Costa, depois de vitimizar-se por ser obrigado
a demitir-se da governação, embora tenha sido dele a iniciativa, por uma
eventual suspeita de corrupção levantada pelo todo omnipotente Ministério
Público, que ele sempre se recusou a reformar, foi nomeado para a presidência
da Comissão Europeia. Será um mandato por metade, mas será sempre melhor que
nada, irá enriquecer o curriculum de profissional da política para toda a obra
e a conta bancária pessoal e familiar; um vencimento de mais de 40 mil euros
líquidos mensais não é coisa para se desperdiçar.
O golpe contra Costa ou do Costa?
Quando o primeiro-ministro do governo PS de
maioria absoluta apresentou a demissão de forma repentina e de inteira e livre
vontade ao PR Marcelo, que se apresentava como rival político e crítico
constante da governação dita “socialista”, e atendendo às razões invocadas, um
parágrafo escrito aparentemente pela PGR, que ele próprio indicou para nomeação
presidencial, com uma vaga referência a
escutas telefónicas que lhe terão sido feitas em caso que o não relacionava
directamente a corrupção ou a nepotismo e ainda muito longe de qualquer indício
forte ou de acusação sequer, ficamos desconfiados com a verosimilhança da
estória.
Pensamos, e havia razões para isso, que seria
um golpe montado pelo próprio para fazer cair o governo e obrigar a eleições de
forma, caso o PS as ganhasse de novo, a criar uma situação difícil a Marcelo e
garantir um novo mandato mais forte de molde a chegar ao seu término. A ida de
Procuradora a Belém seria mais uma peça da encenação, como realmente terá sido,
e não, como foi apresentado por toda a comunicação mainstream, uma conspiração
entre aquelas duas figuras de Estado contra Costa. A confirmar-se esta tese
mais não seria que manobra muito semelhante à perpetrada por Pedro Sànchez que,
dessa forma, impediu a saída do PSOE, e a sua, do governo em Dezembro, como se
previa, antecipando as eleições, evitou a degradação e a derrota quase certa.
Afinal estávamos, pelo menos em parte, errados
quanto a este ponto. Costa não tem, nem nunca teve, o arrojo e a visão de um
estadista, capaz de grandes decisões enfrentando todo o tipo de dificuldades.
Somos obrigados a reconhecer, e os factos assim o impõem, que o homenzinho não
tem feito outra coisa até agora senão fazer pela vida e desde o primeiro minuto
que entendeu que deveria ser político. A encenação foi, então, combinada entre
PS e PSD, muito possivelmente sob o beneplácito do PR Marcelo, que quando se
olha ao espelho vê uma coroa a enfeitar-lhe a cabeça, que resolveram fazer a
passagem de turno antes do tempo.
E a razão principal da substituição dos
funcionários ao serviço de Bruxelas e do grande capital financeiro europeu foi
a que temos vindo frequentemente a apontar: mais de 55 mil milhões que estão a
escorrer da União Europeia até 2028. De maneira alguma as comissões, e
eventuais luvas, poderiam ir só para a bolsa de uma parte do bando. Assistimos
a uma situação, embora de sentido contrário, com a substituição do governo
PSD/CDS-PP que saiu das eleições de 2015 e que Cavaco entendia ter legitimidade
para vingar, o que não aconteceu porque houve partidos situados mais à esquerda
no espectro parlamentar que viabilizaram um governo minoritário de Costa/PS. A
elite entendeu, então, que era altura de dar oportunidade ao partido que ainda
possui uma mais larga e popular base social de apoio. Um outro governo de
Passos Coelho/Portas poderia desembocar em uma guerra civil.
Costa de besta a bestial
A imprensa, que em todos os dias e a toda a
hora criticava o governo PS, verberava a incompetência e eventual corrupção dos
seus ministros, e em alguns casos até nem estaria errada, salientava a
hesitação e o medo de Costa em demiti-los e fazer as escolhas certas do seu
pessoal auxiliar, de não ousar fazer as “reformas” que a elite exige e acha por
necessárias, foi a mesma imprensa que, depois de formado o governo AD, mais
incensou a figura do candidato a cargo importante da União Europeia. Para aqui,
o homem até terá qualidades a mais e não haverá na Europa ou no planeta pessoa
mais capaz. Não se percebe que um primeiro-ministro incompetente, benevolente
com a corrupção, e com alguma suspeita de nela também chafurdar, pouco corajoso
na mudança, se tenha em pouca horas transformado no oposto, e sem margem para
qualquer dúvida. Temos de reconhecer que os media são peritos em milagres, ou
seja, em mentiras e manipulação.
