terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O último Natal da seita

  

Crónica escrita em Dezembro de 2014, antes das eleições de 2015 que, embora ganhas pela coligação pafiosa, permitiram a criação do governo da geringonça 1.0 e à expulsão do inenarrável Coelho, que agora vem bolsar umas vulgaridades quanto às razões da demissão de António Costa.

O último Natal da seita 

Está-se em aberta campanha eleitoral, o “nosso” primeiro veio dizer à populaça que o “período adverso” já passou, que os “sacrifícios foram muitos” mas valeram a pena já que a “saída foi limpa” e que a economia está a recuperar e não haverá “nuvens negras” no próximo ano graças à política do governo nestes três últimos anos; no outro partido do bloco central da governação e dos negócios, Costa de Lisboa desdobra-se em movimentações tendo tardado a visitar o antigo chefe, em prisão preventiva até que o juiz arranje material suficiente para o condenar, no receio de contaminação e eventual prejuízo eleitoral do PS, bem como evitando comprometer-se com medidas concretas quando governo. A demagogia corre emparelhada com a cobardia política.

Orçamento de Estado e aumento da dívida

O senhor Coelho sacode a água do capote quanto à solução avançada para a fraude e falência do BES (símbolo máximo da capitalismo nacional) e não explica, atendendo às suas palavras de “desanuviamento das nuvens negras” em 2015, por que carga de água que amanhã, dia 1 de Janeiro, primeiro dia do novo ano de 2015, o povo português terá combustíveis, luz e telecomunicações mias caros, bens essenciais para pessoas e pequenas empresas, pelas quais o senhor Coelho diz ralar-se tanto com a sua sobrevivência. Claro que nem será necessário referir a continuação da brutal carga fiscal sobre os trabalhadores e dos cortes salariais e congelação das carreiras dos trabalhadores da função pública ou do esbulho das reformas dos aposentados.

O Orçamento de Estado para 2015 diz bem do que vai ser a vida dos trabalhadores portugueses, indubitavelmente mais nuvens negras, ou seja, continua o esbulho de quem trabalha e o saque do que resta ainda de empresas públicas lucrativas, embora se proceda a uma gestão que as apresente como irremediavelmente falidas. A diminuição da despesa continua a ser feita no sector social do estado, menos educação, menos saúde, menos segurança social, enquanto os negócios com os amigos continuam, o aumento da despesa, são paradigmáticos os 765,9 milhões de euros (+32% em relação a 2014 e mais 82% do que em 2013) em “estudos, pareceres e outros trabalhos especializados”, ganham os escritórios de advogados, gabinetes de arquitetos e outras assessorias; bem como se mantêm as rendas das PPP's … e o serviço da dívida pública que levará todos os anos mais de 8 mil milhões de euros, se até 2020 o governo irá receber 27 800 milhões de euros de fundos europeus, o povo português irá pagar, no mesmo período de tempo, 60 mil milhões.

A dívida pública, que aumentou 40% nos últimos 3 anos corre a par do desemprego que continuará a crescer, nunca tendo parado, ao contrário do propalado pelo governo, só professores foram mais de 30 mil que foram atirados para o desemprego irremediável em mesmo período de tempo. Mais depressa do que a pública corre a dívida privada, especialmente a das empresas, mas desta ninguém fala. No actual Orçamento, segundo o Tribunal de Contas, não foram incluídos 500 milhões de euros em benefícios fiscais das empresas, como são inúmeras as fugas ao fisco (estas legais) e os sacos azuis escondidos nos Orçamentos do Estado!

A falsa alternativa do PS

O PS irá prosseguir a mesma política de roubo ao povo português. A absolvição dos líderes parlamentares e deputados da Assembleia Legislativa da Madeira na restituição de 6,4 milhões de euros das subvenções parlamentares desviados para as contas dos partidos (entre 2006 e 2014, cerca de 40 milhões de euros foram indevidamente recebidos e utilizados pelos partidos na Madeira, tendo mais de metade desse valor entrado nos cofres do PSD) é também boa expressão como os dinheiros públicos são gastos – e não venham depois queixar-se da descredibilização do regime.

Enquanto descem na UE os custos das telecomunicações, em Portugal sobem; da mesma maneira acontece com os combustíveis, numa altura em que nunca esteve tão baixo o preço do crude por força da guerra económica travada pelos EUA contra a Rússia, agora devido ao aumento dos impostos. Aumento este que irá incidir sobre todos os bens, tornando falácia a conversa da inflação igual a zero; com o acrescento do governo não cessar de inventar formas mirabolantes, como acontece com o imposto verde, de esvaziar ainda mais os bolsos dos trabalhadores, mesmo quando incide sobre as empresas, o pagante é sempre o pobre do dito “consumidor final”.

