domingo, 23 de junho de 2024

HÁ SEMPRE UMA PRIMEIRA VEZ

 

Publico na minha coluna este texto de Mauro Armanino, missionário em Niamey (Níger), uma voz que vem da Igreja e com a qual só posso concordar inteiramente.

Giorgio Agamben

Sempre há uma primeira vez

Na tarde deste dia 14 de junho, o Papa Francisco fez a viagem a Borgo Egnazia, balneário na Puglia, na Itália, para participar da cúpula do G7, que reúne as 7 grandes potências econômicas mundiais. Uma novidade histórica, uma vez que nenhum papa tinha participado anteriormente no G7. (Agência Zenit Vaticano)

É difícil dizer quanto de evangelho há nesta presença e quanto de diplomacia vaticana que, como se sabe, aparece entre as mais experimentadas e clarividentes. No entanto, o que surpreende é, antes de mais, o próprio facto de o Papa, representante da Igreja Católica, ter sido convidado para este tipo de cimeira que reúne algumas das pessoas “poderosas” na política e na economia mundiais.

O convite do Papa, por razões não difíceis de discernir, é já um sinal e uma mensagem cuja escolha trágica não pode deixar de deixar marcas no presente e no futuro do papado e da própria Igreja. Ser convidado para a cimeira de alguns dos países mais ricos e poderosos do mundo significa dar “garantias” suficientes ao sistema para que este possa perpetuar-se ou pelo menos continuar a legitimar-se.

Ter aceitado o convite (ou então a proposta veio do Vaticano e aceite pelos altos diplomatas), como fez o Papa, não é senão a enésima e patética tentativa de acompanhar, como “capelão da corte”, o sistema actual que, tal como o capitalismo do qual é a expressão nasceu e cresceu sem coração. Não devemos esquecer que os membros desta cimeira são corresponsáveis ​​ou apoiantes da produção, venda e utilização de armas em zonas de guerra. São, portanto, pessoas que têm sangue nas mãos.

Por outro lado, parece típico deste pontificado insondável e ambíguo atuar em todas as frentes com a mesma facilidade descarada. Conhecer e valorizar os movimentos sociais. Assumir os pobres como um elemento transformador do sistema (de acordo com lições latino-americanas bem assimiladas). Proteger os migrantes na sua busca do futuro e falar das “periferias” das quais deveria surgir um mundo novo e uma Igreja que escuta. Isto e muito mais na ordem do dia, sem esquecer as inúmeras vezes em que foi necessário esclarecer, retificar, contrariar o que foi afirmado no dia anterior num dos muitos discursos lidos ou improvisados.

Ao mesmo tempo, o próprio pontífice (uma verdadeira ponte entre diferentes lados) acompanha e celebra uma aliança do Vaticano com o “Capitalismo Inclusivo” que vê entre os seus membros e promotores os mais estimados magnatas do capitalismo globalizado. Com a crise manipulada da Covid, o atual papa tocou no pior que se poderia esperar de qualquer político hacker.

A obrigação de vacinação de todos os funcionários do Estado do Vaticano, sob pena de demissão imediata, o firme convite feito aos fiéis cristãos para se vacinarem “como um gesto de amor” e os encontros mais ou menos “secretos” com os chefes da indústria da vacinação, Bourla. Apesar dos danos causados ​​e verificados, do aumento da mortalidade nos países que mais administraram as vacinas, nem uma única palavra de atenção escapou à atenção do Papa para aqueles que sofreram por causa do seu firme convite a vacinarem-se, muito menos o oficial de pedido de perdão por errar o alvo. Ele nunca se desculpou pela falta de respeito pelos direitos dos funcionários que poderiam ter escolhido ou não ser vacinados com total liberdade de consciência, como há muito sublinham os documentos da Igreja e da medicina oficial.

A aparência “democrática” deste papado é então contrariada por protagonismos na vida pública quotidiana que se exibem de forma asfixiante, a ponto de nos perguntarmos se ainda existe uma conferência episcopal italiana digna desse nome. Em todos os lugares e sobre todos os temas esperamos uma palavra, uma alusão e sobretudo uma confirmação. Mesmo nos programas televisivos acompanhados por um grande público, onde se tem o direito e o prazer de ouvir o que o Papa Bergoglio diz, apoia, propõe e sobretudo alude.

E, finalmente, a participação física na cimeira do G7 que incluiu outros convidados conhecidos, mas não a Rússia e a China, por exemplo. Convidados, acolhidos e finalmente assimilados aos poderosos, entre aqueles que têm o direito de estar presentes, ouvidos e ouvidos. Para falar de inteligência artificial na qual, ao que parece, o Vaticano assumiu um papel não negligenciável e naturalmente apreciado. Uma Igreja como sinal de contradição para os impérios de hoje parece ter saído de moda. Estar ao lado do poder do momento e ao mesmo tempo defender os pobres levanta suspeitas sobre a autenticidade e a sinceridade daqueles que brincam de fazer um espetáculo para o público.

Nenhum pobre foi convidado para a cimeira mencionada. Num passado não muito distante, por exemplo no G8 de Génova, foi apresentado como um orgulho da cimeira convidar pessoas de determinados países que nos ajudassem a não esquecer que existe também e sobretudo um outro mundo. Aquilo a que o Papa muitas vezes alude e que se torna visível nas guerras, nas migrações e nas terras raras... a ser explorado por razões ecológicas bem recordadas pela última exortação, também a título de uma versão única do mundo.

