Escrita antes da pandemia, em janeiro 2020, sobre a democracia cleptocrática nacional sob a égide socialista
Ocorreram ultimamente, neste mês de Janeiro e
para começar bem o ano, vários acontecimentos que não deixam de estar
interligados, denotando que mais não são que os diversos reflexos de uma mesma
realidade. Foi o Ministério Público, que se arvora em polícia do regime e
estado dentro de estado isento de qualquer escrutínio democrático, que entendeu
pagar a um agente reformado da PJ para investigar os meandros, entre os quais
eventuais favores políticos, na operação designada sadiamente por “Tutti
Frutti”.
Portugal foi, mais uma vez, condenado pelo
TEDH (Tribunal Europeu dos Direitos Humanos) pelo mau funcionamento da justiça.
Foi o polícia zeloso e cumpridor, a solicitação de funcionário de empresa
privada de transportes públicos, que espanca, em plena via pública e perante
outros cidadãos, uma mulher negra e pobre que terá retorquido ao motorista por
falta de passe da filha menor.
Foi Ana Gomes, considerada a “rebelde” do PS,
já apresentada como candidata de esquerda às próximas eleições presidenciais
por ter andado a denunciar a cleptocrata Isabel dos Santos, considerada a
mulher negra e africana empresária de sucesso com todas as portas abertas cá
nesta província germanófila da União Europeia. Foi e será o fazer de conta que
ninguém sabia da origem do dinheiro lavado proveniente de Angola, desde
jornalistas a políticos, desde empresários nacionais igualmente de sucesso a
banqueiros, desde o regulador que nada regula governador do Banco de Portugal
ao PR Marcelo que considera todo o investimento bem vindo independentemente de
onde venha e quem o traga desde que no “respeito pela legalidade e pela
constitucionalidade” nacionais.
São todos aspectos de uma mesma realidade: a
democracia parlamentar burguesa como o melhor regime de gestão dos negócios
capitalistas.
A justiça de classe
Pela atitude do Ministério Público fica-se com
a impressão de que ou se pretende esconder os tráficos de influência e os
nepotismos que são caraterísticas iniludíveis e até naturais de dirigentes e
militantes mais destacados dos partidos do arco do poder; ou, então, o MP não
confia na PJ, polícia muitas vezes apontada pela sua eficiência mas não
suficientemente conhecida pela corrupção que parece ser endémica, podendo
qualquer cidadão lembrar-se qual era a alternativa que o PS, nas pessoas de
Mário Soares e António Arnaut, apresentou na altura em vez de se criar um SNS,
precisamente combater a corrupção na PJ, chaga que já vinha do anterior regime.
Ao que parece seria tarefa difícil e assaz dispendiosa, daí optar-se pelo SNS.
Saliente-se que serão crimes de natureza económica e financeira, como
corrupção, tráfico de influência e possível financiamento partidário ilícito,
envolvendo figuras gradas do PS e PSD que estão na mira da operação “Tutti
Frutti.”
Ainda se está por perceber a actuação do MP no
caso das mortes dos seis jovens na praia do Meco, fez agora, em Dezembro
passado, sete anos, quem e o quê terá andado a encobrir?, que fez com que
Portugal, mais uma vez, tenha sido condenado pelo TEDH (Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos) pelo mau funcionamento da justiça; mau ou não funcionamento
em relação às vítimas, note-se!, mostrando que a justiça em Portugal é uma
justiça dual, uma justiça de classe. Repare-se que o Procurador, que pouco e
mal terá investigado, foi elogiado pela então Procurador Geral Distrital de
Lisboa, a actual ministra PS da Justiça.
Também interessante reparar que a PJ e o MP só
mexeram o cu nas buscas ao Montepio só depois do principal suspeito ter sido
removido da direcção daquela instituição. A justiça portuguesa parece que
funciona bem no sentido de defender o poderoso e perseguir o pé rapado. Fica-se
com a ideia que o MP, em relação à contratação em causa, aposta na privatização
da investigação criminal, para não falar de toda a justiça. Contratos do estado
com privados envolvem geralmente luvas, favores e corrupção. Em suma, um polvo,
onde a corrupção e o tráfico de influências se encontram sempre presentes.
O racismo e a violência policial
Torna-se recorrente os episódios de violência
policial, geralmente contra o preto e/ou o pobre e trabalhador, Ainda estamos
para ver casos de violência contra o burguês bem vestido e influente, género
Ricardo Salgado ou Joe Berardo, é sempre contra os mesmos: pobres e
trabalhadores e pretos. A relação é mais longa do que a se conhece: Kuku
(assassinado pela PSP, 2009); Guto Pires (agredido pela PSP, 2013); Bruno
Lopes, Celso Lopes, Flávio Almada, Miguel Reis, Paulo Veiga e Rui Moniz (todos
agredidos, sequestrados e torturados pela PSP em 2015); Matamba Joaquim
(agredido pela PSP, 2016); Mário Mendes (agredido pela PSP, 2016); Francisca
Lopes (agredida pela PSP, 2017); Fernando Coxi e Julieta Jóia (agredidos pela
PSP, 2019).
