quinta-feira, 14 de maio de 2020

Os impostos que a burguesia não quer pagar e o povo cada vez mais pobre


Vasco Gargalo in facebook

Faz título de jornal que “a carga fiscal em 2019 mantém-se em 34,8% do PIB”, isto é, não aumentou desde 2018, embora seja a maior carga fiscal ocorrida nas duas últimas décadas; e ainda muito antes de publicada esta estatística do INE, já a burguesia, especialmente pela voz dos seus representantes mais retrógrados e reaccionários, iniciara uma campanha contra a “pesada carga fiscal”, escamoteando que os impostos que vai pagando estão muito abaixo dos impostos que os povo português é obrigado a pagar e a não bufar: a receita relativa ao IRS cresceu 267,5 milhões de euros (+2%), enquanto a receita referente ao IRC encolheu 2,9%, e a subida do IRS deveu-se essencialmente ao aumento do imposto sobre os rendimentos dos empregados e pensões (+4%), porque o IRS sobre rendimentos de capitais diminuiu 20,7%, já que a maior parte destes rendimentos são taxados em sede de outros impostos mais favoráveis aos capitalistas; e o IRS representa 65,1% do total dos impostos directos. O IVA é de todos os impostos o mais injusto porque tributa de igual modo tanto ricos como pobres, tendo registado uma subida de 7%, mais 1,17 mil milhões de euros em relação a 2018, representando cerca de 39% dos mais de 46 mil milhões de euros que o Estado terá extorquido em termos líquidos. Os capitalistas indígenas e os seus rufias nos partidos mais à direita escondem também que Portugal está abaixo da linha média de pagamento de impostos, entre os 28 Estados-membros da UE foi o décimo com menor carga fiscal, porque os patrões pagam poucos impostos e se pudessem não pagariam nenhuns e até teriam os trabalhadores a trabalhar à borla.

Contudo, as nossas elites, não satisfeitas vão destilando propaganda, por natureza, enganadora, reclamando constantemente mais baixa de impostos e de TSU, para além de financiamento directo do Estado a fundo perdido, e não é só a CIP e o seu abastardado chefe, como também agora, invocando a crise pandémica e não pandémica, os empresários da restauração e hotelaria. Esta gente esquece-se ou não quer saber que no Estado que temos os impostos são a principal fonte de receitas públicas, com as quais o Governo, que gere o o Estado, vai suportando as despesas com a Saúde, Educação ou infra-estruturas públicas, etc., demostrando-se mais uma vez e em tempo de pandemia que é ainda o SNS, e apesar de todos os ataques que tem sofrido, o principal instrumento na defesa da saúde pública. E se os patrões não pagarem impostos, terão de ser os trabalhadores a pagar a parte que ainda lhes vai calhando, e há empresas que neste momento ou pagam só uma parte dos impostos que deviam pagar, por exemplo, os bancos cujos lucros só parcialmente são taxados, ou os grandes fundos de investimento cujos impostos são quase nulos, ou as empresas nacionais, todas as do PSI-20, que nem sequer pagam impostos em Portugal, indo entregá-los na Holanda ou em outros paraísos fiscais. Quando se houve um Chega e o seu troglodita chefe barafustar que "os portugueses" pagam muitos impostos tem apenas em mente não os interesses dos trabalhadores portugueses, esses, sim, é que são esmifrados, mas os interesses de toda a burguesia e, em particular, de quem o promove e financia, o Grupo Cofina, pertencente ao oligarca Paulo Fernandes que tudo tem feito para não pagar a dívida de 13,5 milhões de euros (Cofina Media) ao Fisco e à Segurança Social e que, apesar de ter aderido ao PERES, já terá prescrito ou sido perdoada. A primeira medida que Macron e Trump tomaram mal ocuparam a cadeira do poder foi acabar praticamente com os impostos pagos pelos patrões das grandes empresas.

