Agora serão 25 anos
Crónica escrita um pouco antes das eleições
de 2019 para o Parlamento Europeu e que se encontra hoje mais actual. Todos os
problemas e contradições aí apontados se mantêm e se agravaram graças à guerra
que grassa na Europa. Perante a eminência da escalada para uma guerra mundial,
que será nuclear, Bruxelas já fez soar o clarim da corrida aos armamentos e ao
belicismo, apressando desse modo o seu fim – que será doloroso.
Saída da União Europeia antes que se faça
tarde!
Parece que o euro já existe há 20 anos (1),
talvez por isso e em laia de comemoração que se assiste à saída do Reino Unido,
melhor dizendo da Inglaterra, o resto são países subjugados e que à menor
oportunidade se desligarão, realidade que Bruxelas (Alemanha/França) não
deixará de ter em conta (o problema da fronteira da Irlanda da Norte funciona
como punição pela ousadia). Como também o “acordo”, que Bruxelas quer impor e
que a grande maioria do povo inglês repudia bem como parte dos partidos
burgueses, e caso venha a acontecer, será a vacina contra futuras saídas,
atendendo às condições draconianas que encerra.
Em Portugal (2), em vésperas de eleições para
o Parlamento Europeu, que pouco ou nada risca, o Costa do PS, em adiantada e
empolgada campanha eleitoral, verberou que “é necessário dar força ao PS”
porque a União Europeia se vê “atacada pelo vírus do proteccionismo”, numa
clara alusão ao Brexit. É a posição clara, sem qualquer ambiguidade, de um
lacaio e de um vendido ao grande capital financeiro europeu.
Se há uma parte da burguesia indígena que
beneficiou da entrada do país na CEE e na constituição da União Europeia como
uma entidade política e não meramente económica (Tratado de Lisboa),
declaradamente o IV Reich, pese a disputa com a França, a grande maioria do
povo trabalhador português empobreceu, e mesmo o capitalismo nacional passou a
uma posição de maior dependência, daí alguns economistas burgueses (João
Ferreira do Amaral ou Ricardo Paes Mamede) manifestaram a sua tristeza pelo
acontecimento desolador.
E os números são como a prova do algodão: no
3º trimestre de 2018, 950.000 trabalhadores (26,2% do total) recebiam
mensalmente menos de 600 euros e 2.342.500 trabalhadores portugueses (64,7%
levavam para casa menos de 900 euros por mês (Inquérito ao Emprego do INE). E
mais: se em 2001, 49,7% da riqueza criada (medida pelo PIB) reverteu para os
trabalhadores sob a forma de remunerações, em 2017, essa percentagem já só era
de 44,3%, por sua vez, uma ligeira subida em relação ao fim do governo pafioso
Coelho/Portas que era apenas 43,7%. Ao fim de 20 anos de euro e de União
Europeia, temos um povo mais pobre e um país mais desigual.
É esta realidade que os partidos do dito “arco
da governação” irão tentar iludir e os partidos da sustentação governamental
actual irão minimizar, a fim de ocultar o seu oportunismo e cobardia políticos
de não ousar, de forma firme e sem peias, reivindicar a saída da União
Europeia. Sair do euro não chega. Todos os partidos do establishment nacional
estão neste momento com suores frios sobre o real resultado da saída da
Grã-Bretanha, se será sem acordo, na Primavera ou lá para o Verão. Porque sabem
que a seguir vai a França (que tem um acordo secreto de preferência com a
Grã-Bretanha após a saída, o que vai contra os princípios da União), depois vai
a Itália, e a posição dos países do Sul, os tais pigs, ficará
insustentável.
E é este futuro de incerteza, que esconde uma
situação não menos dramática de imprevisibilidade económica, que faz correr a
nossa burguesia e traz o caos aos seus representantes e avençados políticos: o
PSD/PPD corre o sério risco de se fragmentar em vários partidos, desde o
fascista e ultramontano PPD ao social-democrata PSD. A Aliança (ou futuramente
o Chega) espera pelos dissidentes que agora apenas se preocupam com “as regras
na escolha de deputados. Com o fantasma da crise crónica do capitalismo, do descontrolo
do Brexit e do fracasso do euro, a burguesia tenta realinhar posições e os seus
homens de mão esgadanham-se pelo tacho e acesso ao pote.
