quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Eleições presidenciais e o regime apodrece

 

Estamos a pouco dias das eleições para a Presidência da República sabendo-se antecipadamente quem será o vencedor. Não haverá chapelada que escandalize, como parece ter acontecido nos Estados Unidos da América em Novembro passado, aqui, será o regime ainda a replicar-se, no entanto, sem conseguir ocultar os sinais mais que evidentes da decrepitude. O medo da abstenção é mais do que enorme por parte dos partidos do poder e das elites que ainda apostam neste cavalo cansado, e as medidas que foram tomadas quanto ao voto antecipado a fim de obviar a temida abstenção mostraram-se desastrosas. Os eleitores que temiam os ajuntamentos no dia 24 foram para as poucas mesas de voto provocar o que tanto temiam, mas para o ministro foi um “entusiasmo” e uma “alegria”, fazendo-lhe lembrar as primeiras eleições em 1975. Nestas aglomerações, pelo que parece, já não houve perigo de contaminação e de aumento da propagação do coronavírus, à semelhança do jantar do candidato oficial da extrema-direita, em Braga, que juntou cerca de 170 neo-nazis, que não tiveram pejo em fazer a saudação nazi, sem que as autoridades e a GNR, em particular, conhecedoras do evento, ali se tivessem deslocado para identificar os criminosos sem máscara e passar-lhes a respectiva multa. A RTP, depois de ter o carro vandalizado e os jornalistas apanhado uns empurrões, continua a levar o fascista ao colo, bem como os outros órgãos de comunicação presentes, mostrando que entre a RTP, a GNR, as autoridades de saúde local e o fascista a diferença não é de monta.

Os sete candidatos que se encontram na rampa para o Palácio de Belém sabem desde há muito que o actual PR Marcelo tem antecipadamente a vitória garantida, mais precisamente desde o dia em que foi eleito, porque é o candidato do regime e goza da inteira confiança das nossas rentistas e inúteis elites. Esta é a razão pela qual o PS não tem candidato e aposta todas as cartas em Marcelo e nem sequer cria um candidato para diversão e divisão dos votos da esquerda como aconteceu há cinco anos ou com as duas eleições de Cavaco. O candidato que estará a ser empurrado de forma discreta pelo partido do governo será quanto muito o pateta de Rans, que nuca soube explicar como conseguiu as 7500 assinaturas para a sua candidatura bem como para o seu partido, lembrando a famosa candidatura do “Coelho ao Tacho” do popular funcionário da Associação Académica de Coimbra nos idos de 1991, candidatura organizada pelo PSD para chatear o PS e Mário Soares, cuja reeleição estava mais do que garantida, mas acabou por ser abortada pelos seus promotores apesar do número suficiente de assinaturas ter sido alcançado, o que motivou a desilusão e a revolta do ingénuo Coelho que então viu que tinha sido manipulado. Serve para lançar a distração.

Os candidatos apresentados pelo PCP e o BE são candidatos cuja única missão é a de garantir a fidelização dos respectivos eleitorados e provar que o apoio destes partidos é superior ao que aparece nas eleições legislativas. São uma prova de vida dos partidos que os patrocinam, tal como os cidadãos aposentados, para continuarem a poder beneficiar das prebendas e alcavalas doadas pelo regime. São dois social-democratas que rezam para que esta democracia se mantenha e que nada aconteça à sacro-santa União Europeia. Ambos funcionam como flores de lapela do sistema de exploração capitalista. Mas um terceiro pretendente ao trono se destaca, pela verborreia, pelo tarefismo, pela impulsividade, sem programa político que a destaque dos dois candidatos anteriores, quer em questões nacionais, o governo até é “socialista” e o que é preciso é uma “regionalização”, que defenda os caciques locais tipo Alberto João da Madeira, quer no que diz respeito à União Europeia, devemos lá estar nem que seja para sermos todos vacinados. Ana Gomes, trânsfuga política, sente a necessidade de mostrar, como todos os cristãos novos, que é mais papista que o Papa, daí a confiança que possa querer difundir ao povo eleitor soará sempre falsa.

Os candidatos da extrema-direita são dois, um mais soft e o outro mais hard, ambos aproveitam a ocasião para agitar as bandeiras queridas do sector mais ultramontano e ganancioso das nossas elites: privatização de todas as funções sociais do estado, desde a educação e segurança social à saúde, proibição dos sindicatos e da contratação colectiva, os trabalhadores deverão ser escravos e a bel-prazer dos patrões através da contratação individual. O mais trauliteiro destes dois candidatos possui a função acrescida de espantalho para assustar a pequena-burguesia que se não votar no candidato certo (Marcelo) virá aí o fascismo! Perante tantos candidatos mas que, em termos de sistema económico que domina a nossa sociedade, acabam por ser só um. E, mediante esta triste realidade, o voto dos trabalhadores portugueses e do povo em geral – repetimos, são quem sustenta a cáfila – não pode ser outro que não o VOTO NULO. A elevada abstenção esperada não deixará de ser manifestação iniludível do apodrecimento do regime democrático saído do 25 de Abril. A seguir será o bonapartismo à portuguesa que, por sua vez, irá despoletar a raiva e a revolta de todos os deserdados.

A situação de bancarrota da economia nacional (capitalista), agravada pelo situação de subjugação aos países ricos da União Europeia, cuja sobrevivência é cada vez mais precária, como se comprova pelos números: em apenas 10 meses, a dívida das Administrações Públicas aumentou de 310.466 milhões de euros para 330.000 milhões , e a divida na óptica de Maastricht subiu de 249.985 milhões de euros para 268.143 milhões; no fim de Setembro de 2020, a divida das Administrações Públicas já correspondia a 160,8% do valor do PIB e a de Maastricht a 130,8% - uma dívida impagável! Em 2018, a percentagem do salário médio hora pago aos trabalhadores portugueses em relação ao salário médio hora na União Europeia era apenas 48,9%, menos de metade – em 2006, era 52,3%. E, em 2019, o PIB por habitante em Portugal correspondia a 64,7% do PIB médio por habitante dos países da União Europeia, menos do que em 2010 em que representava 66,6%. Assim se pode constatar que Portugal em vez de convergir para a média da UE tem vindo sempre a afastar-se.

