Antes
do deflagrar da Primeira Guerra Mundial, todas as principais potências
desejavam a guerra e preparavam-se afincadamente para o conflito, ao mesmo
tempo que se desdobravam em declarações de paz; esperava-se apenas um pretexto
e o pretexto foi o assassínio do arquiduque herdeiro do trono austríaco por um
militante anarquista. A Segunda Guerra seguiu um guião semelhante, mas com
menos rodeios. A causa última foi a crise profunda e insolúvel do capitalismo
que, recorrendo à guerra, pode assim voltar a reconstruir a sua acumulação e
elevar a taxa de lucro. Resolve, também e de uma penada, o excesso de forças de
produção que não consegue controlar, o desemprego é resolvido pela mobilização
e serviço militar obrigatório e pelo esforço produtivo de guerra. No tempo
actual, parece que todos estão à espera da menor faúlha para incendiar a Europa
e o mundo.
Antes
da guerra já se experimentou a pandemia da covid-19, uma outra forma de guerra
não sobre o vírus, mas contra os trabalhadores através dos confinamentos e
estados de emergência. Igualmente um pretexto para explicar a crise e desculpar
as políticas de austeridade sobre quem trabalha. Contudo, pelo que se está a
ver, não foi suficiente e uma guerra a sério parece ser inevitável, só que
ninguém quer ser acusado de ter sido o primeiro a premir o gatilho. As guerras
são sempre a continuação da política por outros meios e ambas as partes não vêm
outra saída para resolver não só a crise, mas também o problema da divisão do
saque e das zonas de influência. Na Europa é o controlo dos recursos e a
exploração da força de trabalho que se encontra em cima da mesa. Uns EUA
decadentes que querem, por uma só cajadada, encurralar e enfraquecer a Rússia,
o inimigo eternamente odiado, e controlar uma Europa dependente do gás natural
e que jamais poderá ser uma rival na disputa económica. É no meio desta guerra
que nos encontramos.
A
crise é a crise do capitalismo
O
ano começou, em continuidade agravada do ano anterior, com o aumento inusitado
dos preços da energia e que, por sua vez, irá agravar ainda mais o preço de
todos os produtos necessários à vida das pessoas. Por exemplo, a gasolina em
Portugal é 8ª mais cara da Europa, leva 8,3% do salário médio. Se este aumento,
explicado oficialmente de forma enviesada, tem como objectivo incentivar a
passagem para os carros eléctricos, serve de igual modo para justificar o
aumento dos preços na produção industrial, que foram de 17,9% no mês de Janeiro
(aumento homólogo), e o gás das botijas aumentou no ano passado cinco vezes
mais do que a inflação, cuja real dimensão é sempre ocultada pelo governo.
Factores que são apontados para explicar a queda de produção industrial em
Portugal, que foi de 0,2%, e de quase estagnação na zona euro, onde não
ultrapassou os 2,5% no mês de Dezembro. Na ponta da cadeia encontra-se o
capitalismo com as suas contradições insanáveis.
Olhando
com um pouco mais de atenção, verifica-se que: se os capitalistas querem
aumentar os seus lucros fazendo subir os preços, o povo consumidor, não vendo
os seus salários aumentados na mesma ordem, irá forçosamente consumir menos e o
mercado diminui. Ao virem dizer que as vendas de automóveis na UE tiveram “o
pior arranque do ano de sempre”, estão a confirmar uma verdade que pretendem
esconder como uma das razões das crises do capitalismo. Esta é uma das
contradições da economia dita de mercado, se não há mercado, então, a produção
terá de diminuir, porque nenhum capitalista tem as fábricas a produzir para o
armazém, e desse jeito os lucros diminuirão e o capitalismo arrisca-se a
implodir na justa medida em que o seu élan vital, a energia mística da
acumulação sem limites, já não se pode realizar. A forma de ultrapassar este
escolho, o capitalismo teve, como necessidade de sobrevivência, de inundar
todas as áreas da actividade humana, não só a estritamente económica, chegando
ao dilema, que é o que acontece no tempo actual, não haver mais nada para
capitalizar e globalizar. Assim, a guerra torna-se inevitável.
Para
concretizar esta ânsia do lucro, do crescimento do PIB (leia-se aumento sem limite
dos lucros dos capitalistas), a burguesia não hesita em ser a primeira a
desrespeitar as leis que ela própria cria. Diversos e inúmeros exemplos
acontecem, o mais recente foi a trapalhada, montada intencionalmente, diga-se
de passagem, da mistura dos votos com e sem identificação no círculo eleitoral
da Europa, aliás, cuja contagem não irá alterar o arranjo dos partidos na
Assembleia da República. Questão que há muito poderia estar resolvida caso
houvesse interesse por parte dos dois principais partidos do regime. Veio a
calhar, principalmente para o PS que assim pode estar a governar em modo de
decreto durante mais dois meses, embora, e de forma hipócrita, venha dizer que
até vai decidir apenas sobre “questões urgentes”, como o combate à seca
(alterações climáticas) e à pandemia, os dois principais mantras da agenda
política e que encobrem a recapitalização da economia falida – o reset de que
se fala. Será uma questão de vida ou de morte para o sistema de exploração que
tenta contar, outra vez, com a adesão dos próprios explorados, apesar dos dois
parceiros, BE e PCP, estarem ainda amuados devido à infidelidade de Costa.
