Estamos nos quarenta anos do início do consulado que ficou conhecido por "Cavaquismo", durou dez anos e teve continuidade no governo de Passos Coelho/Paulo Partos/PSD/CDS, que "foi além da troika". Há comemorações, almoços e homenagens governamentais e o mais que vier. Este governo de Montenegro/PSD - caso possa, vontade não lhe falta - irá finalizar o trabalho de destruição do país e de empobrecimento do povo português.
Crónica data de Novembro de 2012.
O senhor Silva de Boliqueime tem sido chamado de tudo e mais alguma coisa desde que é Presidente da República: “palhaço”, “demenciado”, “doente mental”, “filho da puta”, “burro”, como outras tantas tentativas de explicar algumas das suas atitudes mais notórias, desde o silêncio perante as medidas de austeridade mais duras e a recusa em enviar o OE-2013 para o Tribunal Constitucional, às recentes declarações sobre a necessidade de “ ultrapassar os estigmas que nos afastaram do mar, da agricultura e até da indústria”, como se não tivesse sido ele, como primeiro-ministro, o principal responsável pela política de destruição desses sectores de actividade. É uma clara tentativa de apagamento da história, e em relação à explicação que quis dar ao seu tão criticado silêncio, agora ficamos a saber que o seu “silêncio é de ouro”, numa forma parola de ironizar, dando mesmo a ideia de que o homem está tolinho. A tentativa de apagar a história e de aligeirar as responsabilidades pelo desmando, contando com uma possível amnesia colectiva, é recorrente entre as nossas elites, useiras e vezeiras em corrigir o passado, mas não custa nada usar um pouco de rivastigmina ou donepezilo (medicamentos utilizados nas demências e que activam as funções cognitivas) a fim de reverter o processo mnésico.
Nos 10 anos (1986-1995) em que Cavaco foi
primeiro-ministro (tomou posse em 6 de Novembro de 1985) o país esteve a saque,
apesar dos muitos milhões de contos que entraram no país, mas que foram
embolsados por uma casta de parasitas, desde proprietários de terras
absentistas, empresários desonestos, sindicalistas oportunistas (UGT e Torres
Couto, por exemplo), políticos corruptos, que mais tarde se arvoraram em
empresários ou administradores de empresas privadas que engordaram, e continuam
a engordar, à custa do Estado. E o saque foi a destruição do tecido produtivo
nacional com o fim de se arredar a hipotética concorrência dos capitalistas
nacionais face aos estrangeiros que a partir dessa altura passaram a despejar
em catadupa os seus produtos dentro do país.
Deve-se salientar, no entanto, que este
processo de destruição de uma economia, possuindo ainda aspectos e formas de
produção pré-capitalistas, iria acontecer, embora mais lentamente, se Portugal
não tivesse entrado na dita CEE. Com a entrada na Comunidade o processo foi
apenas acelerado, e o que haverá então a salientar foi o papel, consciente e
voluntariamente assumido, por uma clique de políticos que desempenhou essa
missão de venda do país e do povo aos interesses dos grandes grupos económicos
europeus; e são os mesmos políticos ainda no activo, como o senhor Silva, o
político há mais tempo em actividade apesar de beneficiar de umas poucas de
reformas, que agora continuam a vender o país aos mesmo interesses
estrangeiros, agora protagonizados pelos bancos alemães.
Como dizíamos, é fácil ir buscar os números da
destruição da economia ainda nacional, embora capitalista, detida em larga
maioria por uma burguesia nacional, pesando todos os atavismos dessa elite e
que se encontram ainda bem patentes pela falta de perspectivas actuais. Estas,
por sua vez, bem expressa pela entrega fácil ao grande capital estrangeiro,
assumindo ela o papel de intermediária na exploração da nossa mão-de-obra, assente
em baixos salários, com a formação mínima, estritamente necessária para o
funcionamento das empresas que o capital estrangeiro achar por bem aqui
instalar, segundo a maximização dos seus lucros.