Em altura de comemoração dos 75 anos da vitória sobre o nazismo, pelas tropas aliadas mas essencialmente pela esforço heróico do exército vermelho e sacrifício do povo soviético, cujas baixas foram mais de metade de todas as provocadas pela barbárie hitleriana (um produto made in Germany, coisa que não devemos esquecer), devemos ter bem patente que todos os agora denominados “populismos” são arroubos do grande capital que entra directamente em cena como última hipótese de dar solução à crise profunda e arrastada do seu modelo económico assente na exploração do trabalho assalariado. CDS, parte do PSD, e, mais recentemente, Chega e Iniciativa Liberal, são expressões de projectos, ainda em lume brando, do grande capital a fim de aumentar a exploração dos trabalhadores e do povo português, não havendo outro objectivo. No entanto, para angariar apoios, os neo-nazis encapuçados de democratas dirigem-se aos sentimentos e preocupações mais imediatas de franjas do eleitorado, por vezes, mais humildes, mas mais despolitizadas e até abandonadas pelo partidos que se arvoram de esquerda. No discurso desta gente, e é ver os perfis nas redes sociais, alguns eventualmente falsos, a juntar à propaganda de “pagar menos impostos”, é o incitamento ao ódio contra o “outro” que é diferente (e mais pobre), seja cigano ou imigrante, ou o reivindicar da introdução da pena de morte ou da prisão perpétua por crimes que são em parte produto da miséria e da falta de protecção social (caso recente da morte da criança de Peniche) por parte do Estado, que só se preocupa com os lucros das empresas e o enriquecimento dos capitalistas, ou seja, aqueles interesses que os partidos e os trastes de extrema-direita servem, embora dando a entender o contrário.

Se os impostos destapam e, até certo ponto, agravam as diferenças sociais em países como Portugal, apesar da razão da sua existência dever ser o corrigir de eventuais desigualdades sociais e económicas, segundo dizem, as epidemias, como aquela que agora está acontecer entre nós, ainda mais agravam a situação de pobreza, por um lado, e fazem aumentar o enriquecimento e concentração de capital, pelo outro. Ao contrário do que toda a imprensa de referência andou, e ainda anda, a propagandear, os vírus, e muito menos o coronavírus, não afectam da mesma maneira a população e nem “todos estamos no mesmo barco”, pelos impostos que pagamos e pelo que sofremos com a doença. E os números, como sói dizer-se, “não enganam”: «os concelhos com maiores taxas de desemprego e maiores desigualdades de rendimento são aqueles que têm maior número acumulado de casos de Covid-19; a doença “não se apresenta como uma ameaça igual para todos”, sublinham os autores do Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública». E mais: “uma em cada quatro das pessoas que ganham menos de 650 euros mensais diz ter perdido totalmente o rendimento, enquanto no conjunto dos que ganham mais 2500 euros isso aconteceu apenas em 6% dos casos”; precisamente ao contrário do que afirma um merdas que dá por nome de Carlos Costa, governador (representante do BCE) do Banco de Portugal, que a pandemia tem um impacto maior nas famílias com rendimentos do trabalho mais elevados. E mesmo em relação à saúde: “o fenómeno das desigualdades pode exacerbar as vulnerabilidades” previamente existentes, ou seja, as consequências podem revelar-se mais negativas para pessoas em situação à partida mais precária, avisam peritos que assinam o estudo A pandemia não é igual para todos, porque, continuam, «já se sabe que “a saúde piora a cada degrau que se desce na hierarquia” social; a pandemia de Covid-19 não será excepção, desde logo as condições sócio-económicas podem ter uma influência significativa no risco de infecção, mas o mesmo pode acontecer no diagnóstico, no tratamento e até na sobrevivência». Como nem somos todos iguais nem estamos no mesmo barco e, como disse alguém, “estamos no mesmo mar, uns em iates de luxo, nós outros na água a tentar nadar!”

