quarta-feira, 30 de abril de 2025

Os apagões do governo AD

Antes do apagão, ocorrido três dias após a data comemorativa da “Revolução dos Cravos” e que o governo quis adiar invocando a morte do Papa, já houvera um outro o apagão, o do capítulo do RASI (Relatório Anual de Segurança Interna), que alertava para o perigo de grupos de extrema-direita em Portugal. Apagão este que o governo primeiramente negou conhecer e, lá depois, reconsiderou que a decisão de excluir a análise feita pela PJ foi na sequência de reunião do Gabinete Coordenador de Segurança, onde estiveram as ministras mentirosas, Administração Interna e Justiça, e foi unânime, polícias, secretas e governo concordarem com o referido apagão. Em relação ao último apagão, ao de 28 de Abril, Montenegro também mentiu atribuindo a causa a factores externos (foi em Espanha!) e não à política de subserviência e de dependência em relação aos nuestros hermanos e a Bruxelas, como igualmente lavou as mãos quanto à responsabilidade pelo facto de os portugueses não terem sido informados em tempo útil sobre o que na realidade se estava a passar, permitindo, assim, o alarmismo, o pânico e o caos.

13 de Dezembro de 1991: a sexta-feira negra da EDP

O apagão eléctrico, para além das eventuais causas técnicas, que ainda são desconhecidas passadas que são mais de 48 horas, deve-se principalmente ao facto da rede eléctrica nacional estar a ser explorada por empresas privadas, de capital maioritariamente estrangeiro, por exemplo, a REN (25% State Grid do Governo da China, 12% Pontegadea Inversiones de Amancio Ortega, 7,7% fundo norte-americano Lazard Asset Management, 5,3% Fidelidade, 5% Red Eléctrica de Espanha, 11% mãos nacionais dispersas), ao interesse pelo lucro, pouco tempo antes a REN vendia ao desbarato electricidade a Espanha, para começar a comprar quando houve instabilidade na rede espanhola, o que fez com que disparasse o sistema de segurança da rede nacional, levando ao corte e ao apagão.

No final da manhã do dia 28 importava-se electricidade porque a produção nacional estava a 70% e as hidroelétricas estavam paradas, embora as albufeiras estivessem cheias, era mais barato e a REN e a E-REDES estavam a ganhar dinheiro. Os governos portugueses a partir do início da década de 90 do século passado abdicaram da soberania energética, ajoelhando-se às directivas de Bruxelas.

São conhecidos os contornos de privatização do desmembramento da EDP em áreas de produção e de distribuição, espalhadas por diversas empresas, que foram sucessivamente entregues a interesses privados, com um propósito: a maximização do lucro. O processo teve início no último governo de Cavaco Silva, passando pelos governos de Guterres e terminando no governo de Passos Coelho. Ambos os partidos do bloco central são responsáveis pelo desastre, e os homens são conhecidos: Nuno Ribeiro da Silva, Luís Filipe Pereira, Pina Moura e José Penedos.

O primeiro entregou a privados a concepção, construção, financiamento e operação da Central a Gás da Tapada do Outeiro e criou as condições para a venda da Central do Pego, mais tarde foi recompensado com o cargo de Presidente da Endesa Portugal, e agora, com este governo, foi nomeado Presidente da Comissão de Coordenação para a Baixa Tensão (CCBT). O segundo conduziu o desmembramento da EDP, através da criação de várias dezenas de empresas e a venda da Central do Pego. Pina Moura e José Penedos, respectivamente ministro e secretário de Estado do Governo de Guterres, consumaram a política de enfraquecimento da EDP, levando-a para investimentos no exterior, de rentabilidade duvidosa, provocando o seu endividamento.

