Algumas linhas escritas em Julho de 2016 sobre
a “democracia”, que deve salientar-se como democracia de classe, mantêm-se
actuais se olharmos para as eleições europeias realizadas há pouco tempo. Estas,
como tem sido habitual, registaram uma abstenção elevada. Em breve irão ser
escolhidos os dirigentes dos órgãos executivos da União Europeia, cujos nomes
são impostos pelas potências e carteis de interesses dominantes. Ninguém os elegeu.
A
democracia burguesa, sendo um grande progresso histórico em comparação com a
Idade Média, continua a ser sempre – e não pode deixar de continuar a ser sob o
capitalismo – estreita, amputada, falsa, hipócrita, paraíso para os ricos, uma
armadilha e um engano para os explorados, para os pobres.
A
Revolução Proletária e o Renegado Kautsky – Lenine, 1918
Dois acontecimentos que ocorreram há pouco
tempo e que, distantes geograficamente, têm muito em comum: o atentado em Nice
(França) que provocou 84 mortes, mais de uma centena de feridos, dos quais 19
em estado muito grave, e a condenação do cidadão Carvalho Jesus em seis meses
de prisão com pena suspensa, em Portugal, porque terá desrespeitado a
"Casa da Democracia" ao manifestar de forma um pouco mais expansiva a
sua indignação contra a aprovação (11 de Março de 2015, 11 de Março uma data
querida aos golpistas de direita) de mais cortes nas pensões e reformas, lei
que foi considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, mas que por
isso não deixou de entrar em vigor.
Começando pelo último facto, ficou-se a saber
que os cidadãos não se podem manifestar dentro da Assembleia da República, há
uns tantos senhores que são eleitos de 4 em 4 anos para falarem em nome do povo
apesar de ali estarem a legislar no interesse dos grupos económicos e outros
que nos bastidores os nomeiam; e, mais ainda, as leis aprovadas contra a Lei
Fundamental da República, a famigerada Constituição, entram em vigor na mesma
se isso for do interesse do governo e da classe a que serve, como na realidade
aconteceu, sobrepondo-se o governo ao Parlamento, como regime de tipo
presidencialista ou/e autocrático se tratasse. O cidadão que se indigna contra
um atropelo à lei por um dos órgãos de poder da dita República é castigado com
pena de prisão. Fica bem à mostra a natureza desta democracia parlamentar e com
um paradoxo: é precisamente em nome da democracia que o cidadão é condenado. O
mais caricato é virem umas almas, arvorando-se em defensores da
"oxigenação" da democracia ou da democracia democrática e patriótica,
insurgir-se contra a referida condenação em nome da dita democracia burguesa. É
que a democracia parlamentar burguesa, saída do golpe militar do 25 de Abril, é
exactamente isto: a mais ampla democracia para os capitalistas e os seus
representantes e a repressão e a falta de liberdade e de democracia mais
elementar para os trabalhadores e o povo comum.
E passando agora pelo atentado de Nice, à
semelhança do que acaba de acontecer na Turquia com o golpe militar abortado,
fica-se sem saber ao certo se o atentado é da responsabilidade de uma entidade
externa ao país, no caso presente, do Daesh ou estado Islãmico, uma criação da
CIA feita em 2006, se foi uma operação interna, um atentado de falsa bandeira
perpetrado pelos serviços secretos franceses, tendo utilizado para isso um
cidadão desenraizado e com características, fazendo fé na imprensa de referência,
de lumpen ou até sofrendo de perturbação mental, que até daria jeito para
justificar acto aparentemente tão tresloucado. Esta última hipótese nem é
descabida, contrariando as teorias da conspiração, atendendo a vários indícios:
a facilidade com que o homem passou as barreiras policiais, a oportunidade do
atentado, no preciso momento em que o governo do "socialista"
Hollande se prepara para alterar a Constituição do país que se ufana de ter
dado ao mundo a trilogia "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", a fim
de limitar as tais liberdades, incluindo retirar a cidadania francesa a
cidadãos acusados de terrorismo, e prolongar por tempo indefinido e por razões
meramente securitárias o estado de emergência, como veio acontecer com a sua
prorrogação por mais três meses. O atentado de Nice até parece ter sido um
"presente de Deus" dado não ao turco Erdogan mas ao francês Hollande…
até para justificar a continuação do apoio aos ditos “rebeldes” que combatem na
Síria e para outras intervenções no Médio Oriente ou em África.