A presença do Papa entre os “grandes homens” do sistema dói, preocupa e envergonha aqueles que pensavam que escolher os pobres e o seu caminho era não abrir caminho entre os poderosos para se tornar o seu “capelão” e, em última análise, o seu fiador. É a exibição da traição ao usar os rostos e o silêncio dos pobres para depois sentar-se à mesa dos ricos e poderosos.

Mauro Armanino, Niamey, da areia e dos pobres do Níger, 15 de junho de 2024

Quodlibet

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Tudo em nome da "democracia"

 

Algumas linhas escritas em Julho de 2016 sobre a “democracia”, que deve salientar-se como democracia de classe, mantêm-se actuais se olharmos para as eleições europeias realizadas há pouco tempo. Estas, como tem sido habitual, registaram uma abstenção elevada. Em breve irão ser escolhidos os dirigentes dos órgãos executivos da União Europeia, cujos nomes são impostos pelas potências e carteis de interesses dominantes. Ninguém os elegeu.

A democracia burguesa, sendo um grande progresso histórico em comparação com a Idade Média, continua a ser sempre – e não pode deixar de continuar a ser sob o capitalismo – estreita, amputada, falsa, hipócrita, paraíso para os ricos, uma armadilha e um engano para os explorados, para os pobres.

A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky – Lenine, 1918

Dois acontecimentos que ocorreram há pouco tempo e que, distantes geograficamente, têm muito em comum: o atentado em Nice (França) que provocou 84 mortes, mais de uma centena de feridos, dos quais 19 em estado muito grave, e a condenação do cidadão Carvalho Jesus em seis meses de prisão com pena suspensa, em Portugal, porque terá desrespeitado a "Casa da Democracia" ao manifestar de forma um pouco mais expansiva a sua indignação contra a aprovação (11 de Março de 2015, 11 de Março uma data querida aos golpistas de direita) de mais cortes nas pensões e reformas, lei que foi considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, mas que por isso não deixou de entrar em vigor.

Começando pelo último facto, ficou-se a saber que os cidadãos não se podem manifestar dentro da Assembleia da República, há uns tantos senhores que são eleitos de 4 em 4 anos para falarem em nome do povo apesar de ali estarem a legislar no interesse dos grupos económicos e outros que nos bastidores os nomeiam; e, mais ainda, as leis aprovadas contra a Lei Fundamental da República, a famigerada Constituição, entram em vigor na mesma se isso for do interesse do governo e da classe a que serve, como na realidade aconteceu, sobrepondo-se o governo ao Parlamento, como regime de tipo presidencialista ou/e autocrático se tratasse. O cidadão que se indigna contra um atropelo à lei por um dos órgãos de poder da dita República é castigado com pena de prisão. Fica bem à mostra a natureza desta democracia parlamentar e com um paradoxo: é precisamente em nome da democracia que o cidadão é condenado. O mais caricato é virem umas almas, arvorando-se em defensores da "oxigenação" da democracia ou da democracia democrática e patriótica, insurgir-se contra a referida condenação em nome da dita democracia burguesa. É que a democracia parlamentar burguesa, saída do golpe militar do 25 de Abril, é exactamente isto: a mais ampla democracia para os capitalistas e os seus representantes e a repressão e a falta de liberdade e de democracia mais elementar para os trabalhadores e o povo comum.

E passando agora pelo atentado de Nice, à semelhança do que acaba de acontecer na Turquia com o golpe militar abortado, fica-se sem saber ao certo se o atentado é da responsabilidade de uma entidade externa ao país, no caso presente, do Daesh ou estado Islãmico, uma criação da CIA feita em 2006, se foi uma operação interna, um atentado de falsa bandeira perpetrado pelos serviços secretos franceses, tendo utilizado para isso um cidadão desenraizado e com características, fazendo fé na imprensa de referência, de lumpen ou até sofrendo de perturbação mental, que até daria jeito para justificar acto aparentemente tão tresloucado. Esta última hipótese nem é descabida, contrariando as teorias da conspiração, atendendo a vários indícios: a facilidade com que o homem passou as barreiras policiais, a oportunidade do atentado, no preciso momento em que o governo do "socialista" Hollande se prepara para alterar a Constituição do país que se ufana de ter dado ao mundo a trilogia "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", a fim de limitar as tais liberdades, incluindo retirar a cidadania francesa a cidadãos acusados de terrorismo, e prolongar por tempo indefinido e por razões meramente securitárias o estado de emergência, como veio acontecer com a sua prorrogação por mais três meses. O atentado de Nice até parece ter sido um "presente de Deus" dado não ao turco Erdogan mas ao francês Hollande… até para justificar a continuação do apoio aos ditos “rebeldes” que combatem na Síria e para outras intervenções no Médio Oriente ou em África.