Outro nome incontornável ligado à liquidação da EDP como motor da soberania energética nacional, Eduardo Catroga, no arranjo do ramalhete e da corrupção na privatização final pelo governo de Passos Coelho/Paulo Portas. Catroga vai para o Conselho de Administração da empresa, agora com capital maioritariamente do estado chinês, na função de abrir portas, meter acunhas, onde passou a arrecadar mais de 40 mil euros mensais, de pois de se ter reformado em 2007 com uma pensão de 9.693 euros mensais. Apesar de aposentado, continuou a ser presidente da empresa Sapec, administrador não-executivo da Nutrinveste e do Banco Finantia e membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP. Enquanto ministro das Finanças de Cavaco Silva esteve ligado à privatização da banca e da reconstituição do grupo económico de Champalimaud.

E para finalizar então o ramalhete, teremos de citar António Mexia, ex-gestor bancário e ex-ministro, nomeado Presidente Executivo da EDP em Março de 2006, onde se manteve até Julho de 2020, onde foi principescamente pago com muitos milhões de euros, tendo sido considerado o CEO melhor remunerado em Portugal, acabando por ser acusado de corrupção, após suspensão de funções pela justiça que o acusou de corrupção, branqueamento de capitais e arrecadar uma fortuna de mais de 6 milhões euros em off-shore. É o “Caso EDP/CMEC”, onde Ministério Público entende que o Estado sofreu um prejuízo superior a 840 milhões de euros e exige a “perda de bens dos arguidos e da EDP no mesmo montante”. Como se pode constatar a EDP foi liquidada por uma quadrilha que terá nadado na mais abjecta corrupção e compadrio. Poderemos afirmar que 13 de Dezembro de 1991 foi a sexta-feira negra da EDP.

O governo é o responsável político pelo apagão e pelo falhanço do SIRESP

O apagão levou ao caos, à desorientação de muitos portugueses que, desconhecendo o que se passava e já como que ensaiados pelos confinamentos impostos pelo governo PS/Costa, correram em massa aos supermercados onde encheram carros e carrinhos de compras com os mantimentos de primeira necessidade. Muitos comércio fechou ou ficou a meio gás, com excepção das grandes superfícies que puderam aumentar a facturação; os hospitais entraram em plano de emergência; os comboios e os aviões pararam; as comunicações móveis colapsaram, bem como o já famigerado SIRESP; o INEM não pôde atender em tempo útil todas as chamadas, felizmente não houve casos graves de não atendimento; muitos cidadãos correram às caixas de multibanco porque não tinham dinheiro na carteira; as pessoas foram para a rua e parques públicos.

E entrou-se na especulação quanto às causas e autores do apagão: ataque cibernético, foram os russos (na CNN, Francisco Rodrigues, presidente da OSCOT, atribuiu a autoria à “União Soviética” que poderia estar a testar a Europa!) ou “a guerra da Ucrânia já chegou”, como pensou a população da aldeia de Montaria, em Viana do Castelo. O país praticamente parou durante cerca de 12 horas. Foi o apagão da economia capitalista e do modo de vida de consumismo imposto por este modelo económico predador.

O apagão eléctrico acontece porque o governo falhou, o socorro falhou e falhou mais uma vez, já tinha falhado clamorosamente nos trágicos incêndios de Pedrogão Grande, o sistema que ficou ao erário público em 540 milhões de euros, o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal), voltou a falhar no momento crítico: “Esta solução parece que não serve”, diz presidente da Liga dos Bombeiros, a “fiabilidade do SIRESP é muito baixa” e a rede de emergência não é “suficientemente robusta e resiliente para situações de gestão de crise” (“Público”). Mas já em 2005 a opinião era de que o sistema nunca iria funcionar correctamente, teria sempre falhas, bastava ver como todo o processo de aquisição tinha sido conduzido, no meio de toda a corrupção e compadrios.

