quarta-feira, 22 de outubro de 2025

BPP (Banco Pinto Balsemão & Cia)

Crónica escrita em 2008 sobre a salvação do Banco Privado Português, onde Pinto Balsemão detinha uma quota de 6,02%, por intervenção do governo utilizando uma garantia pública de 450 milhões de euros. Estávamos em pleno governo de Sócrates/PS. Mais tarde, Balsemão, apresentando-se como “lesado” pela falência, ainda recebeu do Estado cerca de 2 milhões de euros. Rendeiro, que se suicidou na prisão na África do Sul, foi o bode expiatório e terá levado consigo os segredos da fraude.

O governo de Sócrates, após de dar o dito pelo não dito, acabou por ser a tábua de salvação da instituição gestora de fortunas que dá erradamente pelo nome de “Banco” Privado Português, revelando a sua verdadeira função, o de comité gestor dos negócios da burguesia e não de resolução dos problemas do povo português, como não se cansou de proclamar (o P”S”) durante a campanha eleitoral.

Tudo já terá sido dito sobre esta operação de salvação dos lucros de um punhado de capitalistas, ao que parece maioritariamente portugueses, excepto sobre a verdadeira razão da atitude do governo, motivo de ser desta nossa opinião. Como quase toda a gente sabe, Sócrates foi catapultado para o poder da governação após a incineração política do seu correligionário Ferro Rodrigues, na sequência do caso da Casa Pia, e seguindo a decisão de um pequeno grupo de figuras influentes pertencentes à Maçonaria; com a incumbência principal: aplicar as medidas necessárias e urgentes à salvação do capitalismo português, ameaçado pela concorrência imposta pela UE e pela globalização mais geral. Sócrates tem sido o homem de mão dos capitalistas portugueses e o homem tem-se esforçado, conseguiu retirar espaço ao PSD, o partido por excelência da burguesia nacional; assim como o P”S” tem cumprido bem com a sua missão histórica, a de bombeiro de serviço do grande capital. E é a esta luz que temos de perceber a decisão do Governo em avalizar o empréstimo ao BPP.

O argumento levantado pelo Governo de que seria a “imagem” do país que estaria em causa se o BPP fosse à falência, diminuindo eventualmente a credibilidade da banca portuguesa na obtenção de novos empréstimos na praça financeira internacional, é mais que falacioso, quer pelo peso desta instituição no mercado financeiro, quer pelo tipo de actividade a que se dedica, a de gestão de fundos de investimento, e não propriamente a de bancária a retalho. A “imagem” que aqui se trata é a dos capitais pertencentes a uns figurões que dão pelo nome de João Rendeiro, presidente do BPP, que detém 12,5% do capital, João Vaz Guedes (5,81%), Joaquim Coimbra (2%), Stefano Saviotti, italiano, (5,83%), João de Deus Pinheiro, ex-ministro do PSD, Ferreira dos Santos, José Miguel Júdice ou de um Pinto Balsemão, presidente do conselho consultivo do banco (6,02%). Motivo, que não é de estranhar, para que o seu jornal, o inefável Expresso, tenha referido a título de 1ª página as razões invocadas pelo governo para a salvação do BPP.

O povo português pode pôr já as barbas de molho porque não escapará ao inevitável: o BPP não vai ter capacidade para reembolsar os credores do empréstimo agora concedido e vai ser o Estado, ou melhor, todos nós contribuintes, a pagar as perdas da especulação financeira de uns tantos parasitas nacionais. E a procissão ainda vai no adro, porque outros bancos, mais importantes do que este, em termos de quota de mercado bancário, estão na calha para a falência: serão como as cerejas, virão uns agarrados aos outros. A crise veio para ficar, e em Portugal será bem pior que no resto da União Europeia, atendendo ao grau de dependência económica do país e do endividamento externo. Esperemos que os portugueses saibam tirar as devidas conclusões destes factos e dêem a resposta adequada ao partido o governo, quer em termos eleitorais, mais imediatos, quer em termos políticos a mais longo prazo, ou seja, quanto ao destino a dar a este sistema explorador e desumano. Porque são os trabalhadores que irão pagar as favas!

08 de Dezembro 2008

in osbarbaros.org

Um comentário:

  1. Muito importante relembrar estes factos. Compreende-se melhor o porquê do inusitado luto nacional

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