Por Lois Pérez Leira
O uso do termo Paz de forma genérica exige
que os comunistas se lembrem do pensamento leninista.
No contexto da Grande Guerra de 1914, Lenine
desmascara que essa política não é outra senão a do capitalismo monopolista. As
guerras imperialistas não são acidentes ou erros morais, mas a manifestação
inevitável da luta das grandes potências pela divisão do mundo. Nesta
perspectiva, a Guerra de 1914 foi, «por parte dos dois grupos de potências
beligerantes, uma guerra imperialista... uma guerra pela distribuição do mundo,
pela divisão e redistribuição das colónias e pelas esferas de influência das
finanças e do capital» (Imperialismo, fase superior do capitalismo, 1917).
A Crítica do Pacifismo Burguês
Nesta perspectiva materialista, a paz genérica
é duramente criticada como pacifismo burguês. Lenine argumenta que o apelo
abstrato à «paz» confunde o proletariado e o desvia da sua tarefa
revolucionária. Se a guerra surge da exploração imperialista, então exigir
apenas a cessação das hostilidades sem tocar nas raízes económicas é uma ilusão
utópica. Lenine foi contundente ao afirmar que «O slogan da paz, se não
acompanhado de um apelo à acção revolucionária, nada mais é do que uma frase
vazia, susceptível de ser facilmente corrompida, e que apenas serve para
enganar as massas» (Sobre o slogan do Estados Unidos da Europa, 1915).
Um pacifista que defende a paz sem estar
disposto a levar a cabo uma guerra civil contra a sua própria burguesia
beligerante está, de facto, a agir como cúmplice do sistema. O líder
bolchevique não hesitou em salientar: «Seria errado acreditar que a paz pode
ser facilmente obtida. Quem reconhece a guerra de classes não pode deixar de
reconhecer a necessidade da guerra civil em certas condições de luta de
classes» (Socialismo e Guerra, 1915). Só a abolição do imperialismo pode
erradicar o germe dos conflitos modernos, uma vez que «a paz é, obviamente, uma
coisa excelente, mas apenas se for a paz... do proletariado, que se segue à
expropriação dos proprietários de terras e dos capitalistas. Sem esta condição,
a paz é apenas uma trégua para novos massacres» (Discurso no Soviete de
Petrogrado, 1917).
A Paz como Tática Estratégica
A paz genuína para Lenine não é um axioma
moral, mas o resultado estratégico subordinado à luta de classes. A paz entre
os Estados imperialistas é, na melhor das hipóteses, uma simples pausa, uma vez
que são necessárias «Tréguas para respirar e preparar a nova luta. Mas a paz
não pode ser chamada de paz entre ladrões que dividiram o seu saque» (Relatório
de Política Externa da ECF Russa, 1920).
Esta concepção materializou-se pragmática e
taticamente após a Revolução Russa de 1917. A paz sob o lema «Paz, Pão e Terra»
foi um meio de garantir a sobrevivência e consolidação do poder
operário-camponês. Esta lógica justificou o oneroso Tratado de Brest-Litovsk em
1918. Apesar das dolorosas concessões territoriais, Lenine defendeu a manobra:
«A questão toda é que devemos saber aplicar as táticas mais flexíveis na luta,
combinando a ofensiva com a retirada, de acordo com as circunstâncias concretas
e materiais. Não podemos sacrificar a revolução triunfante por considerações
puramente abstratas» (The Painful But Necessary Lesson, 1918). A paz era um
instrumento tático indispensável para ganhar tempo e consolidar o poder
socialista.
Em conclusão, a análise de Lenine,
rigorosamente ancorada no materialismo histórico, desmonta a paz genérica como
categoria ideológica a-histórica. O verdadeiro objectivo não é o simples fim da
guerra, mas o estabelecimento de uma nova era histórica livre das contradições
de classe que fazem da guerra um corolário necessário do sistema capitalista.
Dessa forma, a paz deixa de ser uma utopia e passa a ser o objetivo estratégico
final da luta do proletariado.
Imagem: Membros da delegação soviética que
firmaram o acordo de Março de 1918 com as potências centrais. Crédito da
Imagem: Wikipedia

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