São perigosas e fonte de grande confusão as teses, defendidas por uma certa esquerda portuguesa que ainda se reivindica do "maoismo" (o que é isso!?) de que o Daesh e quem perpetra estes atentados, e referimo-nos aos de Nice, Orlando, Paris, Bruxelas, ou seja, atentados realizados em território europeu ou norte-americano, o tal "mundo ocidental", de que será uma resposta dos povos, ou de alguém com essa legitimidade, espoliados e massacrados pelo EUA e UE por esse mundo fora e que agora estariam dando o "justo correctivo" às potências colonialistas e imperialistas. O Daesh, só não sabe quem não quer, é uma criação made in USA, com apoio logístico a vário nível dos estados vassalos do Império na região do Médio Oriente, Israel, Arábia Saudita, Qatar, Turquia, com o propósito de redesenhar a geopolítica da região. França, Reino Unido e Alemanha, especialmente a primeira, tentam ter agenda própria nesta reconfiguração, cujo móbil é exclusivamente o saque do petróleo e do gás numa guerra que se trava contra a Rússia e a China; com a particularidade recente de uma Turquia a tentar ocupar uma posição de potência regional e se a história se repetir, lembremo-nos de Saddam Husssein, o sultão Erdogan irá ter um fim trágico.

Quase todos os atentados que foram perpetrados nos últimos tempos, nomeadamente os que aconteceram em França, não conseguem fugir à suspeita de atentados de falsa bandeira, provavelmente instigados pelos serviços secretos de um ou outro país da Nato, senão por esta através da Gládio. No atentado contra o semanário "Charlie" é muito estranho que um dos protagonistas ter perdido muito oportunamente a carteira com a identificação; aquando do atentado ao Bataclan, os militares da gendarmeria que se encontrava em frente do edifício não intervieram… porque não tinham ordens nesse sentido, excepto caso fossem directamente atacados, facto que veio a lume mais tarde por denúncia do deputado belga social-cristão Georges Dallemagne, um antigo médico próximo do ministério francês da Defesa; o único elemento implicado nos atentados de Bruxelas e de Paris. Mohammed Abrini (o famoso terrorista que surge com chapéu na cabeça em gravação de vídeo), e actualmente preso na Bélgica, é conhecido informador dos serviços secretos britânicos, ficando-se sem se saber se o homem foi recrutado como agente provocador ou se foi infiltrado, a mesma questão se coloca ao irmão que ao que parece já foi morto.

Omar Mateen, cidadão nascido nos EUA, que matou cerca de meia-centena de cidadãos e provocou quase outros tantos feridos em Orlando porque eram "gays", era empregado da multinacional de segurança G4S e jamais fora assinalado como sendo um radical politico ou religioso, e o pai, Seddique Mir Mateen, trabalhou para os serviços secretos norte-americanos no Afeganistão, durante a guerra contra a ex-URSS (1979-1989), tendo mais tarde emigrado para os EUA, onde se declarou como o verdadeiro presidente do Afeganistão no exílio. Os irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnayev, que realizaram os atentados na Maratona de Boston, eram sobrinhos, pelo casamento, de Graham E. Fuller, antigo alto-funcionário da CIA no Afeganistão, e o pai, Ansor Tsarnayev, é um tchecheno que colaborou com a CIA na União Soviética, antes de emigrar para os Estados Unidos; um dos dois terroristas, Tamerlan, tinha participado, em 2012, num seminário da Associação georgiana Fundo para o Cáucaso, uma ONG criada pela Fundação Jamestown, por sua vez criação da CIA, que prepara jovens tendo em vista desestabilizar a Rússia.

Como se vê, tudo muita boa gente e, fazendo fé no que é dito pela imprensa séria e respeitável, uns até comem carne de porco e fumam umas gansas, outros frequentam bares gay, outros ainda sofrem de perturbações mentais (onde já ouvimos isto, terá sido na Noruega!?) ou seja, gente que pouco tem de comum com os preceitos do dito "fundamentalismo islâmico". Um pormenor curioso, aquando do atentado de Orlando, as autoridades do condado do Alabama recusaram-se a colocar a bandeira a meia-haste, dizendo bem da natureza desta gente, os tais brancos-anglosaxões-e-protestantes (WASP) e da sua democracia. E ainda outro pormenor interessante: todos os terroristas são abatidos a tiro em vez de serem detidos para interrogatório para se ficar então a saber quem na verdade os mandou e quem são os eventuais cúmplices. Uma ideia fica, difícil se torna distinguir onde acabam os serviços secretos do Ocidente e onde começa o Daesh, ou a Al-Qaeda e as suas diversas ramificações, ou vice-versa.

Afirmar que há uma guerra dentro do mundo ocidental, isso é uma realidade incontornável, mas é uma luta de classes, entre a burguesia e a classe operária, dentro de cada país, e entre o imperialismo e os povos a nível global (claro que há disputa entre as diversas potências capitalistas); dizer que estes actos de terror, que nunca visam objectivos militares ou policiais (é bom frisar), são uma luta entre uma pretensa frente dos povos esmagados pelo capitalismo e o imperialismo não passa de um dislate perigoso. Se há muitos jovens que são arrebanhados por organizações fundamentalistas, aproveitando-se do desenraizamento social e falta de perspectivas para onde são atirados por este regime de democracia burguesa e capitalista, isso é uma verdade, mas é de entre a parte mais degradada desta população descartável que os fascismos e os bonapartismos em geral vão recrutar o principal da sua tropa de choque; e é o que poderá estar a acontecer presentemente.

