Capitalism and Covid 19 - Stephff
As
celebrações do 25 de Abril (agora com “a” minúsculo) foram,
este ano de 2020, menos que murchas, levadas a cabo por gente
sofrendo de impotência e de obsessão compulsiva para a mentira e
demagogia; um pouco pior do que no ano passado que foram simplesmente
bafientas e deprimentes, denunciando a decrepitude irreversível,
este ano foi o fim. Diz a imprensa corporativa que o PR Marcelo “deu
o peito às balas”, defendendo a realização da cerimónia
comemorativa na “casa da democracia”, contrariando a posição de
ala mais à direita do seu partido e de outra opiniões (Cavaco, CDS,
Chega, etc.) que acham que, sob o manto da pandemia, nada haveria a
comemorar; não deixou de ser caricato ver o CDS a ser ultrapassado
pela esquerda pelo chefe da ICAR portuguesa. Pudera! Marcelo já se
encontra em campanha eleitoral para a reeleição, embora porfie em
não pôr o cravo ao peito. E a figura patética do presidente da
Assembleia da República não conseguiu conter-se e mandou mais uma
patacoada, com já vem sendo habitual nos últimos tempos: “Portugal
e os Portugueses estão vacinados contra a austeridade... Resta saber
se a vacina tem 100% de eficácia..." Mesmo assim, o homem
duvida.
Ora, a
austeridade nunca deixou de estar presente entre os trabalhadores
portugueses, desde a não restituição integral do que foi retirado
desde o início da crise de 2008 até às alterações da Lei do
Trabalho, feitas no sentido de extorquir maiores mais-valias aos
trabalhadores, que não foram revogadas pelo governo do PS. E, agora,
com o pretexto da pandemia pelo Sars-Cov-02, impôs-se o estado de
emergência não para defender a saúde do povo português, mas para
suspender as liberdades e os direitos dos trabalhadores a fim de lhes
impôr também o estado de austeridade agravada, os números estão
aí e não desmentem: quase 60% da população activa sofre uma
redução de rendimentos “devido a perda de emprego ou à
diminuição do trabalho como consequência da pandemia covid-19”.
Quem o diz é a DECO, resultado obtido através de inquérito que,
podendo sofrer de alguma margem de erro, não estará a dar uma
imagem muito diferente da realidade. Mais concretamente: “35% dos
trabalhadores mantêm o seu horário de trabalho, 30% estão
temporariamente inactivos, por exemplo, em ‘lay-off’ (suspensão
do contrato), enquanto 19% viram o seu horário reduzir-se, 9%
perderam o emprego e apenas 7% estão a trabalhar mais horas”, e
“dos que continuam a trabalhar, três em cada 10 fazem-no sempre a
partir de casa, em teletrabalho, e cerca de um quinto (19%) labora
parcialmente nestas condições”. Ninguém tenha dúvidas, foram
medidas que a burguesia achou por necessárias, aliás, não tem
outras, para tentar tirar a sua economia do estado de crise crónica
e prestes a implodir, o coronavírus foi uma justificação quer para
a origem da crise quer para a inevitabilidade de mais austeridade.
Quanto
à austeridade, na prática, todos os partidos com assento em S.
Bento estão de acordo, diferem somente no modo e no tempo de a
aplicar, como e quando? Marcelo, Rui Rio e Costa, apesar deste
disfarçar com alguma ambiguidade oratória, jogam abertamente no
“Bloco Central”, Marcelo não deixou dúvidas e a imprensa de
referência enfatizou. Os restantes partidos ou contradizem-se ou
fazem contorcionismo para iludir o que sempre defenderam: a
estabilidade, a continuação da paz social e o crescimento da dita
economia nacional, melhor dizendo, o aumento dos lucros das empresas
e enriquecimento dos seus acionistas que, agora, se desunham a pedir,
ou a exigir, apoios de todo o género desde que seja a fundo perdido,
entrar com os seus capitais pessoais ou familiares é questão
liminarmente posta de lado, e sejam eles nacionais ou estrangeiros.
Enquanto tal, os accionistas da Galp, que continua a vender os
combustíveis quase ao preço do “Barca Velha” e compra o crude
ao preço da uva mijona, decidiram distribuir entre si os cerca de
320 milhões de euros de dividendos, a duas semanas de suspender a
actividade na refinaria de Sines e com o propósito claro, como
outras tantas empresas, de a descapitalizar e posteriormente vir
pedir apoio ao estado.
Tem
sido quase comovente ouvir algumas propostas apresentadas pelos gurus
da economia do regime, aliás, sempre os mesmos, para fazer face à
“crise provocada pelo coronavírus”, uma crise que estava já
presente muito antes do irromper do surto pandémico, o que é bom
salientar a todo o momento para clareamento de algumas mentes, do
género: “pagamento de metade dos subsídios de férias e de Natal
de todos os trabalhadores em funções públicas em ‘Certificados
de Aforro Solidários Covid-19’”; ora, quem é a iluminária?
Não, não é o César das Neves o conselheiro excelso do Cavaco, mas
um ex-deputado do dito “Partido Socialista”, um neo-liberal
convicto Paulo Trigo Pereira, com o argumento de “basicamente,
adiar consumo”, e que se poderia estender a todos os trabalhadores,
caso estes quisessem. Esta até seria uma proposta interessante se
fosse aplicada exclusivamente aos membros do governo ou aos deputados
da Assembleia da República ou até ao PR monárquico Marcelo.
