A economia a funcionar é importante para a saúde do país”, diz a ministra Vieira da Silva, tão ou mais amiga dos patrões do que o pai, reafirmando palavras do chefe e de Marcelo, que, todos eles, preocupam-se mais com a economia do que com a saúde e o bem-estar do povo português. Caso isto não fosse verdade, nunca teriam enfiado o SNS numa situação de descalabro, cronicamente subfinanciado, onde tudo falta, desde equipamentos a pessoal diverso, instalações degradas e falta de camas; andou-se a destruir para abrir caminho e dar mercado aos grupos da saúde privados, correndo-se neste momento o risco do SNS entrar em colapso.
As aquisições de material, agora anunciadas quase com pompa e circunstância não fosse a situação trágica em que vivemos, estão a ser feitas tarde e a más horas e a aos bochechos, não se dispondo o Governo a decidir pela requisição civil dos hospitais privados, com todo o seu equipamento e pessoal, colocando-os sob uma direcção única para fazer frente à pandemia.
Em vez de apelos à boa consciência
dos patrões do sector, o Governo já deveria ter imposto às empresas, capazes de
o fazer, a sua conversão para o fabrico de equipamento e meios de consumo
necessários neste momento e, caso necessário, proceder à nacionalização das
renitentes a aceitar o estado de emergência. Parece que o estado de emergência
não é para os patrões, mas apenas para os trabalhadores a fim de aceitar as
imposições do Governo, as actuais e as que vierem no futuro, e a não se
revoltarem.
Em relação aos despedimentos (ou aos despejos), o Governo não os proibiu e o Costa limita-se a apelar ao bom senso dos patrões como se estes fossem algo parecido com a Madre Teresa de Calcutá. Só para as empresas em lay-off ou queiram crédito mais barato é que os despedimentos estarão vedados; e mesmo para estas, ainda estaremos para ver.
Uma das consequências da crise económica que estava já em estado larvar, é bom relembrar constantemente, o sars-cov-2 só a veio despoletar, será o desemprego em massa, para além de maior precarização, com horários de trabalho alargados, com o teletrabalho a tempo inteiro a dominar, com redução de salário, diminuição ou até o fim do período de férias pagas, como nos “bons velhos tempos” da escravidão, isto é, uma inaudita sobre-exploração dos trabalhadores.
A burguesia e o capitalismo não têm outras soluções para fazer frente à crise do seu sistema senão as já velhas e relhas de destruição das forças produtivas, sendo a humana a mais importantes, e compressão, até ao limite da subsistência, do custo do trabalho.
As contaminações e as mortes a esmo dos nossos idosos,
com a Igreja Católica a querer extorquir mais dinheiro ao Estado, fazem parte
da contabilidade dessa redução de despesa e mostram qual tem sido a política
dos governos que temos tido em relação a uma parte, cada vez maior, da nossa
população.
Os empresários já foram claros, desde a Associação de Hotelaria (AHRESP) à CAP e passando pelos patrões dos têxteis, querem é dinheiro e não crédito. Não confiam no lay-off do governo que, segundo diz o Costa, vai custar ao Estado mil milhões de euros por mês, o que não é verdade porque esse dinheiro não é do Estado mas da Segurança Social, e não querem ficar endividados ainda mais aos bancos, que serão aqueles que no final irão ganhar.
São os industriais da restauração de Braga que lançaram um manifesto a exigir ao Governo que seja ele a pagar os salários dos trabalhadores, senão haverá despedimentos, assim como já tinha ameaçado o presidente da AHRESP que se não houver mil euros para cada trabalhador no sector, metade, ou seja, 250 mil, irá de certeza para a rua.
No entanto, esta
gente esquece-se que o sector do turismo, tão gabado até aqui por representar
10% do PIB nacional e ter estado em crescendo desde 2013, os salários não
acompanharam esse crescimento, que será semelhante ao da riqueza pessoal dos empresários,
e que agora os trabalhadores que se desenrasquem.
