sexta-feira, 14 de maio de 2021

Puta que os pariu!

 

Puta Que os Pariu! A Biografia de Luiz Pacheco (7 Maio 1925 - 5 Janeiro 2008)

Os 35 anos de Europa, o assassínio de Ihor Homemiuk, Odemira e a Cimeira Social do Porto

Nos últimos dias vários acontecimentos marcaram a agenda política do país: A Cimeira Social do Porto, que seria realizada para uma eventual mudança social com o objectivo de recuperação da economia capitalista na Europa, mais emprego, melhores salários, um possível salário mínimo europeu,mais direitos e regalias sociais para o mundo trabalho, em suma: a tal Europa dos cidadãos de que alguém gosta muito de falar; a sentença do caso da morte do imigrante ucraniano Ihor Homemiuk às mãos de três inspectores da política das fronteiras SEF, entretanto reconfigurada, cujos homicidas foram condenados a penas de prisão entre os 7 e os 9 anos, penas brandas pela razão invocada pelos juízes de que não teria havido intenção de assassinar mas somente de torturar; a cerca sanitária a duas freguesias do concelho de Odemira, por haver mais casos dos que a conta oficial de PCR+, trouxe à tona, o que já era há muito público, a existência de trabalho escravo nas culturas intensivas existentes em zona protegida na orla litoral alentejana. 35 anos após a adesão à CEE (UE), Portugal é o país de trabalho escravo que promove uma cimeira social. É razão para desabafar, caso não fossemos pessoas bem educadas: e se fossem gozar com a puta que os pariu!

O Novo Banco é, sem dúvida alguma, um poço sem fundo dos dinheiros públicos, uma resolução que foi imposta por Bruxelas, uma experiência para salvar a banca privada que ainda não tinha sido ensaiada, com o governo PSD/CDS como autor e o governo seguinte do PS/Costa/BE/PCP como executor responsável, ganhou o capital financeiro, em particular, a Lone Star, fundo de investimento norte-americano. Após 4 mil milhões de euros já estorricados, serão mais 1600 milhões que já se encontram destinados para... “compensar perdas com activos”. Entretanto, os grandes devedores ao Novo Banco continuam sem pagar os 1,26 mil milhões de euros, ao que dizem, porque nunca se saberá a quantia exacta. E os nove gestores do banco que continua falido irão receber cerca de 2 milhões de euros de prémio, possivelmente, pelo “excelente” trabalho do banco ter somado mais 1,3 mil milhões de prejuízos em 2020! Não são todos uma corja de parasitas e de gatunos?! O contribuinte continuará a pagar e o governo (que até é um governo “de esquerda”, ora se não fosse!) continuará a seguir a receita do empobrecimento do povo português, agora com os protestos hipócritas e cobardes de todos os partidos da putativa oposição. Empobrecimento revelado entre outras realidades pelo aumento da receita arrecadada em sede do IRS, mais 3,1%, enquanto os capitalistas pagaram menos 17,9% de IRC no ano passado.

No dia 1 de Janeiro de 1986, Portugal “aderiu”, segundo dizem, juntamente com a Espanha (terá sido condição sine qua non) à então CEE (Comunidade Económica Europeia), mas que na altura já era mais do que “económica”, era abertamente um projecto político de dominação ao serviço da Alemanha, esta por sua vez um prolongamento do imperialismo norte-americano - já lá vão 35 anos! Depois da invasão de Portugal pela CEE e do Tratado de Maastricht, veio o culminar da integração monetária com o euro, reforçado pelo Tratado de Lisboa, e o resultado está bem à vista, só não vê quem não quer: Portugal continua a ser um país com uma economia baseada essencialmente em baixos salários, fraca produtividade e trabalhadores com poucas habilitações. Quem o diz é a insuspeita Pordata, que no entanto omite o trabalho escravo, como se constata não só em Odemira como em outras regiões do país, sendo a gravidade mais chocante no Alentejo, Algarve e no Tejo com a apanha dos bivalves. A escravatura dos trabalhadores imigrantes não anula, apenas disfarça a outra escravatura dos trabalhadores nacionais.

