quinta-feira, 25 de maio de 2023

A salvação do PS e da "economia nacional"

  

Crónica escrita aquando da formação da “geringonça” que tentava antecipar o que seria a governação “socialista” à custa do engano dos parceiros, que nas eleições seguintes levaram um arrombo de peso no apoio eleitoral – não é por acaso que o PCP já mudou de direcção política e o BE vai fazê-lo em breve – e da ilusão dos portugueses que continuaram com a austeridade, embora mais mitigada.

É por demais evidente que a estratégia do PS, sob a direcção do Costa, de não se coligar com a seita pafiosa PSD/CDS-PP se deve a ter aprendido a lição grega que mostrou que a aliança do PASOK com a Nova Democracia, para a aplicação da política de austeridade a mando de Bruxelas/Berlim, conduziu inevitavelmente ao desaparecimento do partido socialista grego que, nas eleições seguintes, ficou nos desprezíveis 5% dos votos.

A função do governo PS será igual à da defunta coligação, mas para que se torne mais eficaz foi necessário acrescentar-lhe as “bengalas” BE e PCP que, não estando dentro do governo, são também a garantia da sua sobrevivência. O ministro das finanças socialista, como já acontecera com o primeiro-ministro foi pedir a bênção do todo poderoso (parece que ainda mais que a chancelarina) ministro das finanças alemão Schäuble que não esteve com meias palavras, “conhece” desde há muito o Costa e este merece da sua parte grande e sincera “confiança” (mais precisamente, “relação de confiança muito boa”).

Centeno reafirmou que o seu governo irá respeitar escrupulosamente os compromissos europeus, respeito esse replicado pelo Costa que, contrariando o que prometera em tempo de campanha das mentiras eleitorais, “não temos condições financeiras para eliminar integralmente a sobretaxa (do IRS)”, ao mesmo tempo que assumia que já negoceia com os donos da TAP para que o estado seja maioritário e já falou com o governador do Banco de Portugal sobre o Novo Banco. Ora, traduzindo isto para português entendível, o estado (governo PS/Costa) vai pagar a dívida da TAP e meter mais dinheiro no Novo Banco, que já nasceu velho e falido, por isso é que não há restituição da sobretaxa do IRS.

E, dizemos nós, nem haverá fim dos cortes salariais na Função Pública e nas reformas, muito menos descongelamento das carreiras na administração pública, e quanto à reposição da semana das 35 horas e pagamento integral das horas suplementares, vamos lá ver. Ah!, o homem esqueceu-se de dizer que o estado já meteu 1500 milhões de euros no Banif, o próximo banco a falir, e que irá aí meter mais dinheiro e que tudo somado chegará aos 6 mil milhões de euros, a que se juntará 9 mil milhões de euros de juros e de abatimento à dívida soberana. A austeridade seguirá dentro de momentos.

PCP, BE e Paz Social

Sabendo do que se passa, o secretário do PCP que, apesar de operário pouco instruído, nem é trouxa, já veio dizer que o governo não é da coligação dos três, mas é do PS. A outra razão que levou a Jerónimo sentir a necessidade de esclarece alguma coisa é a dificuldade de conter as lutas operárias por tempo indefinido, e a obra meritória a favor da paz social está já à vista: a greve convocada para o Metro de Lisboa, que seria parcial e por seis dias, foi, entretanto, desconvocada porque “… temos um interlocutor à altura”, disse a dirigente Silva Marques do sindicato dos Maquinistas. E a greve da CP, convocada pelo SNTSF, também afecto à CGTP, ocorrida no dia feriado 8 de Dezembro, ninguém deu por ela, praticamente todos os comboios circularam, apesar de não terem sido decretados serviços mínimos para os maquinistas que reivindicam melhor pagamento para as horas extraordinárias.

Eis para que serve apoio do PCP que, a troco de algumas poucas ditas exigências para os trabalhadores, vende os interesses dos operários do sector dos transportes que, por sua vez, estão sob forte pressão devido à privatização que é sinónimo de desemprego e redução dos salários. O PCP afirma que “ não exige nem quer tudo de uma vez; mas também não quer que se mude alguma coisa para ficar tudo na mesma”, ou seja, exige pouco e contenta-se com pouco mais de nada, que é exactamente as suas “exigências” de “aumento do salário mínimo nacional”, “reversão das privatizações nos transportes”, “reposição das 35 horas”, “revogação da alteração à Lei da IVG”, “Pagamento dos complementos de reforma” (que foram retirados pela lei do OE), “Reposição dos feriados”.