Chegou-se ao ponto de vermos o actual
primeiro-ministro Montenegro aos beijos e abraços com Costa. Antes do “almoço
de trabalho” na residência oficial de Montenegro, Costa não conseguiu reprimir
o que lhe ia na alma, desabafando que o empenho de Montenegro na sua eleição é “marca
da qualidade da democracia”. Falou bem, não disse desta vez nenhuma mentira, só
que a “democracia” a que se refere é a democracia do tacho, do bando que se
mancomuna quanto à forma de assaltar os portugueses e de distribuir os lugares
de poder e de influência, sempre a bem da elite e de quem a serve. Por
deferência, o “primeiro-ministro de Portugal”, como a direita gosta de
denominar o cargo, congratulou-se por haver "mais um português num cargo
relevantíssimo"… “com quem Portugal partilha muitas decisões", que,
diga-se em abono da verdade, jamais beneficiam o cidadão comum deste país.
Costa e todos os mais não passam de políticos
com “p” bem minúsculo, são uns meros técnicos de relações públicas, gestores
que se limitam a receber as ordens e as diretivas de quem na realidade possui o
poder político e económico, poderes indissociáveis: no topo, o grande capital
financeiro europeu e mundial representado por Bruxelas e seus instrumentos, BCE
será o mais importante, os bancos centrais de cada país são simples sucursais,
nem filiais são porque estas ainda possuem alguma independência à casa mãe; e,
por acréscimo, apanhando as migalhas, da burguesia indígena com as diversas
facções e grupos de interesses, que também se digladiam entre si. Esta gente
não faz outra coisa senão tratar da vidinha, são carreiristas, sem escrúpulos
políticos, apesar de encherem a boca com moralismos e éticas carunchosas, e que
vão enriquecendo na proporção directa do empobrecimento da maioria do povo
português.
O curriculum de Costa
Não será por demais relembrar o curriculum
governativo de Costa nos oito anos de governação. Conseguiu enrolar os dois
parceiros da geringonça, aumentando o seu apoio eleitoral à custa de perda de
votos e de deputados daqueles dois, que só no fim terão percebido que o PS lhes
comeu as papas na cabeça. Foi graças a este apoio que Costa levou à prática uma
política que no fundo foi manter a austeridade que vinha do governo do
PSD/Coelho/Portas, mas agora mais mitigada, nem os aumentos do IVA nem as
alterações á Lei do Trabalho foram revertidas. Quando os trabalhadores
encetaram formas de luta mais vigorosas na defesa das suas mais que justas
reivindicações, não teve rebuço algum em imitar Salazar ao decretar a
requisição civil; foi o primeiro ministro que mais recorreu a esta forma de
repressão.
Com a pandemia foi um executante exímio da
política da alta finança internacional e dos grandes grupos farmacêuticos na
venda das vacinas; impôs o estado de emergência mais vezes que o fascismo, confinou
a população saudável, obrigando toda a gente a vacinar-se. Portugal foi o país
onde mais se vacinou, mais testes se realizaram, mais equipamento médico se
adquiriu (muitos ventiladores ainda estarão por desencaixotar), e onde mais
dinheiro o governo deu a ganhar aos diversos grupos de interesses que já
existiam e se vieram a formar … e onde mais se morreu. Com a argumentação da
luta contra a pandemia e a bem da saúde pública, foi quando mais se atentou
contra a saúde dos portugueses e se fechou o SNS para abrir portas aos lóbis da
medicina privada. Costa e o PS ficarão na história como os liquidatários do
SNS. A pandemia foi o pretexto excelente para justificar a transferência imensa
de riqueza do público para o privado; foi a recapitalização com dinheiros
públicos das empresas privadas falidas ou em vias disso. Percebe-se assim que
Costa seja agraciado de acordo com o bom desempenho.
Os colegas de ofício de Costa
Ao mesmo tempo que se exaltam os méritos de
Costa, homem insubstituível e único na defesa dos interesses do país no grande centro
de poder que é Bruxelas, os media relembram outras gradas figuras que pelos
seus méritos vingaram em tão elevados cargos. António Guterres foi o primeiro-ministro
que deixou o país no “pântano”, ou seja, não conseguiu convencer o povo
português da bondade das suas medidas e não terá satisfazido inteiramente os
interesses da elite doméstica que, apesar de tudo, viu aumentados os seus
rendimentos através das Parcerias Público Privado. Guterres foi quem inaugurou esta
forma de transferir a riqueza do estado para os bancos e grandes empesas.
Bruxelas não deixou de agradecer e facilmente lhe arranjou um bom tacho como Alto Comissário das Nações
Unidas para os Refugiados. Depois de 10 anos de bom serviço ao
imperialismo norte-americano, uma vez mais foi recompensado, desta vez com o
cargo de secretário-geral da ONU, com um vencimento de mais de 20 mil euros
mensais a que juntou uma pensão vitalícia de político de cerca de 5 mil euros
por mês. Guterres já vai no segundo mandato.