Por outro lado, os ataques terroristas são um excelente pretexto, um autêntico "presente de Deus, para que as democracias burguesas imponham o fascismo e o nazismo sobre os povos já que são incapazes de conter a revolta do povo e (eis o busílis da questão!) esconjurar a revolução socialista e o comunismo. Não é por acaso que se assiste, com o mais de que apoio da UE e do EUA, à ascensão do fascismo/nazismo em diversos países da Europa; a Turquia é outro bom exemplo com o sultão a fazer das suas, após ter sacado 6 mil milhões de euros à UE. O assassinato da deputada inglesa em vésperas do referendo sobre o Brexit não deixa de ser mais do que suspeito na sua intencionalidade, mostrando que as democracias burguesas, mesmo as que têm pergaminhos, não hesitam em recorrer a meios fascistas no seio do próprio país para alcançar os seus objectivos. Não perceber isto, ou não querer perceber como acontece com uma pequena burguesia indígena travestida de revolucionária, é extremamente perigoso, paga-se caro mais tarde, e a burguesia e o imperialismo agradecem. Revoluções só com as massas proletárias, é um acto essencialmente de carácter colectivo, que têm um objectivo último: a sociedade comunista. O proletariado é o sujeito da sua emancipação, não há salvadores.

PORTUGAL FORA DA NATO!

Já depois de escrever estas linhas, ficamos a saber da real intenção da visita do xuxialista Hollande ao nosso país; afinal, o homem não veio dar apoio ao governo português contra as sanções que eventualmente Bruxelas irá decretar contra Portugal, mas "apenas" para obter forte e declarado apoio para "novas medidas" e "com a força necessária" contra o "terrorismo". Claro que obteve da parte do "mon ami" luso e do homólogo Marcelo a devida solidariedade. Sobre as sanções, o homem praticamente não disse nada... porque “não pode ser só burocracia e contas”; contudo, na sua cruzada de aumentar a exploração dos trabalhadores franceses, através da reforma da lei laboral, e reforço do aparelho repressivo para intimidar os possíveis revoltosos, o gálico socialista até fez o sacrifício de nos vir visitar em tempo tão difícil em consequência do "bárbaro" atentado de Nice (a polícia ainda não conseguiu estabelecer ligação ao Daesh). É obra! Este vil lacaio do grande capital financeiro europeu, e por arrastamento internacional, anda a tentar reforçar o poder de França dentro do eixo franco-alemão, até como reacção à saída da Grã-Bretanha que irá apostar noutro cavalo que não a UE, chamando a curto prazo o nazismo. O IV Reich agradece ao lacaio que em breve será descartado, assim como o seu país, logo que tenha terminado a tarefa. Razões acrescidas, para além de avisos recentes feitos pelos serviços secretos europeus, Europol, de que Portugal e Espanha poderão ser os próximos alvos do Daesh (eles lá têm as suas fontes seguras!) para que se coloque na ordem do dia a reivindicação: PORTUGAL FORA DA NATO!

2024: Funcionários ou lacaios

Bibliografia:

Atentado no Charlie Hebdo

Daesh e os homossexuais

Democracia Burguesa e Democracia Proletária (A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky) Lenine

M. Abrini, o «terrorista do chapéu» é informante dos Britânicos

Os mistérios da Maratona de Boston

Quem ordenou o ataque contra o Charlie Hebdo?

Seis meses de prisão suspensa por ofender Passos no Parlamento

19 de Julho 2016

In www.osbarbaros.org

segunda-feira, 10 de junho de 2024

As eleições europeias e o 10 de Junho

 

Eleições para o Parlamento da pretendida União Política Europeia, sem Constituição, e as comemorações do Dia de Portugal são dois acontecimentos de alguma forma antagónicos e que se sucederam no calendário e que acabaram por se misturar. Um, de natureza declaradamente supranacional apesar de não possuir qualquer poder decisório, não legisla, marca a limitação da soberania nacional; o outro, abertamente nacionalista e identitário embora se centre no dia de um funeral, a morte do poeta Camões, que nem foi militar nem herói pela libertação do país, aliás, marca o fim de Portugal como nação independente. Como não podia deixar de ser, o rei-beato Marcelo tentou centrar na sua pessoa o protagonismo das efemérides, ocultando a dura realidade: a nível interno, a pesada, interminável e asfixiante dívida soberana, reflexo da insolúvel economia portuguesa; na Europa, a guerra escalada pela própria União Europeia e que já esteve mais longe de desembocar em uma outra guerra mundial, que desta vez será nuclear.

Antero Valério Cartoon

Após a contagem dos votos e conhecidos os resultados para o órgão inócuo, mas dispendioso, todos os partidos concorrentes reclamaram a vitória, um tique que já vem de há muito, ninguém terá sido derrotado. Olhando para a abstenção, 63,46%, das maiores da UE, logo uma derrota em toda a linha quer dos partidos quer da própria União, a imprensa mainstream veio logo clamar de vitória, porque mais baixa do que há cinco anos, quando foi de 69,25%, ficando apenas à frente da Eslováquia e da Croácia. Portugal terá sido o quinto país da UE onde taxa de participação mais subiu, uma grande vitória! Lembremo-nos que na véspera Marcelo arengou às massas e reafirmou a ideia de que o “voto é uma arma”, só não esclareceu que dispara tiros de pólvora seca. Nada irá mudar na União Europeia, o grau de influência dos eurodeputados é zero e a guerra alastrará, com a desenfreada corrida armamentista, e as dívidas soberanas nos países do Sul continuarão impedindo qualquer veleidade de desenvolvimento económico e aumento de bem-estar social.

Sobre os resultados eleitorais dos partidos, a situação ultrapassa o ridículo. A vitórias do PS, na voz governamental da AD terá sido “poucachinho”, mas o PS considera que foi a desforra do resultado indevido de Março. A AD terá ganho porque não perdeu nenhum eurodeputado, o que não aconteceu com o PS. A famigerada IL, a candidatura (e organização) mais promovida e enaltecida por toda a imprensa de referência, terá tido vitória esmagadora porque de zero passou para dois representantes. O Chega terá sido o grande derrotado apesar de ter tido o mesmo resultado da IL, pela razão de não ter segurado o eleitorado das legislativas realizadas há três meses, como o resultado destas eleições fosse igual ou semelhante ao das legislativas, nenhum partido segura o eleitorado, mas como ganhou dois deputados também não terá sido perdedor. O BE e o PCP, apontados pela imprensa fofinha do regime como não só os perdedores crónicos e condenados a desaparecer a breve trecho, ganharam um deputado cada perante as nulas expectativas. O Livre, apesar de não eleger ninguém, subiu de votação; e o PAN, pela voz da sua dirigente, também ganhou atendendo às circunstâncias difíceis que enfrentou. Todos ganharam, pese o facto de o jornal conservador, cujo patrão não paga aos funcionários e espera pela benesse do subsídio governamental, Diário de Notícias, sentenciou: “esquerda (está) no limiar da sobrevivência”.

A extrema-direita, a direita-radical e a direita populista, pelos vistos não há neo-nazismo na Europa na opinião de jornalistas e outros opinantes contratados, seriam o papão que viria aí em vaga tremenda para comer os bons cidadãos, as criancinhas europeias e as inefáveis e insubstituíveis democracias liberais. Afinal, os partidos que constituem o PPE ganharam e a extrema-direita ganhou apenas em países que mais se têm esforçado na continuação da guerra da Ucrânia. Macron, perante o debacle, logo correu a dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas. Não vá o Diabo tecê-las e perder a hipótese de vez de poder continuar no poder. Por sua vez, o alemão Olaf Scholz foi mais prudente, apesar do seu partido ter sido relegado para terceiro lugar e atrás dos neo-nazis do AfD, entendeu não convocar eleições antecipadas. No entanto, o isolamento em relação ao povo é incontornável e é o inevitável resultado destas duas direcções políticas terem lançado sobre os contribuintes a sua participação, indirectamente ainda, na guerra. O tal eixo franco-alemão esforçar-se-á em escalar o conflito segundo o agrado da potência imperial do outro lado do Atlântico.

Entre nós, não deixou de ser ridículo a teimosia manifestada pelos jornalistas/vozes-do-dono em comprovar que Costa tem agora a passadeira vermelha estendida para um tacho na União Europeia, em particular, no Conselho da Europa. Os esforços incansáveis já vinham de algum tempo antes das eleições, mas durante a campanha e depois de conhecidos os resultados o matraquear foi constante. E até o bruxo e recadeiro-mor do reino botou adivinhação: "Estas eleições reforçaram a autoestrada que havia para Costa ser presidente do Conselho Europeu". Montenegro não se fez esperar, foi quase simultâneo, manifestando o apoio do governo a tal candidatura, seguindo o que já tinha sido afirmado pelo interessado que só avançaria com o apoio formal do governo AD. Parece estar consumado facto da candidatura europeia de Costa, impedindo assim a sua hipotética candidatura a Belém. Até parece que esta gente se combina toda por trás do pano, estão todos feitos uns com os outros, e agora nem terão disfarçada grande coisa.

Devemos salientar que um eurodeputado enfia no bolso e durante 5 anos a módica quantia de 8 mil euros líquidos, mais 4950 euros para despesas mensais, um subsídio de 350 euros por cada sessão no Parlamento e viagem em executiva, 24 viagens de ida ao país natal e um sem número de subsídio de viagens, reforma aos 63 anos de idade, reembolso de 2/3 das despesas médicas. Benesses que não estão à mão do cidadão comum, muito pelo contrário. E querem os partidos e os media do regime que os eleitores ocorram em massa para votar num órgão destes e em tal gente. Para quê, se nem sequer fazem leis?! Em contrapartida, o povo sofre salários miseráveis, impostos elevados, um SNS destroçado, as medidas anunciadas pelo governo e pela ministra irão acelerar o processo para justificar a entrega do bolo aos privados, nem segurança social, cuja privatização se adivinha para breve, nem escola pública, nem nada, porque a dívida soberana, imposta por Bruxelas consome todos os recursos disponíveis.

