Há dez anos foi assim, com a saída do governo PSD/CDS e entrada do governo PS/Costa/Geringonça, como rezava a crónica de 30 de Dezembro desse ano. Foi a salvação do Banif e a continuação da austeridade em forma mitigada. Este ano não será muito diferente, em vez de dinheiro para os bancos, será para a guerra. No fim, estes serão sempre os principais beneficiados.
O ano de 2015 termina com a oferta peculiar
das broas de Natal ao povo português pelo novel governo PS/Costa: capitalização
do Banif com mais 2 mil milhões de euros e a morte do cidadão David Duarte, 29
anos, por falta de assistência especializada, no Hospital de S. José, em
Lisboa. Há dinheiro para os bancos, mas não há para o SNS. O que aconteceu nas
duas últimas semanas do ano concentra tudo o que se passou ao longo de todo o
ano de 2015: encher os bolsos dos banqueiros, com o enriquecimento dos mais ricos
em geral, e matar o povo por falta de assistência médica, outros casos terão
acontecido pelas mesmíssimas razões, e à fome pelo desemprego e de baixos
salários.
Se esta foi a política do anterior governo
fascista PSD/CDS, será de igual modo a política do actual governo PS/Costa, com
o apoio parlamentar PCP e BE, embora mais mitigada (e vamos lá ver!), ou seja,
se as circunstâncias o permitirem. para além do embuste do aumento do salário
mínimo e dos aumentos miseráveis das pensões e das mentiras de que os
trabalhadores irão reaver alguma coisa do que lhes foi roubado desde que foi
declarada oficialmente o tempo de austeridade, por força do memorando de
entendimento da troika. Os aumentos da electricidade, das telecomunicações e
das rendas de casa, com os inevitáveis aumentos de outros produtos como em
cadeia de dominó (leite e gás estão na calha), são as outras broas de Natal e
os votos de Bom Ano Novo dadas por este governo ao povo português.
A decisão do governo em não deixar falir o
Banif, enterrando mais dois mil milhões de euros (totaliza já 3 800 milhões de
euros e o mais que virá), foi apresentada como um grande feito já que
representou, segundo as palavras do ministro das Finanças, "mais
(trabalho) em duas semanas do que o anterior governo em três anos"; e se
outra alternativa não foi possível, integração do Banif na CGD, se deve a
"restrições legais", impostas por Bruxelas, coisa que teria sido
possível em 2012, mas não agora, ficando a dúvida se não foi pelas nova
legislação que entra em vigor em Janeiro e que possibilita que os depósitos
acima dos 100 mil euros possam substituir os contribuintes nos bancos falidos.
Não terá sido por acaso que a TVI, estação
pertencente ao grupo espanhol Prisa, cujo accionista de referência é o
Santander, noticia a falência do banco e a sua integração na CGD, levando à
corrida aos levantamentos dos depósitos, cerca de mil milhões de euros foram
levantados em pouca horas, de certeza que pertencentes a grandes depositantes,
os tais que possuem mais de 100 mil euros; para além sua da desvalorização em
bolsa. A venda do Banif, a preço de uva mijona, ao Santander por 100 milhões de
euros não será estranha a este facto e a outros, que podemos presumir por
exemplo, ao conflito existente entre o estado português e aquele banco
espanhol, a decorrer no Tribunal do Comércio de Londres, em que aquele reclama
o pagamento de 1,3 mil milhões de euros referentes a contratos swaps efectuados
por quatro empresas públicas, Metro de Lisboa, Metro do Porto, STCP e Carris.
São negócios obscuros com uma parte secreta que foge ao controlo da opinião
pública e que geralmente lesam o estado em muitos milhões de euros.
Esta solução possui contornos mais que
nebulosos, com toda a gente, incluindo o partido mais responsável pela
situação, o PSD, e o ex-presidente do Banif a reclamar inquéritos e até
intervenção da justiça como se estes contribuíssem alguma vez, a exemplo de
casos semelhantes já ocorridos, para o esclarecimento do que quer que seja. O
que não quer dizer que esta gente toda não mereça estar na prisão, mas pelos
vistos não será com esta justiça. O Banif é a versão do BPN em modo bloco
central, porque enquanto no BPN só estão envolvidas praticamente figuras do
PSD, no Banif, apesar da sua história de banco do PSD/Alberto João Jardim e por
onde passou gente importante do cavaquismo e PSD nacional, de salientar o
patrão de Passos Coelho, Ângelo Correia, viu de igual modo nos seus órgãos de
administração e de empresas a ele associadas, figuras gradas do PS, como José
Lamego, que também passou pelo BPN, Júlio Castro Caldas e Vera Jardim.
O incontornável Luís Amado, ex-ministro PS,
defensor dos EUA e das suas guerras de agressão contra os povos, foi escolhido
para presidente da administração do Banif por bem encarnar os interesses e o
espírito do bloco central. É bom relembrar que a intervenção do estado, em
2013, se deveu à recusa dos accionistas, incluindo as herdeiras do principal
accionista, Horácio Roquete falecido em 2010, em entrar com 100 mil milhões de
euros a fim de sanear o banco das "imparidades", e por cuja situação
difícil eles, accionistas, eram e são os únicos responsáveis.
A decisão do governo PS/Costa não tem merecido
grande censura, muito menos ataques, por parte dos economistas e outros
paineleiros contratos pelo regime, até o próprio Passos Coelho não teve rebuço
em declarar que ele, se fosse primeiro-ministro, não teria feito diferente. O
quer dizer que esta solução para o Banif está de acordo com as regras de
Bruxelas/Alemanha e é de agrado da burguesia nacional, que continua a ver o
estado a assumir como suas as dívidas e as trafulhices do seus sistema
financeiro, cuja falência em modo imparável não é resultado de uma má ou menos
cuidadosa gestão, ou por factores externos, estes quanto muito facilitarão o
processo, mas por razões intrínsecas, ou seja, a falência do capitalismo
nacional, elo mais fraco do capitalismo europeu.
No estádio actual do capitalismo, em que o
capital financeiro domina por completo toda a economia e para se replicar vai
devorando a própria economia produtiva, o que não deixa de ser contraditório,
este se vai auto-destruindo. Primeiro o BPN, banco para o financiamento do PSD
e enriquecimento dos barões do cavaquismo, incluindo o dito; depois o BES,
paradigma da banca e dos banqueiros de “sucesso” nacionais (condecorados por Sª
Exª PR Silva de Boliqueime); agora o banco do jardinismo madeirense; todos os
três bancos de referência ou de bandeira desaparecem para reforço da banca
estrangeira, no caso, espanhola. O que mostra que o capitalismo nacional não
tem lugar de destaque na cadeia capitalista e imperialista europeia. A
burguesia nacional, embora cada vez mais rica, mas mais restrita, não passa de
uma burguesia subsidiária, compradora, que se alimenta das migalhas deixadas
pelos grandes monopólios europeus que monopolizam cada vez a exploração dos
trabalhadores portugueses.
A burguesia nacional, com quem a classe
operária portuguesa deve em primeiro de tudo ajustar contas, vai acentuando o
seu carácter parasitário, de classe supérflua e inútil de forma cada vez mais
rápida e notória. Ficou-se a saber – porque o ex-responsável da Direcção-Geral
dos Impostos José Azevedo Pereira resolveu botar a boca no trombone – que as
1000 famílias mais ricas do país, ou seja, aquelas que possuem património acima
dos 25 milhões de euros ou auferem rendimento anual de pelo menos de 5 milhões
de euros, não pagam praticamente impostos; os trabalhadores pagam por elas.
Enquanto nos países capitalistas mais avançados, os ricos até pagam (alguns)
impostos, em média, cerca de 25% do IRS, em Portugal não chegam a representar
0,5% do imposto pessoal, o famigerado IRS que na realidade se destina aos mais
pobres e aos trabalhadores – e vem o Costa dizer que não há condições para a
devolução da sobretaxa do IRS, é preciso ter lábia!
Mais ainda: o IRC, com 872 milhões de euros,
responde pela maior fatia, dos 1,19 mil milhões de despesa fiscal contabilizada
em 2014, sendo certo que uma expressiva parte continua concentrada num reduzido
número de contribuintes. Ou seja, as principais empresas fogem ao IRC e ao IVA,
não pagando e saindo impunes; não sendo também por acaso que só na Suiça se
encontram cerca de 24 mil milhões de euros, contas feitas por baixo, de
dinheiro fugido ao fisco, não se sabendo quanto andará por outros paraísos fiscais.
Resumindo: em Portugal, os multimilionários
pagam 500 vezes menos do que seria suposto, isto é, não pagam praticamente
nada. E falamos de cidadãos, porque quanto a empresas a situação parece ser
ainda pior: as dívidas de impostos que prescreveram em 2014 atingiram 1,3 mil
milhões de euros, o que traduz um acréscimo de 200% face a 2013. Contrariando
as farroncas do governo anterior dos sucessos do combate à evasão fiscal, que
se resumiam à perseguição dos pequenos devedores (do género do não pagador do Imposto
de Circulação do carro velho que fora vendido ou mandado para a sucata há
vários anos e não fora declarado), a carteira de dívida fiscal manteve-se
estável entre 2013 e 2014 (18,08 mil e 18,16 mil milhões de euros,
respectivamente), com a garantia de que mais de 60% desse valor jamais entrará
nos cofres do estado.
Imagem: O Silva de Boliqueime está em todas: BPN, BES, BANIF. É o denominador comum das falcatruas dos banqueiros.
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