O grande capital norte-americano, representado
pela administração Trump, entende que deve ter uma parte maior do que aquela
que tem na distribuição do bolo da riqueza mundial e que a imposição de tarifas
sobre as importações é a única forma de vencer a crise de recessão dos lucros
em que se encontra mergulhado. E é com esta luta pela sobrevivência do
capitalismo como pano de fundo que se deve compreender o que se passa no nosso
país e as contradições que sobressaltam a doméstica burguesia, bem como as
de toda a União Europeia.
As eleições de 18 de Maio vão realizar-se
porque os partidos que representam os interesses de Bruxelas e das elites, cada
vez menos nacionais, não conseguem entender-se quanto à forma de manter viva a
fonte que os sustenta, a exploração dos que trabalham. É muito provável que que
nem um governo de maioria absoluta PSD/CDS tenha essa capacidade e se tenha de
passar para a musculação do actual regime, como se perspectiva
com o lançamento do almirante acéfalo a Belém, que, por sua vez, irá pôr os
partidos na devida ordem.
A oligarquia aposta em Montenegro e na AD
Pelas intervenções já conhecidas, ficamos a
saber que a oligarquia aposta, para já, num governo de maioria absoluta AD, uma
sigla que se mantem para enganar alguma classe média. Foi nesse sentido que se
pronunciou a CEO do grupo Sonae, que viu na queda do governo de Montenegro a
possível destruição de um rumo político que era do seu inteiro agrado. Não é
por acaso que o seu órgão de propaganda, o jornal “Público”, se esforça em
promover a coligação, bem como as televisões privadas, como a TVI/CNN (grupo
Media Capital do oligarca Mário Ferreira), no topo da propaganda, talvez também
por ser a que tem mais audiência. Seguem-se de perto os restantes grupos
privados, a CMTV/NOW (grupo Medialivre do oligarca Paulo Fernandes) e a SIC (do
oligarca, senador do regime e sócio nº1 do PSD, Pinto Balsemão) em
notório declínio e em falência económica. Os oligarcas limitam-se a
defender os seus interesses e utilizam os meios ao seu alcance.
Parece que os partidos do establishment, os
outros meios ao dispor da oligarquia, irão centrar o grosso do seu esforço de
endrominar o cidadão eleitor nos debates dos serões televisivos, após os
noticiários, porque se fosse a outra hora, muito provavelmente os candidatos
ficariam a falar para o boneco. Eles já começaram, logo seguidos dos
comentadores e paineleiros avençados que explicam aos portugueses ignaros o que
na realidade os intervenientes querem dizer, embora o não tenham dito. Os
propagandistas de serviço, qual deles o mais servil e zeloso, cortam e deturpam
as falas dos candidatos que não são da cor, achincalham-nos, num exercício vil
e despudorado, vale tudo. O que não deixa de ter como consequência a
desqualificação das próprias eleições. Vamos lá ver como vão ser as abstenções.
Não é novidade para ninguém que os partidos do
governo sempre estiveram em campanha eleitoral desde o dia 2 de Abril de 2024,
quando tomaram posse como governo; ou melhor, nunca deixaram de estar em
campanha com o objecto pouco dissimulado de virem a obter uma maioria absoluta
que lhes permita impor ao povo português as medidas celeradas que o grande
capital, com os bancos à cabeça, exige para debelar a crise, que prevê poder
vir a ser violenta e prolongada. Essa é a exigência de uma CCP (Confederação do
Comércio e Serviços de Portugal) que não quer perder o barco da exploração do
trabalho, ao organizar uma “reflexão” sobre os efeitos do designado Relatório
Draghi em Portugal, que mais não é que o programa do grande capital financeiro
representado em Bruxelas, para a gestão não só da economia dos países da União
Europeia como de todas as áreas da sociedade.
E quando o grande capital entra directamente
na gestão da coisa pública, sem intermediários, então, isso significa que a
democracia parlamentar faliu e será em breve substituída por um regime mais
autoritário, independentemente da forma que possa vir a revestir. É também
sinal de que a economia não vai assim tão bem, como o governo da AD e os seus
propagandistas pintam. A crise é bem visível, a Alemanha, o motor industrial da
Europa, está em pane há três anos consecutivos; e o CEO do maior fundo de
investimentos do mundo, Larry Fink, foi claro: «a maioria dos CEOs acredita que
os EUA já estão em recessão», se o dizem é porque é verdade. O que não quer
dizer que a burguesia esteja em risco de falência imediato, pese todo o
alarmismo relacionado com a queda das principais bolsas mundiais, incluindo o
provinciano PSI (Portuguese Stock Index), cujas empresas irão distribuir pelos
seus acionistas mais de 3 mil milhões de euros em dividendos este
ano.
O que está em causa é a continuidade dos
lucros, o aumentar constante dos lucros, e nada disto está garantido. A classe
dos capitalistas sente a insegurança e desconfiança quanto ao futuro, porque
sabe que o seu poder vem da expropriação do trabalho alheio, embora para já não
tenha razões de queixa: os 50 capitalistas mais ricos de Portugal possuem
fortunas que somam cerca de 45 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 17% do
PIB português; no topo 10 as fortunas somadas chegam aos 24,2 mil milhões. As
cinco famílias mais ricas são por ordem decrescente: herdeiras de Américo
Amorim, Fernanda, Paula, Marta e Luísa, uma fortuna avaliada em cerca de 5.400
milhões; família Guimarães de Mello, cuja fortuna cresceu, este ano, para 3.329
milhões de euros; família Soares dos Santos que têm uma fortuna de 2.942
milhões de euros; Nuno, Paulo e Cláudia Azevedo contam com uma avaliação de
2.383 milhões de euros; família Alves Ribeiro, com uma fortuna de 1,770 milhões
de euros. Esta gente aspira pelo fascismo caso necessário para salvar a
riqueza.
As famílias dos trabalhadores estão mais
pobres
Mas se uns estão bem, outros nem por isso. O
endividamento das famílias dos trabalhadores portugueses cresce ao ritmo mais
elevado dos últimos dois anos e meio, isto é, o nível de endividamento dos
particulares contabiliza crescimentos homólogos constantes, e em Janeiro
aumentou 4,2%, o valor mais elevado desde Junho de 2022 (da imprensa). A mão de
obra nacional continua a ser baratinha: enquanto os custos médios horários da
mão-de-obra na UE foram estimados em 33,5 euros, variando entre 10,6 euros na Bulgária
e 55,2 euros no Luxemburgo, em 2024, em Portugal foram estimados em 18,2
euros/hora, os décimos mais baratos. Mas ainda não satisfeitos, os capitalistas
nacionais querem pagar salários ainda mais baixos, daí defenderem a importação
massiva de trabalhadores migrantes, de preferência ilegais, por mais
vulneráveis e mais facilmente exploráveis. E o PS já se manifestou o seu
acordo, concordando com o PSD em relação à imigração, defendendo a documentação
como uma condição “indispensável”, num exercício de inteira hipocrisia já que
este governo, à semelhança do anterior, tudo faz para que a legalização seja
mera miragem. Não é por acidente que os serviços da AIMA não funcionam como os
imigrantes reclamam.
Nas sondagens frequente e à la carte que
são feitas quase diariamente para influenciar o sentido de voto, uma delas
indicou que a Saúde, a Habitação e a Educação devem ser os temas prioritários
na campanha eleitoral, e não a Segurança, ao contrário dos partidos da ordem
caceteira, onde se incluem os partidos do governo. Quanto ao primeiro tema,
estamos conversados, Montenegro e os seus capangas do PSD e CDS apostaram logo
de início no rápido desmantelamento do SNS e na entrega do filet
mignon (a parte mais lucrativa) aos diversos grupos privados, que
fazem da doença e da desgraça alheia a sua principal fonte de rendimento e de
existência. Enquanto o governo PS vai devagar e empata, o governo PSD/CDS vai
rápido temendo que o mundo acabe antes da tarefa terminada. Nenhum destes
partidos está interessado num Serviço (não “sistema”) Nacional de Saúde, por
definição, universal, geral e gratuito e que só o Estado está em condições de
garantir.