Os nossos “empresários de sucesso” que dizem preferir os trabalhadores imigrantes porque os portugueses reivindicam demasiado e “não querem trabalhar” são mais do que cúmplices da escravatura, são autores, autênticos negreiros, protegidos pelo governo PS, que nada fez nem fará para acabar de vez com este estado de coisas, que para além de extorquírem a mais-valia pelo trabalhado realizado nas culturas intensivas ainda os exploram através dos alojamentos e da contratação, esta feita a meias com as empresas ditas de “trabalho temporário”, e querem sempre mais, como todos os capitalistas nacionais. A CIP, fazendo eco desta ganância desenfreada, reclama uma “almofada” pública de 8.000 milhões de euros para resolver moratórias das empresas que se encontram endividadas aos bancos, e estes também endividados num encadeamento circular à espera de quem irá cair primeiro se o governo PS/Costa não acudir a tempo. Mais uma factura para os trabalhadores e os portugueses em geral, os tais de baixos salários e fracas habilitações, pagarem e de preferência sem protestar... porque agora a culpa é da pandemia da covid-19 e o governo não fez melhor porque não pôde!

Portugal é o 3.º país com mais trabalhadores acima dos 64 anos na União Europeia, 11,7%; ou seja, o dobro da média dos 27 países! E, esta hein! Em 35 anos da dita Europa dos Direitos Sociais, segundo se rezou na Reunião dita “informal” do Conselho Europeu, realizada há pouco na cidade do Porto, e cujos objectivos eram: redução da pobreza, combate à discriminação e exclusão social e diminuição das desigualdades redigidas. Mas como parece que a pobreza é pouca, embora digam pretender o contrário, o facto é que tudo aponta para que ela, e a curto prazo, aumente ainda mais. Não será somente as mais de 700 mil famílias que não conseguirão pagar os seus créditos quando as moratórias acabarem em Setembro, ou a tendência dos impostos pagos pelos trabalhadores, nomeadamente em sede de IRS e de impostos indirectos, os que são iguais quer para ricos quer para pobres, em aumentar constantemente (carga fiscal em 2020 representou 34,8% do PIB e foi a maior de sempre – INE), como já se prepara a opinião pública para a inevitabilidade do aumento de impostos num futuro próximo, porque, segundo estudo promovido pela Gulbenkian (instituição respeitável e que aparentemente não mente), o “envelhecimento pode trazer mais impostos e menos benefícios para as futuras gerações” para que possa haver finanças públicas sustentáveis e... que já poderão ter sido tomadas.

E qual o melhor governo para as tomar, muitas vezes disfarçadamente sem que a maioria dos portugueses se aperceba a tampo, se não o governo PS/Costa! Claro que haverá alguém que dirá que Portugal tem uma carga fiscal (34,8% ) abaixo da média da UE (cerca de 41%), só que não diz que os patrões em Portugal, os grandes, pagam poucos impostos e o sonho molhado seria não pagar nada e ter os trabalhadores a trabalhar à borla, por exemplo, como em Odemira. Na prática, parece ser essa a política do PS quando no governo e, principalmente, porque é exactamente nestas alturas que o PS é catapultado para o poder da governação, quando a economia portuguesa se encontra em forte depressão - o Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou que o PIB português registou, durante o ano passado, uma contracção de 7,6%, o resultado mais negativo que é possível encontrar na série histórica do Banco de Portugal desde 1928 (da imprensa). É mais que evidente que é toda a economia capitalista nacional, para mais em situação de subjugação perante os países centrais mais ricos, se encontra falida. Agora, em 2021, não são só os bancos que se encontram no charco da ruína, como em 2008, mas todas as empresas em geral, e o apoio ao aumento do salário mínimo de 84,5 euros por posto de trabalho, no total serão 60 milhões de euros, é um bom índice da situação das empresas e do papel e natureza deste governo PS que, além do mais, nunca deixou de contar com os apoios do PCP e do BE, ambos muito preocupados com a “economia nacional”.

E a pandemia veio em boa hora, até parece que surgiu de propósito, excelente pretexto para salvar as grandes empresas e deixar afundar as restantes, facilitando o processo natural de concentração do capital, mas que neste momento se pretende acelerado, e justificar as medidas de austeridade que virão em breve e a quadruplicar. E os indícios do que aí vem são bem claros. O já referido estudo da Gulbenkian também não deixa de apontar que “os impostos terão de subir 22% para ter contas públicas sãs (exigência de Bruxelas) e em alternativa será necessário cortar o valor das pensões futuras em 19% ou então aumentar a idade da reforma (que o governo acaba de fazer em mais 1 mês). E no campo da Saúde, o mais sensível de todos para o povo português, o denominado PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) irá “recuperar medidas da troika para hospitais”, com a junção dos serviços de urgências dos hospitais públicos nas grandes cidades e que será mais do que isso, iremos assistir à repetição do que aconteceu nos governos do PS/Sócrates e PSD/CDS/Coelho/Portas de encerramento de unidades do SNS consideradas a mais para não competir com o privado. Será mais do mesmo, mas em dose reforçada: salários mais baixos, corte nas pensões e benefícios sociais, menos dinheiro para o SNS (para os privados não faltará) e Educação e aumento de impostos! Serão medidas decretadas pelo Costa/PS, como aconteceu com o Sócrates/PS, depois virá um governo formalmente de direita PSD/Chega, à semelhança do PSD/CDS, para as impor à força do cacete. A história repete-se.

