terça-feira, 2 de julho de 2024

O Costa com a careca à mostra

 

Costa, depois de vitimizar-se por ser obrigado a demitir-se da governação, embora tenha sido dele a iniciativa, por uma eventual suspeita de corrupção levantada pelo todo omnipotente Ministério Público, que ele sempre se recusou a reformar, foi nomeado para a presidência da Comissão Europeia. Será um mandato por metade, mas será sempre melhor que nada, irá enriquecer o curriculum de profissional da política para toda a obra e a conta bancária pessoal e familiar; um vencimento de mais de 40 mil euros líquidos mensais não é coisa para se desperdiçar.

O golpe contra Costa ou do Costa?

Quando o primeiro-ministro do governo PS de maioria absoluta apresentou a demissão de forma repentina e de inteira e livre vontade ao PR Marcelo, que se apresentava como rival político e crítico constante da governação dita “socialista”, e atendendo às razões invocadas, um parágrafo escrito aparentemente pela PGR, que ele próprio indicou para nomeação presidencial, com  uma vaga referência a escutas telefónicas que lhe terão sido feitas em caso que o não relacionava directamente a corrupção ou a nepotismo e ainda muito longe de qualquer indício forte ou de acusação sequer, ficamos desconfiados com a verosimilhança da estória.

Pensamos, e havia razões para isso, que seria um golpe montado pelo próprio para fazer cair o governo e obrigar a eleições de forma, caso o PS as ganhasse de novo, a criar uma situação difícil a Marcelo e garantir um novo mandato mais forte de molde a chegar ao seu término. A ida de Procuradora a Belém seria mais uma peça da encenação, como realmente terá sido, e não, como foi apresentado por toda a comunicação mainstream, uma conspiração entre aquelas duas figuras de Estado contra Costa. A confirmar-se esta tese mais não seria que manobra muito semelhante à perpetrada por Pedro Sànchez que, dessa forma, impediu a saída do PSOE, e a sua, do governo em Dezembro, como se previa, antecipando as eleições, evitou a degradação e a derrota quase certa.

Afinal estávamos, pelo menos em parte, errados quanto a este ponto. Costa não tem, nem nunca teve, o arrojo e a visão de um estadista, capaz de grandes decisões enfrentando todo o tipo de dificuldades. Somos obrigados a reconhecer, e os factos assim o impõem, que o homenzinho não tem feito outra coisa até agora senão fazer pela vida e desde o primeiro minuto que entendeu que deveria ser político. A encenação foi, então, combinada entre PS e PSD, muito possivelmente sob o beneplácito do PR Marcelo, que quando se olha ao espelho vê uma coroa a enfeitar-lhe a cabeça, que resolveram fazer a passagem de turno antes do tempo.

E a razão principal da substituição dos funcionários ao serviço de Bruxelas e do grande capital financeiro europeu foi a que temos vindo frequentemente a apontar: mais de 55 mil milhões que estão a escorrer da União Europeia até 2028. De maneira alguma as comissões, e eventuais luvas, poderiam ir só para a bolsa de uma parte do bando. Assistimos a uma situação, embora de sentido contrário, com a substituição do governo PSD/CDS-PP que saiu das eleições de 2015 e que Cavaco entendia ter legitimidade para vingar, o que não aconteceu porque houve partidos situados mais à esquerda no espectro parlamentar que viabilizaram um governo minoritário de Costa/PS. A elite entendeu, então, que era altura de dar oportunidade ao partido que ainda possui uma mais larga e popular base social de apoio. Um outro governo de Passos Coelho/Portas poderia desembocar em uma guerra civil.

Costa de besta a bestial

A imprensa, que em todos os dias e a toda a hora criticava o governo PS, verberava a incompetência e eventual corrupção dos seus ministros, e em alguns casos até nem estaria errada, salientava a hesitação e o medo de Costa em demiti-los e fazer as escolhas certas do seu pessoal auxiliar, de não ousar fazer as “reformas” que a elite exige e acha por necessárias, foi a mesma imprensa que, depois de formado o governo AD, mais incensou a figura do candidato a cargo importante da União Europeia. Para aqui, o homem até terá qualidades a mais e não haverá na Europa ou no planeta pessoa mais capaz. Não se percebe que um primeiro-ministro incompetente, benevolente com a corrupção, e com alguma suspeita de nela também chafurdar, pouco corajoso na mudança, se tenha em pouca horas transformado no oposto, e sem margem para qualquer dúvida. Temos de reconhecer que os media são peritos em milagres, ou seja, em mentiras e manipulação.

