Imagem: “Sem stress” - Henricartoon
Durante a campanha eleitoral falou-se muito da necessidade de um governo do “centro”, constituído por forças “moderadas”, e o foco propagandístico foi dirigido sobretudo para a classe média, para os filhos família que foram beneficiados com garantias do estado na aquisição de habitação. As promessas estão no programa do governo, menos 500 milhões de euros de IRS para os que mais ganham até ao fim do ano e menos 2 mil milhões até ao fim da legislatura, menos IRC para as empresas, que acabam de ser presenteadas com 315 milhões de euros, ao abrigo do famigerado PRR, com os benefícios fiscais a atingirem mais de 2 mil milhões nestes dois anos de governo, 2024 e 2025. No entanto, são prometidos 2% do PIB para a Defesa já para este ano, ou seja, para a indústria da guerra. Uns “miseráveis” 5,7 mil milhões de euros, que passarão para os “3,5% nos próximos 10 anos”, promessa de Montenegro, ou para os 5% ainda antes da data estabelecida. Política que tem o apoio do PS e dos partidos mais à direita no Parlamento. Este governo, mais extremado do que moderado, apostou lançar o povo português na miséria e na guerra, para salvação dos rendimentos da elite e na obediência servil e torpe perante os ditames da potência imperial e do seu braço armado NATO. Em simultâneo, protege e fomenta disfarçadamente os grupos neonazis na esperança que estes venham a ser a tropa de choque contra os trabalhadores em caso de revolta por esta política celerada.
A política migratória do governo só irá
aumentar o número de ilegais
Antes de empoleirar-se no governo pela segunda
vez, Montenegro e e a sua associação partidária não incluíram no programa, que
então presentearam o eleitorado com a verba que iriam destinar aos negócios da
guerra, nem com outras medidas que agora foram enfiadas no projecto
governativo. Enganaram mais uma vez o povo português, parece que uma parte dele
até nem desgosta, tirando da cartola as já anunciadas mudanças na lei da greve
e nas leis laborais, a revisão da Lei de Bases da Saúde, para a privatização
mais rápida e segura da saúde em Portugal, e a revisão da Lei da Imigração, em
debate neste momento no Parlamento a pedido “urgente” do partido da
extrema-direita, mas que já tinha sido prevista e planeada pelo governo e até
debatida.
Imigração sim, mas para os especuladores
imobiliários, as mafias que vêm lavar dinheiro através dos vistos gold,
trabalhadores especializados que porventura tenham a triste ideia de para aqui
virem viver, o que é pouco provável. Os próprios migrantes dos palops
serão postergados para cidadãos de segunda e com mais dificuldade de adquirir
autorização para trabalhar, reunir a família, ou adquirir a nacionalidade
portuguesa, cidadãos que até 24 de Abril eram considerados portugueses. O
travar da imigração ilegal ficará mais no papel do que na realidade prática,
porque irá colidir com as necessidades dos empresários em abundante mão-de-obra
barata e facilmente descartável, ou com a concretização de grandes projectos
que não avançarão ou terão dificuldade em fazê-lo, como está já a acontecer em
Sines, com a Administração do Porto de Sines a precisar de preencher 1800
postos de trabalho, mas com os concursos a ficarem desertos porque simplesmente
não há oferta de casas. O capitalismo nacional para não soçobrar precisa
urgentemente de escravos.
Ficou-se a saber há pouco tempo que um dos
clientes da empresa familiar do primeiro-ministro Spinumviva tinha como sócia,
em negócios imobiliários na cidade de Espinho, uma empresária moçambicana que
tem sobre si um mandado de captura internacional, por acusação de associação
criminosa, financiamento ao terrorismo, fraude fiscal e branqueamento de
capitais, dando bem a ideia em que mundo se move a actividade profissional de
Montenegro. Que se saiba esta empresária de sucesso não teve dificuldade de
entrar no país, ter aqui as suas negociatas e viver sem ter problemas com a
justiça.
À semelhança da empresária moçambicana, não
consta que a famigerada, mas já esquecida, empresária angolana Isabel dos
Santos tenha tido alguma vez problema com o então SEF, como, por exemplo, ser
detida para interrogatório como aconteceu com o malogrado trabalhador imigrante
ucraniano Ihor Homenyuk. Com a nova Lei da Imigração haverá via verde para os
criminosos, clientes ou não da empresa familiar de lavagem de dinheiro,
traficantes e afins; entretanto, os migrantes que entram em Portugal
continuarão a ser ilegais e mão-de-obra escrava. E o número irá aumentar
substancialmente, como afirmou o bispo do Porto, porque simplesmente é
impossível impedir os movimentos migratórios.
