Antes do apagão, ocorrido três dias após a data
comemorativa da “Revolução dos Cravos” e que o governo quis adiar invocando a
morte do Papa, já houvera um outro o apagão, o do capítulo do RASI (Relatório
Anual de Segurança Interna), que alertava para o perigo de grupos de
extrema-direita em Portugal. Apagão este que o governo primeiramente negou conhecer
e, lá depois, reconsiderou que a decisão de excluir a análise feita pela PJ foi
na sequência de reunião do Gabinete Coordenador de Segurança, onde estiveram as
ministras mentirosas, Administração Interna e Justiça, e foi unânime, polícias,
secretas e governo concordarem com o referido apagão. Em relação ao último
apagão, ao de 28 de Abril, Montenegro também mentiu atribuindo a causa a
factores externos (foi em Espanha!) e não à política de subserviência e de
dependência em relação aos nuestros hermanos e a Bruxelas, como igualmente
lavou as mãos quanto à responsabilidade pelo facto de os portugueses não terem
sido informados em tempo útil sobre o que na realidade se estava a passar,
permitindo, assim, o alarmismo, o pânico e o caos.
13 de Dezembro de 1991: a sexta-feira negra
da EDP
O apagão eléctrico, para além das eventuais
causas técnicas, que ainda são desconhecidas passadas que são mais de 48 horas,
deve-se principalmente ao facto da rede eléctrica nacional estar a ser
explorada por empresas privadas, de capital maioritariamente estrangeiro, por
exemplo, a REN (25% State Grid do Governo da China, 12% Pontegadea Inversiones
de Amancio Ortega, 7,7% fundo norte-americano Lazard Asset Management, 5,3%
Fidelidade, 5% Red Eléctrica de Espanha, 11% mãos nacionais dispersas), ao
interesse pelo lucro, pouco tempo antes a REN vendia ao desbarato electricidade
a Espanha, para começar a comprar quando houve instabilidade na rede espanhola,
o que fez com que disparasse o sistema de segurança da rede nacional, levando
ao corte e ao apagão.
No final da manhã do dia 28 importava-se
electricidade porque a produção nacional estava a 70% e as hidroelétricas
estavam paradas, embora as albufeiras estivessem cheias, era mais barato e a
REN e a E-REDES estavam a ganhar dinheiro. Os governos portugueses a partir do
início da década de 90 do século passado abdicaram da soberania energética,
ajoelhando-se às directivas de Bruxelas.
São conhecidos os contornos de privatização do
desmembramento da EDP em áreas de produção e de distribuição, espalhadas por
diversas empresas, que foram sucessivamente entregues a interesses privados,
com um propósito: a maximização do lucro. O processo teve início no último
governo de Cavaco Silva, passando pelos governos de Guterres e terminando no
governo de Passos Coelho. Ambos os partidos do bloco central são responsáveis
pelo desastre, e os homens são conhecidos: Nuno Ribeiro da Silva, Luís Filipe
Pereira, Pina Moura e José Penedos.
O primeiro entregou a privados a concepção,
construção, financiamento e operação da Central a Gás da Tapada do Outeiro e
criou as condições para a venda da Central do Pego, mais tarde foi recompensado
com o cargo de Presidente da Endesa Portugal, e agora, com este governo, foi
nomeado Presidente da Comissão de Coordenação para a Baixa Tensão (CCBT). O
segundo conduziu o desmembramento da EDP, através da criação de várias dezenas
de empresas e a venda da Central do Pego. Pina Moura e José Penedos,
respectivamente ministro e secretário de Estado do Governo de Guterres,
consumaram a política de enfraquecimento da EDP, levando-a para investimentos
no exterior, de rentabilidade duvidosa, provocando o seu endividamento.
