terça-feira, 14 de julho de 2020

Touradas, corrupção e os políticos do regime



Pode não parecer, mas tem tudo a ver a corrupção com as touradas, ou vice-versa. O apoio do Estado às touradas, através do Orçamento do Estado, são muitos milhões de euros, porque haverá outros a nível das autarquias ou mais discretos como publicidade, isenções fiscais, etc. (o Campo Pequeno embolsa 9 milhões de euros em isenções só este ano), é um acto de fomentar e apoiar a barbárie como uma medida que não deixa de estar envolvida em corrupção, no campo dos valores humanos e do estritamente económico. Pode não ter uma ligação directa, mas a nomeação da dirigente e ex-deputada do PCP, Rita Rato, pessoa sem formação ou currriculum na área, para dirigir o Museu do Aljube Resistência e Liberdade, indicia claramente favorecimento político, e alguma coisa haverá em troca. Não é por acaso que o PCP continua a aprovar as políticas do governo, seja nas touradas ou outras questões, valendo as abstenções ou os votos formalmente “contra” um apoio em termos práticos, como agora aconteceu com o Orçamento Suplementar, embora disfarçado para sossego das hostes e da contabilidade eleitoral. Ser contra o financiamento público das touradas mas ter deixado passar o Orçamento Suplementar é mais outra habilidade do BE, que achou o Orçamento necessário para combater (!?) a covid-19, mas insuficiente para o país; tal como tem feito com o Novo Banco, critica os muitos milhões que ali são torrados pelo governo PS, mas entretanto vai aprovando os Orçamentos que contemplam esses muitos milhões de euros para um poço que parece nunca ter fundo.

Para os partidos da extrema-direita nacional e para o PCP, as tradições culturais são para manter e apoiar financeiramente com os dinheiros públicos, um pouco à semelhança com a ICAR, mesmo que nem todos os cidadãos portugueses sejam católicos ou crentes sequer. De igual modo, para o Chega, "a tauromaquia é cultura" e garante "milhares de postos de trabalho", e para o PCP, no seu fraco entendimento, garantirá milhares de votos, na medida em que é nos concelhos onde haverá mais afición que obtém melhores resultados eleitorais. Algo semelhante se poderá dizer em relação à corrupção, garante milhões e mais postos de trabalho, porque, até certo ponto, dinamiza a economia capitalista burguesa. São lucros que entram e o capital mantém o seu fluxo de acumulação, estará tudo dentro do sistema. E é o que diz o PS, "o acesso às artes deve ser igual para todos os cidadãos", ou seja, torturar animais faz parte da cultura das nossas elites, tal como a corrupção, onde se inclui a velha “cunha”, ou o CDS que invectiva os que são contra as touradas de “populistas, demagógicos e inconstitucionais”. O PSD, em franco estado psicótico, nega a realidade, nem a maioria dos portugueses é contra as touradas nem estas são apoiadas pelo Estado. A corrupção não acontece somente pelas comissões ou outras vantagens recebidas pelos políticos daqueles a quem facilitam os negócios, mas pelos valores morais de “respeito pela vida ou dignidade”, valores que dizem ser cristãos e humanistas e que tanto apregoam, mas pouco ou nada seguem. Mas, como diz o padre: ouve aquilo que digo e não olhes para aquilo que faço!

A corrupção vai de vento em popa em Portugal. E não será preciso investigar muito para se conhecer os casos cada vez mais frequentes que acontecem pelo país, e serão somente a ponta do iceberg: três ex-ministros (Teixeira dos Santos, Mário Lino e António Mendonça), e dois secretários de Estado (Paulo Campos e Carlos Costa Pina) estão a ser investigados pelo Ministério Público por suspeitas de “gestão danosa, participação económica em negócio, prevaricação ou abuso de poder”, está em causa a negociação de contratos de subconcessões de autoestradas e scuts, “terão lesado o Estado em cerca de três mil e quinhentos milhões de euros”; o Novo Banco vendeu activos com 70% de desconto ao fundo americano Cerberus, ao qual o seu chairman Byron Haines esteve ligado, com uma perda de 328 milhões de euros, o que levou a uma queixa à autoridade europeia de “gestão ruinosa”, “conflito de interesses” e pedido de investigação criminal; o grupo privado Luz Saúde já assinou, através da sua subsidiária chinesa GLSMED Trade SA, 19 contratos de material com o Estado para combater a Covid-19, no valor total de 31.617.750 euros (de quanto terá sido as comissões?); o advogado João Taborda da Gama, filho de Jaime Gama, militante do CDS, tem dois contratos de assessoria jurídica na câmara de Lisboa, atribuídos por nomeação direta, que lhe valem um rendimento mensal de 17.003 euros, no entanto, participa num programa de debates da radio Renascença... com o presidente Fernando Medina numa aparente oposição (!?); o valor em dívidas fiscais consideradas incobráveis aumentou 27% em 2019, para 6,4 mil milhões de euros, de um bolo total de 21 mil e 146,1 milhões de euros, dos quais 30,4% são já considerados incobráveis e 40,2% considerados dívida suspensa (não são só os 2 mil milhões de euros que os patrões embolsam à conta do lay-off); o portal do Ministério da Educação, que se foi abaixo devido ao grande número de acessos para matrículas e não a qualquer ataque informático, custou aos contribuintes a quantia de 348.356 euros (a par da corrupção, a incompetência e a irresponsabilidade políticas!). Estes foram só os casos relatados pela imprensa na última semana, o que haverá ainda mais?!

Nos entrementes, o palhaço, mas perigoso, do PR Marcelo vai passear todas as semanas para o Algarve, arvorado em agente de viagens, a fim de promover a ida dos portugueses para aqueles lados, como se fosse barato e não houvesse outros pontos turísticos de interesse no resto do país. E o manhoso do PM Costa, armado em esperto mas pouco inteligente, teve a lata de dizer que “a pandemia de coronavirus veio pôr em evidência as fracturas da sociedade” e o “preço a pagar” pela “excessiva desregulação” do mercado de trabalho, ao mesmo tempo que vai mudando o Código do Trabalho segundo as exigências do patronato em vez de revogar todas as alterações a que foi sujeito depois de 2008. Não há oposição ao governo entre os partidos do regime, então, a única via será a luta dos trabalhadores assalariados e de todo o povo contra a política de um governo que mais cedo ou mais tarde será atirado para o caixote do lixo da história. E talvez mais depressa do que se possa pensar.

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