Mas vamos aos números. Em 1974, eram 1 209 500
portugueses activos que se dedicavam à agricultura e pescas (sector primário);
em 1986, quando Cavaco entra para primeiro-ministro e Portugal na CEE, havia
940 500, ou seja, menos uns 350 mil; mas em 1995, quando acabam os governos
cavaquistas, no entanto as mesmas políticas são seguidas pelos governos
PS/Guterres, já só 508 900 se dedicam à agricultura e pescas, menos cerca 432
mil; em resumo, a população activa no sector primário leva o maior rombo nos 10
anos do Cavaquismo do que em período anterior considerado de 12 anos. Foi por
ter perdido esta base significativa de apoio que o PSD perde as eleições para o
PS em 1995.
Em relação à população activa na indústria,
esta oscila, aumentado de 1974 para 1986, mais 200 mil operários, passando a
diminuir a partir deste ano até 1995, menos uns 31 mil operários, enquanto a
população activa aumenta grandemente no sector terciário, de 1 901 000 para 2
491 700 activos, sector que se traduz por serviços de terceiro mundo; população
activa que em 2012 é já de 3 035 900 nos serviços, com a agricultura a ocupar
uns 478 500 activos e a indústria com outros 1 322 700 (estes dois sectores somados
são bem menos que o terciário). Podemos assim afirmar que Portugal é um país
entregue a bandidos, por dependente do estrangeiro em grande parte do que
necessita de bens essenciais para a sua subsistência.
Mas outros dados estatísticos se podem ir
buscar para mostrar a destruição da economia portuguesa levada a cabo pelo
bando do PSD, parte do qual criou o BPN para melhor prosseguir com a
roubalheira, tudo sob o manto obscuro do nepotismo e alto patrocínio do senhor
de Boliqueime, dados que poderão ser o número de emigrantes ou número oficial
de desempregados. Começando por estes, deve-se mostrar que havia 368 500
desempregados em 1986, ano de ascensão do cavaquismo e das benesses europeias,
mas são 451 800 no ano de 1995, fim formal do consulado cavaquista, isto é,
mais uns 83 mil desempregados, número que não é maior porque a emigração o faz
diminuir.
Quanto à emigração, em 1986, saíram 13 690
portugueses e, em 1995, já foram 27.358 (números oficiais), mais do dobro, que
foram obrigados a procurar fora do país uma forma de sustento. Mas voltando ao
desemprego, este tem sido o indicador económico que os governos do PSD mais tem
feito subir, embora com uma ajuda preciosa do PS; assim, se, em 2006, já em
governo socrático, havia 452 700 desempregados, número que tinha vindo
gradualmente a decrescer, subiu rapidamente, em 2010, para 541 800, chegando
aos 601 mil no final de 2011, de então para cá o desemprego não tem cansado de
crescer, atingindo no 3º Trimestre de 2012, 870 900 trabalhadores, o desemprego
oficial atingiu (15,8%). E falamos de números oficiais, porque a realidade é
bem maior, calculando-se o número efectivo de desempregados em 1 367 400 - uma
taxa de 27,1%! Ora, a força produtiva mais preciosa é o homem, e destruir esta
força é o maior crime que se pode cometer, seja pela inactividade forçada ou
pelo genocídio.
Mas de tolo este PR não tem nada. Dá cobertura a este governo, porque este governo é o seu governo. A política anti-popular, a favor dos banqueiros e da ingerência estrangeira troika (FMI/UE/Alemanha), que este governo tem seguido, é a sua política. Está dentro da sua ideologia e enquadra-se no seu posicionamento de vil vende-pátrias, Miguel de Vasconcelos europeísta e pós (pouco) moderno – governo Passos Coelho e Silva de Boliqueime, ambos indissociavelmente ligados.
O senhor Silva, seja pelas políticas que executou, quando primeiro-ministro, seja pelas políticas sobre as quais dá todo o seu avale, agora como PR, sublinhadas pela sua boçalidade e espírito (ideologia) fascista, é o primeiro e principal responsável político pela desgraça do povo português e pelo estado de pré-falência do Estado, na razão inversa do enriquecimento de banqueiros e grandes capitalistas, levando a melhor ao seu competidor mais directo, o xuxialista Mário Soares.
Imagem: Desenho de Vilhena a respeito da
tomada de posse de Cavaco como primeiro-ministro (retirado do blog “Aventar”)
24 de Novembro 2012

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