No tal de PRR, cuja versão completa não foi dada a conhecer aos portugueses pelo Costa, mas somente uma versão resumida, haverá 92 milhões de euros para “regularizar” e “inovar” os lares clandestinos de idosos, como se estes parasitas, exploradores dos nossos idosos e famílias, se preocupassem com alguma coisa se não com o dinheiro. Se o governo estivesse na realidade interessado em acabar com este negócio negreiro já teria iniciado a criação de uma rede pública de lares e de residências para cuidados continuados em vez de entregar o assunto aos privados que apenas vêem cifrões e pouco mais, e esta seria uma excelente altura. A pandemia serviu para contratar camas aos privados da saúde enquanto, como agora se confirma mais uma vez, os hospitais públicos, quer enfermarias quer unidades de cuidados intensivos, estavam longe da saturação, e ao contrário do que a imprensa mercenária nos queria fazer acreditar. E o Plano de Recuperação e Resiliência será, com o financiamento de toda a rede de serviços (ditos) sociais e privados, o culminar do processo de destruição do SNS.

O que se passa em Odemira, onde os trabalhadores são miseravelmente explorados, não se pode desligar do tratamento que as polícias lhes dão quando tentam entrar no país de forma isolada, porque quando em rede de tráfico, os polícias, que não são menos corruptos que os políticos do regime, vão fechando os olhos. Exploração de seres humanos em herdades de culturas intensivas, cuja produção se destina em grande medida para exportação (havendo já alguém preocupado com a imagem que esta situação de desumanidade poderá dar do país no exterior, inclusivamente haver o risco de boicote aos produtos hortícolas made in Odemira), em plena reserva natural (Rede Natura 2000 e Parque Natural), em regime de exploração intensiva dos solos com a sua esterilização a prazo devido ao uso desmesurado de fertilizantes e pesticidas, perigo que espreita todo o Alentejo e Algarve com as culturas intensivas da oliveira, da amendoeira e agora da pera abacate. Calcula-se que em 20 anos, Alentejo e também Algarve, porque o turismo nunca virá a ser o que era, estarão desertificados igualmente em termos humanos depois dos seus terrenos terem ficado envenenados pela actividade destas empresas que na sua maioria nem sequer são portuguesas.

Mas foi para isto que Portugal entrou na CEE/UE: produzir a preço baixos o que os outros países precisam; a preços baixos e com escravatura. A reconversão capitalista que aí vem através do PRR será para estender esta situação a todo o país e a todas as áreas económicas, será com as minas do lítio, será com o já famigerado “hidrogénio verde”, e já o incontornável secretário de estado da energia e ambiente sentenciara: “Quem está contra as minas está contra a vida”... do capitalismo, acrescentamos nós. E nesta destruição do país e da pauperização acelerada do povo português, todos são responsáveis, como em Odemira: governo, autarcas, deputados, partidos do regime, magistrados e polícias (o SEF não encontrou trabalhadores ilegais em Odemira, pudera!). E para os recalcitrantes haverá, na melhor das hipóteses, o passaporte covid, discriminando vacinados (e vamos lá ver aos efeitos a prazo das vacinas!) e não vacinados à semelhança da Alemanha Hitleriana com os judeus e não judeus, ou a tortura e a morte, como aconteceu com o malogrado trabalhador Ihor Homemiuk e cuja justiça ficará por se fazer; as penas decididas serão meramente simbólicas para salvar a face do regime. Aos poucos o regime democrático burguês revela a sua verdadeira face de ditadura da burguesia sobre os trabalhadores e o povo em geral e não bastará mudar de governo ou de figurões ou sair da UE, a revolução socialista será inevitável... porque necessária.

 


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