Crónica escrita aquando da formação da “geringonça” que tentava antecipar o que seria a governação “socialista” à custa do engano dos parceiros, que nas eleições seguintes levaram um arrombo de peso no apoio eleitoral – não é por acaso que o PCP já mudou de direcção política e o BE vai fazê-lo em breve – e da ilusão dos portugueses que continuaram com a austeridade, embora mais mitigada.
É por demais evidente que a estratégia do PS,
sob a direcção do Costa, de não se coligar com a seita pafiosa PSD/CDS-PP se
deve a ter aprendido a lição grega que mostrou que a aliança do PASOK com a
Nova Democracia, para a aplicação da política de austeridade a mando de
Bruxelas/Berlim, conduziu inevitavelmente ao desaparecimento do partido
socialista grego que, nas eleições seguintes, ficou nos desprezíveis 5% dos
votos.
A função do governo PS será igual à da defunta
coligação, mas para que se torne mais eficaz foi necessário acrescentar-lhe as “bengalas”
BE e PCP que, não estando dentro do governo, são também a garantia da sua
sobrevivência. O ministro das finanças socialista, como já acontecera com o
primeiro-ministro foi pedir a bênção do todo poderoso (parece que ainda mais
que a chancelarina) ministro das finanças alemão Schäuble que não esteve com
meias palavras, “conhece” desde há muito o Costa e este merece da sua parte
grande e sincera “confiança” (mais precisamente, “relação de confiança muito
boa”).
Centeno reafirmou que o seu governo irá
respeitar escrupulosamente os compromissos europeus, respeito esse replicado
pelo Costa que, contrariando o que prometera em tempo de campanha das mentiras
eleitorais, “não temos condições financeiras para eliminar integralmente a
sobretaxa (do IRS)”, ao mesmo tempo que assumia que já negoceia com os donos da
TAP para que o estado seja maioritário e já falou com o governador do Banco de
Portugal sobre o Novo Banco. Ora, traduzindo isto para português entendível, o estado
(governo PS/Costa) vai pagar a dívida da TAP e meter mais dinheiro no Novo
Banco, que já nasceu velho e falido, por isso é que não há restituição da
sobretaxa do IRS.
E, dizemos nós, nem haverá fim dos cortes
salariais na Função Pública e nas reformas, muito menos descongelamento das
carreiras na administração pública, e quanto à reposição da semana das 35 horas
e pagamento integral das horas suplementares, vamos lá ver. Ah!, o homem
esqueceu-se de dizer que o estado já meteu 1500 milhões de euros no Banif, o
próximo banco a falir, e que irá aí meter mais dinheiro e que tudo somado
chegará aos 6 mil milhões de euros, a que se juntará 9 mil milhões de euros de
juros e de abatimento à dívida soberana. A austeridade seguirá dentro de
momentos.
PCP, BE e Paz Social
Sabendo do que se passa, o secretário do PCP
que, apesar de operário pouco instruído, nem é trouxa, já veio dizer que o
governo não é da coligação dos três, mas é do PS. A outra razão que levou a
Jerónimo sentir a necessidade de esclarece alguma coisa é a dificuldade de
conter as lutas operárias por tempo indefinido, e a obra meritória a favor da
paz social está já à vista: a greve convocada para o Metro de Lisboa, que seria
parcial e por seis dias, foi, entretanto, desconvocada porque “… temos um
interlocutor à altura”, disse a dirigente Silva Marques do sindicato dos
Maquinistas. E a greve da CP, convocada pelo SNTSF, também afecto à CGTP,
ocorrida no dia feriado 8 de Dezembro, ninguém deu por ela, praticamente todos
os comboios circularam, apesar de não terem sido decretados serviços mínimos
para os maquinistas que reivindicam melhor pagamento para as horas
extraordinárias.
Eis para que serve apoio do PCP que, a troco
de algumas poucas ditas exigências para os trabalhadores, vende os interesses
dos operários do sector dos transportes que, por sua vez, estão sob forte
pressão devido à privatização que é sinónimo de desemprego e redução dos
salários. O PCP afirma que “ não exige nem quer tudo de uma vez; mas também não
quer que se mude alguma coisa para ficar tudo na mesma”, ou seja, exige pouco e
contenta-se com pouco mais de nada, que é exactamente as suas “exigências” de
“aumento do salário mínimo nacional”, “reversão das privatizações nos
transportes”, “reposição das 35 horas”, “revogação da alteração à Lei da IVG”,
“Pagamento dos complementos de reforma” (que foram retirados pela lei do OE),
“Reposição dos feriados”.
Para o PCP, com o PS no governo, na prática, a
austeridade pode continuar, mas em suaves prestações, tal como defende para o
pagamento da dívida pública. Saída do euro e até a tímida renegociação da
dívida foram, disfarçadamente, atiradas para as calendas, agora trata-se de
apresentar “propostas legislativas”, num branqueamento das diferenças sociais e
da luta de classes, para que “quanto melhor ficarem os trabalhadores e o povo,
melhor ficará o “País”, onde naturalmente se incluirão os Belmiros de Azevedo,
os Amorins e os sucessores e aparentados dos Ricardos Salgados.
Austeridade disfarçada
Costa & Centeno (parece a sigla de empresa
de venda a retalho) já vieram justificar-se com a pesada herança para a
impossibilidade se cumprir com as metas do défice para este ano, assacando
responsabilidades à coligação pafiosa, o que não deixa de ser verdade, mas não
ousando imporem-se contra as solicitações de Bruxelas que não abdica de ter em
sua posse o rascunho do Orçamento e só depois do aval é que poderá ser
“aprovado” na Assembleia da República, imitando a posição de genuflexão de tão
agrado do Coelho de Massamá. No mínimo, Costa deveria ter a coragem de
corresponsabilizar Bruxelas do incumprimento já que esta deu todo o apoio ao
governo anterior que, afinal de contas, não possuía nenhuma almofada orçamental
protectora, mascarando os números das contas públicas, como fazia em relação à
economia do país.
No entanto, a algum lado o governo irá buscar
o dinheiro para ser agradável aos amos alemães e, como tem sido costume, será
aos bolsos dos trabalhadores, que muito dificilmente irão recuperar uma pequena
parte do que lhes foi roubado; ou melhor, o roubo continuará, com o empobrecimento
dos trabalhadores e do povo. O patrão dos patrões da indústria nacional não
deixou dúvidas: vai propor na reunião de concertação social um aumento do
salário mínimo para um valor inferior aos 530 euros propostos pelo Governo,
escusando-se a revelar o montante (da imprensa).
Salvar o capitalismo e os capitalistas nacionais
No entanto, para o coordenador da CGTP, os
baixos salários e o desemprego não se devem ao capitalismo, mas à eventual
falta de apoios e incentivos para os patrões, nomeadamente as pequenas e médias
empresas de capital nacional, para que se possam desenvolver e ganhar
competitividade, aguentar a concorrência, ou seja, mais lucros. Arménio Carlos
“esquece-se”, ou capciosamente não quer saber, que o crescimento económico
capitalista se tem feito com salários mais baixos, mais precariedade laboral e
menos postos de trabalho, resultado da automatização e informatização da
produção, e se há aumentos de salários é porque os operários os impuseram com a
sua luta, não foi uma dádiva dos patrões que, como bem revela o chefe da CIP
com a sua miserável e provocatória proposta de aumento do salário mínimo,
possuem mentalidade de negreiros e só dão um chouriço depois de arrancar aos
trabalhadores uma vara de porcos.
Os dinheiros públicos, extorquidos aos
trabalhadores, não serão suficientes para salvar a burguesia nacional ou a
classe média, cujas ideias e valores os dirigentes da CGTP e do PCP jamais
deixarão de assumir e defender como se fossem dos operários, elas estão
condenadas a desaparecer no processo global de acumulação e concentração
capitalistas; e, mais especificamente, em relação à pequena-burguesia, ela tem
somente duas formas de desaparecer: ou dolorosamente, como agora acontece
(16,5% das empresas estão em incumprimento para com a banca, percentagem que
sobre para o dobro no Algarve); ou de maneira mais suave e sem dor em regime
socialista, onde os principais meios de produção e de distribuição estão nas
mãos dos operários, através da organização e da associação.
“Um Portugal mais justo, mais solidário e mais
desenvolvido” (independentemente do que se possa entender por “Portugal”) ,
como deseja o PCP, jamais será possível enquanto houver capitalismo neste país.
E o que estamos presentemente a assistir é à tentativa de salvação dos
capitalistas nacionais e do capitalismo a nível mais geral, com o governo
PS/Costa apoiado nas muletas BE e PCP a servir de instrumento. A salvação do PS
corre a par e passo com a da burguesia nacional e do seu regime de exploração,
mas esta tentativa será a sua morte prematura. A sorte do PS não será muito diferente
da do PASOK, a agonia é que poderá ser um pouco mais demorada.
09 de Dezembro 2015
Imagem: blog "diganaoainercia"
In “Os Bárbaros”
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