Se o ano de 2014 foi de aumento do preço das telecomunicações, e a subida foi maior do que a inflação, então 2015 será a continuação possivelmente em maior grau. A estratégia é a mesma para iludir a realidade, acenam-se com pequenas vantagens nas deduções em sede do IRS, mas os impostos marcam sempre a política de um qualquer governo. O PS no governo será a evolução na continuidade, possivelmente para pior, e, ao contrário do propagandeado, com PS ou sem PS, 2015 não será melhor do que 2014.

Faltará pouco para mais outra mensagem de optimismo, desta feita pela boca do senhor Silva de Boliqueime, corresponsável pela situação de miséria da larga maioria do povo português, outro exercício de demagogia e de hipocrisia; enquanto isso, assistimos a um PS preparando-se para tomar conta da governação, ou seja, do saque do povo português no interesse do grande capital financeiro internacional e dos seus agentes locais, mantendo a actual coligação até Outubro. Ao mesmo tempo que a CGTP vai convocando e desconvocando as greves segundo a agenda do PCP, numa guerrilha que acaba por desgastar não o governo mas os próprios trabalhadores; o bom exemplo encontra-se na greve dos trabalhadores da TAP que assustou o governo mas não irá impedir a privatização de uma empresa crucial para a economia e a soberania do país.

A privatização da TAP e a luta dos trabalhadores

O que se passou com a greve dos trabalhadores da TAP diz bem da qualidade dos dirigentes sindicais de serviço, seja de uma ou de outra central sindical, muita farronca no início, decretam uma greve de vários dias para o período sensível do fim de ano, quando a transportadora tem mais movimento pela visita de emigrantes e turistas, sendo em princípio a pressão exercida pelos sindicatos maior, mas foram entradas de leão e saídas de sendeiro, aliás, como os sindicatos do regime nos tem habituado.

O decretar da requisição civil, ainda antes da greve acontecer e de não se saber se os serviços mínimos iriam ou não ser respeitados, foi suficiente para amedrontar os corajosos sindicalistas, mais preocupados com o tacho sindical e em cumprir a agenda política do partido a que pertencem do que defender os interesses daqueles que dizem representar. A requisição civil não deveria ter sido acatada, a luta deveria ser total e determinada sabendo-se à partida que o governo iria mostrar os dentes. Luta contra o governo e contra a ilegalidade de uma medida decretada pelo pânico e não pelo sentimento de força. Os sindicatos não só se acobardam como não conseguem fazer uma análise realista da situação.

A propaganda dos media do regime faz o trabalho de intoxicação da opinião pública dando a entender que o governo tem força e defende o tal “interesse nacional” pela não nacionalização da totalidade, pelo menos para já (serão 10 anos?!), da TAP, de molde a assegurar algum controlo por parte do estado (uma rematada mentira!). Mas, desta vez, os media corporativos não conseguiram desacreditar greve já que a questão da privatização não é da simpatia de largos sectores da classe média. O governo está no mais completo isolamento, e é com favores destes que se deve perceber a longevidade de um governo que há muito se tornou ilegítimo e passou a ser odiado pelo povo português.

Haverá alternativa?

Por outro lado, apontam-se já candidatos para as eleições presidenciais, como expediente de manter o circo mediático e assim desviar a atenção do povo eleitor. Já se apresentam dois palhaços a escrutinar: um é um verdadeiro tartufo, eterno candidato a candidato cuja missão é urdir a intriga e fazer fretes ao governo do seu partido (acusado de mentiroso compulsivo e de chulo pelo chefe de um dos clãs da famiglia Espírito Santo); o outro, é um beato que fugiu a sete pés do país quando viu que a situação estava preta; quer um quer outro dão bem a imagem do regime. Qualquer um deles farão escurecer ainda mais as nuvens que nunca deixaram de estar sobre as cabeças de todos nós.

O ano de 2015 será a continuidade, mas a descontinuidade no espírito da larga maioria dos trabalhadores e do povo português. E talvez não seja assim tão certa a capitalização do descontentamento social em termos de votos pelos partidos da putativa oposição, que vão desgastando os trabalhadores com estas greves de faz e não faz (CT e os sindicatos desconvocam a greve dos trabalhadores da STCP porque a empresa anunciou que os motoristas ameaçados de despedimento irão passar ao quadro de pessoal). Cada vez mais se impõe que sejam os trabalhadores de forma autónoma a pôr as pernas a caminho para o derrube do governo, de preferência acompanhado pelo Silva, não com pequenas greves localizadas, mas por uma greve geral nacional pelo tempo e pelas vezes que se mostrarem necessárias. Estes são os nossos votos para o novo ano de 2015.

31 de Dezembro 2014

In “Os Bárbaros” 

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