António Costa, aquando em campanha em Coimbra, disse a pessoa do povo que o interpelou que não iria fazer o mesmo que o Passos Coelho (foto do autor)
Crónica de 2015, logo depois de o PS ser catapultado para o governo:
A tomada de posse do governo minoritário PS/Costa deve ser considerada como uma derrota pessoal do Silva de Boliqueime (para nossa infelicidade, ainda PR até 24 de Janeiro de 2016) e uma tentativa para a salvação do regime democrático/parlamentar burguês, apesar de tudo o melhor regime político para a exploração consentida dos trabalhadores.
Os expedientes usados pelo cidadão Silva (que
deverá ser submetido à justiça mal termine o mandato) para manter o seu governo
em funções mesmo que em modo de gestão e impedir um governo formalmente mais à
esquerda, mas que incluía tenebrosos “comunistas” e “radicais de esquerda”,
mais não revelaram que desespero e isolamento.
Uma parte das nossas elites, embora
minoritária, entendeu que porfiar num governo de extrema-direita poderia ser
contraproducente, na justa medida em que poderia acicatar a luta social, e
incluir no seu apoio um PCP colaborante, especialmente bajulante a partir do 25
de Novembro de 1975, melhor seria a garantia da pacificação das lutas dos
operários.
Terão sido Bruxelas e a chancelarina Merkel
que melhor terão entendido a questão, e é muito provável que este governo tenha
sido constituído mais por pressão externa do que interna e, ao contrário,
parecendo um paradoxo, que tenha sido os tais “compromissos externos”, agitados
pelo Silva a fim de impedir a tomada de posse de um governo “socialista” com
amparo “comunista”, que o terão forçado a decidir contra a sua vontade; e já
agora, nem se compreende que a pessoa que se ufana de raramente ter dúvidas e
nunca se enganar ter auscultado, à revelia (mais uma vez) da Constituição que
jurou defender, toda a sorte de reaccionários e exploradores do povo que o
terão aconselhado em sentido oposto ao que acabou por decidir.
Cavaco, o Silva de Boliqueime, ficará para a
história como o PR mais reaccionário, inculto e imbecil, que Portugal alguma
vez teve, desde a I República, passando pelo fascismo e acabando nesta II
República que luta cada vez mais pela sobrevivência.
A realidade económica do país, melhor dizendo,
do capitalismo nacional, está a vir ao de cimo, não é que não fosse já visível,
mas a saída da canalha fascista PSD/CDS-PP e o abrandamento da vozearia dos
propagandistas de serviço permitem uma melhor visualização; realidade esta que
não deixará de ser atribuída ao novo governo pelas mesmas vozes em grosseira
manobra de manipulação.
O PIB registou uma taxa de variação nula em
termos reais, no 3º trimestre, tendo contribuído para essa estagnação o
afrouxamento do consumo interno, especialmente de bens duradouros, e a redução
do investimento, nomeadamente, investimento fixo em “Outras Máquinas e
Equipamentos”, o que pressupõe uma estagnação do sector produtivo; as
importações de Bens e Serviços também diminuíram, expressando assim a
diminuição do consumo privado.
Mas se a diminuição da procura interna,
revelando o empobrecimento dos trabalhadores e do povo português, é realidade
bem visível, então o enriquecimento dos mais ricos de Portugal não deixa de ser
também evidente, como os dois recipientes de um sistema de vasos comunicantes;
as empresas cotadas na Bolsa de Lisboa apresentaram um aumento dos lucros de
835 milhões de euros, no primeiro semestre do ano em comparação com período
homólogo do ano passado, ou seja, 1,93 mil milhões de euros. Contudo, o
endividamento acumulado dessas mesmas empresas subiu de igual modo, para os
32,32 mil milhões de euros, o quer dizer, entre outras coisas, que essas
empresas distribuem dividendos aos accionistas independentemente de terem
lucros ou não, ou mesmo em montante superior aos lucros, num processo de
enriquecimento continuado dos capitalistas, nacionais ou estrangeiros.
A empresa do PSI 20 que mais lucros apresentou
foi, como não podia deixar de ser, a EDP com 587 milhões de euros, seguida pela
Galp e a Jerónimo Martins (que até agradece estas campanhas do Banco Alimentar
“Contra a Fome”), ficando com certeza os seus accionistas chineses (o estado
chinês) satisfeitos com a proeza. Claro que uma das reacções a estes números,
apresentados pelo INE, foi de uma das dirigentes mediáticas do BE que não se
coibiu de declarar que “reflectem uma economia estagnada e incapaz de gerar
crescimento” e “a necessidade imperiosa de ter uma mudança na política
económica de Portugal”, como “crescimento” (capitalista) fosse sinónimo de mais
emprego ou salários mais altos ou a “mudança na política económica”, por ela
defendida, fosse reorganizar a economia em termos socialistas, ou seja, no
interesse das necessidades dos trabalhadores.
O apregoado “pôr fim à austeridade” do Costa
mais não é que uma austeridade mitigada, mais tragável pelos trabalhadores e
povo que vive do seu suor, contando para esse fim com a prestimosa colaboração
da CGTP que, ainda hoje, ficou toda satisfeita com entrevista que teve com o
novo ministro da economia que prometeu mais… “disponibilidade para o diálogo”,
ou seja, nada; o que não deixou, contudo, de provocar algum azedume à concorrência
que veio queixar-se de um possível esvaziamento da “concertação social”, melhor
dizendo, das imposições simples e duras aceites pelos amarelos mais cachorros
do sistema (depois queixam-se que perderam mais de 80 mil filiados nos últimos
tempos!).
Assistimos a mais um render da guarda na
governação da burguesia, ao caricato de ministros e secretários de estado que
nem sequer chegaram a aquecer o lugar, do regresso dos que dizem ter cumprido a
“missão cívica de servir o país” ao aconchego dos escritórios de advogados, da
Função Pública, incluindo o tacho de deputado com garantia de subvenção
vitalícia em boa idade de irem para a estiva, como se dizia antigamente em
relação aos malandros e relapsos, e outros ainda esperam pelos dinheiros de
judas em alguma empresa ou empresário amigo que se encheu com os dinheiros
públicos.
A venda da TAP, ilegal e com contornos de
roubo autêntico, irá dar bons proventos para quem, no lugar do governo, ajudou
ao negócio e, principalmente, aos vigaristas que, em nome de uma empresa
fictícia e sem dinheiro, que não consegue crédito em nenhum banco, se preparam
já para vender os activos da empresa para depois devolverem os cacos ao estado
que ficou com a dívida; a isto não se dá o nome de negócio mas de roubo,
e os intervenientes, de ambos os lados, deveriam ser enfiados de imediato na
prisão, antes que fujam para o Brasil de onde será difícil a extradição.
Estamos curiosos quanto à maneira como o governo PS/Costa irá actuar em relação
a esta questão do roubo da TAP e como irão os partidos muletas do governo
responder à atitude do governo.
Não deixamos de repetir que a tomada de posse
do governo Costa/PS/BE/PCP, contrariando a vontade do dito, é uma derrota para
o salazarento Silva, pode ser entendida também como um avanço na clarificação
dos campos na luta entre o trabalho e o capital. Ficou claro no dia 4 de
Outubro que mais de dois terços do povo eleitor são contra a política de
austeridade, e a entrada, embora sem fazer parte dele, do BE e do PCP poderá
constituir um avanço no desmascaramento da natureza de classe destes partidos
e, assim, contribuir para o desenvolvimento da consciência política dos
trabalhadores que, neste momento, sabem o que não querem mas estão hesitantes
qual o caminho a escolher; e, mais ainda, o apoio relativo a este governo
minoritário/maioritário no Parlamento poderá ser uma etapa que teria de ser
percorrida a fim de se perceber da necessidade de um governo socialista e
revolucionário que exproprie os monopólios e organize a economia em termos de
satisfação das necessidades dos trabalhadores.
(…)
A classe operária será a autora da sua
emancipação e de toda a humanidade. Não há salvadores da pátria!
30 de Novembro 2015 in OS BÁRBAROS
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