quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Os 100 anos da República

 

Nos 113 anos, basta trocar os nomes de Cavaco e Sócrates por Marcelo e Costa e temos a verdadeira imagem de uma república coxa e moribunda, de um país que mais não é que uma região (länder) da Alemanha, esta também em acentuado e irreversível declínio. Em suma, o declínio do império do Ocidente. Crónica escrita em 2010 e actualíssima.

A intensa dependência de Portugal, em termos económicos e políticos, em relação à potência mundial da altura, a Inglaterra, foi a razão patriótica da luta dos republicanos contra a monarquia, e o vexame do Ultimato foi o leitmotiv de toda a luta: havia que regenerar a alma lusitana e salvar a pátria. Cem anos depois, a situação de dependência económica e política é talvez maior, mas sem os arroubos patrióticos; a burguesia nacional do princípio do século XXI aspira à riqueza e prosperidade que caracteriza as nações capitalistas mais desenvolvidas, mas mantendo a sujeição, limitando-se agora a mendigar mais umas migalhas na divisão do saque, já sem o brio e o orgulho de há um século atrás. Porque também já não dá a desculpa dos 48 anos do fascismo (a correspondência à monarquia do século XIX). É a mera luta pela sobrevivência.

Na caracterização do capitalismo no princípio do século XX, Portugal era apontado como um caso sui generis de dependência financeira e diplomática, ainda que conservando a independência política, era na realidade um protectorado da Inglaterra. Essa situação vinha do tempo da Guerra de Sucessão de Espanha (1701-1714), a Inglaterra defendia Portugal e as colónias portuguesas para reforçar as suas próprias posições na luta contra os seus adversários, a Espanha e a França. Em troca a Inglaterra obteve vantagens comerciais, melhores condições para exportação das suas mercadorias e, sobretudo, para a exportação de capitais para Portugal e suas colónias. Pôde utilizar os portos e as ilhas do nosso país, os cabos telefónicos, chegou a construir caminhos de ferro e controlar os correios, obtendo uma posição de quase potência colonizadora.

Passados cem anos, a situação de Portugal dentro da União Europeia é muito semelhante no que toca à falta de independência económica e até política. Em termos de política financeira, o país está integrado na zona euro, não possui moeda própria e não pode mexer nas taxas de juro e os seus principais credores são os bancos alemães. Em termos económicos, o nosso principal parceiro é a Alemanha, a potência economicamente dominante dentro da UE, e é ela que, através de Bruxelas, impõe os seus ditames, controlando a política orçamental de cada um dos estados membros e a forma de desenvolvimento económico. A entrada de Portugal na UE (então CEE) foi uma verdadeira anexação germânica. E com a crise económica esta evidência será notória aos olhos do povo português, e sem subterfúgios; e a título de ilustração, deve-se ver quem é que nos vende os grandes equipamentos, cuja necessidade é mais do que discutível, desde os submarinos aos comboios para o futuro e longíquoTGV.

A decadência da actual burguesia é de tal ordem que, ao querer imitar a República de 1910 no que respeita à educação, a área em que esta mais investiu, os títeres Cavaco e Sócrates ao inaugurar escolas novas e remodeladas não conseguem iludir que, 100 anos depois, há menos escolas do 1º ciclo por crianças em idade escolar. Estas comemorações foram uma pantomina digna de comiseração. Tal com a actual república.

06 de Outubro 2010

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