sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Um regime político adequado (“que se lixem as eleições!”) a uma economia de saque

  

Relembrar o governo de má memória de Passos Coelho/Portas que recapitalizou os bancos, sob o alto patrocínio do Presidente da República, o Silva de Boliqueime – crónica de Agosto de 2012:

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) veio fazer alguns reparos ao governo quanto às políticas seguidas ultimamente, reparos que valem quase como directivas, o que bem revela a natureza do destinatário, lacaio na verdade acepção do termo. Assim, a OCDE considera que:

o estado (governo) deve aumentar os salários dos funcionários públicos altamente qualificados, aumentando o leque salarial (o que pensam os sindicatos do sector sobre o assunto?), assim como os deve reter não deixando que passem para o sector privado;

a falta de produtividade está ligada aos “baixos níveis de educação” (sobre isto o que diz o ministro Crato, que se prepara para despedir mais de 20 mil professores depois das férias?);

critica as interferências nas PPP (contudo, o estado vai assumir parte das garantias dadas pelos bancos privados portugueses junto do Banco Europeu de Investimento, ganha a banca e ganha o BEI);

o governo deve aceitar a falência de autarquias;

o alargamento da “suspensão” (roubo) dos subsídios de férias e 13º mês ao sector privado é uma “solução razoável”, (defende, por sua vez, o economista-chefe da OCDE responsável por Portugal, David Haugh – até há um responsável nesta organização pelo país!).

Estes reparos completam e reforçam as imposições do memorando da troika, ou seja, austeridade a dobrar e reformas profundas de todo a estrutura económica e administrativa do país. O Código do Trabalho que vai entrar em vigor, hoje, dia 1 de Agosto, irá baixar os custos do trabalho em 5% e aumentar o desemprego. Objectivo: Portugal, a China da Europa.

Cá dentro, os banqueiros também botam faladura sobre a inconstitucionalidade dos cortes dos dois salários aos trabalhadores do estado (os do Banco de Portugal estão isentos!) e aos pensionistas. O presidente do BPI, Fernando Ulrich, um dos banqueiros que mais opina nos media, teve o desplante de classificar a decisão do TC de "negativa", "perigosa" e "inaceitável". Logo a seguir veio Nuno Amado, o presidente do banco (BCP) que mais prejuízos apresentou, clamar que foi "uma decisão muitíssimo infeliz". Faltou conhecer a opinião de Ricardo Salgado, do omnipresente BES em todas as trafulhices ou operações financeiras menos claras, para o ramalhete ficar completo.

Que se lixem as eleições!

Os bancos não têm apenas enormes responsabilidades na crise como têm sido os maiores beneficiários da maior parte dos sacrifícios que, a pretexto dela, vêm sendo impostos ao povo português. Mas a banca (ou a classe mais parasitária da sociedade) quer mais do que a "ajuda" ao seu funcionamento, quer também uma Constituição "sua", já que a Constituição da República se revela, pelos vistos, "negativa", "perigosa", "inaceitável" e "muitíssimo infeliz" para os seus interesses. Querem um regime político à medida e esse regime não é outro senão uma democracia musculada ou um fascismo suave, ou seja, um regime onde se lixem as eleições – como desabafou o “nosso” primeiro.

Este senhor Coelho foi quem anunciou, em Janeiro, no Parlamento que 2012 seria o "ano de viragem económica para o país". Ora, o ano de 2012 tem-se mostrado que, afinal, é o ano de viragem mas para pior: o desemprego aumentou, em número dificilmente quantificável, com maior predominância para o desemprego jovem que já vai nos 45%, a receita do IVA e de outros impostos sobre o consumo no primeiro semestre do ano foi 5,2 por cento inferior à do mesmo período de 2011 e, ao contrário da lógica que esteve subjacente ao pedido de “ajuda” à troika, a dívida pública portuguesa cresceu mais 26 mil milhões em relação a Março de 2011.

Com certeza que este não é o “bom caminho” para o povo português, tem sido é o bom caminho para os banqueiros que vão embolsar metade do montante dos 78 mil milhões de euros (a outra metade é para o serviço da dívida) e ainda se queixam que estão a pagar juros elevados, como não deixou de se lamentar o chefe mafioso do BES ainda há pouco.

O governo vendido do PSD/CDS/PP comprometeu-se, depois da visita ao nosso país do presidente do BEI, Werner Hoyer, a assumir a parte do esforço dos bancos comerciais nas parcerias público-privadas, aliviando-os assim desse encargo, com a alegação de que seria também vantajoso para os cofres do estado já que permitirá, não se sabe como, reduzir os encargos com o financiamento das PPP. A questão estará mais no facto do BEI ser um dos principais financiadores de Portugal, com uma exposição superior a 25 mil milhões de euros, havendo assim interesse e especialmente numa altura de crise e retracção do crédito, que seja o estado a arcar com mais esta responsabilidade. Se o ano de 2012 está a ser mau para o povo português, embora excelente para os banqueiros, o ano de 2013 será péssimo para os mesmos de sempre.

O ano de 2013 será um ano de aumento inaudito dos sacrifícios para os trabalhadores e para o povo português e a revolta não será uma surpresa, e é a pensar nesta forte eventualidade que sectores da classe dominante se vêm demarcando das políticas do governo, assim se compreende as reacções de algumas figuras importantes da hierarquia da igreja. O apoio ao governo celerado PSD/CDS/PP está a restringir-se cada vez mais à pequena elite dos banqueiros e a algumas franjas da burguesia mais reacionária e mais dependente das ajudas do estado, ou seja, este governo é cada vez mais o governo do sector rentista da burguesia, a parcela mais parasita e inútil da classe dominante, e para se poder manter terá de transformar esta democracia numa democracia ainda mais formal e repressiva.

É neste contexto que se deve compreender as palavras do senhor Coelho e não no sentido de que está a fazer tudo a bem do” país”, sacrificando para isso a popularidade eleitoral. O “país” para o governo do senhor Coelho e para os partidos e direita é o país dos banqueiros, e o senhor Coelho está disposto a tudo fazer para os salvar, mesmo à custa da sua pessoa que será, mais cedo do que se espera, colocada na prateleira, que talvez nem seja tão dourada como a do senhor Pinto de Sousa. É o que se pode dizer de um idiota político, um idiota útil para os banqueiros, mas que não deixa de ser menos perigoso para o povo português, e é gente desta estirpe que geralmente traz o fascismo. Tudo sob o alto patrocínio do Presidente da República, o senhor Silva de Boliqueime.

Este governo deve ser derrubado quanto antes e o seu tempo de vida não deverá ir muito para além das férias, chegar até ao fim do ano será mau para nós, povo português. Trata-se de uma urgência.

01 de Agosto 2012

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