São perigosas e fonte de grande confusão as
teses, defendidas por uma certa esquerda portuguesa que ainda se reivindica do
"maoismo" (o que é isso!?) de que o Daesh e quem perpetra estes
atentados, e referimo-nos aos de Nice, Orlando, Paris, Bruxelas, ou seja,
atentados realizados em território europeu ou norte-americano, o tal
"mundo ocidental", de que será uma resposta dos povos, ou de alguém
com essa legitimidade, espoliados e massacrados pelo EUA e UE por esse mundo
fora e que agora estariam dando o "justo correctivo" às potências
colonialistas e imperialistas. O Daesh, só não sabe quem não quer, é uma
criação made in USA, com apoio logístico a vário nível dos estados
vassalos do Império na região do Médio Oriente, Israel, Arábia Saudita, Qatar,
Turquia, com o propósito de redesenhar a geopolítica da região. França, Reino
Unido e Alemanha, especialmente a primeira, tentam ter agenda própria nesta
reconfiguração, cujo móbil é exclusivamente o saque do petróleo e do gás numa
guerra que se trava contra a Rússia e a China; com a particularidade recente de
uma Turquia a tentar ocupar uma posição de potência regional e se a história se
repetir, lembremo-nos de Saddam Husssein, o sultão Erdogan irá ter um fim
trágico.
Quase todos os atentados que foram perpetrados
nos últimos tempos, nomeadamente os que aconteceram em França, não conseguem
fugir à suspeita de atentados de falsa bandeira, provavelmente instigados pelos
serviços secretos de um ou outro país da Nato, senão por esta através da
Gládio. No atentado contra o semanário "Charlie" é muito estranho que
um dos protagonistas ter perdido muito oportunamente a carteira com a
identificação; aquando do atentado ao Bataclan, os militares da gendarmeria que
se encontrava em frente do edifício não intervieram… porque não tinham ordens
nesse sentido, excepto caso fossem directamente atacados, facto que veio a lume
mais tarde por denúncia do deputado belga social-cristão Georges Dallemagne, um
antigo médico próximo do ministério francês da Defesa; o único elemento
implicado nos atentados de Bruxelas e de Paris. Mohammed Abrini (o famoso
terrorista que surge com chapéu na cabeça em gravação de vídeo), e actualmente
preso na Bélgica, é conhecido informador dos serviços secretos britânicos,
ficando-se sem se saber se o homem foi recrutado como agente provocador ou se
foi infiltrado, a mesma questão se coloca ao irmão que ao que parece já foi
morto.
Omar Mateen, cidadão nascido nos EUA, que
matou cerca de meia-centena de cidadãos e provocou quase outros tantos feridos
em Orlando porque eram "gays", era empregado da multinacional de
segurança G4S e jamais fora assinalado como sendo um radical politico ou
religioso, e o pai, Seddique Mir Mateen, trabalhou para os serviços secretos
norte-americanos no Afeganistão, durante a guerra contra a ex-URSS (1979-1989),
tendo mais tarde emigrado para os EUA, onde se declarou como o verdadeiro
presidente do Afeganistão no exílio. Os irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnayev,
que realizaram os atentados na Maratona de Boston, eram sobrinhos, pelo
casamento, de Graham E. Fuller, antigo alto-funcionário da CIA no Afeganistão,
e o pai, Ansor Tsarnayev, é um tchecheno que colaborou com a CIA na União
Soviética, antes de emigrar para os Estados Unidos; um dos dois terroristas,
Tamerlan, tinha participado, em 2012, num seminário da Associação georgiana
Fundo para o Cáucaso, uma ONG criada pela Fundação Jamestown, por sua vez criação
da CIA, que prepara jovens tendo em vista desestabilizar a Rússia.
Como se vê, tudo muita boa gente e, fazendo fé
no que é dito pela imprensa séria e respeitável, uns até comem carne de porco e
fumam umas gansas, outros frequentam bares gay, outros ainda sofrem de
perturbações mentais (onde já ouvimos isto, terá sido na Noruega!?) ou seja,
gente que pouco tem de comum com os preceitos do dito "fundamentalismo
islâmico". Um pormenor curioso, aquando do atentado de Orlando, as
autoridades do condado do Alabama recusaram-se a colocar a bandeira a
meia-haste, dizendo bem da natureza desta gente, os tais
brancos-anglosaxões-e-protestantes (WASP) e da sua democracia. E ainda outro
pormenor interessante: todos os terroristas são abatidos a tiro em vez de serem
detidos para interrogatório para se ficar então a saber quem na verdade os
mandou e quem são os eventuais cúmplices. Uma ideia fica, difícil se torna
distinguir onde acabam os serviços secretos do Ocidente e onde começa o Daesh,
ou a Al-Qaeda e as suas diversas ramificações, ou vice-versa.
Afirmar que há uma guerra dentro do mundo
ocidental, isso é uma realidade incontornável, mas é uma luta de classes, entre
a burguesia e a classe operária, dentro de cada país, e entre o imperialismo e
os povos a nível global (claro que há disputa entre as diversas potências
capitalistas); dizer que estes actos de terror, que nunca visam objectivos
militares ou policiais (é bom frisar), são uma luta entre uma pretensa frente
dos povos esmagados pelo capitalismo e o imperialismo não passa de um dislate
perigoso. Se há muitos jovens que são arrebanhados por organizações
fundamentalistas, aproveitando-se do desenraizamento social e falta de
perspectivas para onde são atirados por este regime de democracia burguesa e
capitalista, isso é uma verdade, mas é de entre a parte mais degradada desta
população descartável que os fascismos e os bonapartismos em geral vão recrutar
o principal da sua tropa de choque; e é o que poderá estar a acontecer
presentemente.
Por outro lado, os ataques terroristas são um
excelente pretexto, um autêntico "presente de Deus, para que as
democracias burguesas imponham o fascismo e o nazismo sobre os povos já que são
incapazes de conter a revolta do povo e (eis o busílis da questão!) esconjurar
a revolução socialista e o comunismo. Não é por acaso que se assiste, com o
mais de que apoio da UE e do EUA, à ascensão do fascismo/nazismo em diversos
países da Europa; a Turquia é outro bom exemplo com o sultão a fazer das suas,
após ter sacado 6 mil milhões de euros à UE. O assassinato da deputada inglesa
em vésperas do referendo sobre o Brexit não deixa de ser mais do que suspeito
na sua intencionalidade, mostrando que as democracias burguesas, mesmo as que
têm pergaminhos, não hesitam em recorrer a meios fascistas no seio do próprio
país para alcançar os seus objectivos. Não perceber isto, ou não querer
perceber como acontece com uma pequena burguesia indígena travestida de
revolucionária, é extremamente perigoso, paga-se caro mais tarde, e a burguesia
e o imperialismo agradecem. Revoluções só com as massas proletárias, é um acto
essencialmente de carácter colectivo, que têm um objectivo último: a sociedade
comunista. O proletariado é o sujeito da sua emancipação, não há salvadores.
PORTUGAL FORA DA NATO!
Já depois de escrever estas linhas, ficamos a saber da real intenção da visita do xuxialista Hollande ao nosso país; afinal, o homem não veio dar apoio ao governo português contra as sanções que eventualmente Bruxelas irá decretar contra Portugal, mas "apenas" para obter forte e declarado apoio para "novas medidas" e "com a força necessária" contra o "terrorismo". Claro que obteve da parte do "mon ami" luso e do homólogo Marcelo a devida solidariedade. Sobre as sanções, o homem praticamente não disse nada... porque “não pode ser só burocracia e contas”; contudo, na sua cruzada de aumentar a exploração dos trabalhadores franceses, através da reforma da lei laboral, e reforço do aparelho repressivo para intimidar os possíveis revoltosos, o gálico socialista até fez o sacrifício de nos vir visitar em tempo tão difícil em consequência do "bárbaro" atentado de Nice (a polícia ainda não conseguiu estabelecer ligação ao Daesh). É obra! Este vil lacaio do grande capital financeiro europeu, e por arrastamento internacional, anda a tentar reforçar o poder de França dentro do eixo franco-alemão, até como reacção à saída da Grã-Bretanha que irá apostar noutro cavalo que não a UE, chamando a curto prazo o nazismo. O IV Reich agradece ao lacaio que em breve será descartado, assim como o seu país, logo que tenha terminado a tarefa. Razões acrescidas, para além de avisos recentes feitos pelos serviços secretos europeus, Europol, de que Portugal e Espanha poderão ser os próximos alvos do Daesh (eles lá têm as suas fontes seguras!) para que se coloque na ordem do dia a reivindicação: PORTUGAL FORA DA NATO!
Bibliografia:
Democracia
Burguesa e Democracia Proletária (A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky)
Lenine
M. Abrini, o «terrorista
do chapéu» é informante dos Britânicos
Os mistérios da Maratona
de Boston
Quem ordenou o ataque
contra o Charlie Hebdo?
Seis
meses de prisão suspensa por ofender Passos no Parlamento
19 de Julho 2016
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