 4 mil milhões de euros a 9 mil milhões anuais). Impostos que recairão sempre sobre o cidadão consumidor. Como se constata, a União Europeia e a sua chefe alemã Von der Leyen (e o sinistro Schäuble) não dão ponto sem nó.

Por aqui se fica igualmente a saber para que serve essa história de “capitalismo verde”: criar novos impostos, facilmente aceitáveis, pelo menos é o que se espera, pelo cidadão sensibilizado através de gigantesca campanha de manipulação para a questão ambiental. A poluição, a limitação dos recursos, a necessidade de, daí, ter de se modificar os hábitos de consumo são slogans que seguem na mesma linha da pandemia, a "partir de agora tudo terá de ser diferente"... porque é “a nossa saúde que está em perigo”. Ora, a saúde que está em perigo é mais precisamente a saúde do sistema de exploração capitalista. E para se manter, por mais algum tempo, não mais do que isso, terá de aumentar os impostos e aumentar a exploração directa dos trabalhadores, e nesta parte o lay-off encontra-se na primeira linha, ou seja, é o que está mais à mão.

Desde o início da crise dita "pandémica" que se ouve gritar pela “salvaguarda dos empregos e das empresas” e mal o lay-off simplificado foi colocado em marcha, do qual as grandes empresas foram as mais beneficiadas, coisa que não acontece por acaso, houve logo alguém que veio a terreiro clamar pelo seu prolongamento no tempo. Um desses primeiros alguéns, se não mesmo o primeiro e por diversas vezes, foi o beato e populista PR Marcelo, que nunca deixa de ser apresentado pelos principais órgãos de comunicação social mais inclinados à direita como quem governa e dá as orientações ao Costa e ao restante governo. A seguir ou passado pouco tempo veio o CDS, através do chefe de coro, propor o alargamento até Setembro, partido que compete com o neo-nazi Chega. Claro que o primeiro Costa está aberto à sugestão, aliás, nunca foi outra a disposição senão satisfazer as exigências de toda a burguesia, que não se cansa em colocar-se em bicos de pés nas pessoas dos dirigentes das suas associações mais representativas: é ver o ex-militante do PS Saraiva todos os dias nas televisões. E até um PAN, que parece ter mais catarro que a formiga por pensar em ir algum dia para o governo, a defender que o mecanismo do lay-off deve ser prolongado até ao fim do ano. O BE e o PCP tentam conciliar o inconciliável, o primeiro quer que o lay-off seja pago a 100% para os salários mais baixos e o segundo balbucia que o lay-off não pode ser eterno, mas nenhum deles está contra a entrega de dinheiro fácil aos patrões através deste expediente, nenhum ousa defender que o dinheiro seja dado directamente aos trabalhadores, já que a intenção é salvar postos de trabalho e apenas a empresas que comprovem dificuldade de tesouraria e não às grandes empresas, algumas das quais são estrangeiras e com lucros de muitos milhões.

Diz a Comissão Europeia/Von der Leyen que irá “fazer uso da sua sólida notação de risco (rating) para contrair empréstimos no montante de 750 mil milhões de euros nos mercados financeiros" e "este financiamento adicional será canalizado através de programas da UE e reembolsado durante um longo período de tempo, abarcando vários orçamentos da UE, entre 2028 e 2058". A ser verdade, teremos mais uma operação gigantesca de enfiar mais dinheiro aos bancos, em dimensão muito maior do que aquela que aconteceu no seguimento da crise de 2018, o que prova que tanto o capitalismo como a própria União Europeia estão falidos, estão feridos de morte, e esta é uma tentativa desesperada de salvação. Claro que os bancos que irão ganhar serão os mesmo de sempre, os dos principais países da União, nomeadamente, alemães, franceses, holandeses e austríacos.

Quanto mais tempo Portugal se mantiver na UE mais apertado ficará o nó de forca que se mantém neste momento no nosso pescoço, embora um pouco aliviado pelo primeiro governo do senhor Costa, e o governo dito “socialista” acaba de avisar, pela voz da ministra da Modernização Não Se Sabe Bem De Quê, uma tal de Leitão, que aumentos na Função Pública para o ano serão bastante duvidosos e poderá haver a hipótese de se congelar de novo as carreiras profissionais. Ora, este “talvez” em linguagem politiquês quer dizer certeza, e é bom que se comece a preparar a opinião e, como é da norma, a seguir aos funcionários públicos vão os restantes trabalhadores, aliás, é o que já está a acontecer. O desemprego disparou: mais 71 mil pessoas, segundo os números oficiais que abrangem somente uma parte do universo, ou mais 94.046 trabalhadores (além dos 1.325.635 trabalhadores inscritos para “lay-off”) em apenas dois meses (15 de Março a 20 de Maio), e se o número de trabalhadores sem emprego e sem salário aumentou, isso será uma pressão acrescida para a descida generalizada do preço da força de trabalho.

Há duas questões que não podem ser iludidas: a situação de cada vez maior miséria para o povo trabalhador, irreversível em capitalismo e em União Europeia, e a dívida pública, com especial incidência para a dívida pública externa (soberana), que neste momento se torna insustentável quanto mais acrescentando-lhe os 26,3 mil milhões de euros prometidos e os 13 mil milhões que estão a ir para os bolsos dos patrões, com ou sem “apoio” da UE, a pretexto da “salvaguarda dos postos de trabalho”. Auditoria à dívida pública, com suspensão do seu pagamento (dívida externa), retoma da soberania financeira e reorganização da economia segundo as verdadeiras necessidades do povo e não a ganância do lucro de uma burguesia cada vez mais parasitária e inútil, já designada de lumpen-burguesia, são tarefas urgentes e inadiáveis; caso contrário, é o caminho para o precipício. Os trabalhadores, dirigidos pelo proletariado revolucionário, rejeitam as pedras, estas serão utilizadas quanto muito para lapidar aqueles que os exploram e cobrir-lhes a tumba, lutam pelo pão e por um salário digno, lutam por um mundo melhor, e a sociedade socialista e o comunismo serão inevitabilidades.

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