Com o argumento de "queremos abanar o mercado da construção e do arrendamento", o chefe do governo pretende antes do mais abanar com a maioria dos cidadãos portugueses, esvaziar-lhes os bolsos, degradar o seu estado de saúde e bem-estar com a destruição pura e simples do SNS, substituindo-o por um serviço privado que onerará em muito o Orçamento de Estado, por financiado directamente pelos dinheiros dos contribuintes. Desqualificar a escola pública, pela falta de professores, alteração dos curricula, insuficiência de financiamento das universidades, cada vez menos frequentadas pelos filhos de famílias operárias ou da pequena-burguesia, esta cada vez mais proletarizada, definitivamente o elevador social avariou de vez. Destruição do estado social com o foco do investimento público na externalização dos serviços, saúde e transportes públicos são bons exemplos (16 mortes em Lisboa no descarrilamento do elevador da Glória), e na indústria da guerra para enfrentar os russos que já vem aí. O medo, a mentira e a demagogia são os instrumentos para a prossecução desta política criminosa. E dar a mão à extrema-direita proto-fascista em caso de este governo e dos partidos que o compõem serem eventualmente descartados pela elite que domina o país.
Enganosas promessas eleitorais
Com as eleições autárquicas à porta, o governo
desdobar-se em promessas e em medidas avulso que acabarão por não satisfazer
nem gregos nem troianos, pelo facto de que neste momento haverá de se contentar
toda a gente. IVA a 6% para a construção em todo o país de casas até 648 mil
euros e “rendas moderadas” que vão até aos 2300 euros terão redução de IRS, de
25% para 10%, beneficiam, sobretudo, a parte superior da classe média, como o
salário médio dos trabalhadores portugueses fosse de 5750 euros (40% para
despesas com a habitação) e não de 1700 euros brutos. Montenegro não anda em
outro mundo, como têm acusado, mas faz a patifaria de forma consciente e capciosa,
ele quer o voto deste sector de classe, bem como de alguma franja dos
pensionistas, daí as benesses em sede de IRS e do prémio de 200 euros nestes
meses de Agosto e de Setembro. Na mesma linha esforça-se por agradar aos
grandes empresários com a descida do IRC e da derrama industrial, mas estes já
vieram dizer que querem mais.
Os “142 líderes das maiores empresas insistem
na redução de IRS e IRC antes do OE”. Mas o primeiro-ministro avençado já
deixou entender que muita coisa poderá ser feita no Orçamento de Estado, desde
que a sua aprovação seja garantida ou pelo desvertebrado PS ou pelo partido da
extrema-direita que nunca deixa de esticar a corda: “o governo tem de cortar já
no IRC dos grandes lucros”. Os patrões mão aliviam a pressão, vêm que pisam
ramo mole: redução do IRC para 17% até 2028 não agrada e exigem a taxa nos 15%,
a CCP quer cortar custos com a saída de trabalhadores e considera que salário
mínimo está um “pouco acima” da economia. Salários de escravidão, despedimentos
mais fáceis e baratos, destruição dos direitos dos trabalhadores, incluindo a
contratação colectiva, estão nos planos do capital e serão impostos ainda antes
de chegarem à dita “concertação social”. O resultado final será o disparar da
inflação, com a predominância na habitação, na proporção inversa do dinheiro que
ficará nos bolsos dos trabalhadores.
O governo parece ter “revolucionado” a saúde obstétrica,
desde 2022 até agora, nasceram 513 bebés em casa, 103 em ambulâncias e 58 na
via pública. Os doentes vão ter 48 horas para aceitar cirurgia no novo modelo
para, dizem, “acelerar listas de espera no SNS”. Quase 21 mil vítimas não
tiveram do INEM o nível de socorro exigido em 2024. O hospital público de
Lisboa Oriental vai ser entregue à exploração por parte dos privados, porque é “melhor
para as pessoas”, diz a ministra. Ora, a actual ministra não pode ser acusada
de “incompetente”, como faz a oposição parlamentar, porque a sua verdadeira
intenção não é resolver os problemas no campo da saúde dos portugueses, mas
acabar com os serviços públicos, e nesta questão tem-se mostrado eficiente, ou
seja, bastante competente. Agora, vai tirar da cartola a ideia das “urgências
regionais” de obstetrícia e ginecologia, liquidando com estes serviços em
vários hospitais, alegando “falta de médicos”, no entanto, não responde às
reivindicações dos médicos para a aprovação de novo contrato que dignifique a
carreira em termos de salários e profissionais. O mesmo acontece com
enfermeiros e outras categorias profissionais. Devemos referir que este plano,
porque é um plano, é muito semelhante ao aplicado pelo governo PS/Sócrates, que
fechou dezenas de maternidades e de SAPs por todo o país.
A triste figura de Marcelo e a degradação
da democracia
Marcelo, que tinha prometido fazer uma
avaliação do desempenho desta comissária política para a destruição do SNS,
acaba de anunciar o seu adiamento para depois das eleições autárquicas, fazendo
lembrar o seu correligionário de partido Moedas, presidente da Câmara de
Lisboa, que marca reunião sobre o desastre do elevador da Glória para depois do
dia 12 de Outubro para “não partidarizar” as eleições. Fazem parte da mesma
escola. E quanto a Marcelo, com a popularidade a descer abruptamente, parece
que irá ter um fim de mandato algo triste, correndo sério risco de sair pela
porta baixa. Há um ano, este gajo dizia que não era oportuno reconhecer o
estado da Palestina, mas como o governo português mudou de ideias e numa
manobra bacoca entendeu fazer esse reconhecimento um dia antes da França e de
outros países, já reconhece que a ideia é boa. Mas como sofre de flacidez
vertebral foi discursar sobre o tema na Assembleia das Nações Unidas não em
português, mas em inglês. Quis mostrar erudição, no entanto, apenas revelou
subserviência. Mais do que parolice, foi baixeza de carácter, porque aproveitou
a ocasião para se ir desculpar perante as autoridades norte-americanas das
críticas feitas a Trump após jantar bem regado que lhe fez saltar a língua. Indubitavelmente,
esta triste figura ficará na História como o pior Presidente da República que
este país teve depois do 25 de Abril. Simboliza bem a decadência do regime de
democracia parlamentar burguesa.
