Crónica escrita em 2012 sobre o senhor
Silva e o seu governo PSD/PP
Não era novidade nenhuma que, em Portugal, são
os cidadãos mais pobres que arcam com os sacrifícios advindos das políticas de
austeridade impostas por este e pelo anterior governo: “os pobres que paguem a
crise!” é a consigna da classe dominante nacional. Não é preciso nenhum estudo
da Comissão Europeia para sabermos que as nossas elites, em todos os momentos
da história, fugiram a pagar o preço da factura da salvação do país e que a
hipocrisia de presidentes da república nunca convenceu.
O senhor Silva pelas repetidas “preocupações”
com a “equidade” da distribuição dos sacrifícios (um dos principais
financiadores da sua campanha eleitoral acaba de deslocar a sede social das
suas empresas para a Holanda para não pagar impostos ao estado português) e
pelos “esquecimentos” de enviar para o Tribunal Constitucional as propostas das
medidas mais celeradas apresentadas pelo governo, como aconteceu agora com o
Orçamento de Estado 2012 que impõe cortes nos subsídios de férias e de natal
para funcionários públicos e pensionistas, são razões mais que suficientes para
apresentar a sua demissão. Vendo bem a demissão de Cavaco cada vez mais se
confunde com a demissão deste governo fascista.
As medidas de austeridade tomadas pelo Governo
português, segundo o relatório da Comissão Europeia, para além de estarem
distribuídas de forma desigual entre ricos e pobres, fizeram subir o risco de
pobreza, particularmente entre idosos e jovens. Assim. Portugal "é o único
país com uma distribuição claramente regressiva", ou seja, em que os
pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Por
exemplo: nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu
um corte de 9%, ao passo que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do
rendimento disponível. Portugal é o único país em que "a percentagem do
corte é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos
restantes". A Grécia, que tem tido repetidos pacotes de austeridade,
apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados.
No entanto, a selecção portuguesa de futebol
será aquela que mais vai gastar em alojamento diário das suas estrelas, no
próximo europeu de futebol: 33174 euros por noite. A título de curiosidade, no
extremo oposto, a selecção da Espanha, campeã mundial, vai gastar o mais baixo
preço por diária: 4700 euros. Alheios às imposições da Troika, os dirigentes
federativos portugueses decidiram atingir desde já o topo em gastos numa clara
manifestação de desprezo pelo povo que é espremido até mais não puder… tudo a bem
da Nação.
A situação do povo português é dramática,
segundo dados oficiais, 20% da população está “em risco de pobreza”, ou melhor
dizendo, é mesmo pobre. Mas raramente se diz que se não fossem as
transferências sociais, que este governo está apostado em diminuir
drasticamente senão acabar com elas de vez, desde rendimento social de inserção
ao subsídio de desemprego (que são dinheiros descontados directamente pelos
trabalhadores), a pobreza estender-se-ia a cerca de 45% da população
portuguesa.
No entanto, os grandes grupos económicos
nacionais vão deslocando as sedes sociais para paraísos fiscais ou para países
onde a tributação fiscal é mais favorável, como aconteceu recentemente com o
grupo de distribuição a retalho Jerónimo Martins, a fim de pagarem menos
impostos, ou seja, diminuir a sua quota-parte para o sacrifício colectivo. Por
outro lado, os encargos líquidos com as famigeradas PPP (Parcerias
Público-Privadas) vão aumentando desmesuradamente, e não deixarão de
ultrapassar rapidamente os 50 mil milhões de euros plurianuais ainda muito
antes do fim do prazo estabelecido ( os encargos líquidos com as PPP
rodoviárias ascenderam a mais do dobro do inicialmente previsto no OE/2010, em
vez de 382,7 milhões de euros, foram 896,6 milhões de euros – um desvio de
134%!) , o que representa um verdadeiro e escandaloso saque dos dinheiros
públicos, melhor dizendo: uma transferência colossal dos rendimentos públicos
para a propriedade privada de bancos e grande grupos económicos pela via da lei
e da corrupção, que cada vez mais se confundem entre nós, e sem o mínimo risco.
As crises do capitalismo são sempre resolvidas
á custa de uma maior exploração dos trabalhadores, não tem sido de outra forma
ao longo da história do capitalismo e da sociedade dividida em classes, porque
os lucros dos patrões têm forçosamente de se manter ou aumentar até na feroz
competição entre capitais. Será agora uma boa altura de acabar com esta crise,
colocando ponto final à existência do próprio capitalismo. Esta tarefa está nas
nossas mãos.
04 de Janeiro 2012
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