Outro nome incontornável ligado à liquidação
da EDP como motor da soberania energética nacional, Eduardo Catroga, no arranjo
do ramalhete e da corrupção na privatização final pelo governo de Passos
Coelho/Paulo Portas. Catroga vai para o Conselho de Administração da empresa,
agora com capital maioritariamente do estado chinês, na função de abrir portas,
meter acunhas, onde passou a arrecadar mais de 40 mil euros mensais, de pois de
se ter reformado em 2007 com uma pensão de 9.693 euros mensais. Apesar de aposentado,
continuou a ser presidente da empresa Sapec, administrador não-executivo da
Nutrinveste e do Banco Finantia e membro do Conselho Geral e de Supervisão da
EDP. Enquanto ministro das Finanças de Cavaco Silva esteve ligado à privatização
da banca e da reconstituição do grupo económico de Champalimaud.
E para finalizar então o ramalhete, teremos de
citar António Mexia, ex-gestor bancário e ex-ministro, nomeado Presidente
Executivo da EDP em Março de 2006, onde se manteve até Julho de 2020, onde foi
principescamente pago com muitos milhões de euros, tendo sido considerado o CEO
melhor remunerado em Portugal, acabando por ser acusado de corrupção, após
suspensão de funções pela justiça que o acusou de corrupção, branqueamento de
capitais e arrecadar uma fortuna de mais de 6 milhões euros em off-shore.
É o “Caso EDP/CMEC”, onde Ministério Público entende que o Estado sofreu
um prejuízo superior a 840 milhões de euros e exige a “perda de bens dos
arguidos e da EDP no mesmo montante”. Como se pode constatar a EDP foi
liquidada por uma quadrilha que terá nadado na mais abjecta corrupção e compadrio.
Poderemos afirmar que 13
de Dezembro de 1991 foi a sexta-feira negra da EDP.
O governo é o responsável político pelo
apagão e pelo falhanço do SIRESP
O apagão levou ao caos, à desorientação de
muitos portugueses que, desconhecendo o que se passava e já como que ensaiados
pelos confinamentos impostos pelo governo PS/Costa, correram em massa aos
supermercados onde encheram carros e carrinhos de compras com os mantimentos de
primeira necessidade. Muitos comércio fechou ou ficou a meio gás, com excepção
das grandes superfícies que puderam aumentar a facturação; os hospitais
entraram em plano de emergência; os comboios e os aviões pararam; as
comunicações móveis colapsaram, bem como o já famigerado SIRESP; o INEM não
pôde atender em tempo útil todas as chamadas, felizmente não houve casos graves
de não atendimento; muitos cidadãos correram às caixas de multibanco porque não
tinham dinheiro na carteira; as pessoas foram para a rua e parques públicos.
E entrou-se na especulação quanto às causas e
autores do apagão: ataque cibernético, foram os russos (na CNN, Francisco
Rodrigues, presidente da OSCOT, atribuiu a autoria à “União Soviética” que
poderia estar a testar a Europa!) ou “a guerra da Ucrânia já chegou”, como
pensou a população da aldeia de Montaria, em Viana do Castelo. O país
praticamente parou durante cerca de 12 horas. Foi o apagão da economia
capitalista e do modo de vida de consumismo imposto por este modelo económico
predador.
O apagão eléctrico acontece porque o governo
falhou, o socorro falhou e falhou mais uma vez, já tinha falhado clamorosamente
nos trágicos incêndios de Pedrogão Grande, o sistema que ficou ao erário
público em 540 milhões de euros, o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de
Emergência e Segurança de Portugal), voltou a falhar no momento crítico: “Esta
solução parece que não serve”, diz presidente da Liga dos Bombeiros, a
“fiabilidade do SIRESP é muito baixa” e a rede de emergência não é
“suficientemente robusta e resiliente para situações de gestão de crise” (“Público”).
Mas já em 2005 a opinião era de que o sistema nunca iria funcionar correctamente,
teria sempre falhas, bastava ver como todo o processo de aquisição tinha sido
conduzido, no meio de toda a corrupção e compadrios.
Quando o governo PSD-CDS, liderado por Santana
Lopes, estava em gestão, três dias depois das eleições legislativas de 2005, o
ministro da Administração Interna, Daniel Sanches assinou o contrato, em parceria
público-privado, com o consórcio de empresas (PT, Motorolla, Esegur, do Grupo
Espírito Santo, e SLN), estando à frente da SLN o ex-ministro Dias Loureiro.