Chegou-se ao ponto de vermos o actual primeiro-ministro Montenegro aos beijos e abraços com Costa. Antes do “almoço de trabalho” na residência oficial de Montenegro, Costa não conseguiu reprimir o que lhe ia na alma, desabafando que o empenho de Montenegro na sua eleição é “marca da qualidade da democracia”. Falou bem, não disse desta vez nenhuma mentira, só que a “democracia” a que se refere é a democracia do tacho, do bando que se mancomuna quanto à forma de assaltar os portugueses e de distribuir os lugares de poder e de influência, sempre a bem da elite e de quem a serve. Por deferência, o “primeiro-ministro de Portugal”, como a direita gosta de denominar o cargo, congratulou-se por haver "mais um português num cargo relevantíssimo"… “com quem Portugal partilha muitas decisões", que, diga-se em abono da verdade, jamais beneficiam o cidadão comum deste país.

Costa e todos os mais não passam de políticos com “p” bem minúsculo, são uns meros técnicos de relações públicas, gestores que se limitam a receber as ordens e as diretivas de quem na realidade possui o poder político e económico, poderes indissociáveis: no topo, o grande capital financeiro europeu e mundial representado por Bruxelas e seus instrumentos, BCE será o mais importante, os bancos centrais de cada país são simples sucursais, nem filiais são porque estas ainda possuem alguma independência à casa mãe; e, por acréscimo, apanhando as migalhas, da burguesia indígena com as diversas facções e grupos de interesses, que também se digladiam entre si. Esta gente não faz outra coisa senão tratar da vidinha, são carreiristas, sem escrúpulos políticos, apesar de encherem a boca com moralismos e éticas carunchosas, e que vão enriquecendo na proporção directa do empobrecimento da maioria do povo português.

O curriculum de Costa

Não será por demais relembrar o curriculum governativo de Costa nos oito anos de governação. Conseguiu enrolar os dois parceiros da geringonça, aumentando o seu apoio eleitoral à custa de perda de votos e de deputados daqueles dois, que só no fim terão percebido que o PS lhes comeu as papas na cabeça. Foi graças a este apoio que Costa levou à prática uma política que no fundo foi manter a austeridade que vinha do governo do PSD/Coelho/Portas, mas agora mais mitigada, nem os aumentos do IVA nem as alterações á Lei do Trabalho foram revertidas. Quando os trabalhadores encetaram formas de luta mais vigorosas na defesa das suas mais que justas reivindicações, não teve rebuço algum em imitar Salazar ao decretar a requisição civil; foi o primeiro ministro que mais recorreu a esta forma de repressão.

Com a pandemia foi um executante exímio da política da alta finança internacional e dos grandes grupos farmacêuticos na venda das vacinas; impôs o estado de emergência mais vezes que o fascismo, confinou a população saudável, obrigando toda a gente a vacinar-se. Portugal foi o país onde mais se vacinou, mais testes se realizaram, mais equipamento médico se adquiriu (muitos ventiladores ainda estarão por desencaixotar), e onde mais dinheiro o governo deu a ganhar aos diversos grupos de interesses que já existiam e se vieram a formar … e onde mais se morreu. Com a argumentação da luta contra a pandemia e a bem da saúde pública, foi quando mais se atentou contra a saúde dos portugueses e se fechou o SNS para abrir portas aos lóbis da medicina privada. Costa e o PS ficarão na história como os liquidatários do SNS. A pandemia foi o pretexto excelente para justificar a transferência imensa de riqueza do público para o privado; foi a recapitalização com dinheiros públicos das empresas privadas falidas ou em vias disso. Percebe-se assim que Costa seja agraciado de acordo com o bom desempenho.

Os colegas de ofício de Costa

Ao mesmo tempo que se exaltam os méritos de Costa, homem insubstituível e único na defesa dos interesses do país no grande centro de poder que é Bruxelas, os media relembram outras gradas figuras que pelos seus méritos vingaram em tão elevados cargos. António Guterres foi o primeiro-ministro que deixou o país no “pântano”, ou seja, não conseguiu convencer o povo português da bondade das suas medidas e não terá satisfazido inteiramente os interesses da elite doméstica que, apesar de tudo, viu aumentados os seus rendimentos através das Parcerias Público Privado. Guterres foi quem inaugurou esta forma de transferir a riqueza do estado para os bancos e grandes empesas. Bruxelas não deixou de agradecer e facilmente lhe arranjou um bom tacho como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Depois de 10 anos de bom serviço ao imperialismo norte-americano, uma vez mais foi recompensado, desta vez com o cargo de secretário-geral da ONU, com um vencimento de mais de 20 mil euros mensais a que juntou uma pensão vitalícia de político de cerca de 5 mil euros por mês. Guterres já vai no segundo mandato.