Enquanto isso, o inefável Marcelo, o
presidente/rei-rainha, vai mantendo o seu populismo (o homem até diz que é
contra o dito, ora se não fosse?!), devolve para o Parlamento o diploma sobre a
contagem de tempo para o aumento salarial dos professores, vai abraçar o
“irmão” brasileiro mas recusa assistir à tomada de posse do presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, como não houvesse igualmente neste país muitos
milhares de emigrantes portugueses, confundindo posição política/ideológica com
cargo de estado. Um presidente em posição de quatro patas, igual à do governo
que foi, através do pró-ianque ministro dos negócios estrangeiros, receber
directiva de Bruxelas, eufemisticamente: “uma troca de opiniões”... “no quadro
do grupo de trabalho da União Europeia para a América Latina”. Qual dos dois o
mais subserviente?
O Costa anda muito preocupado com toda esta
trapalhada dos 20 anos do euro (no fundo é a desagregação da UE), teme que se
feche a torneira dos fundos comunitários, agora que tem um projecto de não se
sabe quantas grandes obras de regime, em número infindável de dezenas de
milhares de milhão de euros, onde inclui o novo aeroportozinho do Montijo (ao
que parece um grande negócio a custo zero… mas para os franceses da Vinci), que
vai criar um número indeterminável de postos de trabalho e que mais não é que,
no seu linear e obnubilado entendimento, a tão badalada "solidariedade
partilhada" que (não) tem sido “o projecto europeu ao longo de décadas,
com a qual o PS sempre esteve de acordo e que é preciso proteger”. Não explica,
no entanto, os números do Eurostat que dizem que, em 2008, a remuneração/hora
de um trabalhador em Portugal correspondia a 47,3% da média da Zona Euro, em
2015 somente a 41,4% e, em 2017, a 41,8%; ou seja, menos de metade. Ou o
resultado do “veículo de prosperidade “, denominação (para o euro) tão ao
agrado do “Ronaldo das Finanças Europeias”!
Mantendo-se na União Europeia, Portugal jamais
conseguirá libertar-se do colete-de-forças que é, por um lado, a dívida pública
impagável e odiosa, pelo outro, o tratado orçamental que obriga a reduzir a
dívida para 60% do PIB em 20 anos, objectivo impossível de atingir. E,
mantendo-se neste beco sem saída, o país nunca poderá desenvolver-se seja em
termos económicos ou sociais, mesmo mantendo uma economia capitalista; os
nossos empresários, a burguesia indígena, mais não serão que uma burguesia lumpen,
que vai vivendo das comissões deixadas pelos grandes grupos económicos e
financeiros que vão paulatina e inexoravelmente explorando o povo e os
operários portugueses. A União Europeia e o euro foram escolhas conscientes e
deliberadas de uma burguesia inútil e esclavagista, bem representada por um
Ferraz da Costa que não se cansa de repetir o mote: 35 horas semanais na
administração pública são "um luxo de país rico" e uma
"anormalidade".
Dentro da crise crónica do capitalismo
mundial, diversas crises têm acontecido e uma nova se prevê para breve, bem
maior e de consequências difíceis de determinar, já que a situação dos países,
nomeadamente dos países da periferia capitalista, mais fragilizados e
dependentes como o nosso. Atendendo à dívida pública, à dívida privada e à
dívida externa pública e privada, são várias componentes da dívida que bem diz
da situação de Portugal, usualmente ofuscada pela dívida soberana, uma nova
crise será a maior das misérias e das desgraças para o povo trabalhador. Repudiar
a dívida pública , suspender o seu pagamento enquanto se realiza
uma sindicância independente – coisas que o PCP e o BE desde há muito deixaram
de falar, desde que se constituíram em sócios efectivos do governo, e que irão
pagar caro pelo favor em termos eleitorais, ao contrário das suas expectativas
– e a saída imediata da União Europeia, são exigências que se impõem se
não quisermos ser escravos por toda a vida.
Nota: Depois de redigido este artigo,
ouvimos a Catarina do BE afirmar que a agremiação que lidera não é de
extrema-esquerda, devido à conotação desta com as ditaduras, coisa que não é
novidade, desde a sua fundação, diga-se de passagem. Será sempre bom lembrar
que quem assassinou Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foi exactamente a
social-democracia de que Catarina se reivindica. BE no governo para salvar o
capitalismo e a burguesia terrorista.
1) https://www.bportugal.pt/page/euroat20
2) https://www.ecb.europa.eu/euro/changeover/2002/html/index.pt.html
18 de Janeiro 2019
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