quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A estratégia do medo e a “quebra histórica” do PIB


"Prayer", 1930 - Man Ray (1890-1976)

Parece que estamos numa de acontecimentos “históricos”, foi o “acordo histórico” que vai hipotecar o país em mais 61 mil milhões de euros, entre empréstimos e falsos "fundos perdidos", e agora é a “quebra histórica” do PIB nacional, menos 14,1% no 2º trimestre, quando comparado com 1º trimestre do ano, ou menos 16,5%, quando comparado com o trimestre homólogo de 2019. Valor superior à média europeia dos países cujos números são já conhecidos (Alemanha menos 10%).Trocado por miúdos, ou por euros, significa que houve menos 8.760 milhões de euros de riqueza criada, segundo as estatísticas oficiais, e menos 3.200 milhões de euros de remunerações não recebidas pelos trabalhadores. Trocando de novo por miúdos, os trabalhadores portugueses empobreceram, em termos nominais, mais um tanto, houve pequenos patrões que terão ficado com a corda ao pescoço e haverá grandes patrões e capitalistas que terão aumentado o património e as contas bancárias, tudo graças às ajudas do estado com o pretexto do combate à covid-19.

Contudo, faz parte da contabilidade um aumento de 2137 mortes (+26%) no mês de Julho (10.390 pessoas) em relação ao mês de Julho do ano passado, o maior número desde há 12 anos, e das quais só 159 (1,5%) foram devidas ao SARS-CoV-02: o governo atribui a causa do excesso de mortalidade ao “calor extremo”, à semelhança dos incêndios (este ano já morreram 3 bombeiros, 229 em 40 anos!), alguns especialistas já referem “efeito secundário do confinamento” e a Ordem dos Médicos já aponta o facto dos doentes que “ficaram para trás” por não atendimento pelo SNS, por se encontrar concentrado no tratamento dos dentes infectados pelo coronavírus. Fica-se com a ideia de que um dos objectivos do afunilamento do SNS no ataque à pandemia seria empurrar os doentes com outras patologias para o sector privado, só que a estratégia falhou e aquele também se queixa da diminuição do negócio, ao que parece, menos metade das consultas de urgências. O confinamento mostrou que como estratégia de impedir a propagação da pandemia agravou a crise económica já existente e terá lançado o país num plano inclinado cujo fim ninguém consegue vislumbrar, nem rezando a todos os santos padroeiros do país católico nem a Nossa Senhora de Fátima, equiparada pelo Vaticano, numa clara afronta à Teologia, a Deus no que concerne à capacidade de fazer milagres.

O Verão de 2020 vai a meio, os incêndios vão de vento em popa, a época deste ano parece ser profícua, muitos ditos empresários verão os negócios florescer, que o digam os patrocinadores políticos e financiadores do neo-nazi Chega, por exemplo, o oligarca João Maria Bravo, dono da empresa Helibravo, fornecedora de helicópteros de combate aos incêndios, e milionário do armamento, ganhando muitos milhões de euros pelo fornecimento de armas às polícias e forças armadas, um dos tais que defende “menos estado” para ficar com mais estado só para ele. Dentro da mesma filosofia ficamos a saber que o Novo Banco vendeu mais de 13 mil imóveis, avaliados em 631 milhões de euros, a um fundo anónimo sediado nas ilhas Caimão, por 364 milhões, a quem emprestou dinheiro, registando prejuízos de 267 milhões de euros, dinheiro que saiu do Fundo de Resolução, em grande parte financiado pelo estado, ou seja, pelos contribuintes portugueses. E não chegando isso, o dito Novo Banco, tão mau que o outro, pensa pedir mais 176 milhões de euros ao benemérito Fundo de Resolução par fazer face aos prejuízos (555 milhões de euros no 1º semestre de 2020), um rega-bofe que continua até não se sabe quando. Fácil de ver que o dinheiro que aí vem, 6,4 mil milhões por ano nos próximos 10 anos, será para esta gente e para estes negócios, tal como os milhões que entraram nos bolsos de alguém, não no país que trabalha, em anos anteriores (entre 1994-1999 foi de 4,6 mil milhões, entre 2000-2006 de 4,9 mil milhões e entre 2007-2013 foi de 4,5 mil milhões).

