Escrito em Abril de 2020, começava a campanha da pandemia, mantém a pertinência em tempo de outra campanha, a eleitoral, tipo banha da cobra, a que iremos assistir mais uma vez e por umas largas semanas.
Não tenhamos dúvidas que, depois da passada
esta pandemia, iremos defrontar-nos com um SNS ainda mais degradado, com
continuada falta de material, mas principalmente como menos trabalhadores, mais
do que exaustos, completamente desmotivados, e que rapidamente será
substituído por um “Sistema” Nacional de Saúde, onde os privados
terão um maior protagonismo; o que tem sido, diga-se de passagem, uma
reivindicação de quem andou até agora a parasitar e a sabotar o SNS, e sempre
com a colaboração activa dos governos do PS e do PSD e das administrações
hospitalares por si nomeadas.
Coronavírus, um bom negócio para os
privados da Saúde
Esta pandemia pelo coronavírus tem servido
como óptima oportunidade de obtenção de maiores lucros, nunca imaginados, por
parte do sector privado, seja através de dinheiro extorquido directamente ao
cidadão, seja ao Estado através de serviços que este já não conseguirá fazer
por ter colocado o SNS no osso. São os laboratórios de meios complementares de
análise, que têm ganho uma média de 2,6 milhões de euros por dia, só por testes
ao coronavírus; são os hospitais de propriedade maioritariamente privada, Hospital
da Cruz Vermelha, arrendados pelo Estado; são as Misericórdias e exigir mais
dinheiro, uma fonte inesgotável de financiamento da Igreja Católica com fundos
públicos; é a continuação das PPP, com a do Hospital de Cascais à frente; são
os grupos privados a salivar para tratar dos doentes que o SNS vai ter de
abandonar para atender aos infectados pelo SARS-CoV-2. Vai ser um fartar
vilanagem!
O exemplo do encerramento do hospital do SAMS,
com o despedimento dos funcionários durante um mês, mas que tudo indica que
será definitivamente, mostra que no sector privado da Saúde haverá uma
reconversão capitalista no sentido de uma maior rentabilidade, ficando mais uma
vez demonstrado que a Saúde, para os privados, é um negócio como qualquer
outro. O Hospital da Cruz Vermelha, agora gerido pelo ex-director da DGS,
reformado com uma aposentação de mais de 4900 euros, já foi arrendado pelo
Estado para tratamento exclusivo de doentes por coronavírus. Hospital que é
arrendado e não requisitado, porque o estado de emergência é somente para os
trabalhadores, muitos dos quais irão ficar no desemprego logo que seja passada
a pandemia.
Este hospital, de maioria
accionista privada (55%), não possui condições para receber este tipo de
doentes, e tem tido muitos milhões de euros de prejuízo, tendo sido essa a
verdadeira razão do negócio, para mais facilitado pela pessoa que agora o dirige.
Se os hospitais do SNS vêem diminuir a ocorrência às urgências em cerca de 30%,
esta não deixa de ser uma boa oportunidade dos privados se chegarem à frente
para fazer o que o SNS de momento não consegue, consultas, cirurgias, etc., por
estar a atender os doentes por SARS-CoV-2.
Torna-se cada vez mais claro e evidente que a
principal preocupação do Governo e dos seus agentes locais, para além dar
dinheiro às empresas (e não será a todas, as maiores e os bancos ficarão sempre
a ganhar), é sobretudo poupar o mais que puderem quando se trata dos
trabalhadores do SNS. O mesmo se passa quando se trata dos meios materiais para
combater o coronavírus, e simultaneamente continuar a manter o SNS a funcionar
com excelência de qualidade e de eficiência, porque, não nos esqueçamos,
continua a haver outros doentes.
Voluntariado para ministros, deputados e
familiares directos
O Estado/Governo não quer gastar dinheiro com
a saúde dos seus funcionários e chega ao desplante de uma ministra da Saúde,
expressão concentrada da chico-espertice e da incompetência, vir à televisão
clamar aos portugueses para se voluntariar, aproveitando-se da emoção
(principalmente do medo) criada pela situação, ou seja, para que trabalhem à
borla, em vez de contratar os médicos, enfermeiros e assistentes operacionais
em falta. Esperamos que, nesta questão, a ministra e os seus familiares mais
directos dêem o exemplo e, já agora, os seus colegas do Governo façam o mesmo.
Os deputados poderão também dar uma mãozinha já que a Assembleia da República
reúne só uma vez por semana e com 20% do quórum.
Todos os detentores de cargos políticos,
incluindo administradores hospitalares, devem contribuir com 50% do
vencimento para um fundo de combate ao SARS-CoV-2
Mas não é só o problema de falta de pessoal,
parece que o Governo se debate com falta de meios financeiros, porque só assim
se compreende que a administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL),
reconhecendo a “falta de equipamentos e de produtos”, tenha vindo a terreiro
“convidar” cidadãos e empresas, embora dizendo que a iniciativa terá sido de
alguns deles, a contribuir com donativos para “conta específica” bancária. Em
relação a esta questão até apoiamos a proposta apresentada por ministro
italiano de todos os deputados de suspenderem o seu salário, enquanto a
pandemia perdurar, para ajudar as finanças públicas, algum tempo antes, houve
deputados, senão estamos em erro, que já tinham proposto a doação de 50% do
salário.
Mas ainda vamos mais longe: todos os políticos
com cargos de governação ou de administração pública, contribuam com metade do
salário para aquela conta, o que seria um bom exemplo para o país, à semelhança
do voluntariado. Não deixa de ser pertinente recordar que o o país está ainda
bem lembrado do verdadeiro destino dos dinheiros sacados à generosidade do povo
e que em princípio seriam para ajudar as vítimas do incêndio de Pedrogão Grande
em 2017. Aos ministros se poderiam juntar os administradores hospitalares que,
durante o tempo da troika, e ao contrário dos funcionários públicos em geral,
não se viram privados dos subsídios de férias e de natal. Os bancos que foram
resgatados com dinheiros públicos e que têm estado a ganhar muitos
milhões com a dívida pública nacional devem contribuir com 10% dos lucros
líquidos (em 2019, os bancos tiveram lucros de 2,4 milhões de euros por dia), o
que não é muito atendendo a que a percentagem dos lucros que não está sujeita a
imposto é bem maior.
A solidariedade deve começar por cima e por
aqueles que têm mais dinheiro!
01 de Abril 2020
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