Apoios
estatais às grandes empresas e empobrecimento do povo
A
coberto do combate à pandemia, o governo tratou de dar algum ânimo à anémica e
arruinada economia nacional com cerca de 7 mil milhões de euros, continuando agora
com mais “verbas do apoio à família”, ou seja, vai pagar a 81 mil empresas (uma
questão urgente!) 5,7 milhões de euros através da Segurança Social, que já tem
um buraco de mais de 600 milhões de euros, porque o governo PS, obedecendo às receitas
impostas por Bruxelas, entendeu financiar os capitalistas com os dinheiros dos
descontos dos trabalhadores. No entanto, suspendeu o apoio covid-19 aos
trabalhadores desempregados e às famílias pobres (cerca de 120 mil), apoiadas
pela Segurança Social, que se viram cortadas de produtos essenciais nos cabazes
alimentares, peixe, leite, azeite, arroz, por exemplo. E em contra-partida, a
outra face da moeda, o valor das prestações de desemprego, dinheiro que
não vem do Orçamento de Estado, mas dos trabalhadores, é em regra demasiado
baixo, inclusivamente abaixo do limiar da pobreza, 534 vs 554 euros por mês; e
metade das mulheres desempregadas não recebe qualquer prestação social, numa
situação de duplamente exploradas e humilhadas. E o “apoio às rendas só foi
concedido a um terço das famílias que o pediram”. O empobrecimento do povo é
iniludível.
O
primeiro-ministro «não quis ouvir» pequenos e médios empresários, acusação
vinda do lado da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas
(CPPME), que representará 99,6% do tecido económico nacional, e que não será
também uma questão urgente, no entanto vai ouvindo as grandes empresas e de
preferência de capital estrangeiro. A refinaria de Matosinhos irá dar lugar à
cidade da inovação ligada às "energias do futuro", na linha também
definida por Bruxelas e pelo grande capital financeiro internacional, enquanto
as centrais termo-eléctricas de Sines e Pego foram encerradas, com os lucros da
Galp a subirem para 152,8 milhões no quarto trimestre do ano passado. Os lucros
da EDP Renováveis aumentaram 18%, em 2021, para 657 milhões de euros e que irão
ser distribuídos pelos respectivos acionistas. Ficou-se a saber, depois dos
três maiores bancos privados a operar em Portugal de capital maioritariamente
espanhol apresentaram muitos milhões de lucro, que o banco público teve lucros
de 583 milhões de euros, aumento de 18,7%, à custa da subida das comissões
cobradas aos clientes, ao mesmo tempo que recusa aumentos decentes aos
trabalhadores, fundamentando a extorsão pela necessidade de... pagar os
salários aos trabalhadores, num cinismo que nada fica a dever ao do governo,
que empobrece o povo, empurra as pequenas empresas para a falência e recapitaliza as grandes.
A
estagnação económica da Europa cria condições para a guerra
Os
sinais da estagnação da economia capitalista são mais que óbvios, de nada
valendo as perspectivas e os palpites mais que optimistas, dos ditos
responsáveis nacionais e europeus, quanto ao crescimento para os próximos dois
anos: o PIB da zona euro cresceu 0,3% no último trimestre de 2021; as, já
citadas, fracas vendas de automóveis na União Europeia; as principais bolsas
europeias no vermelho, com especial destaque para a de Lisboa, e que são formas
fraudulentas dos capitalistas financiaram as sua empresas e eles próprios,
beneficiando, caso de Portugal, de quase completa isenção fiscal. Transferindo
as dívidas particulares para a esfera pública, o próprio estado corre o sério
risco de um dia destes (a Argentina infelizmente está a dar pela segunda vez o
lamentável exemplo) entrar também em falência. Como curiosidade, o impacto
directo das medidas do putativo combate à pandemia (justifica tudo e mais
alguma coisa) nas contas públicas aumentou 1119 milhões de euros em 2021,
quando comparado com o valor registado em 2020 (da imprensa). Os dinheiros do
PRR de pouco ou nada valerão para o estado ou para as pequenas empresas, será
canalizada para as grandes empresas e para enriquecimento das clientelas
políticas.