A dívida pública, interna e externa, não engana. “A grande maioria (70%) do aumento registado no stock de dívida portuguesa entre 2000 e 2023 deveu-se ao pagamento de juros, de acordo com um relatório do Banco de Portugal, divulgado nesta segunda-feira, o que significa que o país pagou mais de 136 mil milhões de euros em juros no período em análise” (Expresso, 03.06.24). E só no mês de Abril, governo AD, a dívida pública aumentou em 2,5 mil milhões de euros, para atingir 273,4 mil milhões. A dívida pública é o garrote no pescoço dos portugueses, principalmente daqueles que possuem como principal fonte de rendimento a venda da sua força de trabalho e que impede o investimento público nas diversas áreas económicas e sociais do país. Mas já Centeno avisara, e Centeno é a voz do Banco Central Europeu (grande capital financeiro), que é quem na realidade manda na União Europeia: “Banco de Portugal prevê regresso de défices devido às novas medidas do Governo (e oposição). O supervisor nacional olha com preocupação para as contas nacionais…” (Expresso, 07.03.2024). Não é preciso ser bruxo para ver que a austeridade a redobrar está ao virar da esquina, daí o PSD/CDS ter sido catapultado para o governo visto que a sua especialidade é mais o cacete do que a cenoura.

After the EU-Elections - Leopold Maurer

Não se pode deixar passar em branco as palavras do delicodoce Charles Michel: “Não precisamos de uma Comissão política, mas de uma União política”. Isto a propósito de a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen não ter seguido a “imparcialidade”, que deve revestir o executivo comunitário a propósito de eleições, e ter vindo a Portugal dar uma mãozinha à candidatura da AD e ao mesmo tempo fazer propaganda a si própria. Parece que a fräulein teve o condão de criar alguns anticorpos em Bruxelas e ninguém se espante que venha a ser preterida por alguma figura mais confiável e digna de crédito segundo os critérios do grande capital financeiro. E Mario Draghi é alguém com que se pode contar, devido ao curriculum Goldman Sachs e BCE, para colocar governos e populachos na devida ordem e garantir os retornos esperados pelos grandes bancos e fundos de investimento. E a guerra será uma boa fonte a não desperdiçar. Por cá, entretém-se o reviralho com inúteis actos eleitorais de resultados patéticos, e bacocas comemorações nacionalistas, que Marcelo se tem esforçado para que regressem ao antigo simbolismo salazarista.

Imagem de destaque: Europe - Cristina Sampaio

quarta-feira, 5 de junho de 2024

A necessidade de abstenção contra o euro-imperialismo

 

Por Iñaki Gil de San Vicente

Camaradas de Salobreña, de toda a Andaluzia e dos povos operários da Europa reuniram-se neste evento de massas no dia 7 de Junho: os grandes capitalistas imploram-nos que votemos neles nas eleições europeias do próximo dia 9 de Junho porque, segundo a sua propaganda, as apostas são altas… para eles. Pedem-nos que desta vez acreditemos neles quando nos prometem tudo, e que esqueçamos o empobrecimento e as restrições democráticas que temos sofrido nestes últimos cinco anos, porque asseguram que a União Europeia não é responsável. Dizem-nos que o nosso voto é essencial para conter o avanço do fascismo, para derrotá-lo antes que tome conta das instituições europeias. Afirmam que está em jogo a “democracia europeia” sujeita a três ataques perigosos: o do fascismo, o do “imperialismo russo” e o da regressão socioeconómica no mercado mundial. Asseguram-nos que o nosso voto é a garantia de que, finalmente, começamos a caminhar em direção à “justiça social” e à “liberdade”.

É tudo falso. Na realidade, a União Europeia é um apêndice do imperialismo ianque, com uma certa autonomia em questões de segunda ou terceira categoria, tendo em conta os graves problemas que minam o capitalismo ocidental a partir de dentro. Mas em questões decisivas, prioritárias para a grande burguesia anglo-saxónica, a UE não tem a menor autonomia em comparação com o poder omnívoro de Walt Street, do Pentágono e de Washington. Mas não acreditemos que as burguesias europeias queiram tornar-se independentes dos Estados Unidos, pelo contrário, elas sabem que precisam disso para evitar afundar-se definitivamente nas profundezas da concorrência internacional.

A UE é o terceiro elo da cadeia imperialista: o primeiro é aquele formado pelos EUA, pela Grã-Bretanha, pela entidade sionista chamada “Israel” e pela Austrália; o segundo são o Japão e a Coreia do Sul; o terceiro é a UE. Devido à sua localização na Eurásia Ocidental, a UE é o braço sócio-político da NATO na sua guerra de desgaste contra a Rússia, para apoiar a ditadura Ucronazi liderada por Zelensky em preparação para um conflito mais generalizado contra a China Popular e grande parte do mundo. A UE é, portanto, a base fundamental para o rearmamento e a legitimação do regime sionista no seu genocídio contra a Palestina; ela também é o sargento lateiro para controlar o Mediterrâneo, ajudar Marrocos contra o povo saraui, ameaçar a Argélia e, por extensão, o Sahel, e acorrentar a Andaluzia.

Além disso, e face às nações trabalhadoras presas nas suas grades, a UE é o instrumento por excelência para intensificar a centralização e concentração do capital em torno da burguesia do norte da Europa, especialmente da Alemanha, em detrimento das duas áreas adjacentes, a das classes trabalhadoras do estado francês, da Itália e de muitas áreas do Leste e, as mais exploradas, a do sul, a Andaluzia, por exemplo. E dentro da UE existe também uma cadeia sub-imperialista que saqueia, transfere valor para o norte, para o capital transnacional e ianque, e condena a nação andaluza à pobreza. Nestes últimos cinco anos, a UE e o seu Parlamento cumpriram fielmente as ordens do capital nos seus planos estratégicos: o último, mais recente, é o do rearmamento intensivo, o do restabelecimento do serviço militar burguês obrigatório. A guerra na Europa contra a Eurásia deve ser organizada em benefício do dólar e da libra esterlina.