Perante propostas deste género e provenientes de gente que de
certeza não sentiu na carne e na algibeira a austeridade imposta
pelo governo PSD/CDS anterior, é natural que haja trabalhadores e
pessoas, cuja vida sempre foi uma vida de sacrifício e de crise
permanente, que se irritem facilmente e de forma inclusivamente
violenta. Razão esta para a preocupação do PR Marcelo de, no seu
discurso, tentar “dar bom-senso” e acalmar as pessoas que “estão
mais irritadas”, nas palavras de um pressuroso deputado socialista
em rede social. Entretanto, houve alguém que foi para a janela de
cravo na mão e a cantar a "Grândola Vila Morena". É bem
possível, pelo andar da carroça e mesmo sem continuação da
pandemia em hipotético segundo ou terceiro surto, que a canção que
mais simboliza o 25 de Abril seja cantada, para o ano, nem dentro de
casa.
O
nosso primeiro Costa, acolitado pelo expertos do costume, tem
repetido, quase até à náusea, que depois do estado de emergência,
que ele até quer substituir pelo estado de calamidade pública, nada
ficará ou será o mesmo até que haja uma vacina. O homenzinho quer
continuar a jogar com o medo incutido em muitos cidadãos
portugueses, que parecem preocupar-se mais com o vírus do que
propriamente com o descalabro da economia, segundo sondagem divulgada
por um jornal de negócios da classe dos patrões, opinião logo
elogiada por se encontrar alinhada com a opinião única dominante
“não há alternativa”, com o objectivo de impor formas de
exploração ainda mais violentas que as actuais e com salários
nominais ou reais ainda mais miseráveis. E o teletrabalho é
apresentado como uma das sete maravilhas do “novo mundo”, fruto
do desenvolvimento tecnológico, que já foi imposto a mais de 64 mil
trabalhadores do estado, na sua maioria professores, que assim
ficarão mais baratos ao estado, sem horário fixo, sem tempo para a
família e para o lazer; isto é, cada vez mais escravos. O mesmo
terá sucedido a grande percentagem dos trabalhadores no global,
estado e privado; dos trabalhadores que estão a trabalhar, 30% estão
em teletrabalho em casa, segundo dados do inquérito realizado pela
DECO atrás referido. Será o paraíso na terra para os patrões que
sempre almejaram, especialmente os patrões nacionais, ter
trabalhadores baratos, de preferência a custo zero, fechados em
casa, sem poderem protestar dentro da empresa, com dificuldades
acrescidas para se organizar entre si, em estado de confinamento que
mais não é que prisão domiciliária, embora o único crime que
tenham cometido é o de serem trabalhadores por conta de outrém e
possuírem como única fonte de rendimento a venda da sua força de
trabalho.
O
governo, o Costa, a histriónica ministra da Saúde, a moça de
recados Directora Geral de Saúde e o mono Secretário de Estado da
Saúde, até parecem gostar muito dos portugueses e dizem fazer muito
por eles: querem estado de calamidade pública em vez estado de
emergência, e se este foi imposto foi para fazer a vontade ao
Marcelo, é o que dizem, e agora esperam receber ainda esta semana
sete milhões e novecentas mil máscaras cirúrgicas e quatro milhões
de máscaras com filtro, depois de terem andado semanas a fio a dizer
aos estúpidos dos portugueses que o uso da máscara era
contraproducente porque dava uma falsa sensação de segurança.
Claro que esta será compra feita pelo governo no estrangeiro e por
ajuste directo através de empresas privadas, que agora poderão
embolsar muitos milhões de euros de lucro, em vez de se incentivar a
indústria nacional ou aproveitar, reconvertendo-as caso necessário,
as Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento (OGFE/Casão Militar)
das Forças Armadas. Será para perguntar de quanto será ou já foi
a comissão ou a propina de tão chorudo negócio que poderá
ultrapassar os 300 milhões de euros? A par das negociatas não houve
dinheiro, ou terá um sido “erro informático” bastante oportuno,
é a ironia das aplicações se enganarem em certas ocasiões e
sempre para os mesmos, para pagar os fracos, para não dizer
miseráveis, aumentos e respectivos retroactivos a partir de Janeiro,
para os trabalhadores da Saúde; que serão pagos, vamos lá ver,
para o mês que vem. O que bem atesta da consideração que o
Governo, e em particular as figuras atrás descritas, tem por estes
trabalhadores que se encontram na linha da frente no combate à
Covid-19. Muitas vezes, um acto vale por mil palavras. Tudo leva a
crer que para o ano, como já disséramos anteriormente, não haverá
aumentos para os trabalhadores da Função Pública.
A
crise económica e capitalista agravada e posta a nu pela pandemia,
mas não provocada por ela, demonstra-nos que um povo, um país, só
podem fazer face de forma cabal, e sem prejuízo para o povo que luta
e sofre, se tiver soberania económica, monetária e financeira, com
controlo de capitais, com um sistema de crédito público ao serviço
do progresso social do povo e não da especulação financeira e da
fraude. Não será possível no quadro de uma capitalismo nacional e
proteccionista, como muitos social-democratas da nossa praça
defendem, alguns dos quais acoutados no BE e no PCP, mas num quadro
de economia socialista, a única via sem alternativa para acabar de
uma vez por todas com a escravatura assalariada. O pavor das elites e
dos seus agentes na governação é mais que notório, estão
assustados, não sabem o que fazer ao certo para conter a revolta do
povo, que está latente mas pronta a irromper a qualquer momento.
Estados de emergência ou de estados de calamidade pública são
artimanhas temporárias, condenadas ao fracasso, pela simples razão
de que a primeira metade deste século será o tempo do Comunismo.
Enquanto a burguesia vai esgotando os meios para iludir a crise e
enganar o povo, a velha toupeira é incessante no seu trabalho.
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