A dívida pública irá inevitavelmente agravar-se com os apoios que o governo não se cansa de prometer às empresas em forma de recapitalização a fundo perdido, com as confederações patronais a esticarem a corda reclamando mais ajudas e pagas na hora, com famílias também mais endividadas, com mais desemprego anunciado e salários mais baixos. Os 45 mil milhões prometidos da “bazuca” para este ano de 2021 não serão a custo zero e serão pagos com língua de palmo pelos trabalhadores portugueses; servirão para melhorar a tesouraria dos principais capitalistas nacionais, apenas adiarão a falência, e agravarão as condições de vida de quem trabalha com o reforço da sua exploração. E para mitigar o descalabro mais que certo, o governo, a mando de Bruxelas, vai impondo as medidas de restrição sobre o povo, dentro de um estado de excepção, que garantidamente – disse já o Marcelo – irá estender-se até ao dia da sua tomada de posse, 9 de Março. A pandemia não passa de pretexto para o apertar da tarraxa, e, diga-se de passagem, um excelente pretexto.

A imprensa mercenária e o jornalixo fazem a festança, ao preço de 15 milhões de euros, é mais do que alarmismo, é o prenúncio do fim do mundo, é o Apocalipse, o Caos Total, com o número de mortes “com covid” por dia: ontem foi o «Pior dia em mortalidade, 218 óbitos “por covid”», número onde são enfiados doentes com outras patologias porque tiveram teste PCR+, com Costa a anunciar «"Vamos iniciar campanha de testes rápidos nas escolas" já amanhã», como testes pouco fiáveis espantassem o vírus, ou «Confinamento aperta. António Costa pede "sobressalto cívico"», ou ainda, «“É a loucura total” nos hospitais. Os médicos estão “exaustos e em sofrimento ético”». As paragonas dos jornais e as aberturas dos noticiários televisivos competem pelo mais tenebroso dos cenários, no entanto não esclarecem: que o governo teve tempo durante o Verão de contratar mais pessoal para o SNS, reaberto serviços e criados mais camas, nomeadamente nos cuidados intensivos e que nada fez; que o número de ambulâncias à porta de algumas urgências hospitalares não corresponde a um acréscimo do número de pessoas a ocorrer às urgências e que estas ocorrências, como se pode confirmar pelas estatística quase em tempo real do SNS, não aumentaram neste Inverno em relação aos outros anos, bem pelo contrário, diminuíram 32,5%; que essas ambulâncias transportam idosos provenientes de lares onde foram abandonados à sua sorte, sem reforço de pessoal ou melhoria das condições de assistência em lares, que mais não são do que depósitos de gente à espera da morte; que se há médicos em “exaustão” é porque o número de médicos não foi reforçado porque o governo recusa aumentar os salários no SNS e instituir o regime de exclusividade para que muitos continuem a acumular o público com o privado, para engorda deste, daí a “exaustão” e “sofrimento ético” de alguns deles. No entanto, mais de metade das mortes por excesso é provocada por doenças oncológicas e cardiovasculares, e perante os factos a mal amada ministra manda encerrar os hospitais para doentes não covid, incluindo as cirurgias prioritárias e oncológicas – não se morre da doença, morre-se da cura!

Mas, enquanto responsabilizam o povo pelo aumento dos contágios, devido aos convívios do Natal e outros putativos abusos, e o ameaçam com mais restrições, mais confinamento e mais multas, desculpabiliza-se o governo (Costa até é um gajo porreiro! Se fosse no Brasil, a culpa é do fascista Bolsonaro!), vão-se rindo na nossa cara e gozando com o pagode. É um Marcelo que se irrita porque não recebeu a tempo o resultado do teste – o homem já faz mais de 80! - para ir fazer campanha, e ainda sem conhecer o resultado vai falar e tirar selfies com os idosos em lar da Misericórdia, sem respeitar confinamentos nem distanciamentos sociais, contudo, e como bom hipocondríaco e acagaçado com a abstenção, vai chantageando: “mudar de presidente a meio da pandemia será uma aventura"; até parece que tem medo de ainda perder as eleições!

O “sobressalto cívico” de que fala Costa poderá vir a ser uma desobediência civil como parece estar já a despontar, com os proprietários de um restaurante em Lisboa a desobedecer a encerrar, invocando o “Direito de resistência” consagrado na Constituição da República, o tal “livrinho” que o candidato do PCP tanto gosta de agitar, chegando ao cúmulo de o erigir como a principal bandeira a defender na medida que supostamente é o principal alvo de ataque do candidato trauliteiro da extrema -direita. Não será necessário o protesto dos proprietários dos restaurantes do Minho que apelam ao boicote às eleições e colocam faixas negras, sinónimas de fome e miséria, porque a elevada abstenção deverá estar mais que garantida. Contudo, este será apenas um primeiro e pequeno passo, mais passos terão que ser dados para que este sistema económico, assente na exploração dos trabalhadores e que visa única e exclusivamente o lucro, possa ser desmantelado e se reorganize em seu lugar uma economia cujo objectivo seja acima de tudo a satisfação das necessidades das pessoas aos seus diversos níveis. E em sociedade de, além da igualdade e liberdade, de tolerância, solidariedade e justiça para todos os cidadãos.

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