sábado, 16 de setembro de 2023

A distribuição dos sacrifícios à portuguesa

 

Crónica escrita em 2012 sobre o senhor Silva e o seu governo PSD/PP

Não era novidade nenhuma que, em Portugal, são os cidadãos mais pobres que arcam com os sacrifícios advindos das políticas de austeridade impostas por este e pelo anterior governo: “os pobres que paguem a crise!” é a consigna da classe dominante nacional. Não é preciso nenhum estudo da Comissão Europeia para sabermos que as nossas elites, em todos os momentos da história, fugiram a pagar o preço da factura da salvação do país e que a hipocrisia de presidentes da república nunca convenceu.

O senhor Silva pelas repetidas “preocupações” com a “equidade” da distribuição dos sacrifícios (um dos principais financiadores da sua campanha eleitoral acaba de deslocar a sede social das suas empresas para a Holanda para não pagar impostos ao estado português) e pelos “esquecimentos” de enviar para o Tribunal Constitucional as propostas das medidas mais celeradas apresentadas pelo governo, como aconteceu agora com o Orçamento de Estado 2012 que impõe cortes nos subsídios de férias e de natal para funcionários públicos e pensionistas, são razões mais que suficientes para apresentar a sua demissão. Vendo bem a demissão de Cavaco cada vez mais se confunde com a demissão deste governo fascista.

As medidas de austeridade tomadas pelo Governo português, segundo o relatório da Comissão Europeia, para além de estarem distribuídas de forma desigual entre ricos e pobres, fizeram subir o risco de pobreza, particularmente entre idosos e jovens. Assim. Portugal "é o único país com uma distribuição claramente regressiva", ou seja, em que os pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Por exemplo: nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu um corte de 9%, ao passo que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do rendimento disponível. Portugal é o único país em que "a percentagem do corte é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes". A Grécia, que tem tido repetidos pacotes de austeridade, apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados.

No entanto, a selecção portuguesa de futebol será aquela que mais vai gastar em alojamento diário das suas estrelas, no próximo europeu de futebol: 33174 euros por noite. A título de curiosidade, no extremo oposto, a selecção da Espanha, campeã mundial, vai gastar o mais baixo preço por diária: 4700 euros. Alheios às imposições da Troika, os dirigentes federativos portugueses decidiram atingir desde já o topo em gastos numa clara manifestação de desprezo pelo povo que é espremido até mais não puder… tudo a bem da Nação.

A situação do povo português é dramática, segundo dados oficiais, 20% da população está “em risco de pobreza”, ou melhor dizendo, é mesmo pobre. Mas raramente se diz que se não fossem as transferências sociais, que este governo está apostado em diminuir drasticamente senão acabar com elas de vez, desde rendimento social de inserção ao subsídio de desemprego (que são dinheiros descontados directamente pelos trabalhadores), a pobreza estender-se-ia a cerca de 45% da população portuguesa.

No entanto, os grandes grupos económicos nacionais vão deslocando as sedes sociais para paraísos fiscais ou para países onde a tributação fiscal é mais favorável, como aconteceu recentemente com o grupo de distribuição a retalho Jerónimo Martins, a fim de pagarem menos impostos, ou seja, diminuir a sua quota-parte para o sacrifício colectivo. Por outro lado, os encargos líquidos com as famigeradas PPP (Parcerias Público-Privadas) vão aumentando desmesuradamente, e não deixarão de ultrapassar rapidamente os 50 mil milhões de euros plurianuais ainda muito antes do fim do prazo estabelecido ( os encargos líquidos com as PPP rodoviárias ascenderam a mais do dobro do inicialmente previsto no OE/2010, em vez de 382,7 milhões de euros, foram 896,6 milhões de euros – um desvio de 134%!) , o que representa um verdadeiro e escandaloso saque dos dinheiros públicos, melhor dizendo: uma transferência colossal dos rendimentos públicos para a propriedade privada de bancos e grande grupos económicos pela via da lei e da corrupção, que cada vez mais se confundem entre nós, e sem o mínimo risco.

As crises do capitalismo são sempre resolvidas á custa de uma maior exploração dos trabalhadores, não tem sido de outra forma ao longo da história do capitalismo e da sociedade dividida em classes, porque os lucros dos patrões têm forçosamente de se manter ou aumentar até na feroz competição entre capitais. Será agora uma boa altura de acabar com esta crise, colocando ponto final à existência do próprio capitalismo. Esta tarefa está nas nossas mãos.

04 de Janeiro 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário