(Foi há 10 anos…)
Apresentamos estes dois exemplos, como poderiam ser outros dois quaisquer, para ilustrar como em Portugal há dois mundos, dois países e nem tudo é povo trabalhador e sacrificado. Relvas e genros do Silva são duas formas de subir na vida e dão bem a ideia como se formou a classe de emergentes, de novos-ricos paridos por este regime de democracia pós-25 de Abril.
Relvas representa os oportunistas que fazem
carreira na política, gente sem profissão e que para dourar o curriculum
compram o canudo numa universidade privada, e que sairão da política só depois
de ricos: Duarte Limas há vários e são paradigmáticos.
A outra espécie é constituída por exemplares
que singram no mundo dos negócios, não vão para a política, mas valem-se das
relações familiares e também partidárias para alcançar o sucesso através de
negócios chorudos feitos com e à custa do estado. O espécimen mais na moda por
estar na ribalta mediática é o “empresário de eventos”, uma nova e rentável
área de enriquecimento descoberta pós-25 de Abril, por sinal, genro do senhor
Silva de Boliqueime.
O outro mundo, lutando pela sobrevivência, é
um povo que trabalha e que produz para os primeiros, sacrificado pelas
políticas de austeridade para salvar a economia de exploração capitalista; um
povo a empobrecer a olhos vistos como se pode comprovar pelas estatísticas
oficiais: entre 2009 e 2010, o Coeficiente de Gini, que mede o nível de
desigualdade existente num país, aumentou de 33,7% para 34,2%; o número de
vezes que o rendimento dos 10% mais ricos da população é superior ao rendimento
dos 10% mais pobres da população passou de 9,2 vezes para 9,4 vezes. Em 2012 a
situação é francamente pior!
O maçon Relvas gastou em 2006, quando ainda
era presidente da Assembleia Municipal de Tomar, 4 mil euros em chamadas pagas
pela autarquia, cujo défice vai em 39 milhões de euros. Em todo o tempo em que
ocupou aquele cargo gastou 26.463 euros em chamadas por telemóvel, pagas por
todos nós, quanto não terá sido o montante das restantes prebendas inerentes ao
cargo?
Assim também se compreende como as autarquias
se endividaram e quem beneficiou e continua a beneficiar da dívida pública, que
agora querem que seja paga por quem não contribuiu para ela nem dela
beneficiou. Foram os Relvas quem sempre viveu e continua, pelos vistos, a viver
acima das possibilidades do país que trabalha. Dois mundos completamente
antagónicos. Este exemplo simples, mas bem expressivo quanto à forma como
funciona o estado burguês e capitalista, é claro quanto há questão de que não
pode haver conciliação, como bem pretende um BE, quanto à resolução da crise:
para um mundo sobreviver o outro terá forçosamente de ser destruído.
A outra camarilha, que vive em simbiose com os
Relvas, mama do estado de forma mais subtil e até menos comprometedora, já que
não ocupa cargos públicos e utiliza aqueles como intermediários. No caso
concreto, o empresário de sucesso, que se encontra endividado perante o próprio
estado, acaba de fazer um negócio da China, comprando um equipamento público
que custou perto de 50 milhões por pouco mais de 21 milhões de euros; o que se
pode dizer, uma autêntica pechincha!
Não deixa de ser curioso, por outro lado, que
no negócio esteja metido o BES, o banco omnipresente em todos os negócios que
prejudicam o erário público; anteriormente foi o caso, agora investigado pela
polícia, da privatização da participação pública na EDP e da REN. O equipamento
em causa, o Pavilhão Atlântico, foi vendido ao preço da uva mijona, mas para
disfarçar a vigarice, o próprio governo dirigiu o processo, abrindo-o à oferta
pública e entregando o presente à quem ofereceu melhor preço.
Tudo aparentemente legal e transparente, mas sabendo-se como funcionam os cambalachos quando se trata de concursos públicos, fica-se esclarecido. E ficamos mais esclarecidos quanto ao perfil do comprador (cuja identidade empresarial difere da pessoal, convém esclarecer): deve ao fisco; tem processos pendentes em tribunal por dívidas, mas é genro do senhor Silva de Boliqueime. Ainda antes da polícia investigar os meandros do negócio, o empresário de sucesso venderá a sua posição por bom dinheiro, estando aí o ganho e não exactamente na exploração do equipamento que, ao que parece, até dá lucro.
O outro mundo que convive forçadamente
(esclareça-se também) com este da vigarice e do compadrio, são as listas negras
de portugueses que não pagam as suas contas da luz e de gás. O governo fascista
e lacaio PSD/CDS/PP comprometeu-se a criar uma lista negra para o povo
“caloteiro” cujas dívidas de electricidade ou gás ultrapassem os 75 euros. Uma
provocação, um serviço de pide e de lacaio prestado por um governo bandalho
(para já não nos lembramos de adjectivo mais adequado) ao serviço dos grandes
capitalistas. Mas em outro país que não este dos devedores de 75 euros, a
chefia da EDP, constituída por 7 magníficos gestores, mete ao bolso 6 milhões
de euros por ano; e a Galp, beneficiando da liberalização do preço dos
combustíveis, arrecada 178 milhões de euros de lucros neste primeiro semestre
do ano. Afinal, quem são os ladrões e os verdadeiros caloteiros?
A distância entre os dois mundos não pára de
aumentar: «a diferença entre os ricos e os pobres está a aumentar no país: os
ricos estão a tornarem-se mais ricos, e os pobres, que constituem a maioria da
população portuguesa, recebem uma parte cada vez menor do rendimento produzido
no país. Entre 2009 e 2010, o Coeficiente de Gini, que mede o nível de
desigualdade existente num país, aumentou de 33,7% para 34,2%; o número de
vezes que o rendimento dos 20% mais ricos da população é superior ao rendimento
dos 20% mais pobres subiu de 5,6 para 5,7 vezes; e o número de vezes que o
rendimento dos 10% mais ricos da população é superior ao rendimento dos 10%
mais pobres da população passou de 9,2 vezes para 9,4 vezes. A tendência de
agravamento das desigualdades no nosso país é clara, e tenha-se presente que a
situação piorou depois de 2010 com a política de austeridade violenta e iníqua
que está a ser imposta aos portugueses.» São os dados do INE que revelam a
outra realidade.
Estes dois mundos são incompatíveis, um deles
terá forçosamente por perecer para o outro sobreviver. Não há possibilidade de
conciliação nem existe meio termo.
Os Bárbaros
31 de Julho 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário