quarta-feira, 25 de junho de 2025

Governo extremado e pouco moderado

Imagem: “Sem stress” - Henricartoon

Durante a campanha eleitoral falou-se muito da necessidade de um governo do “centro”, constituído por forças “moderadas”, e o foco propagandístico foi dirigido sobretudo para a classe média, para os filhos família que foram beneficiados com garantias do estado na aquisição de habitação. As promessas estão no programa do governo, menos 500 milhões de euros de IRS para os que mais ganham até ao fim do ano e menos 2 mil milhões até ao fim da legislatura, menos IRC para as empresas, que acabam de ser presenteadas com 315 milhões de euros, ao abrigo do famigerado PRR, com os benefícios fiscais a atingirem mais de 2 mil milhões nestes dois anos de governo, 2024 e 2025. No entanto, são prometidos 2% do PIB para a Defesa já para este ano, ou seja, para a indústria da guerra, uns “miseráveis” 5,7 mil milhões de euros, que passarão para os “3,5% nos próximos 10 anos”, promessa de Montenegro, ou para os 5% ainda antes da data estabelecida. Política que tem o apoio do PS e dos partidos mais à direita no Parlamento. Este governo, mais extremado do que moderado, apostou lançar o povo português na miséria e na guerra, para salvação dos rendimentos da elite e na obediência servil e torpe perante os ditames da potência imperial e do seu braço armado NATO. Em simultâneo, protege e fomenta disfarçadamente os grupos neonazis na esperança que estes venham a ser a tropa de choque contra os trabalhadores em caso de revolta por esta política celerada.

A política migratória do governo só irá aumentar o número de ilegais

Antes de empoleirar-se no governo pela segunda vez, Montenegro e e a sua associação partidária não incluíram no programa, que então presentearam o eleitorado com a verba que iriam destinar aos negócios da guerra, nem com outras medidas que agora foram enfiadas no projecto governativo. Enganaram mais uma vez o povo português, parece que uma parte dele até nem desgosta, tirando da cartola as já anunciadas mudanças na lei da greve e nas leis laborais, a revisão da Lei de Bases da Saúde, para a privatização mais rápida e segura da saúde em Portugal, e a revisão da Lei da Imigração, em debate neste momento no Parlamento a pedido “urgente” do partido da extrema-direita, mas que já tinha sido prevista e planeada pelo governo e até debatida.

Ficou-se a saber há pouco tempo que um dos clientes da empresa familiar do primeiro-ministro Spinumviva tinha como sócia, em negócios imobiliários na cidade de Espinho, uma empresária moçambicana que tem sobre si um mandado de captura internacional, por acusação de associação criminosa, financiamento ao terrorismo, fraude fiscal e branqueamento de capitais, dando bem a ideia em que mundo se move a actividade profissional de Montenegro. Que se saiba esta empresária de sucesso não teve dificuldade de entrar no país, ter aqui as suas negociatas e viver sem ter problemas com a justiça.

Imigração sim, mas para os especuladores imobiliários, as mafias que vêm lavar dinheiro através dos vistos gold, trabalhadores especializados que porventura tenham a triste ideia de para aqui virem viver, o que é pouco provável. Os próprios migrantes dos palops serão postergados para cidadãos de segunda e com mais dificuldade de adquirir autorização para trabalhar, reunir a família, ou adquirir a nacionalidade portuguesa, cidadãos que até 24 de Abril eram considerados portugueses. Esta alteração à lei do PS ficará mais no papel do que na realidade prática, porque irá colidir com as necessidades dos empresários em abundante mão-de-obra barata e facilmente descartável, ou com a concretização de grandes projectos que não avançarão ou terão dificuldade em fazê-lo, como está já a acontecer em Sines, com a Administração do Porto de Sines a precisar de preencher 1800 postos de trabalho, mas com os concursos a ficarem desertos porque não há oferta de casas e onde arrendar um T1 pode custar 1500 euros por mês.

À semelhança da empresária moçambicana, não consta que a famigerada, mas já esquecida, empresária angolana Isabel dos Santos tenha tido alguma vez problema com o então SEF, como, por exemplo, ser detida para interrogatório como aconteceu com o malogrado trabalhador imigrante ucraniano Ihor Homenyuk. Com a nova Lei da Imigração haverá via verde para os criminosos, clientes ou não da empresa familiar de lavagem de dinheiro, traficantes e afins; entretanto, os migrantes que entram em Portugal continuarão a ser ilegais e mão-de-obra escrava. E o número irá aumentar substancialmente, como afirmou o bispo do Porto, porque simplesmente é impossível impedir os movimentos migratórios.

O partido da guerra contra os trabalhadores e lacaio do imperialismo

A retirada do RASI (Relatório Anual de Segurança Interna) da informação sobre o perigo da actividade dos grupos neo-nazis em Portugal, não se deveu, como alguém do governo quis dar a entender, a ministra da Administração Interna se não estamos em erro, à actuação de vigilância sobre um desses grupos, mas a uma displicência sobre o assunto, é que estes grupos geralmente fazem o trabalho sujo das polícias e sempre foram monitorizados quando não protegidos pelos comandos policiais. Não há razão para qualquer admiração quando se soube que à frente do grupo Movimento Armilar Lusitano se encontrava um chefe da PSP, não deixando de ser interessante que a maior parte da imprensa de referência escondeu no início o posto do referido polícia, de possuir ramificações dentro da GNR a da Marinha. Em vez de ser a polícia a reprimir os trabalhadores imigrantes, são estes bandos de rufias e de jagunços, constituídos maioritariamente por lúmpenes, que executam as tarefas que repugnam às autoridades do establishment. E nesta matéria, tanto PS e PSD possuem responsabilidades, que agora aligeiram sobre o partido da extrema-direita. E quanto à actuação destas imitações das Sturmabteilung sem farda, os trabalhadores emigrantes portugueses, nomeadamente na Alemanha, possuem alguma experiência bem sofrida na pele, incluindo mortes.

A par da repressão sobre os trabalhadores mais vulneráveis, para já, porque a “limitação” do direito á greve dos trabalhadores, maior controlo dos trabalhadores do sector estado, depressa a repressão se globalizará sobre todo o mundo do trabalho, o governo vai-se rebaixando perante os ditames de Bruxelas e das imposições do imperialismo norte-americano, através da sua máquina de guerra NATO. Fica bem à vista a natureza de um governo que aceita caninamente a despesa de 2% do PIB com a dita “Defesa”, rapidamente aumentada para 3,5% e de seguida para os 5%, quando desinveste na Saúde, na Educação, admite privatizar a Segurança Social e o resto dos transportes ferroviários, não se resolve o problema da habitação para as famílias dos trabalhadores, deixando que se tenha regressado a situação muito semelhante à que existia durante o Estado Novo, só na Grande Lisboa já se contabilizam mais de 27 bairros de barracas ainda mais miseráveis às de outrora. Vai-se gastar milhões em armas e soldados, mas não se contratam médicos, enfermeiros ou professores com salários dignos. Canhões em vez de manteiga é a política típica dos partidos da guerra.

O governo foi interpelado pelos partidos da oposição de esquerda quanto à utilização da base das Lajes nos Açores e pelo embaixador do Irão em Lisboa "se alguém participa numa guerra, é parte dessa agressão". Em relação à primeira demorou e não satisfez na resposta, apresentou a utilização como uma inevitabilidade do pseudo-contrato feito com os EUA, “pseudo” porque o Império nada paga pela ocupação de uma parcela do território nacional; em relação à segunda interpelação o governo pouco ou nada terá dito refugiando-se no colo do Trump, à semelhança do que tem feito em relação à guerra da Ucrânia. Mais não é que uma peça menor da estratégia belicista norte-americana e europeia. Tal como o governo PS, o governo PSD é arrogante com os fracos e subserviente perante os fortes, próprio de invertebrados e geneticamente lacaios. Desde há muito que o povo português reclama a saída de Portugal da NATO e a expulsão das tropas norte-americanas do território nacional. Não queremos ser nem protetorado nem colónia de ninguém, queremos ser soberanos.

Os quarenta anos de länder da Europa e a crise crónica da economia

Montenegro esteve na cerimónia dos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão à CEE, nos Jerónimos, tomando o lugar de Mário Soares, o homem de mão da Alemanha em Portugal, de quem recebeu um partido financiado pela social-democracia germânica. Ambos criados de libré, faltou-lhes o casaco branco e a toalha dobrada no braço. Ambos, como todos os primeiros-ministros que se sucederam entre os dois, são responsáveis pela degradação do aparelho produtivo do país, da sua inaudita dependência económica e política e pela criação de uma elite parasitária, de novos ricos, uma burguesia rentista, que terá custado “mais de 160 mil milhões de euros”, que são exactamente os fundos de “apoio europeu”, de que o povo não beneficiou mas que tem pagado durante este tempo todo com língua de palmo.

São as manchetes da imprensa mainstream: endividamento da economia, empresas, famílias e estado, cresce para 829,5 mil milhões de euros, a maior de sempre; recuo nas exportações de bens em Abril agravando o défice da balança comercial; volume de negócios na indústria recua 3,4% em Abril; PIB português teve o terceiro pior desempenho da Zona Euro no primeiro trimestre; Cruz Vermelha apela à mobilização nacional para combater pobreza e solidão; 660 mil pessoas em Portugal vivem preocupadas por não terem comida suficiente, principalmente aquelas que têm crianças a cargo; turismo é o setor com mais trabalhadores pobres, mais de um quinto daqueles que trabalham no alojamento ou na restauração vivem na pobreza, a realidade na agricultura é também muito próxima, assim como na construção civil; quase um terço do país vive na pobreza ou perto disso, número de pobres e excluídos teima em rondar os dois milhões, mas, pouco acima do limiar da pobreza, há mais um milhão vulnerável; privações estão a subir entre os não pobres, incluindo na habitação e saúde; ranking anual do CWUR mostra uma degradação do panorama global das instituições de ensino superior portuguesas, entre as 13 representadas, só três sobem face a 2024. No entanto, a secretária de Estado do Ensino Superior, Cláudia Sarrico, defende que «as propinas de licenciatura são baixíssimas» e que «os alunos devem pagar uma contribuição para fazer os seus estudos no ensino superior através de empréstimos». Repetimos: o governo vai gastar este ano 5,7 mil milhões de euros na indústria da guerra e da morte, este ano de 2025, podendo duplicar em breve esse montante.

Bruxelas não deixa margem para dúvidas na “recomendação”: a Comissão Europeia exige que Portugal “reforce as despesas globais com a defesa e a prontidão em consonância com as conclusões do Conselho Europeu de 6 de Março de 2025″, que classificou a guerra na Ucrânia como “um desafio existencial para a União Europeia”; e a englobar nos 5% do PIB impostos pela NATO/Trump. Mas, para continuar a enganar o eleitorado, o novo/velho governo PSD/Montenegro veio com as “10 medidas para mudar o país” para, diz ele, “valorizar o trabalho e a poupança, o mérito e a Justiça Social”, apontando para um salário mínimo de 1.100 euros, salário médio 2.000 euros, e nenhum pensionista terá rendimento abaixo de 870 euros durante a legislatura. Ora, não passam de rematadas mentiras que, por outro lado, têm como objectivo retirar argumentos aos partidos de esquerda. Em suma, apresentar-se perante a classe média como o salvador da pátria. Mas será mais o salvador dos empresários parasitas e do capitalismo nacional meio falido, contudo, sempre à custa de uma maior exploração do povo trabalhador e do empobrecimento do cidadão comum em geral. Este governo é um governo de guerra contra o povo e de nós todos apenas merece o maior repúdio e combate.

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