Relembrar quando o PSD e CDS no governo acabaram com os feriados de 1 de Dezembro e de 5 de Outubro, e porquês estes e não outros.
O governo fascista PSD/PP/Passos Coelho/Paulo
Portas veio demagogicamente cortar os feriados nacionais de 1 de Dezembro e 5
de Outubro com o pretexto de se aumentar a produtividade e assim retirar o país
da crise, para a qual estes dois partidos contribuíram de forma esforçada e
intencional, diga-se de passagem; e não é por acaso que escolheu estas duas
datas e não outras: uma refere-se à restauração da independência perante o
domínio castelhano, a outra marca o fim da monarquia e a instauração da I
República. Compreendem-se as razões da escolha, Portugal passou a estatuto de
protectorado da UE (a curto caminho de IV Reich) e quem se encontra no governo
está saudoso dos bons tempos da monarquia em que liberdade, democracia e
independência nacional nem chegavam a ser figuras formais.
Esta extinção de feriados, que relembram datas
ligadas à existência de um país soberano, tenha sido efectuada por um governo
constituído pelos dois partidos que mais se reivindicam do patriotismo e cuja
existência a devem à democracia republicana, não deixa de ser curiosa. Esta
sanha de destruição e de extinção, se não for refreada e os seus autores
extintos, irá estender-se num futuro próximo, e com o mesmo pretexto de combate
à crise, aos feriados do 25 de Abril e do 1º de Maio – está na lógica!
Portugal nem é dos países que tem mais
feriados nacionais, e os que tem ou são referentes a datas com muita simbologia
e significado histórico ou ligados ao calendário da igreja católica que, por
essa via, pretende manter uma presença na sociedade portuguesa que está muito
além da sua real influência. Mais razão haveria para extinguir a maioria dos
feriados religiosos católicos, que, à excepção talvez do natal e do ano novo,
poderiam ser todos extintos.
A arrogância manifestada pela hierarquia da
igreja católica portuguesa, que de vez em quando gosta de alardear o seu
nacionalismo e apego a outros valores pátrios, de abdicar de dois feriados em
troca (?) de outros dois civis, não deixa de ser grotesca e ao mesmo tempo
revela o grau de dependência deste governo em relação a interesses que pouco ou
nada têm a ver com o povo trabalhador. Até parece que a estado português, ou a
dita II República, não é um estado laico, mas confessional e a igreja católica
não se sujeita às leis republicanas e à Constituição.
O 1º de Dezembro, como toda a gente deveria
saber, é o dia em que se comemora a Restauração da Independência Nacional,
relembrando os acontecimentos do 1º de Dezembro de 1640, em que os portugueses
reconquistaram a sua independência depois de quase 40 anos de dominação
espanhola (castelhana). Apesar de se ter procedido a uma substituição de
elites, o povo português apostou na elite representada pela família Bragança e
regateou esse apoio, como comprovam os protestos, apresentados pelos seus
representantes nas Cortes, sobre os sacrifícios que lhe eram exigidos enquanto
a nobreza e o clero se eximiam a eles e com a agravante de se aproveitarem da
guerra para enriquecerem ainda mais. E a prova de que o descontentamento, no
seio do povo, era profundo e o desejo de mudança era premente foi a
defenestração de Miguel de Vasconcelos.
O secretário de Estado (primeiro-ministro) da
duquesa de Mântua, vice-Rainha de Portugal em nome do Rei Filipe IV de Espanha
(Filipe III de Portugal), era uma figura odiada pelo povo por, sendo português,
colaborar com a representante da dominação filipina: expressava a subjugação e
a exploração do povo pela potência estrangeira ocupante. Miguel de Vasconcelos
foi a primeira vítima tendo sido defenestrado pelo grupo de fidalgos
portugueses e acabado de ser morto pelo povo em fúria em plena praça pública.
Em outra época de profunda crise política –
crise de 1383-85, em que se jogava a independência do país e a afirmação da
burguesia mercantil contra a velha nobreza enfeudada aos interesses da
monarquia castelhana –, o bispo de Lisboa, D. Martinho de Zamora, foi atirado
pelas janelas da Sé de Lisboa pelo povo enraivecido, em 6 de Dezembro de 1383,
sendo morto e depois abandonado na rua, onde é comido pelos cães. Quando é que os Migueis de Vasconcelos e os D.
Martinhos actuais serão igualmente defenestrados pelo povo revoltado? Esperamos
que não sejam, à semelhança dos seus anteriores, comidos pelos cães, porque
coitados dos cães!
2 de Dezembro de 2011