A área de obstetrícia e ginecologia está a ser
privatizada sem disfarces, o mesmo acontece com os cuidados primários (não é
coincidência que o número de pessoas sem médico de família subiu para as
1.593.802 no final de Março); meia dúzia de hospitais construídos com os
dinheiros públicos são para a gestão privada; todos os novos hospitais são para
ser construídos e geridos, como já o PS planeara, em regime de parceria público
privada (PPP). O SNS continuará a pagar mal aos profissionais de saúde para que
trabalhem no privado, mas por conta própria, e os que ainda se mantêm no
público que acumulem também com o privado para ali fazerem o que não fazem no
SNS, em clara intenção de sabotagem do SNS. Entretanto, as verbas gastas na
Saúde aumentam de orçamento para orçamento mas para comprar serviços mais caros
aos privados, num outsourcing onde administradores
hospitalares e políticos do governo vão buscar grossas comissões, em
despudorada e franca corrupção.
Quanto à Habitação, as propostas do PSD, CDS,
PS e mais partidos da defesa do capital não se distinguem muito umas das
outras. Resumem-se a: construir mais casas pelos privados, dar apoios às rendas
e à aquisição de habitação por parte dos jovens, numa clara política de
incentivo da especulação, quer nas rendas quer nos preço das habitações, com o
resultado sobejamente conhecido: "Portugal tem o 3.º maior aumento (11,6%)
dos preços e casas na União Europeia, no quarto trimestre de 2024"
(Eurostat). Se no país existem mais de 700 mil habitações devolutas, então, o
Estado deve tomar conta delas, arrendando ou vendendo a preços controladas.
Tomar posse administrativas das casas, no primeiro caso, ou expropriá-las, no
segundo caso, se pertencentes a bancos, grandes grupos económicos ou a
estrangeiros não residente em Portugal. A legislação actual permite estas
medidas, bastando para tal invocar o interesse público; coisa que nunca deixa
de ser feita quando é para extorquir o trabalhador ou o português mais pobre.
Ou então, como aconteceu logo a seguir ao 25 de Abril, “O povo ocupa as
casas!”.
O desempego e a luta dos trabalhadores irão
disparar
Não será preciso avançar por outros assuntos
que atormentam a vida dos cidadãos portugueses comuns, ou seja, os que para
viver precisam de trabalhar, para se perceber que estamos a assistir mais uma
vez a um circo em torno das eleições do próximo dia 18 de Maio. Nenhum partido
tem soluções, nomeadamente, para o desemprego, que se prevê galopante, porque
nenhum deles quer pôr fim a esta economia capitalista, e os despedimentos irão
disparar. O encerramento anunciado da Schmidt Light Metal, de Oliveira de
Azeméis, com 500 trabalhadores em risco de perderem o emprego, é um forte sinal
de que o exército de reserva engrossará rapidamente, e agora sem o escape da
emigração, porque o resto da Europa é também atravessado pela crise do excesso
de produção. Com a revolução 4.0, robótica e IA, cerca de 30% da mão-de-obra actual
será rapidamente descartada e o desemprego será incontornável. Aos desempregados
que já existem juntar-se-ão mais de 1,5 milhões de novos desempregados, uma
realidade assustadora que obrigou o almirante vir botar faladura sobre o tema
ainda há pouco.
É a crise económica que leva à guerra inter-imperialista,
capitalismo é sempre sinónimo de guerra, nunca estivemos tão perto como agora
de uma terceira guerra mundial, e os trabalhadores devem preparar-se para a
guerra mas contra o capital. São os proletários, os desempregados, os
portugueses mais pobres e todos os trabalhadores migrantes, a lutar contra os
fascismos e os almirantes, que se prepararam para calcar o povo português a fim
de salvar a oligarquia parasitária. Então, um novo 25 de Abril, sem cravos, é
possível por necessário para derrubar a ordem estabelecida.
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