domingo, 20 de fevereiro de 2022

ANTÓNIO ALEIXO

 

Em tempo da mentira e da manipulação: pandemia, alterações climáticas, guerra na Ucrânia e o que mais está para vir...

Quadras da mentira e da verdade

P'ra mentira ser segura

e atingir profundidade,

tem que trazer à mistura

qualquer coisa de verdade.

 

Mentiu com habilidade,

fez quantas mentiras quis;

agora fala verdade

ninguém crê no que ele diz.

 

Gosto do preto no branco,

como costumam dizer:

antes perder por ser franco

que ganhar por não ser.

 

Julgando um dever cumprir,

Sem descer no meu critério,

- Digo verdades a rir

Aos que me mentem a sério!

*

 Não Creio nesse Deus

I
Não sei se és parvo se és inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.

II
Não vês que o teu bem-estar faz d'outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p'ra ti o céu e a terra..
— Não te achas egoísta ou exigente?

III
Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P'ra o homem conseguir o que deseja.

IV
Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?...
P'ra esses é o céu; porque o inferno
É p'ra quem vive a vida à custa alheia!

 *

A Torpe Sociedade onde Nasci

I
Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.

II
Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!

III
Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...

IV
E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!

V
Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte...


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