Mais dois socialistas viram os seus méritos,
de tirar ao povo português e dar aos bancos e ao grande capital financeiro,
reconhecidos, Vítor Constâncio e João Cravinho. O primeiro foi para o BCE e o
segundo para o Banco Europeu para a
Reconstrução e o Desenvolvimento. Constâncio, como governador do
Banco de Portugal, nada fiscalizou, fez sempre vista grossa às vigarices e
falências fraudulentas da banca em Portugal (BPN, BCP, BPP, que levaram mais de
15 mil milhões de euros dos bolsos dos portugueses), facilitou-lhes os
negócios, atribuiu-lhes um estatuto de excepção quanto ao não pagamento de
impostos e de extorsão de todos os tipos de taxas sobre os clientes. Foi
recompensado principescamente como vice-presidente do Banco Central Europeu por
oito anos, onde embolsou mais de 2,6 milhões de euros. Agora, está reformado
com 27 mil euros por mês. Ah, não esquecer que foi secretário-geral do PS.
Cravinho foi mais modesto e andou a fazer
SCUTS, que se pagavam a elas próprias, dez estádios de futebol, alguns deles
agora às moscas e de difícil gestão, foi envolvido no escândalo da corrupção na
antiga JAE, de onde terão saído mais de 3 milhões de euros (valor elevado na
altura, 1998) sem justificação aparente, endividou o país perante o s bancos e
o BEI (Banco Europeu de Investimento) e como recompensa foi nomeado
administrador do Banco Europeu para a
Reconstrução e o Desenvolvimento pelo governo PS liderado
por José
Sócrates. Foi ministro cinco vezes, incluindo num dos governos de
Vasco Gonçalves, foi deputado da Nação, assumiu-se como pertencente à
Maçonaria. Deve estar a esta hora a gozar folgada pensão vitalícia devido à sua
actividade como político.
Das altas figuras do PS que receberam chorudas
prebendas pela política que aplicarem em Portugal em benefício do grande
capital financeiro ligadas ao PS, poderemos passar às do PSD, e estaremos só a
citar as mais conhecidas, Durão Barroso e Vítor Gaspar. Durão, depois de ser o
criado de libré na Cimeira dos Açores que deu origem à invasão e destruição do
Iraque, alegando que possuiria armas biológicas, e, deixando o país de tanga,
soube subir bem na vida chegando a Presidente da Comissão Europeia. Aqui soube
defender os interesses dos grandes bancos americanos e, como recompensa
natural, foi para o Goldman Sachs na continuação dos negócios no continente
europeu. E daqui soube pular para Aliança Global para as Vacinas (GAVI), órgão
de promoção e venda de vacinas para o mundo, que tem dado muitos milhões de
dólares de lucro à Big Pharma norte-americana. Bill Gates e Pfizer agradecem.
Barroso é, sem dúvida, o mais habilidoso e o mais sem vergonha.
Gaspar teve como prémio, por ter sido ministro
das Finanças do governo de PSD/CDS-PP e ter feito engolir aos portugueses o
plano de austeridade e de miséria imposto pela Troika, a nomeação de Diretor do
Departamento de Finanças Públicas do FMI em 2014; onde ainda se encontra. Não
chegou sequer a acabar o mandato e foi formado na Universidade da Católica. É
muito pouco provável que faça parte da Maçonaria, será mais Opus Dei.
Costa no rodapé
Portugal é, indiscutivelmente, o alfobre europeu
de arrivistas e de lacaios que se vendem politicamente por uma côdea e um copo
de vinho. Todos eles não passam de seres malévolos e, literalmente, mafiosos,
que vão vivendo e progredindo na vida à custa da extorsão da riqueza produzida
pelos trabalhadores e o povo deste país. A nossa miséria é a riqueza e a
felicidade dessa gente. Costa irá enfileirar na galeria das figuras de má
memória.
Imagem de destaque: Henricartoon
*
Crónicas versando
o Costa do PS:
Um
primeiro-ministro assustado, 27 de março de 2020
A
Calamidade, o Costa e o Marcelo, 5 de
maio de 2020
Costa
telefona a Lagarde, 2 de dezembro de 2020
Costa
“O Calamitoso” ou entrada de leão, saída de sendeiro,
28 de outubro de 2020
A
crise política e os “truques do Costa”, 18 de
novembro de 2021
Governo
PS de maioria absoluta, mas já não era?!, 7 de
fevereiro de 2022
“Quem
quer mudança de política tem de derrubar o Governo” – Costa dixit,
2 de setembro de 2022
A
revisão da Constituição e o cabo de esquadra Costa,
11 de novembro de 2022
É
o bonapartismo, habituem-se!, 24 de dezembro de 2022
A
desunião nacional e os cartazes racistas, 13 de
junho de 2023
As
querelas e amuos de Costa e Marcelo, 8 de
setembro de 2023
O
Orçamento do Costa e o aumento da miséria, 22 de
outubro de 2023
Marcelo Traficante & Costa Calimero, 12 de dezembro de 2023
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