Quando o governo PSD-CDS, liderado por Santana Lopes, estava em gestão, três dias depois das eleições legislativas de 2005, o ministro da Administração Interna, Daniel Sanches assinou o contrato, em parceria público-privado, com o consórcio de empresas (PT, Motorolla, Esegur, do Grupo Espírito Santo, e SLN), estando à frente da SLN o ex-ministro Dias Loureiro. Mais tarde o contrato foi renegociado, e não anulado como poderia ter acontecido, pelo então ministro António Costa, em 2006, em pleno funcionamento do governo de Sócrates/PS. O SIRESP é uma vigarice que lesou gravemente os cofres do estado e que envolveu ex-ministros e secretários de estado, Daniel Sanches, Figueiredo Lopes, António Costa, Oliveira e Costa e Dias Loureiro, e vários governos do PSD e do PS e vários primeiros ministros, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, ou seja, todo o bloco central de interesses e da corrupção (SIRESP, a história de uma parceria público-privada que custou mais do que parece merecer). Quase de certeza que esta gente toda ela enriqueceu.

Sessão solene

O apagão é antes do mais e acima de tudo uma questão política e não técnica

As questões são antes do mais políticas e não técnicas, são o resultado de opções governamentais que se subjugam a interesses de classe, e os interesses predominantes são sempre os negócios, a ânsia pelo lucro, o resto são fait divers, distrair a opinião pública da realidade dos factos. A aposta nas ditas “energias renováveis” corresponde ao interesse e necessidade de o grande capital financeiro virar-se para outras áreas de rentabilidade segura e para outras formas de consumismo. A “descarbonização do planeta” é acima de tudo a descarbonização do capitalismo, a sua revitalização, impedir que a taxa de lucro caia para zero, porque caso isso aconteça é a sua implosão. A crise não é climática, é, sobretudo e antes do mais, capitalista. Não é o planeta que está em risco, o que assusta o comodismo da classe média (pequena-burguesia) mas o sistema económico de mercado, onde tudo tem um valor de uso e de troca. 

O apagão reflecte a pressa em que se investiu na dita “energia verde”, confirmando-se agora o que alguém já vinha avisando desde há algum tempo, as fontes renováveis solares e eólicas não dão estabilidade ao sistema eléctrico, pela sua imprevisibilidade e insegurança, e nem servem sequer para a reinicialização do sistema, como também agora se comprovou. O encerramento das centrais termo-eléctricas do Pego e de Sines não passaram de crimes de lesa soberania, e os responsáveis políticos deveriam ser chamados à justiça. Outro crime é destruir a natureza, nomeadamente, a floresta autóctone que leva dezenas de anos a crescer: mais de mil sobreiros e mais de 40 mil carvalhos vão ser destruídos em Condeixa.

O apagão vem, por outro lado, apagar a realidade bem triste e pouco luminosa do povo deste país. A pobreza aumenta, com o a subida da dívida privada, empresas e cidadãos, em mais 2,3% em Fevereiro, para 457.379 milhões de euros; sendo a dívida total de 820.511 milhões de euros se incluirmos as administrações públicas, isto em termos homólogos, segundo dados do Banco de Portugal. “Mais de 60% das pessoas com deficiência acima dos 16 anos estavam em risco de pobreza em 2023 antes das transferências sociais, um risco que alastra às famílias e piora consoante a gravidade da deficiência”, revela o Relatório Pessoas com Deficiência em Portugal – Indicadores de Direitos Humanos 2024, que acrescenta: “Portugal tem desinvestido na proteção social das pessoas com deficiência” (DN). 

Também não é de interesse para o governo de Montenegro que se alardeie que os ricos estão cada vez mais ricos: “os conselhos de administração das principais instituições em Portugal ganharam cerca de 34 milhões de euros em 2024, mais 13% em comparação com o ano anterior” (ECO). Ou que os acionistas da EDP tenham aprovado a distribuição de 836,8 milhões em dividendos, segundo comunicado da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Seja qual for o preço que a EDP e as outras distribuidoras compram a electricidade, ela será sempre vendida pelo preço mais elevado ao consumidor e este continuará a pagar a factura mais cara da União Europeia. E quando a Galp anuncia que o lucro caiu 41% no primeiro trimestre do ano para 192 milhões de euros, esperem é por mais aumentos no preço dos combustíveis, logo passadas que sejam as eleições de 18 de Maio.

