As nossas elites e os seus representantes e
defensores políticos têm ultimamente falado muito da necessidade de um governo
de “salvação nacional” ou de “unidade nacional”, desde os prosélitos do
recém-reeleito Marcelo, que o erguem a “pai da nossa democracia” e se
atemorizam com o nosso “sistema partidário desequilibrado e em desagregação”,
com a agravante de “ser impossível prever como sobreviverá”, aos mais
desbocados, como o conhecido e ainda não esquecido ex-soba da Madeira que, como
é habitual, não esteve como meias palavras, reafirmando “a absoluta necessidade
de um governo da salvação nacional”, mas com a ressalva de “com os partidos
democráticos, dado a situação económica-social de Portugal piorar de dia para
dia”, reconhecendo também que essa situação era existente (“ter caído para a
cauda da Europa”) ainda antes do surgimento da epidemia da covid-19. E é mesmo
a situação de crise económica endémica e arrastada da economia nacional que
atemoriza e faz correr esta gente.
Recentemente saltou para as primeiras páginas
dos noticiários dos media corporativos a notícia de que o “PIB afunda-se 7,6%
em 2020 penalizado por consumo e turismo”, contrastando aparentemente com o ano
anterior em que houve um crescimento do PIB de 2,2. E “aparentemente” porque
este crescimento deveu-se à procura externa do turismo, não a um aumento de
riqueza produzida pela indústria e que a todo o momento iria desaparecer. Como
aconteceu logo a partir do terceiro mês de 2020, não exactamente devido à dita
“pandemia”, mas pelas medidas impostas através dos estados de emergência e do
confinamento com o pretexto da “defesa da vida dos cidadãos”, mas com o
verdadeiro e oculto objectivo de recapitalizar a economia (as grandes empresas
e não apenas os bancos como em 2010) em pré-falência e justificar essa política
de molde a que o povo a aceitasse e não viesse para a rua manifestar o seu
descontentamento e revolta.
Os números da estagnação e do já retrocesso da
economia capitalista nacional são sobejamente conhecidos, o economista Eugénio
Rosa já os tinha publicado e dos quais aqui já tínhamos feito referência. É o
PIB que encolheu, e que vai continuar com o presente estado de emergência e
confinamento, mantendo-se a justificação de se combater a progressão da
epidemia (progressão essa dependente dos PCRs positivos que irão diminuir logo
que se comece fazer menos testes, actualmente a média diária é de 52 mil,
enquanto em Março do ano passado era de 800!), apesar da contínua injecção de
milhões de euros nos bolsos dos patrões, alegando ironicamente que são para
“manter os postos de trabalho”, enquanto não vêm os 13 mil milhões de euros da
“bazuca” de Bruxelas; mas poderão ser ainda menos, e que não chegarão para
repor a perda dos 15 mil milhões de euros sofridos pela economia em 2020, que é
o que responde aos 7,6% do PIB. E ainda ficará por contabilizar o arrombo que
irá acontecer este ano, que está a ser iludido como as promessas do dinheiro a
rodos que virá da UE e da milagrosa vacina que o governo espera ser o travão à
epidemia. Um travão que irá render só à Pfizer americana uns 15 mil milhões de
dólares só este ano e em termos globais, imagine-se então qual será o montante
das comissões a receber pelos burocratas de Bruxelas, governantes locais,
alguns médicos e outros especialistas!
Se o PIB afundou e continua a afundar, então a
dívida pública, como também aqui tínhamos repetido os números de Eugénio Rosa,
acompanha o desastre do desempenho da economia, tendo derrapado em 2020 em mais
de 3 mil milhões de euros. Deve ultrapassar os 136% do PIB, ou seja, 270,4 mil
milhões de euros (o governo tinha projectado 266,5 mil milhões), embora
na óptica do Tratado de Maastricht seja 198,3 mil milhões de euros. A
realidade iniludível é que a dívida pública se torna cada vez mais impagável e
com tendência a continuar a crescer; situação que irá agravar-se enquanto nos
mantivermos na União Europeia e no euro, visto que Portugal não tem qualquer
soberania monetária, e nem económica e política, diga-se de passagem. Estamos
condenados a ser espremidos por Bruxelas e pelos bancos internacionais credores
que vão enriquecendo comprando dívida portuguesa (“Procura de emissão de dívida
a 30 anos ultrapassa 34 mil milhões de euros”, segundo a agência Bloomberg, o
valor mais elevado de sempre!) e que por sua vez a vão vender ao Banco Central
Europeu, enfiando nos bolsos as vultuosas intermediações. Enquanto os bancos
engordam, os portugueses emagrecem, e muito.