Aumentar as restrições à entrada de trabalhadores imigrantes e dificultando a aquisição da nacionalidade portuguesa com a argumentação falaciosa de que já existe um grande número de estrangeiros em Portugal, o que poderá provocar maior conflitualidade social, tem sido apresentado, pelos comentadores avençados, como uma habilidade táctica de Montenegro de retirar capital político à extrema-direita. Ora, isto não passa de uma outra habilidade ou falácia, porque Montenegro ao elogiar o canoísta português: “É esta a raça lusitana” apenas deixou falar o coração de indivíduo de extrema-direita, embora disfarçado, e de um retinto reaccionário e racista. Iremos observar, ao longo da legislatura, o esbater das diferenças qua ainda possam haver entre o chefe do governo e o auto-intitulado chefete da oposição.
O racismo serve como instrumento para aumentar a divisão entre trabalhadores e intensificar a sua exploração, possui uma função económica, para além de constituir uma crença sem qualquer fundamento científico. No género Homo só existe uma linhagem ou raça que é o Homo Sapiens Sapiens, que saiu de África há cerca de 250 mil anos, e o povo português é o resultado de uma miscigenação ao longo dos séculos, onde os genes subsarianos, árabes e magrebinos são abundantes, atingindo os 20% no total. Os próprios europeus não passam de híbridos, como cerca de 3% de genes de neandertais, enquanto os “puros” sapiens são os !Kung San, um povo tradicional do deserto do Kalahari. Para quem não saiba, a heterozigotia é sinónimo de mais saúde, de ausência de doenças genéticas, ao contrário da “pureza da raça”, ou seja, da homozigotia. A família dos Habsburgos, que casavam entre si, são o bom exemplo das anomalias físicas e da extinção. Mas, não há nada a fazer, os políticos ignorantes são geneticamente racistas.
Canhões em vez de manteiga é a política
típica dos partidos da guerra
A retirada do RASI (Relatório Anual de
Segurança Interna) da informação sobre o perigo da actividade dos grupos
neo-nazis em Portugal, não se deveu, como alguém do governo quis dar a
entender, a ministra da Administração Interna se não estamos em erro, à
actuação de vigilância sobre um desses grupos, mas a uma displicência sobre o
assunto, é que estes grupos geralmente fazem o trabalho sujo das polícias e
sempre foram monitorizados quando não protegidos pelos comandos policiais.
Não há motivo para qualquer admiração quando
se soube que à frente do grupo Movimento Armilar Lusitano se encontrava um
chefe da PSP, não deixando de ser interessante que a maior parte da imprensa de
referência tenha escondido no início o posto do referido polícia, de possuir
ramificações dentro da GNR a da Marinha. Em vez de ser a polícia a reprimir os
trabalhadores imigrantes, são estes bandos de rufias e de jagunços,
constituídos maioritariamente por lúmpenes, que executam as tarefas que
repugnam às autoridades do establishment. E quanto à actuação destas
imitações das Sturmabteilung sem farda, os
trabalhadores emigrantes portugueses, nomeadamente na Alemanha, possuem alguma
experiência bem sofrida na pele, incluindo mortes.
A par da repressão sobre os trabalhadores mais
vulneráveis, para já, porque a “limitação” do direito à greve dos
trabalhadores, maior controlo dos trabalhadores do sector estado, depressa a
repressão se globalizará sobre todo o mundo do trabalho. O governo vai-se
rebaixando perante os ditames de Bruxelas e das imposições do imperialismo
norte-americano, através da sua máquina de guerra NATO. Fica bem à vista a
natureza de um governo que aceita caninamente ultrapassar a despesa de 2% do
PIB com a dita “Defesa”, rapidamente aumentada para 3,5% e de seguida para os
5%, quando desinveste na Saúde, na Educação, admite privatizar a Segurança
Social e o resto dos transportes ferroviários, não resolve o problema da
habitação para as famílias dos trabalhadores, deixando que se tenha regressado
a situação muito semelhante à que existia durante o Estado Novo; só na Grande
Lisboa já se contabilizam mais de 27 bairros de barracas ainda mais miseráveis que
as de outrora. Vai-se gastar milhões em armas e soldados, mas não se contratam
médicos, enfermeiros ou professores com salários dignos.
O governo foi interpelado pelos partidos da
oposição de esquerda quanto à utilização da base das Lajes nos Açores e pelo
embaixador do Irão em Lisboa "se alguém participa numa guerra, é parte
dessa agressão". Em relação à primeira, demorou e não satisfez na
resposta, apresentou a utilização como uma inevitabilidade do pseudo-contrato
feito com os EUA, “pseudo” porque o Império nada paga pela ocupação de uma
parcela do território nacional; em relação à segunda interpelação, o governo
pouco ou nada terá dito refugiando-se no colo do Trump, à semelhança do que tem
feito em relação à guerra da Ucrânia. Este governo mais não é que uma peça
menor da estratégia belicista norte-americana e europeia. Tal como o governo
PS, o governo PSD é arrogante com os fracos e subserviente perante os fortes,
próprio de invertebrados e geneticamente lacaios. Desde há muito que o povo português
reclama a saída de Portugal da NATO e a expulsão das tropas norte-americanas do
território nacional. Não queremos ser nem protetorado nem colónia de ninguém,
queremos ser soberanos.
Os quarenta anos de länder da Europa e a
crise crónica da economia
Montenegro esteve na cerimónia dos 40 anos da
assinatura do Tratado de Adesão à CEE, nos Jerónimos, tomando o lugar de Mário
Soares, o homem de mão da Alemanha em Portugal, de quem recebeu um partido
financiado pela social-democracia germânica. Ambos criados de libré,
faltou-lhes o casaco branco e a toalha dobrada no braço. Ambos, como todos os
primeiros-ministros que se sucederam entre os dois, são responsáveis pela
degradação do aparelho produtivo do país, da nossa inaudita dependência
económica e política, e pela criação de uma elite parasitária, de novos ricos,
uma burguesia rentista, que terá custado “mais de 160 mil milhões de euros”,
que são exactamente os fundos de “apoio europeu”, de que o povo não beneficiou
mas que tem pagado durante este tempo todo com língua de palmo.
São as manchetes da imprensa mainstream
que revelam a pobreza: endividamento da economia, empresas, famílias e
estado, cresce para 829,5 mil milhões de euros, a maior de sempre; recuo nas
exportações de bens em Abril agravando o défice da balança comercial; volume de
negócios na indústria recua 3,4% em Abril; PIB português teve o terceiro pior
desempenho da Zona Euro no primeiro trimestre; Cruz Vermelha apela à
mobilização nacional para combater pobreza e solidão; 660 mil pessoas em
Portugal vivem preocupadas por não terem comida suficiente, principalmente
aquelas que têm crianças a cargo; turismo é o setor com mais trabalhadores
pobres, mais de um quinto daqueles que trabalham no alojamento ou na
restauração vivem na pobreza, a realidade na agricultura é também muito
próxima, assim como na construção civil; quase um terço do país vive na pobreza
ou perto disso, número de pobres e excluídos teima em rondar os dois milhões,
mas, pouco acima do limiar da pobreza, há mais um milhão vulnerável; privações
estão a subir entre os não pobres, incluindo na habitação e saúde; ranking
anual do CWUR mostra uma degradação do panorama global das instituições de
ensino superior portuguesas, entre as 13 representadas, só três sobem face a
2024.
Bruxelas não deixa margem para dúvidas na
“recomendação”: a Comissão Europeia exige que Portugal “reforce as despesas
globais com a defesa e a prontidão em consonância com as conclusões do
Conselho Europeu de 6 de Março de 2025″, que classificou a guerra na
Ucrânia como “um desafio existencial para a União Europeia”; e a englobar nos
5% do PIB impostos pela NATO/Trump. Mas, para continuar a enganar o eleitorado,
o novo/velho governo PSD/Montenegro veio com as “10 medidas para mudar o país”
para, diz ele, “valorizar o trabalho e a poupança, o mérito e a Justiça
Social”, apontando para um salário mínimo de 1.100 euros, salário médio
2.000 euros, e nenhum pensionista terá rendimento abaixo de 870 euros
durante a legislatura. Ora, não passam de rematadas mentiras que, por outro
lado, têm como objectivo retirar as bandeiras aos partidos de esquerda. Em
suma, apresentar-se perante a classe média como o salvador da pátria. Mas será
mais o salvador dos empresários parasitas e do capitalismo nacional meio falido;
contudo, sempre à custa de uma maior exploração do povo trabalhador e do
empobrecimento do cidadão comum em geral.
Este governo é um governo de guerra contra o povo e de nós todos apenas merece o maior repúdio e combate.