O racismo é o expediente que a burguesia usa
para justificar uma maior exploração e opressão dos trabalhadores ditos “de
cor”, porque o tratamento que é dado aos pretos ricos, nomeadamente aos novos
burgueses dos Palops é mais que reverencial, não deixa até de ser humilhante
para os aduladores, no caso, a nossa burguesia branca. Não estamos a ver o
polícia a espancar uma Isabel dos Santos ou motorista a chamar a polícia,
embora, a cleptocrata para se defender se queixe agora de estar a ser vítima de
racismo.
O perpetrador da violência foi um polícia que
já foi de elite, culpa-se usualmente a deficiente formação dos polícias ou a
falta de treino em lidar com situação difíceis respeitando os direitos do
cidadão e de forma adequada ao contexto social. Não se aponta a lavagem ao
cérebro aos recrutas da PSP e da GNR que os prepara exactamente para a tarefa
que geralmente executam com prontidão e zelo: reprimir o pobre, o trabalhador e
o preto. Mesmo o diferente, depende, pomos sérias dúvidas se o comportamento do
polícia seria o mesmo se tratasse, já não dizemos de uma tia de Cascais, mas de
uma cigana, com certeza que seria diferente, nem o motorista chamaria a
polícia. A agressão posterior do motorista é mais que suspeita, no mínimo será
tão verdadeira como a mulher se tenha ferido por ter caído no chão, vem a
calhar, parece que foi feita por encomenda e pela própria polícia a fim de
mostrar que pretos são vingativos e as que levam ainda são poucas. Operações de
falsa bandeira é coisa que a polícia está mais do que treinada.
Estamos à espera que o governo do Costa do PS
limpe a PSP e a GNR dos elementos de extrema-direita e abertamente nazis e que
alguns deles, sabendo-se impunes, se manifestam livremente e em público em
movimentos e em partidos que, pela Constituição, deveriam ser proibidos.
Racismo e violência policial estão sempre de mãos dadas. O documento, produzido
recentemente pelo Comité Consultivo da Convenção Quadro para a Proteção das
Minorias Nacionais do Conselho da Europa, não deixa margem para dúvidas: as comunidades
ciganas em Portugal continuam a ser discriminadas e a viver à margem da
sociedade, e recomenda "medidas que previnam a disseminação do discurso de
ódio nos media e nas redes sociais, a formação das forças de segurança para os
direitos humanos e o apoio do Estado a projetos locais que promovam o combate
aos preconceitos e estereótipos racistas e xenófobos". O que tem feito o
governo PS/Costa? Nada. E percebe-se, é que polícias, militares e poder
judicial serão sempre a última reserva da defesa da velha ordem política
burguesa. O PS vela pelo bem-estar e segurança da burguesia e não do povo.
Uma democracia cleptocrática
Dentro deste contexto de endurecimento do
regime formalmente democrático, onde estará admiração de uma cleptocrata tenha
feito de Portugal a lavandaria do dinheiro sujo de sangue e de miséria. E só
depois de ter sido formalmente denunciada, venham agora umas falsas virgens
púdicas, que há muito perderam a virgindade embora invocando que não sabiam que
estavam a ser desfloradas, unidas pelo medo de se verem afundadas no mesmo
barco, reclamar inocência e virtude. Em Angola, assiste-se a uma luta entre duas
cliques a ver quem rouba mais ao povo, e, em Portugal, estamos a assistir a uma
mudança de posição de políticos e empresários, das nossas elites que não são
menos corruptas que as angolanas, com o objectivo claro de continuar a embolsar
o quinhão a que acham ter direito. Desde que, e quem o diz é o incontornável PR
Marcelo, se respeite as leis e as instituições nacionais, precisamente aquelas
que foram feitas por e à medida dos que se alimentam e alimentam a corrupção.
A burguesia portuguesa continua com a mesma
política, não sendo a sua natureza substancialmente diferente, da antiga
burguesia colonialista e roceira, agora a diferença está em ter de compartilhar
o bolo resultante do saque com uma elite local e não menos corrupta. O que se
compreende ao vermos a persistência do governo em manter no estrangeiro forças
armadas, mercenárias (mais confiáveis), cujo objectivo é proteger a pilhagem
levada a cabo pelos grandes grupos económicos da União Europeia, da qual as empresas
portuguesas esperam colher as migalhas. São as velhas pretensões e hábitos
coloniais de potências que já tiveram colónias e que agora irão desenvolver sob
a protecção de uma Alemanha abertamente imperialista, não foi por acaso que a
alemã Ursula von der Leyen foi catapultada para a presidência da Comissão
Europeia. O IV Reich, de braço dado com a França, já mostrou querer estender as
garras, a começar pelo apoio que presentemente está a conceder aos mercenários
do Daesh na Síria, e o resto virá com o tempo.
A acumulação e concentração do capital
fazem-se de forma imparável sem considerações moralistas ou humanitárias. A
burguesia portuguesa encontra-se inserida na cadeia capitalista europeia e
mundial mais geral, contenta-se com os restos e a manter-se no lugar subalterno
que lhe foi reservado, mas não é por isso menos exploradora, pérfida e corrupta
- também lhe está no sangue. A diferença entre a cleptocracia nacional e a
angolana será quanto muito pormenor de idade e de polidez.
Imagem de destaque: https://henricartoon.pt/opiniao-publica-1159096
20 janeiro 2020
A porca realidade!
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