Enquanto
esmifra o povo trabalhador e contribuinte, o governo PS, que à semelhança da
pescada, antes de o ser já era absoluto, vai governando em modo de decreto, ou
seja, sem haver Assembleia da República sequer, aprovando centrais solares em
montados autorizando o corte de sobreiros, serão 1079 sobreiros e 4 azinheiras
cortados no concelho do Gavião, para a construção de mais uma central
fotovoltaica, assim como uma outra em Penamacor, com o abate de 54 sobreiros e
de 395 azinheiras, perante o silêncio dos restantes partidos e as lamúrias
inúteis das ditas organizações ambientais financiadas... pelo governo. O país
encontra-se a saque e em franca e rápida transformação sob domínio colonial, a
favor de Bruxelas e dos grandes grupos económicos, limitando-se a fornecer
mão-de-obra jovem e qualificada e de matérias primas, com o dito “ouro branco”
em cena e pelo qual anda muita boa gente do burgo a babar-se no desejo de
enriquecer fácil e rapidamente. São os políticos que entram na intermediação e
alguns empresários nacionais chico-espertos, para além das empresas estrangeiras
que irão fazer a exploração: a empresa Lusorecursos propõe entregar a
Montalegre 0,5% dos lucros da mina de lítio; a corrupção é uma velha tradição
que deve ser mantida. O povo que se dane.
O
capitalismo é a guerra
Uma
eventual revolta do povo, que vai despertando em lutas pontuais, pelo menos
para já com a luta contra a exploração do lítio, esta sinónimo de destruição do
meio ambiente e aumento da exploração do povo português. As lutas no horizonte
fazem pensar a burguesia e levam-na a encontrar meios mais sofisticados de
repressão. As consequências da exploração do lítio são facilmente previsíveis,
basta olhar para o outro caso, o do tão propalado “ouro verde”, estando agora
todos nós, povo português, a pagar com a exaustão dos solos devido à
eucalipalização quase total do país, aumento dos períodos de seca e dos
incêndios; estes, por sua vez, um grande negócio para alguns oportunistas da
nossa praça e potenciadores da desertificação. Para que a exploração e a
destruição dos nossos recursos naturais possa ser concretizada, não deixando o
capitalismo por mãos alheias as suas credenciais de economia predadora seja
qual for a cor com que se reveste, a repressão vai-se afiando e experimentando:
"É nefasto chamar terrorismo ao caso do João e não à violência de
extrema-direita", diz a investigadora de psicologia social na área do
terrorismo e na prevenção da radicalização, Cátia Moreira de Carvalho. A partir
de agora é preciso ter cuidado porque qualquer cidadão mais perturbado ou
descuidado pode ser considerado um perigoso terrorista ainda antes de cometer
qualquer acto terrorista, nem será necessário vir a agência de terror
norte-americana FBI apontar o dedo, é a entrada em vigor do famoso “relatório
minoritário” e que há muito deixou de ser ficção cinematográfica.
A
seguir ao medo imposto pela pandemia, vem agora o medo suscitado pelo
terrorismo, mesmo que este não chegue a acontecer, basta mencioná-lo. Com a
população amedrontada e intimidada é fácil fazê-la aceitar medidas mais
repressivas e mais restrições das liberdades e direitos dos cidadãos. A repressão
exercida pelo estado é uma repressão de uma classe sobre outras e, assim, é de
certa forma arriscado afirmar que o estado português é um estado democrático e
de direito, quanto muito será qb; isto é, quando dá jeito e à medida do
interesse da clique dominante. São as eleições a terem de ser repetidas, dando
bem a imagem de que esta democracia e estas liberdades possuem igualmente um
cunho de classe: democracia e liberdade para os ricos e poderosos e limitação
ou falta delas para os trabalhadores e os pobres. É uma democracia cuja
liberdade do cidadão se resume a enfiar o voto/cheque em branco de vez em
quando, para que a sua exploração seja garantida por mais uns tempos e
policiada pelos governantes/funcionários de turno. Não sendo isto suficiente, o
governo do PS/Costa, fazendo jus à tradição dos partidos “socialistas” e
sociais-democratas, quer enfiar o povo português numa guerra inter-imperialista,
que agora se desenha na Europa e que irá acontecer mais cedo ou mais tarde:
Portugal poderá enviar 619 efectivos para países da NATO na fronteira com a
Ucrânia.
A história da humanidade sempre foi a história da luta entre as classes, e a guerra é o estado natural do capitalismo. A guerra, passe o horror e a incredulidade da pequena-burguesia, está sempre presente em capitalismo e inevitável em imperialismo, o capitalismo globalizado. O povo português não deve deixar-se arrastar no enfileirar por um dos lados, deve recusar ser carne para canhão na guerra inter-imperialista e exigir que o país saia da Nato, que esta organização, criada pelos EUA para dominar a Europa e atacar a antiga URSS, deve retirar todas as instalações e armamento que possua em Portugal. A solidariedade é com todos os povos europeus e do mundo – não com o governo fascista de Kiev, como defende o governo lacaio PS/Costa. A Europa dos povos deve também exigir a retirada de todas as tropas e armamentos, nomeadamente nucleares, americanos estacionados no continente – os EUA ficam do outro lado do Atlântico. A guerra do povo contra esta guerra e os seus agentes é o único meio de a esconjurar. A guerra imperialista, a acontecer, irá inevitavelmente despoletar a revolução proletária e dos povos. Estamos em guerra, é a realidade.
19 de Fevereiro
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