O Parlamento Europeu, no qual querem que votemos, é a fachada que esconde a fábrica de morte que estão a criar numa realidade social empobrecida, cada vez mais limitada nos seus direitos e repleta até à borda de polícias, soldados e juízes da direita. Dizem-nos que se o fascismo avança é por causa da nossa responsabilidade, não por causa dos silêncios e das concessões que este Parlamento faz diariamente. A história nos ensina que o fascismo avança na medida em que não encontra resistência popular, onde não precisa enfrentar um proletariado consciente e organizado para o vencer e derrotar. Durante duas décadas, o fascismo recompôs-se e cresceu à sombra da passividade das instituições europeias, sobretudo do seu Parlamento.

A melhor forma de derrotar o fascismo é criar uma rede flexível, extensa e ágil de organizações anti-imperialistas e antifascistas que seja o embrião de uma poderosa força revolucionária internacional. Os anos de existência do Parlamento Europeu não impediram o renascimento do monstro e muito menos o enfraqueceram. Continuar a votar a favor desta burocracia é manter a classe trabalhadora na crença suicida de que o fascismo pode ser derrotado a partir de dentro das instituições e dos poderes que o protegeram nas sombras durante anos, e que agora se recusam a enfrentá-lo de forma decisiva. É também mantê-los na utopia reaccionária de que podemos acabar com o militarismo, com a NATO, votando naqueles que o justificam e o armam. Para expandir isto, votar no Parlamento Europeu, independentemente do partido que escolher, é legitimar aquela máquina de precariedade e autoritarismo que é a União Europeia.

A nação andaluza levanta-se contra este Moloch que engorda com o sangue das classes e dos povos explorados.

Fonte

domingo, 2 de junho de 2024

Portugal: Vinte anos de vassalagem, um futuro de escravidão

 

Agora serão 25 anos

Crónica escrita um pouco antes das eleições de 2019 para o Parlamento Europeu e que se encontra hoje mais actual. Todos os problemas e contradições aí apontados se mantêm e se agravaram graças à guerra que grassa na Europa. Perante a eminência da escalada para uma guerra mundial, que será nuclear, Bruxelas já fez soar o clarim da corrida aos armamentos e ao belicismo, apressando desse modo o seu fim – que será doloroso.

Saída da União Europeia antes que se faça tarde!

Parece que o euro já existe há 20 anos (1), talvez por isso e em laia de comemoração que se assiste à saída do Reino Unido, melhor dizendo da Inglaterra, o resto são países subjugados e que à menor oportunidade se desligarão, realidade que Bruxelas (Alemanha/França) não deixará de ter em conta (o problema da fronteira da Irlanda da Norte funciona como punição pela ousadia). Como também o “acordo”, que Bruxelas quer impor e que a grande maioria do povo inglês repudia bem como parte dos partidos burgueses, e caso venha a acontecer, será a vacina contra futuras saídas, atendendo às condições draconianas que encerra.

Em Portugal (2), em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu, que pouco ou nada risca, o Costa do PS, em adiantada e empolgada campanha eleitoral, verberou que “é necessário dar força ao PS” porque a União Europeia se vê “atacada pelo vírus do proteccionismo”, numa clara alusão ao Brexit. É a posição clara, sem qualquer ambiguidade, de um lacaio e de um vendido ao grande capital financeiro europeu.

Se há uma parte da burguesia indígena que beneficiou da entrada do país na CEE e na constituição da União Europeia como uma entidade política e não meramente económica (Tratado de Lisboa), declaradamente o IV Reich, pese a disputa com a França, a grande maioria do povo trabalhador português empobreceu, e mesmo o capitalismo nacional passou a uma posição de maior dependência, daí alguns economistas burgueses (João Ferreira do Amaral ou Ricardo Paes Mamede) manifestaram a sua tristeza pelo acontecimento desolador.

E os números são como a prova do algodão: no 3º trimestre de 2018, 950.000 trabalhadores (26,2% do total) recebiam mensalmente menos de 600 euros e 2.342.500 trabalhadores portugueses (64,7% levavam para casa menos de 900 euros por mês (Inquérito ao Emprego do INE). E mais: se em 2001, 49,7% da riqueza criada (medida pelo PIB) reverteu para os trabalhadores sob a forma de remunerações, em 2017, essa percentagem já só era de 44,3%, por sua vez, uma ligeira subida em relação ao fim do governo pafioso Coelho/Portas que era apenas 43,7%. Ao fim de 20 anos de euro e de União Europeia, temos um povo mais pobre e um país mais desigual.

É esta realidade que os partidos do dito “arco da governação” irão tentar iludir e os partidos da sustentação governamental actual irão minimizar, a fim de ocultar o seu oportunismo e cobardia políticos de não ousar, de forma firme e sem peias, reivindicar a saída da União Europeia. Sair do euro não chega. Todos os partidos do establishment nacional estão neste momento com suores frios sobre o real resultado da saída da Grã-Bretanha, se será sem acordo, na Primavera ou lá para o Verão. Porque sabem que a seguir vai a França (que tem um acordo secreto de preferência com a Grã-Bretanha após a saída, o que vai contra os princípios da União), depois vai a Itália, e a posição dos países do Sul, os tais pigs, ficará insustentável.