Mais tarde o contrato foi renegociado, e não anulado como poderia ter acontecido,
pelo então ministro António Costa, em 2006, em pleno funcionamento do governo
de Sócrates/PS. O SIRESP é uma vigarice que lesou gravemente os cofres do
estado e que envolveu ex-ministros e secretários de estado, Daniel Sanches,
Figueiredo Lopes, António Costa, Oliveira e Costa e Dias Loureiro, e vários
governos do PSD e do PS e vários primeiros ministros, António Guterres, Durão
Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, ou seja, todo o bloco central de
interesses e da corrupção (SIRESP,
a história de uma parceria público-privada que custou mais do que parece
merecer). Quase de certeza que esta gente toda ela enriqueceu.
O apagão é antes do mais e acima de tudo uma questão política e não técnica
As questões são antes do mais políticas e não técnicas, são o resultado de opções governamentais que se subjugam a interesses de classe, e os interesses predominantes são sempre os negócios, a ânsia pelo lucro, o resto são fait divers, distrair a opinião pública da realidade dos factos. A aposta nas ditas “energias renováveis” corresponde ao interesse e necessidade de o grande capital financeiro virar-se para outras áreas de rentabilidade segura e para outras formas de consumismo. A “descarbonização do planeta” é acima de tudo a descarbonização do capitalismo, a sua revitalização, impedir que a taxa de lucro caia para zero, porque caso isso aconteça é a sua implosão. A crise não é climática, é, sobretudo e antes do mais, capitalista. Não é o planeta que está em risco, o que assusta o comodismo da classe média (pequena-burguesia) mas o sistema económico de mercado, onde tudo tem um valor de uso e de troca.
O
apagão reflecte a pressa em que se investiu na dita “energia verde”, confirmando-se
agora o que alguém já vinha avisando desde há algum tempo, as fontes renováveis
solares e eólicas não dão estabilidade ao sistema eléctrico, pela sua
imprevisibilidade e insegurança, e nem servem sequer para a reinicialização do
sistema, como também agora se comprovou. O encerramento das centrais termo-eléctricas
do Pego e de Sines não passaram de crimes de lesa soberania, e os responsáveis
políticos deveriam ser chamados à justiça. Outro crime é destruir a natureza,
nomeadamente, a floresta autóctone que leva dezenas de anos a crescer: mais
de mil sobreiros e mais de 40 mil carvalhos vão ser destruídos em Condeixa.
O apagão vem, por outro lado, apagar a realidade bem triste e pouco luminosa do povo deste país. A pobreza aumenta, com o a subida da dívida privada, empresas e cidadãos, em mais 2,3% em Fevereiro, para 457.379 milhões de euros; sendo a dívida total de 820.511 milhões de euros se incluirmos as administrações públicas, isto em termos homólogos, segundo dados do Banco de Portugal. “Mais de 60% das pessoas com deficiência acima dos 16 anos estavam em risco de pobreza em 2023 antes das transferências sociais, um risco que alastra às famílias e piora consoante a gravidade da deficiência”, revela o Relatório Pessoas com Deficiência em Portugal – Indicadores de Direitos Humanos 2024, que acrescenta: “Portugal tem desinvestido na proteção social das pessoas com deficiência” (DN).
Também não é de interesse para o
governo de Montenegro que se alardeie que os ricos estão cada vez mais ricos: “os
conselhos de administração das principais instituições em Portugal
ganharam cerca de 34 milhões de euros em 2024, mais 13% em comparação com
o ano anterior” (ECO). Ou que os acionistas da EDP tenham aprovado a
distribuição de 836,8 milhões em dividendos, segundo comunicado da Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Seja qual for o preço que a EDP e as
outras distribuidoras compram a electricidade, ela será sempre vendida pelo
preço mais elevado ao consumidor e este continuará a pagar a factura mais cara
da União Europeia. E quando a Galp anuncia que o lucro caiu 41% no primeiro trimestre
do ano para 192 milhões de euros, esperem é por mais aumentos no preço dos combustíveis,
logo passadas que sejam as eleições de 18 de Maio.
Montenegro e o governo aproveitaram o acontecimento do apagão para fazerem mais um pouco de propaganda, arvorando-se em salvadores da pátria, se não tivesse sido a acção governativa os portugueses ainda estariam em tenebrosa escuridão. Escamoteia que não houve qualquer aviso à população sobre o que na realidade estava a acontecer, que o falhanço das telecomunicações se deve à incúria e desprezo pelo povo português e, querendo botar figura, veio com a criação de uma “entidade técnica independente” para apurar responsabilidades e e tomar medidas preventivas e o pedido de “auditoria europeia aos sistemas eléctricos”, repisando que o “problema não tem a ver com a falta de capacidade de produção e distribuição em Portugal”. Não disse e nem diz que tem a ver com a ganância e com o lucro das empresas que gerem a rede.
Os partidos da oposição aplaudiram a iniciativa governativa, o próprio chefe do
PS apressou-se a declarar que se a REN fosse do estado o apagão aconteceria na
mesma, o que é bastante elucidativo quanto às diferenças que separam estes dois
figurões. Em Espanha, Pedro Sanchez garantiu que episódio apagativo “não vai
passar sem apuramento de responsabilidades”. E Bruxelas, pela voz do comissário
da Energia, vai auxiliar os países ibéricos na investigação e Espanha terá três
meses para reportar a Bruxelas a causa do apagão. No entanto, ainda não se
conhece a causa “específica” do incidente, nem saberemos se alguma vez será conhecida,
os governos dos dois países e Bruxelas irão dar apagão a este assunto, os lóbis
é que ditam as leis.
Apagão em vésperas do 1º de Maio, uma estranha
coincidência
É curioso notar que este apagão aconteceu três dias depois da data de 25 de Abril e três dias antes do 1º de Maio, dia de LUTA INTERNACIONALISTA dos trabalhadores de todo o mundo. Razão para muitas teorias da conspiração, mas a verdade é que quem está sob ataque são os assalariados e outros trabalhadores, que são precisamente aqueles que mais sofrem na pele os ataques da classe dos exploradores e de todos os males do seu sistema económico. Não querendo entrar pelo campo da especulação conspirativa, reconhecemos, no entanto, que este apagão e os que venham aconteceram poderão ser um teste por parte do poder globalista sobre o cidadão. Atemorizar para controlar, e viu-se pelos menos parte da população na corrida desenfreada e irracional por comida e por dinheiro.
Provou-se que, sem as redes a funcionar, sem electricidade, o cidadão fica como que desorientado, fica isolado e desarmado, que a ausência de dinheiro físico o pode conduzir à penúria e à fome. A manipulação pela rede pode ser uma arma, por exemplo, para o controlo da natalidade e redução da população, que alguns teóricos do globalismo (o outro nome do imperialismo) consideram que deve diminuir dos actuais 8 mil milhões de indivíduos para pouco mais de mil milhões, porque, no seu entender, muitos dos problemas que a humanidade enfrenta são devidos ao excesso de população e à insuficiência de recursos, escondendo que o problema está no capitalismo e que matar a fome ou resolver problemas de habitação ou de saúde a toda a gente não dá lucro.
No 1º de Maio não é apenas a luta por melhores
condições de vida que está presente, mas, fundamentalmente, a luta pelo fim do
capitalismo, o principal e único fautor do desemprego, da miséria e da guerra,
para mais quando estamos perante a iminência de uma terceira guerra mundial. Os
trabalhadores, os povos e todos os explorados do mundo terão de dar o apagão ao
capitalismo – por uma terra sem amos!
Consultas:
- 13
de Dezembro de 1991: a sexta-feira negra da EDP.
- António
Mexia e João Manso Neto acusados de corrupção.
- SIRESP,
a história de uma parceria público-privada que custou mais do que parece
merecer.
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