Nos 113 anos, basta trocar os nomes de Cavaco e Sócrates por Marcelo e Costa e temos a verdadeira imagem de uma república coxa e moribunda, de um país que mais não é que uma região (länder) da Alemanha, esta também em acentuado e irreversível declínio. Em suma, o declínio do império do Ocidente. Crónica escrita em 2010 e actualíssima.
A intensa dependência de Portugal, em termos
económicos e políticos, em relação à potência mundial da altura, a Inglaterra,
foi a razão patriótica da luta dos republicanos contra a monarquia, e o vexame
do Ultimato foi o leitmotiv de toda a luta: havia que regenerar a alma
lusitana e salvar a pátria. Cem anos depois, a situação de dependência
económica e política é talvez maior, mas sem os arroubos patrióticos; a
burguesia nacional do princípio do século XXI aspira à riqueza e prosperidade
que caracteriza as nações capitalistas mais desenvolvidas, mas mantendo a
sujeição, limitando-se agora a mendigar mais umas migalhas na divisão do saque,
já sem o brio e o orgulho de há um século atrás. Porque também já não dá a
desculpa dos 48 anos do fascismo (a correspondência à monarquia do século XIX).
É a mera luta pela sobrevivência.
Na caracterização do capitalismo no princípio
do século XX, Portugal era apontado como um caso sui generis de
dependência financeira e diplomática, ainda que conservando a independência
política, era na realidade um protectorado da Inglaterra. Essa situação vinha
do tempo da Guerra de Sucessão de Espanha (1701-1714), a Inglaterra defendia
Portugal e as colónias portuguesas para reforçar as suas próprias posições na
luta contra os seus adversários, a Espanha e a França. Em troca a Inglaterra
obteve vantagens comerciais, melhores condições para exportação das suas
mercadorias e, sobretudo, para a exportação de capitais para Portugal e suas
colónias. Pôde utilizar os portos e as ilhas do nosso país, os cabos
telefónicos, chegou a construir caminhos de ferro e controlar os correios,
obtendo uma posição de quase potência colonizadora.
Passados cem anos, a situação de Portugal
dentro da União Europeia é muito semelhante no que toca à falta de
independência económica e até política. Em termos de política financeira, o
país está integrado na zona euro, não possui moeda própria e não pode mexer nas
taxas de juro e os seus principais credores são os bancos alemães. Em termos
económicos, o nosso principal parceiro é a Alemanha, a potência economicamente
dominante dentro da UE, e é ela que, através de Bruxelas, impõe os seus
ditames, controlando a política orçamental de cada um dos estados membros e a
forma de desenvolvimento económico. A entrada de Portugal na UE (então CEE) foi
uma verdadeira anexação germânica. E com a crise económica esta evidência será
notória aos olhos do povo português, e sem subterfúgios; e a título de
ilustração, deve-se ver quem é que nos vende os grandes equipamentos, cuja
necessidade é mais do que discutível, desde os submarinos aos comboios para o futuro
e longíquoTGV.
A decadência da actual burguesia é de tal
ordem que, ao querer imitar a República de 1910 no que respeita à educação, a
área em que esta mais investiu, os títeres Cavaco e Sócrates ao inaugurar
escolas novas e remodeladas não conseguem iludir que, 100 anos depois, há menos
escolas do 1º ciclo por crianças em idade escolar. Estas comemorações foram uma
pantomina digna de comiseração. Tal com a actual república.
06 de Outubro 2010
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