Montenegro e o governo aproveitaram o acontecimento do apagão para fazerem mais um pouco de propaganda, arvorando-se em salvadores da pátria, se não tivesse sido a acção governativa os portugueses ainda estariam em tenebrosa escuridão. Escamoteia que não houve qualquer aviso à população sobre o que na realidade estava a acontecer, que o falhanço das telecomunicações se deve à incúria e desprezo pelo povo português e, querendo botar figura, veio com a criação de uma “entidade técnica independente” para apurar responsabilidades e e tomar medidas preventivas e o pedido de “auditoria europeia aos sistemas eléctricos”, repisando que o “problema não tem a ver com a falta de capacidade de produção e distribuição em Portugal”. Não disse e nem diz que tem a ver com a ganância e com o lucro das empresas que gerem a rede. 

Os partidos da oposição aplaudiram a iniciativa governativa, o próprio chefe do PS apressou-se a declarar que se a REN fosse do estado o apagão aconteceria na mesma, o que é bastante elucidativo quanto às diferenças que separam estes dois figurões. Em Espanha, Pedro Sanchez garantiu que episódio apagativo “não vai passar sem apuramento de responsabilidades”. E Bruxelas, pela voz do comissário da Energia, vai auxiliar os países ibéricos na investigação e Espanha terá três meses para reportar a Bruxelas a causa do apagão. No entanto, ainda não se conhece a causa “específica” do incidente, nem saberemos se alguma vez será conhecida, os governos dos dois países e Bruxelas irão dar apagão a este assunto, os lóbis é que ditam as leis.

Apagão em vésperas do 1º de Maio, uma estranha coincidência

É curioso notar que este apagão aconteceu três dias depois da data de 25 de Abril e três dias antes do 1º de Maio, dia de LUTA INTERNACIONALISTA dos trabalhadores de todo o mundo. Razão para muitas teorias da conspiração, mas a verdade é que quem está sob ataque são os assalariados e outros trabalhadores, que são precisamente aqueles que mais sofrem na pele os ataques da classe dos exploradores e de todos os males do seu sistema económico. Não querendo entrar pelo campo da especulação conspirativa, reconhecemos, no entanto, que este apagão e os que venham aconteceram poderão ser um teste por parte do poder globalista sobre o cidadão. Atemorizar para controlar, e viu-se pelos menos parte da população na corrida desenfreada e irracional por comida e por dinheiro.

Provou-se que, sem as redes a funcionar, sem electricidade, o cidadão fica como que desorientado, fica isolado e desarmado, que a ausência de dinheiro físico o pode conduzir à penúria e à fome. A manipulação pela rede pode ser uma arma, por exemplo, para o controlo da natalidade e redução da população, que alguns teóricos do globalismo (o outro nome do imperialismo) consideram que deve diminuir dos actuais 8 mil milhões de indivíduos para pouco mais de mil milhões, porque, no seu entender, muitos dos problemas que a humanidade enfrenta são devidos ao excesso de população e à insuficiência de recursos, escondendo que o problema está no capitalismo e que matar a fome ou resolver problemas de habitação ou de saúde a toda a gente não dá lucro.

No 1º de Maio não é apenas a luta por melhores condições de vida que está presente, mas, fundamentalmente, a luta pelo fim do capitalismo, o principal e único fautor do desemprego, da miséria e da guerra, para mais quando estamos perante a iminência de uma terceira guerra mundial. Os trabalhadores, os povos e todos os explorados do mundo terão de dar o apagão ao capitalismo – por uma terra sem amos!

Consultas:

- 13 de Dezembro de 1991: a sexta-feira negra da EDP.

- António Mexia e João Manso Neto acusados de corrupção.

- SIRESP, a história de uma parceria público-privada que custou mais do que parece merecer.

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