Para o PCP, com o PS no governo, na prática, a austeridade pode continuar, mas em suaves prestações, tal como defende para o pagamento da dívida pública. Saída do euro e até a tímida renegociação da dívida foram, disfarçadamente, atiradas para as calendas, agora trata-se de apresentar “propostas legislativas”, num branqueamento das diferenças sociais e da luta de classes, para que “quanto melhor ficarem os trabalhadores e o povo, melhor ficará o “País”, onde naturalmente se incluirão os Belmiros de Azevedo, os Amorins e os sucessores e aparentados dos Ricardos Salgados.

Austeridade disfarçada

Costa & Centeno (parece a sigla de empresa de venda a retalho) já vieram justificar-se com a pesada herança para a impossibilidade se cumprir com as metas do défice para este ano, assacando responsabilidades à coligação pafiosa, o que não deixa de ser verdade, mas não ousando imporem-se contra as solicitações de Bruxelas que não abdica de ter em sua posse o rascunho do Orçamento e só depois do aval é que poderá ser “aprovado” na Assembleia da República, imitando a posição de genuflexão de tão agrado do Coelho de Massamá. No mínimo, Costa deveria ter a coragem de corresponsabilizar Bruxelas do incumprimento já que esta deu todo o apoio ao governo anterior que, afinal de contas, não possuía nenhuma almofada orçamental protectora, mascarando os números das contas públicas, como fazia em relação à economia do país.

No entanto, a algum lado o governo irá buscar o dinheiro para ser agradável aos amos alemães e, como tem sido costume, será aos bolsos dos trabalhadores, que muito dificilmente irão recuperar uma pequena parte do que lhes foi roubado; ou melhor, o roubo continuará, com o empobrecimento dos trabalhadores e do povo. O patrão dos patrões da indústria nacional não deixou dúvidas: vai propor na reunião de concertação social um aumento do salário mínimo para um valor inferior aos 530 euros propostos pelo Governo, escusando-se a revelar o montante (da imprensa).

Salvar o capitalismo e os capitalistas nacionais

No entanto, para o coordenador da CGTP, os baixos salários e o desemprego não se devem ao capitalismo, mas à eventual falta de apoios e incentivos para os patrões, nomeadamente as pequenas e médias empresas de capital nacional, para que se possam desenvolver e ganhar competitividade, aguentar a concorrência, ou seja, mais lucros. Arménio Carlos “esquece-se”, ou capciosamente não quer saber, que o crescimento económico capitalista se tem feito com salários mais baixos, mais precariedade laboral e menos postos de trabalho, resultado da automatização e informatização da produção, e se há aumentos de salários é porque os operários os impuseram com a sua luta, não foi uma dádiva dos patrões que, como bem revela o chefe da CIP com a sua miserável e provocatória proposta de aumento do salário mínimo, possuem mentalidade de negreiros e só dão um chouriço depois de arrancar aos trabalhadores uma vara de porcos.

Os dinheiros públicos, extorquidos aos trabalhadores, não serão suficientes para salvar a burguesia nacional ou a classe média, cujas ideias e valores os dirigentes da CGTP e do PCP jamais deixarão de assumir e defender como se fossem dos operários, elas estão condenadas a desaparecer no processo global de acumulação e concentração capitalistas; e, mais especificamente, em relação à pequena-burguesia, ela tem somente duas formas de desaparecer: ou dolorosamente, como agora acontece (16,5% das empresas estão em incumprimento para com a banca, percentagem que sobre para o dobro no Algarve); ou de maneira mais suave e sem dor em regime socialista, onde os principais meios de produção e de distribuição estão nas mãos dos operários, através da organização e da associação.

“Um Portugal mais justo, mais solidário e mais desenvolvido” (independentemente do que se possa entender por “Portugal”) , como deseja o PCP, jamais será possível enquanto houver capitalismo neste país. E o que estamos presentemente a assistir é à tentativa de salvação dos capitalistas nacionais e do capitalismo a nível mais geral, com o governo PS/Costa apoiado nas muletas BE e PCP a servir de instrumento. A salvação do PS corre a par e passo com a da burguesia nacional e do seu regime de exploração, mas esta tentativa será a sua morte prematura. A sorte do PS não será muito diferente da do PASOK, a agonia é que poderá ser um pouco mais demorada.

09 de Dezembro 2015

Imagem: blog "diganaoainercia"

In “Os Bárbaros” 

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