Para falar em degradação desta democracia de
opereta, basta dar uma olhadela no que se tem passado na dita “Casa da
Democracia” nacional, onde deputados taberneiros e arruaceiros dão largas aos
impulsos animalescos de fascistas mal disfarçados. São os ataques verbais, as
provocações sexistas a deputadas situadas mais à esquerda do espectro
partidário, a falta de postura, de educação e, em suma, de civilização. Estes desmandos,
que já vêm de legislaturas anteriores e que começaram com o aumento do número
de javardos na sala, acontecem porque há uma benevolente colaboração por parte do
Presidente da Assembleia da República, a dita “segunda figura do estado”, e do
seu partido. Por outro lado, revelam o maior desprezo por parte desta gentalha
pela democracia saída do 25 de Abril. Ora, isto só acontece porque esta
democracia, ela própria, não se dá ao respeito, o que fica bem patente pelas
mentiras dos partidos do arco da governação durante estes 50 anos, pelos casos
de corrupção impunes, pelo desprezo com que os problemas e reivindicações do
povo são tratadas. Um dia destes e por
este andar ou o partido da extrema-direita ganha as eleições, e até com maioria
absoluta, e manda incendiar o Parlamento acusando os comunistas, como aconteceu
na Alemanha nazi, ou o povo revolta-se e será ele a acabar com este antro de
vacuidades.
O palco já foi montado quanto às eleições presidências,
que serão logo a seguir às autárquicas, 12 de Janeiro do próximo ano: o
almirante e o chefete pró-fascista irão à segunda volta das presidenciais e o
almirante será eleito, poderemos ter um segundo Américo Tomaz, e o incendiário,
beneficiando da campanha, será lançado para primeiro-ministro, vencendo as
próximas eleições legislativas que serão precipitadas pela dissolução da Assembleia
da República e queda deste governo, a pretexto de qualquer coisa que facilmente
se arranjará na devida altura. Este terá sido, porque não houve declarações
públicas, o conciliábulo em almoço organizado pelo oligarca Mário Ferreira,
empresário de sucesso de turismo fluvial, dono de cadeia de televisão,
beneficiário de fundos europeus, ainda a contas com a justiça fiscal,
financiador de partidos e de candidatos presidenciais. Na mesma altura que se
realizava a comezaina e se conspirava, por coincidência, era publicada a
sondagem que dá vitória em possíveis eleições legislativas, caso agora se
realizassem, ao partido da arruaça e da provocação, sentado na extrema-direita.
Nada acontece por acaso. Ainda iremos ver muito boa gente quese diz de esquerda
a ir votar no senhor almirante das vacinas, que não reconhece o estado de
direito nem respeita a justiça, como ficou bem documentado aquando da sentença
que absolveu os marinheiros revoltosos do barco avariado. A oligarquia nacional
aposta na musculação do regime, o fascismo brando.
O desastre do elevador da Glória é o
espelho do estado do país
O que aconteceu em Lisboa, em período de pouco
mais de 24 horas, constitui um espelho do estado em que se encontra o país: a
derrocada do prédio na Graça, o autocarro da Carris desgovernado que abalroa 14
viaturas em Odivelas, o funesto descarrilamento do Elevador da Glória que
provocou 16 mortes e mais de 20 feridos, alguns deles graves. As causas deste
acidente ainda estão a ser apuradas, quase de certeza e como é tradição
nacional a culpa morrerá solteira. A reunião camarária para discutir o desastre
do elevador foi marcada para depois das eleições autárquicas, para, no dizer de
Carlos Moedas, “não partidarizar” o acto eleitoral, sendo ele o primeiro a
tirar partido da situação. Pelas notícias que têm vindo a lume, por denúncia de
ex-trabalhadores e da comissão de trabalhadores da empresa, a situação do
elevador era conhecida, os responsáveis não quiseram saber. O fundo da questão
encontra-se na política de externalização dos serviços de manutenção e de
segurança do material circulante da Carris, empresa pública sob tutela da
Câmara de Lisboa, a empresas privadas sem conhecimentos técnicos específicos,
sem experiência, eventualmente pertencentes a pessoal amigo ou do partido, com
o argumento economicista de poupança orçamental. Muito provavelmente as 16 pessoas
que perderam a vida na fatídica viagem deve-se ao facto da Carris, gerida por
boys do PS e do PSD, ter querido poupar 3.353 euros no cabo de aço do elevador.
Negócio ajustado no tempo da presidência anterior socialista, daí podermos
pensar que essa terá sido a razão da actual candidata pelo PS à Câmara de
Lisboa não ter exigido a demissão de Moedas. Afinal, fazem parte da mesma
sociedade que tem desgovernado o país nestes últimos cinquenta anos. Então, não
se venham queixar das provocações dos taberneiros e que “está aí o fascismo”. Estes
dois partidos, PS e PSD, contribuíram, e bastante, para isso. O fascismo sobe
ao poder usualmente conduzido pela mão da social-democracia, são as duas faces
da mesma moeda, o capitalismo.
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