Para que a reinicialização da economia
nacional se faça, independentemente até das directivas do Fórum de Davos, terá
de se fazer sob o domínio de um governo forte, que muita gente, incluindo do
círculo íntimo de Marcelo, considera que ainda não deve ser de “salvação
nacional”, pelo menos para já, mas de um “governo com músculo” para manter a
estabilidade (a sacrossanta estabilidade tão querida ao PR) porque assim exige
a “crise pandémica”, querendo-se continuar a ofuscar a crise económica com a
crise provocada pela doença covid-19, a fim de justificar os meios e levar a
aceitação por parte dos trabalhadores e do povo. Será que o governo PS/Costa
tem músculo suficiente para manter o povo no sossego e na ordem quando as
falinhas mansas deixarem de resultar? Não parece e há quem dê por terminado a
sua frágil vida aí pelo próximo mês de Outubro. O que virá a seguir ninguém
sabe e então é bom que a plebe se habitue à entrada em cena dos militares.
Primeiro por razões humanitárias e de gestão da logística, daí as múltiplas
explicações e loas tecidas às pretensas qualidades dos médicos e outros
profissionais de saúde militares alemães, que vêm reforçar as unidades de
cuidados intensivos, ao novo gestor da vacinação, marinheiro dos submarinos, e
aos militares já no terreno a coordenar a distribuição das vacinas. O combate à
covid e agora a vacinação são considerados uma guerra. Uma guerra que na
verdade é uma guerra contra o povo, que mais dia menos dia irá levantar-se
contra a fome, o desemprego e a falta de liberdade. E nesta guerra os militares
terão de estar presentes, mas a reprimir o povo, porque as polícias não serão suficientes.
E é bom que os alemães também cá estejam: primeiro foi o euro, agora serão os
militares da saúde, depressa virá a Wehrmacht – só faltará o pretexto.
Ao mesmo tempo que os temerosos clamam por um
governo de “salvação nacional”, reivindicado até por gente que andou pela
extrema-esquerda, basta dar uma volta pelas redes sociais, e a
pequena-burguesia poltrona anseia pelo “paizinho”, enquanto que Marcelo vai
tendo tantos orgasmos quantos os estados de emergência decretados (10, senão
estamos em erro!), vai-se assistindo a claras manifestações de autoritarismo e
de arrogância. São as polícias que se passeiam pelas ruas, perseguindo cidadãos
e multando quem não cumpre as regras, invadem restaurantes e propriedade
privada, impedem os ajustamentos, enquanto alguns dos seus elementos dão o
exemplo pela negativa com festas de aniversário; os comandos da PSP suspendem
agentes por atitudes anti-fascistas enquanto mantêm ao serviço agentes
condenados a pena de prisão efectiva por actos de racismo e de tortura; ou
vamos assistindo a julgamento de declaradamente torturadores que se vão
escudando na amnésia e, à semelhança da velha PIDE, atribuem a morte do
trabalhador imigrante a possível queda ou auto-mutilação, perante a
complacência de um ministro e de um governo que, só por isso, já deveriam ter
sido demitidos. Razões pelas quais, a velha publicação do capital financeiro
europeu, The Economist, considera a democracia portuguesa uma “democracia
falhada”.
Portugal regressou à “democracia com falhas” em 2020, tal como a maior parte das restantes democracias burguesas – que já o eram, só que não se notava tanto – da União Europeia. É bem possível que, neste ranking, a Itália esteja na posição número 1, já que será o primeiro país a ter governo de salvação nacional com um ex-banqueiro, de curriculum tenebroso, à frente; e seja também o primeiro a seguir as pisadas da Grã-Bretanha na saída da UE, atendendo à enorme dívida pública, a maior de todas, e à destruição do seu poder produtivo. A lógica é simples, a burguesia tenta ter uma acção proactiva perante as mais que possíveis revoltas dos trabalhadores, considerando para mais as cada vez mais frequentes e fortes manifestações contra as restrições impostas pelos confinamentos celerados que estão a acontecer nos principais países europeus. O governo do ex-funcionário da família Rothschild em França, Macron, não ousou impor um terceiro confinamento pela simples razão de temer a desobediência civil por parte do povo francês. É que se a classe operária e o povo em França se revoltam será um muito mau sinal para a burguesia e para o capitalismo em toda a Europa, atendendo ao heróico historial do proletariado francês. Não nos esqueçamos que em 18 de Março próximo se comemora os 150 anos da Comuna de Paris!
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