E é este futuro de incerteza, que esconde uma situação não menos dramática de imprevisibilidade económica, que faz correr a nossa burguesia e traz o caos aos seus representantes e avençados políticos: o PSD/PPD corre o sério risco de se fragmentar em vários partidos, desde o fascista e ultramontano PPD ao social-democrata PSD. A Aliança (ou futuramente o Chega) espera pelos dissidentes que agora apenas se preocupam com “as regras na escolha de deputados. Com o fantasma da crise crónica do capitalismo, do descontrolo do Brexit e do fracasso do euro, a burguesia tenta realinhar posições e os seus homens de mão esgadanham-se pelo tacho e acesso ao pote.

Enquanto isso, o inefável Marcelo, o presidente/rei-rainha, vai mantendo o seu populismo (o homem até diz que é contra o dito, ora se não fosse?!), devolve para o Parlamento o diploma sobre a contagem de tempo para o aumento salarial dos professores, vai abraçar o “irmão” brasileiro mas recusa assistir à tomada de posse do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, como não houvesse igualmente neste país muitos milhares de emigrantes portugueses, confundindo posição política/ideológica com cargo de estado. Um presidente em posição de quatro patas, igual à do governo que foi, através do pró-ianque ministro dos negócios estrangeiros, receber directiva de Bruxelas, eufemisticamente: “uma troca de opiniões”... “no quadro do grupo de trabalho da União Europeia para a América Latina”. Qual dos dois o mais subserviente?

O Costa anda muito preocupado com toda esta trapalhada dos 20 anos do euro (no fundo é a desagregação da UE), teme que se feche a torneira dos fundos comunitários, agora que tem um projecto de não se sabe quantas grandes obras de regime, em número infindável de dezenas de milhares de milhão de euros, onde inclui o novo aeroportozinho do Montijo (ao que parece um grande negócio a custo zero… mas para os franceses da Vinci), que vai criar um número indeterminável de postos de trabalho e que mais não é que, no seu linear e obnubilado entendimento, a tão badalada "solidariedade partilhada" que (não) tem sido “o projecto europeu ao longo de décadas, com a qual o PS sempre esteve de acordo e que é preciso proteger”. Não explica, no entanto, os números do Eurostat que dizem que, em 2008, a remuneração/hora de um trabalhador em Portugal correspondia a 47,3% da média da Zona Euro, em 2015 somente a 41,4% e, em 2017, a 41,8%; ou seja, menos de metade. Ou o resultado do “veículo de prosperidade “, denominação (para o euro) tão ao agrado do “Ronaldo das Finanças Europeias”!

Mantendo-se na União Europeia, Portugal jamais conseguirá libertar-se do colete-de-forças que é, por um lado, a dívida pública impagável e odiosa, pelo outro, o tratado orçamental que obriga a reduzir a dívida para 60% do PIB em 20 anos, objectivo impossível de atingir. E, mantendo-se neste beco sem saída, o país nunca poderá desenvolver-se seja em termos económicos ou sociais, mesmo mantendo uma economia capitalista; os nossos empresários, a burguesia indígena, mais não serão que uma burguesia lumpen, que vai vivendo das comissões deixadas pelos grandes grupos económicos e financeiros que vão paulatina e inexoravelmente explorando o povo e os operários portugueses. A União Europeia e o euro foram escolhas conscientes e deliberadas de uma burguesia inútil e esclavagista, bem representada por um Ferraz da Costa que não se cansa de repetir o mote: 35 horas semanais na administração pública são "um luxo de país rico" e uma "anormalidade".

Dentro da crise crónica do capitalismo mundial, diversas crises têm acontecido e uma nova se prevê para breve, bem maior e de consequências difíceis de determinar, já que a situação dos países, nomeadamente dos países da periferia capitalista, mais fragilizados e dependentes como o nosso. Atendendo à dívida pública, à dívida privada e à dívida externa pública e privada, são várias componentes da dívida que bem diz da situação de Portugal, usualmente ofuscada pela dívida soberana, uma nova crise será a maior das misérias e das desgraças para o povo trabalhador. Repudiar a dívida pública , suspender o seu pagamento enquanto se realiza uma sindicância independente – coisas que o PCP e o BE desde há muito deixaram de falar, desde que se constituíram em sócios efectivos do governo, e que irão pagar caro pelo favor em termos eleitorais, ao contrário das suas expectativas – e a saída imediata da União Europeia, são exigências que se impõem se não quisermos ser escravos por toda a vida.

Nota: Depois de redigido este artigo, ouvimos a Catarina do BE afirmar que a agremiação que lidera não é de extrema-esquerda, devido à conotação desta com as ditaduras, coisa que não é novidade, desde a sua fundação, diga-se de passagem. Será sempre bom lembrar que quem assassinou Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foi exactamente a social-democracia de que Catarina se reivindica. BE no governo para salvar o capitalismo e a burguesia terrorista.

1) https://www.bportugal.pt/page/euroat20

2) https://www.ecb.europa.eu/euro/changeover/2002/html/index.pt.html

18 de Janeiro 2019