Não deixa de ser curioso ver empresas, que se dedicam a intoxicar diariamente os portugueses e a fazer passar as mentiras do governo e do nosso primeiro Costa, embrulhadas sempre em meias verdades como é obrigatório para que pareçam verossímeis, com jornais a terem de abandonar a edição imprensa pela simples razão de ninguém os comprar, a virem agora pedir (ou exigir) ao Governo que as salve da desgraça, apelo a que o PR Marcelo já tinha feito eco há algum tempo.
Interessante ver um “Observador”, órgão de propaganda
e porta-voz do sector mais conservador da burguesia nacional, que sempre gritou
por “menos Estado”, a pedir ao Governo “um programa específico” para salvamento
de empresas quase falidas como seja o Global Media Group, do empresário
Joaquim Oliveira, que enriqueceu à custa do futebol e da RTP, ou a Impresa, do
militante nº1 do PSD, com certeza, que nenhum deles irá abdicar da fortuna
pessoal ou familiar.
Depois de passada a crise, que não se saberá nem quando nem como ficará o país, os trabalhadores e o povo ficarão de certeza absoluta com uma pesada factura para pagar. A dívida pública irá subir, na melhor das hipóteses, para os 143% do PIB, como calculam alguns economistas da nossa praça, e o PIB, segundo os mesmos, poderá ter uma queda entre os 10% e os 20%, consoante a duração da pandemia, e o défice das contas públicas irá bem além dos 3% impostos por Bruxelas, que irá tentar obrigar que sejam os estados a pagar a despesa do próprio bolso, o que levará inevitavelmente à tomada a medidas de austeridade jamais vistas em Portugal.
Podem esperar sentados que o BCE venha a comprar dívida pública, dando dinheiro directamente aos estados e aos cidadãos, esta será mais uma oportunidade para que a Alemanha esmifre ainda mais os povos da Europa, nomeadamente os da Europa do Sul, os tais “PIGS”, agora seremos todos Grécia. As contradições entre os estados dentro da UE irão aumentar exponencialmente, ainda mais do que a propagação do coronavírus, e será a breve prazo o fim do euro e da própria União; mal a Itália declare a bancarrota, o fim precipitar-se-á.
As medidas de austeridade que a UE prepara e
que o governo do PS/Costa, como bom lacaio, está disposto a aplicar, indo se
for preciso “além da troika”, prolongar-se-ão por tempo indeterminado e que não
evitarão uma nova crise ainda maior, porque é a história do capitalismo que nos
diz.
A crise económica que estamos a atravessar não pode nem deve ser resolvida nos termos em que tem sido feito até agora, o capitalismo encontra-se em fase terminal e em estado comatoso, as medidas que se tomam esgotam-se de crise para crise e provocam uma crise ainda maior, será tempo de se adoptar outras medidas e reorganizar a economia de outra forma.
Começar pela nacionalização das empresas estratégicas do país, a começar pela TAP e acabar nas empresas de telecomunicações, passando pelas elétricas e distribuição de alimentos e produtos de primeira necessidade, a única forma de combater a especulação e o açambarcamento, pela nacionalização da banca e controlo de capitais e suspensão do pagamento da dívida pública até à realização de auditoria independente e cidadã, e afectação dessa verba à Saúde, para já ao combate da pandemia.
E quanto às pequenas, médias e micro empresas, condenadas a desaparecer de forma dolorosa no capitalismo, a única saída será a reorganização em associações e cooperativas; se no caso dos patrões, mais dispostos a embolsar os subsídios a fundo perdido do que a recapitalizar as empresas, decidirem pelo encerramento ou pelo lock-out, o Estado deve intervir e entregar as empresas à direcção dos trabalhadores; todas as outras medidas só farão prolongar a agonia. E, por fim, a saída da União Europeia (e do euro) enquanto é tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário