terça-feira, 7 de maio de 2024

Leis feitas à medida dos amigos

 

Há cerca de um mês Paulo Lona, recém-eleito presidente do sindicato dos Magistrados do Ministério Público declarou que: "É um sinal positivo ouvir o primeiro-ministro colocar a justiça e o combate à corrupção como prioridade", assinalando que "as deficiências de recursos para combater este tipo de criminalidade têm sido apontadas, interna e externamente". Ora, indo buscar alguns casos de corrupção ocorridos nos governos do PSD e CDS-PP e que acabaram em absolvição, constata-se que o problema não está em “falta de meios”, mas numa cultura acarinhada pelas elites e que reverte sempre em seu benefício.

Crónica escrita em Fevereiro de 2008 sobre os famigerados casos "Casino de Lisboa" e "Portucale", envolvendo o ex-ministro Telmo Correia que, na madrugada do dia da tomada de posse do novo governo PS, assinou 300 despachos:

A alteração da lei do jogo levada a cabo pelo governo de Santana Lopes, e feita a pedido do interessado, veio beneficiar a empresa Casino do Estoril que ficará com as instalações do Casino de Lisboa após o fim do contrato, ao contrário do que acontecia até então, em que as instalações revertiam para a posse do Estado; assim, este ficou a ver a voar cerca de 17 milhões de euros. Santana diz que a culpa é do seu antecessor, Durão Barroso, que se terá comprometido com o negócio, e da política de compensações. Ou seja, como os capitalistas vão saqueando o Estado e como os governos PSD (ou PSD/PP) têm sido uns bons comités de negócios da burguesia nacional.

O ministro do Turismo ao tempo, o fascistóide Telmo Correia, veio esclarecer o povo ignorante e estúpido que o compromisso já estaria feito com a empresa investidora – uma questão de palavra, ao que parece – e que ele se limitou a dar o visto. E mais, na madrugada do dia da tomada de posse do novo governo PS, não assinou 300 despachos mas “apenas” 55! Um rapaz de palavra que honra os compromissos, à boa maneira antiga; só que não esclarece que a palavra honrada é em relação aos capitalistas e não em relação ao povo que o elegeu e que foi enganado pelas promessas eleitorais do seu partido e do PSD.

Santana Lopes, aproveitando mais uma vez as portas abertas das estações televisivas, veio também fazer do povo estúpido, ao querer explicar uma “situação tão complexa”, alegando que a sua governação foi transparente e que está de consciência tranquila (esta gente tem cá uma lata!). A culpa terá sido do antecessor, Durão Barroso, que se comprometeu com a empresa Estoril Sol, não passando de um lapso infeliz a carta enviada pelo administrador daquela empresa, Assis Ferreira, a dizer ao ministro em que termos a lei deveria ser alterada. A culpa terá sido também do presidente Sampaio que promulgou a dita lei. José Luís Arnaut e Pedro Almeida, ao tempo de Durão, também são culpados, lembrando outras culpas como a do financiamento do PSD pela Somague em 233 mil euros, que, dessa maneira, foi beneficiada em concursos públicos e facilitada a evasão fiscal.

O CDS/PP tem-se especializado ultimamente em corrupção a favor de grupos económicos nacionais. É o conhecido caso “Portucale”, que envolve crimes de tráfico de influências, abuso de poder e falsificação de documentos, permitindo que o CDS/PP, o principal acusado no processo, tenha recebido do Grupo Espírito Santo um donativo no valor de 1 milhão de euros a troco de favorecimento por parte do governo de que fazia parte. O Governo Santana Lopes, no curto período de tempo de meio ano, conseguiu arranjar mais casos de corrupção do que qualquer outro que o antecedeu com tempo de mandato completo.

Em relação a este caso, o despacho governamental, assinado um dia antes das eleições que puseram fim ao governo de Santana Lopes, autorizou o abate de mais de 2600 sobreiros para dar lugar ao empreendimento de luxo Ribagolfe do Grupo Espírito Santo, e foi feito à medida por um ministro que até nem assinou muitos despachos. Foi o fartar vilanagem e, agora, assistimos à sem vergonha de quem tem a certeza de que ficará impune.

No meio de tanta corrupção e de falta de escrúpulos, a questão por que é que o Inspector Chefe dos Jogos mudou de opinião de um momento para outro é perfeitamente secundária. A questão que se coloca é saber por que é que esta gente, que esteve no governo e governou como governou, não é incriminada em termos judiciais e paga pelas ilegalidades e crimes praticados? Aliás, o Estado deveria ser ressarcido pelos prejuízos causados por esta gente, que deveria responder em termos pessoais no que diz respeito a responsabilidade de natureza civil, como o governo quer fazer em relação aos juízes por eventuais erros nas suas decisões.

18 de Fevereiro 2008 (em www.osbarbraos.org)

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