Se a precariedade no trabalho, a remuneração baixa e a dificuldade de acesso a apoios sociais podem “impedir que as pessoas se resguardem mais nas suas habitações para se protegerem do vírus”, e nem todos os trabalhadores podem estar em teletrabalho, são factores acrescidos de risco; o risco também aumenta quando as condições de vida são piores, quando as “pessoas vivem em bairros onde existe uma maior densidade populacional e utilizam transportes públicos mais lotados” (do estudo). Como são factores de risco trabalhar em fábricas sem condições e com patrões esclavagistas, a exemplo dos trabalhadores que andaram infectados durante mais de quinze dias em fábrica da Azambuja. Factos estes que pouco ou nada preocupam os que se indignaram com a manifestação na rua do 1º de Maio (diga-se de passagem, organizada timidamente pela CGTP), e que, à pala da indignação por algumas medidas do PS e da situação de abandono dos trabalhadores, tentam pescar nas águas turvas do populismo (número onde se pode incluir um merdoso MST que aproveita a sua posição de paineleiro e cronista do reino televisivo de bolsar alarvidades contras os trabalhadores e o 1º de Maio). Esta gente utiliza a mentira e a demagogia e quando se sentem atacados e desmascarados armam-se em vítimas, como aconteceu com os apaniguados do Chega depois de serem apanhados na deturpação dos resultados de sondagem realizada pela Pitágora & Sondagens PT que daria o 3º lugar àquele partido neo-nazi-polícia no distrito de Lisboa. A intenção da burguesia é a de intensificar a repressão sobre os trabalhadores caso estes se revoltem, não aceitem os estados de emergência e os confinamentos, e as medidas de austeridade, já presentes com o aumento do desemprego (mais 75 mil pessoas nos centros de emprego em Abril, comparado com igual mês de 2019) e da redução dos salários por força do lay-off, mas que aumentarão substancialmente a seguir ao dito desconfinamento.

Não é por mera coincidência nem por acaso que o governo de direita de Macron prolongou o estado de emergência sanitária até ao dia 10 de Julho, com a responsabilização criminal dos funcionários públicos pelos contágios que possam ocorrer durante o desconfinamento, não conseguindo ver aprovado o controlo dos cidadãos por aplicação de telemóvel (será apenas por registos médicos que serão destruídos passados três meses). Se não tivesse sido a providencial pandemia da Covid-19, nem Macron teria conseguido acabar com as manifestações dos coletes amarelos nem o ditador eleito Piñera, no Chile, tinha amainado as constantes e cada vez mais determinadas manifestações pelo seu derrube e por reformas políticas e económicas que não chegaram a ser feitas após a ditadura de Pinochet. Na mesma linha se encontra o Governo PS/Costa, que não consegue disfarçar a sua qualidade de agente de negócios dos capitalistas que por cá pululam, são diários os acontecimentos que põem a nu essa evidência. Agora, foi o aparente desconhecimento de Costa sobre a autorização dada pelo seu ministro das Finanças para entrega de 850 milhões de euros ao Novo Banco via Fundo de Resolução (banco com um prejuízo superior a mil milhões de euros em 2019 e cujos administradores receberam 2,3 milhões de euros em vencimentos e esperam por um bónus de 2 milhões em 2021, e fazem contratações de centenas de milhar de euros) quando foi interpelado na Assembleia da República sobre o assunto, tendo sido categórico a afirmar que isso só aconteceria após o resultado da auditoria que entretanto se estava a fazer; claro que ninguém acredita em tal patranha! Facilmente se percebe que a pandemia apenas colocou o descontentamento e a subsequente revolta social em quarentena, provisória e temporária, que depressa e quando menos se esperar irá irromper com mais violência, pela simples razão de que as causas que lhe subjazem terão aumentado em termos exponenciais.

Aguarda-se por novos surtos da pandemia... assim como pela revolução que seguirá dentro de momentos

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