quarta-feira, 20 de março de 2024

Março, Marçagão, o mês de toda a manifestação

  A propósito das manifestações do dia 12 de Março de 2011, que ficaram conhecidas pelas manifestações da “geração à rasca”, e que tiveram o condão de ditar o fim dos governos PS/Sócrates. Embora alguma espontaneidade, não deixaram de ter uma mãozinha do BE e PCP, coisa que se confirmou mais tarde. Iremos agora assistir a manifestações "inorgânicas" ainda mais contestatárias contra o governo AD/Chega? Os trabalhadores e o povo português irão dizê-lo na altura que acharem mais oportuno.

 

“Contra os Contratos a Prazo, os Falsos Recibos Verdes, os Baixos Salários, a Precariedade Laboral e o Desemprego!” É assim que reza a convocatória da manifestação a realizar no próximo dia 12, sábado, em 10 cidade do país. Uma manifestação que, ao contrário da tradição, não é convocada por centrais sindicais ou (de forma aberta) por partidos da democracia instituída e que parece enervar alguns comentadores políticos da nossa praça, para além do governo. O mês de Março vai assistir a outras manifestações mais pacíficas, dos professores para o mesmo dia 12 e da CGTP para o dia 19, sob a estafada consigna “mudança de políticas”.

As greves dos transportes vão continuar, com os trabalhadores do Metro de Lisboa, Soflusa, Transtejo e maquinistas da CP a marcarem paralisações para o dia 23. Nos primeiros dias do mês foram as “Jornadas Anti-Capitalistas”, de colectivos anarquistas, e as concentrações de professores, convocadas por associações da classe, que se fizeram notar; e os maquinistas da CP negando-se a fazer horas extraordinárias fizeram suspender mais de 700 comboios. A questão que se coloca: para quando nova greve geral nacional e o que resultará da manifestação da “Geração à Rasca”?

O Manifesto da “Geração Enrascada” é claro: “Reafirmamos a total independência do protesto face a qualquer estrutura ou movimento de cariz partidário, político ou ideológico”. No entanto, não deixou de haver convite ao secretário-geral do PCP, e outros dirigentes políticos da esquerda, não se fizeram esperar para anunciar a sua participação na manifestação de Lisboa. Nada de mal, como também nada de importante o facto de elementos e forças políticas de extrema-direita queiram tirar partido, bem como outros pescadores de águas turvas.

O engraçado é ouvir certos fazedores de opinião perorarem sobre o perigo de manifestações como esta, aparentemente sem controlo e com consequências imprevisíveis, puderem catapultar caudilhos e salvadores da pátria dando como resultado final ditaduras. Ora, o perigo destas manifestações é geralmente não darem em nada; nem para a direita nem para esquerda, por serem facilmente “recuperáveis” pelo sistema, ou seja, pelos governos ou partidos parlamentares. Assim se compreende a colagem de alguns dirigentes políticos da esquerda, e nem nos admiramos que apareçam dirigentes das jotas dos partidos do centrão disfarçados, por exemplo, de dirigentes associativos. Tudo é possível.

Iremos, no próximo dia 12, isso sim, ver se as redes sociais, como em outros países em contestação fervente, funcionam também entre nós como meios de mobilização das massas, especialmente da juventude, contornando os meios tradicionais de mobilização dos partidos ou sindicatos. E podemos até ver qual a manifestação mais participada e contestária se a de 12 de Março ou do dia 19, e como os sindicatos reformistas se encontram esclerosados e ultrapassados. E é com enorme satisfação que assistimos a esta convocatória via net, independentemente das reais motivações de quem teve a iniciativa.

Não nos devemos preocupar se o Manifesto diz que “nunca foi enviada qualquer lista de reivindicações” ou que “não protestamos pela demissão de nenhum político ou governo”, pela simples razão de que quando a contestação social é iniciada ganha uma dinâmica própria difícil de fazer parar. Lembremo-nos da Comuna de Paris que começou no mês de Março, há precisamente 140 anos, e que colocou reivindicações que os partidos de esquerda existentes se tinham recusado a fazer, colocando em causa a existência do próprio estado. E muitas reivindicações, que agora não são apresentadas, surgirão naturalmente, e uma delas poderá ser a demissão dos políticos que nos (des)governam.

Se a manifestação do próximo sábado romper com os diques do conformismo poderá significar que os partidos de esquerda, incluindo a considerada extrema-esquerda, se encontram desligados dos reais interesses e verdadeiro sentir da grande massa dos jovens deste país. E mais do que os partidos serão ainda os sindicatos, dominados por gerontocracia há muito desligada do trabalho da empresa ou da escola, que há mais tempo ainda abdicaram de defender os trabalhadores desempregados, os trabalhadores precários, os trabalhadores imigrantes clandestinos, porque não pagam a quota à burocracia sindical. Muita coisa poderá ser posta em causa depois do dia 12 de Março. A ver vamos.

Saudamos ainda esta importante iniciativa – como é dito em outro sítio da net – porque ela é também uma resposta à falta de luta, à conciliação e até capitulação dos dirigentes das centrais sindicais em relação à longa ofensiva capitalista, bem expressas na recusa das referidas centrais em convocar uma nova greve geral nacional. É tempo de se virar a corrente do próprio movimento operário que se tem remetido a uma defesa que lhe será fatal, sendo mais que tempo de se passar à ofensiva. E a ofensiva é derrubar o governo PS/Sócrates.

As manifestações do dia 12 de Março, serão pelo menos 10, e que deverão multiplicar-se por mil, são a prova que, neste país, há gente que resiste, há gente que se sente revoltada, que não está conformada com os rituais sazonais de partidos que se dizem de esquerda mas que estão sempre prontos a entrar em compromissos com o governo e jamais levantaram uma palha do chão para lhe dificultar a vida, e dos desfiles das centrais sindicais que, atendendo à época, de “carnavalescos” passam a procissões pela avenida abaixo; e daqui não passam, mandando depois os trabalhadores para casa, ficando tudo na mesma.

Os jovens portugueses, estudantes ou trabalhadores, licenciados ou indiferenciados, não são uma geração rasca, estão simplesmente à rasca, como estão à rasca os restantes trabalhadores assalariados, incluindo os que pensam que tem um contrato sem termo, mas que de um momento para outro ficam no desemprego, as mulheres trabalhadoras, as primeiras a serem despedidos e com salários inferiores, a grande maioria dos reformados, ou seja, o mundo do trabalho no geral. A luta é comum, há apenas que arredar os empecilhos, e centrá-la na causa dos nossos males: o capitalismo e o seu governo PS, este o mais lacaio e vendido desde o 25 de Abril de 1974.

09 de Março 2011

Imagem de destaque: henricartoon

www.osbarbaros.org 

 

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