A propaganda estonteante por parte dos principais órgãos de informação, entenda-se de “propaganda”, seguindo a agenda governamental, sobre as mortes por covid-19 e a propagação da pandemia, lançou entre grande parte da população o medo, o medo excessivo e irracional, o pânico do sair à rua e do contacto social, impondo o isolamento, para melhor aplicar as medidas económicas de austeridade redobrada, embora com o primeiro-ministro Costa a propalar o contrário. Estratégia que parece ter resultado pelo menos até agora, mas irá ter efeito perverso de despoletar a revolta popular, um dia destes,e uma revolta também a dobrar. E os números do desemprego estão aí: mais 109.600 desempregados, a somar aos já existentes, segundo os números oficiais, e aos 305.000 “inactivos indisponíveis”, perfazendo os 636.200 trabalhadores desempregados em final do mês de Junho. Mais desemprego, menos salário e mais impostos sobre os trabalhadores assalariados, que serão mais que certos se os patrões levarem a avante a campanha em curso de diminuição dos impostos que ainda pagam, embora falem sempre da abstracta “classe média”, estarão então reunidos todos os ingredientes para a revolução. E é o medo da revolução e do povo encolerizado que faz a burguesia e o seu governo de turno a usar a mentira e infundir o medo que eles próprios sentem.

É na prossecução da política do medo que toda a imprensa do regime vai promovendo um partido fascista, com o seu líder já em plena campanha para as eleições presidenciais, numa estratégia usada noutros países, em França tem resultado com a Frente Nacional, que se resume em dizer aos trabalhadores ou vocês votam no candidato certo do regime, no caso será Marcelo, que já não será um fascista reciclado porque haverá um pior, ou vem aí o fascismo. Ou seja, segundo esta teoria do regime de nunca há alternativa, mas para quem trabalha há sempre a alternativa do socialismo e do comunismo, pela revolução comunista, só que em relação a esta nenhum órgão de propaganda do regime está interessado em propagandear. Usa-se a mentira e a manipulação, sempre com o mesmo objectivo de intimidar e dar a entender que não há outra via: é com o assassínio do actor negro por um racista retornado das colónias, que só passado algum tempo é que foi identificado por um dos jornais de referência, nunca se lhe viu bem o rosto e nem o que fazia em Portugal depois de regressado de Angola, chegando a ser promovido a enfermeiro e aumentada a idade em mais meia-dúzia de anos para a desculpabilização, enquanto se praticava o assassinato de carácter da vítima pelo simples facto de ser negra; é empolar uma manifestação da extrema-direita, que não terá tido mais do que uma centena e meia de participantes, tal como já acontecera anteriormente, e onde se pôde constatar que na sua maioria ou eram retornados ou polícias à civil.

Pode parecer que não tem ligação à política do medo, mas tem, a atribuição da culpa pelo acidente ferroviário do comboio alfa-pendular, na Linha do Norte, aos dois trabalhadores que morreram por não terem eventualmente respeitado o sinal vermelho, trabalhadores que agora não poderão defender-se e dar a sua versão dos factos, e não aos critérios economicistas do governo de não dotar os Veículos de Conservação de Catenária (VCC) do sistema de controlo automático de velocidade (CONVEL); uma das expressões da falta gritante de investimento na ferrovia nacional (as famigeradas cativações do Centeno). Não só uma atitude economicista mas, sobretudo, de desprezo pela segurança e vida dos trabalhadores, e somando-se às mortes em excesso verificadas durante o tempo do confinamento, fácil será concluir que o governo PS é um governo assassino, porque, em última estância, é o responsável político pelo que tem acontecido. É o mesmo desprezo manifestado pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, que, quando confrontada com o facto de haver pessoas da cultura a passar fome, convidou os jornalistas para o “drink de fim de tarde”, fazendo lembrar a Antonieta, mais tarde guilhotinada, quando mandou comer brioches ao povo faminto de Paris quando reivindicava o pão. “Em Angola, matei vários como este”, declarou calmamente o homicida do ator Bruno Candé Marques, que não se mostrou arrependido perante as autoridades. O ex-auxiliar de enfermagem reformado, de seu nome Evaristo Marinho, matou com quatro tiros, logo quatro, porque com raiva e para não haver dúvidas quanto ao resultado, usando uma pistola ilegal, roubada à PSP. Qual a diferença entre um e outro, só se for no modus operandi?

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