Mais dois socialistas viram os seus méritos, de tirar ao povo português e dar aos bancos e ao grande capital financeiro, reconhecidos, Vítor Constâncio e João Cravinho. O primeiro foi para o BCE e o segundo para o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento. Constâncio, como governador do Banco de Portugal, nada fiscalizou, fez sempre vista grossa às vigarices e falências fraudulentas da banca em Portugal (BPN, BCP, BPP, que levaram mais de 15 mil milhões de euros dos bolsos dos portugueses), facilitou-lhes os negócios, atribuiu-lhes um estatuto de excepção quanto ao não pagamento de impostos e de extorsão de todos os tipos de taxas sobre os clientes. Foi recompensado principescamente como vice-presidente do Banco Central Europeu por oito anos, onde embolsou mais de 2,6 milhões de euros. Agora, está reformado com 27 mil euros por mês. Ah, não esquecer que foi secretário-geral do PS.

Cravinho foi mais modesto e andou a fazer SCUTS, que se pagavam a elas próprias, dez estádios de futebol, alguns deles agora às moscas e de difícil gestão, foi envolvido no escândalo da corrupção na antiga JAE, de onde terão saído mais de 3 milhões de euros (valor elevado na altura, 1998) sem justificação aparente, endividou o país perante o s bancos e o BEI (Banco Europeu de Investimento) e como recompensa foi nomeado administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento pelo governo PS liderado por José Sócrates. Foi ministro cinco vezes, incluindo num dos governos de Vasco Gonçalves, foi deputado da Nação, assumiu-se como pertencente à Maçonaria. Deve estar a esta hora a gozar folgada pensão vitalícia devido à sua actividade como político.

Das altas figuras do PS que receberam chorudas prebendas pela política que aplicarem em Portugal em benefício do grande capital financeiro ligadas ao PS, poderemos passar às do PSD, e estaremos só a citar as mais conhecidas, Durão Barroso e Vítor Gaspar. Durão, depois de ser o criado de libré na Cimeira dos Açores que deu origem à invasão e destruição do Iraque, alegando que possuiria armas biológicas, e, deixando o país de tanga, soube subir bem na vida chegando a Presidente da Comissão Europeia. Aqui soube defender os interesses dos grandes bancos americanos e, como recompensa natural, foi para o Goldman Sachs na continuação dos negócios no continente europeu. E daqui soube pular para Aliança Global para as Vacinas (GAVI), órgão de promoção e venda de vacinas para o mundo, que tem dado muitos milhões de dólares de lucro à Big Pharma norte-americana. Bill Gates e Pfizer agradecem. Barroso é, sem dúvida, o mais habilidoso e o mais sem vergonha.

Gaspar teve como prémio, por ter sido ministro das Finanças do governo de PSD/CDS-PP e ter feito engolir aos portugueses o plano de austeridade e de miséria imposto pela Troika, a nomeação de Diretor do Departamento de Finanças Públicas do FMI em 2014; onde ainda se encontra. Não chegou sequer a acabar o mandato e foi formado na Universidade da Católica. É muito pouco provável que faça parte da Maçonaria, será mais Opus Dei.

Costa no rodapé

Portugal é, indiscutivelmente, o alfobre europeu de arrivistas e de lacaios que se vendem politicamente por uma côdea e um copo de vinho. Todos eles não passam de seres malévolos e, literalmente, mafiosos, que vão vivendo e progredindo na vida à custa da extorsão da riqueza produzida pelos trabalhadores e o povo deste país. A nossa miséria é a riqueza e a felicidade dessa gente. Costa irá enfileirar na galeria das figuras de má memória.

Imagem de destaque: Henricartoon

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Crónicas versando o Costa do PS:                                                       

Um primeiro-ministro assustado, 27 de março de 2020

A Calamidade, o Costa e o Marcelo, 5 de maio de 2020

Costa telefona a Lagarde, 2 de dezembro de 2020

Costa “O Calamitoso” ou entrada de leão, saída de sendeiro, 28 de outubro de 2020

A crise política e os “truques do Costa”, 18 de novembro de 2021

Governo PS de maioria absoluta, mas já não era?!, 7 de fevereiro de 2022

“Quem quer mudança de política tem de derrubar o Governo” – Costa dixit, 2 de setembro de 2022

A revisão da Constituição e o cabo de esquadra Costa, 11 de novembro de 2022

É o bonapartismo, habituem-se!, 24 de dezembro de 2022

A desunião nacional e os cartazes racistas, 13 de junho de 2023

As querelas e amuos de Costa e Marcelo, 8 de setembro de 2023

O Orçamento do Costa e o aumento da miséria, 22 de outubro de 2023

Marcelo Traficante & Costa Calimero, 12 de dezembro de 2023

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